10.4.19

Aquela Cia. em Belém com "Caranguejo Overdrive"

Fotos: Elisa Mendes
Em turnê nacional, o musical Caranguejo Overdrive, do grupo carioca “Aquela Cia. de Teatro”, chega a Belém com uma série de atividades para movimentar a cena teatral da cidade. Além da peça programada para os dias 13 e 14 de abril, no Teatro Universitário Claudio Barradas, o grupo vai realizar uma oficina gratuita direcionada para os profissionais de teatro, escritores, professores e estudantes de artes em geral e também promover um bate papo com os grupos de teatro locais.

Caranguejo Overdrive dialoga com a estética do movimento Manguebeat para fazer uma denúncia social contra as transformações urbanas e o impacto sobre seus habitantes, com execução ao vivo de música eletrônica e tambores de maracatu. A direção é de Marco André Nunes, com texto de Pedro Kosovski, Desde que estreou em 2015, o espetáculo agradou público e crítica, recebendo os principais prêmios, como Shell e APTR (Associação de Produtores de Teatro do Rio), nas categorias Autor, Direção e Atriz, e Cesgranrio (Direção e Texto).

Através do patrocínio do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura, o espetáculo faz turnê nacional, iniciada em Goiânia e que, depois de Belém, segue para Teresina/PI e São Luis/MA. O Programa de Patrocínio da Petrobrás realizou seleção pública e contemplou projetos de circulação de espetáculos teatrais não inéditos, em parceria com o Ministério da Cultura. No último edital, foram investidos R$ 15 milhões. Ao todo, foram escolhidos 57 trabalhos, representantes das cinco regiões do País, com apresentações em todos os estados.

Um traço marcante da linguagem artística da Aquela Cia. é a criação colaborativa, onde a dramaturgia, norteada por referências e conceitos, se produz a partir dos atravessamentos com a concepção cênica do diretor e o trabalho de composição dos atores. Nesta perspectiva, o grupo vai promover diálogos com artistas paraenses através de uma oficina e um bate papo.

O objetivo geral da oficina é debater com os participantes, questões recorrentes relacionadas à metodologia de criação e experimentar exercícios de escrita e de composição cênica, desenvolvidos pela Companhia ao longo de 14 anos de trabalho. 

A atividade será conduzida pelo dramaturgo Pedro Kosovski e acontece nos dias 12 e 13, no auditório da Escola de Teatro e Dança da UFPa, das 09h às 16h. A oficina é gratuita e direcionada para dramaturgos, diretores teatrais, atores e atrizes, escritores, professores e estudantes de artes em geral. No domingo, dia 14, das 14h às 16h, no Teatro Claudio Barradas, o grupo promove um bate papo com os grupos locais de teatro fazer uma troca de experiências e de se discutir a produção teatral contemporânea.

Caranguejo Overdrive

A montagem aborda temas da atualidade, como o ciclo das transformações urbanas e a identidade dos seus habitantes. Inspirada no movimento Manguebeat de Chico Science, Caranguejo Overdrive narra a saga de Cosme, um ex-catador de caranguejos no mangue carioca, na segunda metade do Século 19. Convocado a servir no exército brasileiro durante a Guerra do Paraguai, acaba enlouquecido no campo de batalha. 

Quando Cosme volta ao Rio de Janeiro, encontra uma cidade caótica em transformação. O mangue no Rocio Pequeno (atual Praça 11), onde foi criado, não existe mais. Marcado pela guerra e sentindo-se exilado em sua própria terra, Cosme procura reconhecer a cidade perdida e recriar uma nova cartografia da cidade. Ele não sabe se é um homem, um caranguejo, um soldado ou um operário.

“O espetáculo surgiu no contexto de comemoração dos 10 anos do grupo e respondia a um interesse nosso pelo RJ. Por certas histórias recalcadas, perdidas na memória coletiva enquanto cidade. Especificamente, foi criado no momento no projeto olímpico do Rio de Janeiro, com as remoções e as grandes obras que afetaram muito a população, sobretudo os mais pobres. Muita gente se encontrou em audiências públicas, cobrando uma oportunidade de pensar o poder público e a população. Certamente essa oportunidade foi jogada no lixo”, explica Pedro Kosovski.

