Não é a primeira vez que ela vem a Belém, mas é sim, sua
estreia no palco do Theatro da Paz. A atriz chegou de São Paulo, na madrugada
de quinta, 6, à capital paraense e pela manhã fez questão de ir ao teatro
ver o andamento da montagem de cenário do espetáculo."Um Porto para Elizabeth Bishop" estreia nesta sexta-feira, 7, às 21h, e fica em cartaz ainda neste sábado, 08, também às 21h e no domingo, 09, ás 18h. Ingressos à venda por R$ 20,00 (R$ 10,00 a meia), na bilheteria do teatro.
A atriz está em estado de contentamento. Amiga da cantora
paraense Leila Pinheiro, ela chegou aqui toda avisada de que lugares não deixar
de ir, restaurantes que frequentar e pessoas que deveriam estar na plateia. Nas entrevistas de ontem, ela falou sobre peça e de seu
próximo papel no cinema, Irmã Dulce, e respondeu curiosidades do público à respeito
do filho, o ator Gabriel Braga, protagonista da novela da Globo (o Laerte, de
"Em Família), e do marido, o médico Dráuzio Varella.
Atenta e espirituosa, ela não escondeu a emoção de estar
trazendo o espetáculo a Belém. “Gosto
muito dessa cidade e sempre desejei trabalhar no Theatro da Paz”, disse. Eu estou
felicíssima, porque era uma vontade antiga que eu tinha. Vim várias vezes aqui,
a passeio, e sempre tive um deslumbramento de atuar nesse teatro”, diz. Depois mais duas entrevistas, voltou ao Theatro da Paz, onde
pela primeira vez atuará. Chegou cheia de fôlego e passou todo o espetáculo,
fazendo as devidas marcações de luz.
Paixão - Regina tem paixão
pelo o que faz. Atua desde menina e
muita gente ainda lembra dela em “Meu Pé de Laranja Lima”, mas este espetáculo,
em especial, a faz flutuar. “Eu tenho uma longa história com a Bishop. São
muitos anos de convivência”, comenta. “Estreamos no início dos anos 2000 e já
fiz várias temporadas”, diz.
“Essa história é muito interessante, mostra a poeta que veio
para o Brasil em 1951 pra dar uma olhada, passar uns poucos dias no Rio de
Janeiro e acabou ficando uma vida aqui no Brasil, mais de 15 anos, inclusive
chegou a conhecer Belém”, conta a atriz.
Elizabeth viajou pelo rio Amazonas numa gaiola, veio à
capital paraense, a Manaus e a Santarém e no final da vida escreveu as memórias
dessa viagem, realizada muitos anos antes, revelando que o norte do Brasil teve
grande impacto sobre ela. “Esses relatos são lindos. Através do texto “Viagem à
Vigia”, sabe-se que Bishop foi até o município paraense, acompanhada por Rui
Barata, nos anos 1960.
Regina busca mais informações sobre a passagem dela por
aqui. “Fiz este espetáculo em Ouro Preto e Rio de Janeiro, cidades por onde ela
passou. E é muito forte quando aparecem pessoas que a conheceram, que são
testemunhas do que eu to falando no palco. Quem sabe em Belém haja alguma
testemunha dessa história também?”, diz em tom de desejo.
Empatia - Chama atenção a empatia que o texto causa no público, ao revelar o olhar estrangeiro de Bishop
sobre o Brasil. Mas na primeira cena, que mostra a chegada dela no Porto de Santos, em
dezembro de 1951, o olhar de Elizabeth é de desalento..
"Elizabeth olha aquilo e acha tudo horrível. De Santos vem pra são Paulo, depois vai pro Rio e fica doente. A chegada dela no Brasil foi um desastre, foi uma tragédia atrás da outra e aos poucos ela vai se encantando. O país tem um papel fundamental na vida dela, tanto do ponto de vista pessoal e emocional, quanto profissional”, .
