24.10.09

Uma noite de ótimos filmes na Mostra Curta Pará

Além do lançamento paraense, o 3º dia da mostra reuniu documentário e ficção, destacando-se os filmes documentais.

Na foto ao lado, “Homens”, doc. capixaba.


Não fui ao pré-lançamento que aconteceu no início do ano em Belém. Vi hoje, pela primeira vez, a animação dirigida por Cássio Tavernard, “O Rapto do Peixe Boi”.

Depois de algum tempo sem vê-los, ao rever os personagens Caranguejo (Ailson Braga), Camarão (Ester Sá) e aqueles moleques dos Candirus (Adriano Barroso e André Mardock) em novo episódio, percebi que estava com saudades deles, senti até uma emoção, ali no escurinho do cinema.

Mas tenho que dizer que o primeiro da série, “A Onda – Festa na Pororoca”, para mim, não foi superado. Não que isso tire algum mérito do Rapto, onde temos o bom humor e o sarcasmo dos personagens, a qualidade da animação. Mas o primeiro quase sempre é o melhor de uma série e se torna um marco, é natural.

Pena que perdi o iniciozinho da sessão que abriu a noite desta sexta-feira da Mostra Curta Pará Cine Brasil, no cinema Olympia. O curta traz uma deliciosa história, que nos envolve. No final, talvez seja essa a única queixa, sentimos que queríamos ver mais, quem sabe ainda não sai um longa.

O fato é que mais uma vez a equipe que faz essa turma criar vida, consegue arrancar aplausos calorosos e emocionantes da platéia paraense, que tem fome e gostaria muito, de ver mais da sua identidade cultural, na tela.

Depois da animação paraense mais quatro curtas foram exibidos dois documentário e dois de ficção.

O primeiro foi “Superbarroco” (Renata Pinheiro - Ficção, 17’, PE, 2008), que nos mostra a solidão de um homem e nela, o seu sonho de felicidade.

As imagens que contam a história dele se sobrepõem as que fazem parte de sua ilusão. Na arte barroca também há luz e a sombra e ainda os contrastes entre tristeza e alegria, que estão no filme que venceu como Melhor Curta no Festival de Brasília em 2008.

Em “Minami em Close-Up” (Tiago Mendonça – Documentário, 18’50”, SP, 2008) vimos um pouco da história da revista Cinema em Close-UP, mas a impressão que fica é que foi apenas o gancho para na verdade contar um pouco do movimento de cinema paulista que ficou conhecido como Boca do Lixo. Ótima opção, valoriza ambos.

Vários trechos de filmes produzidos à época são mostrados enquanto também vemos os depoimentos dos diretores, atores e atrizes que fizeram dessa história do cinema brasileiro. Quase votei nele para o Melhor na Opinião do Público.

Traz depoimentos de figuras como o próprio Minami Keizi, Cláudio Cunha, Helena Ramos, José Mojica Marins e Índio Lopes (foto), entre outros. A produção executiva é da Van Fresnot (Politheama Filmes), que está em Belém, também por causa do longa de Eliane Caffé, no qual fez a direção de produção.

A última premiação deste curta, foi o Tatu de Ouro, por Melhor Filme e Melhor Trilha Sonora, na Jornada Internacional de Cinema da Bahia, em 2009.


O quarto filme da sessão foi uma ficção, “Ana Beatriz” (Clarissa Cardoso e Santiago Dellaque, 9’13”, DF, 2008). O roteiro conta ao mesmo tempo duas histórias que acontecem paralelamente. Enquanto vemos a trajetória de Ana Beatriz naquele sábado, ouvimos, em off, a narração do mesmo dia, de Paulo.

Ora a narração vai confirmando-se nas imagens, ora divergindo-se. Ao final do dia, a vida dos dois se cruza e eles acabam começando uma relação e se casam, confirmando a afinidade que nós, expectadores, vamos tendo a certeza de que existe entre eles, a cada seqüência. Gostei. O curta recebeu Prêmio Aquisição Porta Curtas no 20º Festival Internacional de Curtas de São Paulo.

Deixo pra falar do terceiro filme da noite, por último, porque foi o que mais curti, e no qual votei como o melhor desta sexta-feira, 23. Ainda que todos os anteriores tenham prendido a atenção, provocado a imaginação e a boa sensação de se ir ao cinema, o curta “Homens” (Lúcia Caus e Bertrand Lira - Documentário, 21’40”, ES, 2008) mexeu mais.

Gosto desse cinema dá voz às histórias que talvez jamais viéssemos a conhecer, não fosse a generosidade e a sensibilidade de um cinema documental. Neste filme, uma série delas é contada. Os personagens, muito bem encontrados, são todos homossexuais, homens, que vivem no interior de estados como Paraíba e Ceará. Cada um conta sua vida em questão de minutos.

Há pelos seis depoimentos, todos muito bons e verdadeiros. Sempre em seu ambiente, seja no trabalho ou em casa, cada personagem coloca ali sua vida, do jeito nordestino, com humildade e grandeza.

As locações tornam a fotografia importante, pois ela revela mais ainda, sobre tudo que é relatado.

Além de outras premiações em 2008, recebeu Menção Honrosa, em 2009, pela pesquisa e construção dos personagens, no II Curta Taquary - Festival Internacional de vídeos de curta metragem de Pernambuco.

A Curta Pará segue até a premiação de domingo, 25. Tomara que os curtas deste sábado, 24, consigam ser tão bem recebidos pela platéia quanto foram todos os desta sexta-feira. Vamos assistir “Olhos de Ressaca” (RJ), “O Divino, De Repente” (SP), “Muro” (PE) e “Teresa” (SP). Veja os detalhes no blog http://curtapara.wordpress.com/

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