Nada como ir ao teatro e se emocionar, voltar pra casa com uma sensação de preenchimento, após viver pedaços de histórias que não vivemos, mas que temos a oportunidade de conhecer através desta grande arte que é a de encenar. Acredito que boa parte das pessoas que estiveram neste último domingo, no Instituto de Artes do Pará, sentiu-se assim após a apresentação de “Iracema Voa”, da atriz e pesquisadora Ester Sá. Ali, retalhos da trajetória artística da atriz Iracema Oliveira e seu trabalho com grupos de Pássaro, trazem de volta momentos que fazem parte, também, da história da rádio, do teatro e do cinema paraense.
O público lotou a varanda do IAP, quando já na chegada Ester recebe a todos. O espetáculo começa, sem que o público perceba sua participação como personagens daquela história, afinal, Iracema está ali, recebendo a todos, junto com Ester e vivendo mais um momento de sua carreira.
Depois, seguimos em direção à ante-sala do espetáculo, onde a cena segue sem cortes, e quando temos mais uma maneira de revisitar a trajetória de Iracema, através de um Foto-Varal. O público entra ali, fica rodando no espaço, olhando cada fotografia, sem entender muito bem, ainda, o que vai acontecer, até que as cortinas da platéia se abrem e cada um toma seu lugar.
A atriz Ester Sá conduz o público a uma viagem no tempo e, aos poucos, vai contando e representando os vários momentos da vida de Iracema, que foi radio atriz, locutora e cantora, sendo considerada na década de 70, a “Rainha do Rádio Paraense”, apelido recebido dos colegas de trabalho. Em pouco mais de uma hora de duração “Iracema Voa” e Ester Sá também. O público, por sua vez, embarca na viagem. Ester canta, conta as histórias de Iracema e fala direto com o público.
A sonoplastia é impecável, trilha sonora de época, trechos de alguns programas de rádio, mas o que domina a cena mesmo é a representação de Iracema por Ester Sá, que consegue reproduzir o jeito de falar e os pensamentos da outra atriz.
Com cenografia simples e significante, Ester vai retalhando pontos importantes dessa carreira artística, como a época em que Iracema foi secretária de Paulo Ronaldo, um dos grandes nomes do radiojornalismo policial, um sucesso absoluto nas rádios Guajará, Marajoara e Liberal.
Mas a vida artística de Iracema já começa, ainda na infância, quando já acompanhava o pai, o compositor Francisco Oliveira, conhecido como Velho Chico, em grupos juninos como os de cordões de pássaros. Estão ali, também, várias outras passagens, como aquela em que, aos 15 anos, decidiu fazer um teste na Rádio Clube para ser radioatriz e a de sua atuação na rádio Marajoara, que deu-lhe não só espaço mas reconhecimento.
Naquele domingo havia motivos de sobra para emocionar-se. A platéia não era comum. Além da protagonista da vida real, estavam ali: a amiga e colega de trabalho de Iracema, Tacimar Cantuária, que fazia com ela um quadro hilário na rádio chamado “Mariquinha e Maricota”, duas amigas fofoqueiras, e ainda vários integrantes de grupos juninos de Pássaros, como o Tucano do qual Iracema é guardiã.
PÁSSARO TUCANO - Para quem quiser conhecer mais sobre o universo de Iracema, uma dica. Em junho, o grupo Pássaro Tucano será apresentado na sede do clube Imperial, no Jurunas, um dos poucos espaços que abrigavam as apresentações de Pássaros Juninos na década de 40 e 50. Até hoje, a sede está em atividade, mas há décadas que não recebe um só grupo de Pássaros. A programação será no dia 11 de junho, às 18h30.
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