"Elizabeth olha aquilo e acha tudo horrível. De Santos vem pra são Paulo, depois vai pro Rio e fica doente. A chegada dela no Brasil foi um desastre, foi uma tragédia atrás da outra e aos poucos ela vai se encantando. O país tem um papel fundamental na vida dela, tanto do ponto de vista pessoal e emocional, quanto profissional”, .
Basta dizer que cinco anos depois de sua chegada, em 1956, ela
ganha o prêmio Pulitzer de Poesia, escrevendo sobre o Brasil, no Brasil. É um
dos momentos de alumbramento do espetáculo, além, claro de toda a sua
trajetória amorosa com a urbanista Lota de Macedo Soares. Para chegar a este resultado, foi preciso mergulhar fundo
nesta personagem que é tão encantadora, inteligente e sensível. O trabalho de
pesquisa, porém, não foi difícil.
“A Bishop escrevia cartas. É um hábito que não existe mais,
e ela escrevia diariamente aos amigos americanos, falando sobre o Brasil e do
que estava acontecendo com ela, o que ela achava dos brasileiros. Isso foi
editado pela Companhia das Letras, gerando o livro Uma Arte”, diz.
E o livro, para Regina, é uma fonte inesgotável. “Eu não paro
de ler, até hoje, e cada vez que refaço a Bishop, leio mais um pedacinho, então
o espetáculo é inteirinho feito com as palavras dela , tiradas desse livro, das
cartas”, revela.
Monólogo - O espetáculo se passa o tempo todo em um cenário.
Há apenas dois figurinos e uma luz branda, tendo ao fundo projeções que mostram
cenas de um Rio de janeiro do passado.
É um monólogo, mas engana-se quem ainda
tem aquele velho e equivocado preconceito para com os espetáculos feitos com um
só ator em cena. Na verdade, podemos ver vários personagens ali,
principalmente Lota. Tive a oportunidade de acompanhar o ensaio de ontem e
garanto: você mergulha fundo nessa história e enxerga todos os persongens, que
inclusive fizeram a história desse país.
“O que o espetáculo tem de mais interessante é a historia da
permanência dela no Brasil, uma mulher sensível e inteligente como ela, tudo
que ela fala sobre a gente. É muito bem construído pela Marta Góes”, ressalta
Regina, à respeito da autora do texto.
História - Em cerca de 30 cenas rápidas, “Um Porto para
Elizabeth Bishop” mostra a convivência da poeta com os brasileiro, mostrando o
que ela viveu na década de1950 no Brasil. Passamos pelo Modernismo, o começo da
Bossa Nova, a renúncia de Jânio Quadros, a copa do mundo na Suécia, o carnaval
carioca.
“Tudo isso é comentado por ela, que estava vivendo de perto
estas situações. O espetáculo faz uma revisão histórica do Brasil, que vai até
depois da revolução de 64 e chega aos anos 1970, quando ela vai embora pros
EUA, para em seguida morrer em Boston. Então é um texto que interessa muito as
pessoas, é comunicativo. Faço este espetáculo com o maior prazer”, assume.
E tem motivo de sobra pra isso. O espetáculo é responsável
também pelo reconhecimento da poeta no Brasil. “Quando estreamos em 2000, ela
era relativamente desconhecida aqui. Não existia, inclusive, nada dela
traduzido para o português.
Hoje a poeta vem sendo cada vez mais conhecida, não
só no Brasil, como nos EUA, onde ela é considerada uma das maiores escritoras
modernas americanas”, vai dizendo Regina, de forma fluente, demonstrando o
quanto ela tem de intimidade com o tema.
3 comentários:
Bela matéria, Luciana! Regina merece e nossa terrinha também. Adicionei seu blog entre os meus favoritos. Bom fim de semana!
Uma figura encantadora, atriz maravilhosa, toda razão, Leila!
beijos pra você!
Linda matéria. Traduz um pouco do encantamento que esta combinação de um bom texto em torno de uma grande poeta, tendo em cena uma atriz impecável nos causou. Saí extasiada do teatro.
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