Inspirados no conto A árvore de Natal na casa de Cristo, de Dostoiévski, o ator Milton Aires e o músico Leonardo Venturieri convidam o público, nesta terça-feira, 13, a partir das 19h, com entrada franca, para a provocação cênica "Por que hoje não é dia de Reis?", na Livraria Saraiva (Shopping Boulevard - Doca de Souza Franco). Além da escolha textual sensível e comovente, a performance tem como objetivo transpor atores e público da formalidade teatral para um estado de jogo e de risco, com foco no acaso e na certeza do imperdível.
O conto de Fedor Mikhailovitch Dostoievski, escritor russo (1821 - 1881), um dos maiores nomes da literatura universal e considerado um dos fundadores do Realismo, é ambientado em uma noite fria de inverno. Um menino pobre descobre o significado de cada símbolo natalino e quem são os verdadeiros anjos de Cristo. Aos poucos, trágicos acontecimentos são revelados, levando o garoto, de apenas seis anos, a ter um encontro decisivo com a noite de natal.
“Em cima do texto do Dostoiévski, eu proponho algumas provocações cênicas pro Léo e ele me faz provocações musicais a partir da pesquisa que ele vem fazendo atualmente, e juntos vamos exercitar uma visualidade desse encontro. Temos alguns indutivos, ensaiamos algumas coisas, mas muito surgirá das descobertas que faremos no momento da apresentação”, explica o ator.
Com intervenção visual de Maurício Franco, o experimento cênico de Milton Aires e Leonardo Venturieri traz provocações e improvisos, que esboçam algo que ainda poderá se tornar um espetáculo no futuro. "É uma ideia que deve ter desdobramento pra o próximo ano. Na verdade são apostas que estamos fazendo. E eu acredito que a melhor maneira de perceber, de ter um termômetro é lançar para o olhar do público mesmo que inacabado, esboçado”, diz Milton.
A ousadia do experimento e do improviso só existe, porém, porque a parceria entre os dois já vem de outros trabalhos, como em alguns dos espetáculos de rua feito pela Companhia Entreatos e em dança com a Cia de investigação Cênica, sem falar que desde o início do ano mais uma experiência vem se desenhando e os aproximando, principalmente em relação às pesquisas de cada um.
Milton em cena de Makunaíma |
Estou me referindo à "Makunaíma: Em a Árvore do Mundo e a grande enchente”, atualmente uma curta cena, repleta de situações cotidianas e metáforas ambientadas no universo de histórias do herói Makunaíma, sobre a origem do mundo.
Embora o projeto ainda esteja em fase de pesquisa e criação, já teve muita coisa experimentada e, mais, apresentada e reconhecida fora do Pará, como no festival de Cenas Curtas de BH e na Mostra de Inverno de Experimento Teatral do Espaço Luz do Faroeste, em São Paulo. É mais um espetáculo prometido para 2012.
Em São Paulo desde o início deste ano, Milton Aires passará o mês de dezembro no Pará, onde retoma os contatos com seus pares e aproveita para viajar pelo Marajó, que também serve como fonte de inspiração para Makunaíma. A ideia é que no próximo ano, todos estes embriões surgidos ao longo de 2011 entre Belém e a capital paulista se concretizem em novos trabalhos, densos e fincados na pesquisa, como também aconteceu logo no início de 2011 com o trabalho "À Sombra de Dom Quixote", que resultou no coletivo Miasombra.
“Acho que estar em Sampa, nesse momento da minha vida, está sendo estratégico. É um grande desafio profissional, um "puta" aprendizado artístico, que vejo como uma missão. Não sou daquele lugar, tenho uma paixão enorme pelo teatro que fazemos aqui, acredito na potência e na resistência do nosso fazer teatral”, ressalta.
Para ele, isso se torna um grande diferencial para um ator que sai desta escola e vai para São Paulo, um lugar onde se tem oportunidade de mostrar como os artistas paraenses pensam o teatro. “Para mim, além de aprendizado também, é uma função política nos mostrar artisticamente”, complementa.
O ator, em pesquisa no Marajó (Ponta de Pedras) |
Miolo - Em São Paulo, Milton vem atuando no novo projeto da Cia do Miolo chamado Linha Vermelha, e onde encontrou outros artistas que possuem esse mesmo espírito de criação que ele vem cultivando.
Em processo de montagem que já dura sete meses, ao longo deste tempo, os atores da companhia vêm fazendo um trabalho de treinamento físico e práticas artísticas e teóricas que fazem parte do projeto Linha Vermelha.
“Estamos estudando técnicas e mantendo uma rotina de ensaios e pesquisa de rua. Depois de nossas ‘férias’ vamos dar continuidade à montagem do espetáculo que estreia em meados de março e ficaremos em cartaz até final de maio, com apresentações em várias praças e espaços na capital paulista”, conclui.
O Linha Vermelha dá continuidade a um trabalho que a Cia do Miolo vem sendo desenvolvendo desde 2003, o Poética da Cidade, que investiga o teatro no espaço urbano, tendo em vista os modos de relações e acontecimentos que se dão na cidade. Depois de aprofundar este olhar poético, é hora de transformá-lo em dramaturgia, em cena, em teatro.
“É uma pesquisa poética da cidade que agora, pela primeira vez, ganha uma montagem itinerante no trajeto já investigado”, finaliza Milton Aires que reconhece o desafio dramatúrgico do projeto de transformar as histórias investigadas num espetáculo teatral.
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