A música tem uma função importante e funciona como linguagem narrativa e potência para a performance dos atores e atrizes Alex Nader, Eduardo Speroni, Matheus Macena, Fellipe Marques, Carol Virguez, esta vencedora do prêmio de melhor atriz pela APTR, em 2015.

“Nesse caso, é referencia direta à estética do maguebeat. De nosso desejo disparado pelo manguebeat do Chico Science. E entra na peça como uma poética, com uma sonoridade bruta com power trio com muita pegada e som pesado”, completa Kosovski. A banda toca canções originalmente compostas para a peça, além de clássicos do movimento manguebeat. O power trio é constituído por Maurício Chiari, Pedro Leal e Felipe Storino.

Outra referência importante do espetáculo é o livro Homens e Caranguejos, do escritor e geógrafo recifense, Josué de Castro, precursor dos estudos sobre a fome no Brasil. A dura poética dessa obra pode ser referenciada no seguinte trecho de seu prefácio A Descoberta da Fome (Lisboa, 1966):

“A lama dos mangues de Recife, fervilhando de caranguejos e povoada de seres humanos feitos de carne de caranguejo, pensando e sentindo como caranguejo. São seres anfíbios - habitantes da terra e da água, meio homens e meio bichos. Alimentados na infância com caldo de caranguejo - este leite de lama -, se faziam irmãos de leite dos caranguejos. [...] A impressão que eu tinha era a de que os habitantes dos mangues - homens e caranguejos nascidos à beira do rio - à
medida que iam crescendo, iam cada vez se atolando mais na lama”.

Sobre "Aquela Cia. de Teatro"

Fundada em 2005, a partir da reunião de artistas provenientes de várias escolas de teatro do Rio de Janeiro, inicialmente ancorada nas relações entre teatro e literatura, a primeira montagem do grupo "Aquela Cia." foi o Projeto K., sobre a vida e a obra de Franz Kafka. Vieram em seguida Sub: Werther (interpretação do romance Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, a partir dos intertextos do livro Fragmentos de um Discurso Amoroso, de Roland Barthes), Lobo nº1 [A Estepe] (baseado no romance de Herman Hesse), Do Artista Quando Jovem (em torno do universo literário de James Joyce).

Em 2011, a linha de trabalho do grupo passou a investigar a relação entre teatro, música e Espetacularidade, com Outside, um musical noir (inspirado pelo encarte do álbum homônimo de David Bowie), Cara de Cavalo (que narra a trajetória trágica do inimigo público nº 1 do Rio de Janeiro em 1964, e suas interlocuções com a obra do artista Hélio Oiticica) e Edypop (explorando o encontro imaginário entre o mais pop dos herói gregos, Édipo, e o mais trágico dos artistas pop, John Lennon).

Em 2015, Aquela Cia. celebrou seus 10 anos com as montagens de Caranguejo Overdrive e Laio & Crísipo, esta última uma atualização de um dos mitos fundamentais da cultura ocidental, narrado por Sófocles em Édipo Rei, que relata a relação homoafetiva entre Laio, um exilado, e Crísipo, o filho do rei.

Ficha Técnica
  • Patrocínio: Petrobras
  • Realização: Ministério da Cidadania e Governo Federal Direção: Marco André Nunes
  • Texto: Pedro Kosovski
  • Elenco: Carol Virguez, Alex Nader, Eduardo Speroni, Matheus Macena, Fellipe Marques Músicos em cena: Maurício Chiari, Pedro Leal e Felipe Storino
  • Direção Musical: Felipe Storino 
  • Iluminação: Renato Machado 
  • Operação de luz: Tamara Torres
  • Produção: Thaís Venitt | Núcleo Corpo Rastreado 
  • Produção Belém: Luiza Bastos
  • Assessoria de Imprensa: Wanderson Lobato

Serviço
Caranguejo Overdrive – Aquela Cia. de Teatro 13 e 14 de abril 2019
Sábado, 20h Domingo, 19h. No Teatro Universitário Claudio Barradas - R. Jerônimo Pímentel, nº 546 - Umarizal, Belém - PA Classificação indicativa: 16 anos. Ingresso: R$ 10,00 inteira e R$ 5,00 meia. Acesso para pessoas com deficiências e áudio descrição Patrocínio: Petrobrás. Mais informações: 91 98181 4758.

(Holofote Virtual com Assessoria de Imprensa local do espetáculo)

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