20.5.09

Vieira e a guitarrada - a biografia de um mestre

A biografia abaixo foi montada a partir de documentos e conversas que o músico Givaldo Pastana, que mora na Vila dos Cabanos, teve com o amigo e grande músico Joaquim Vieira, o Mestre Vieira, da guitarrada paraense.

Aproveito para divulgar o blog feito em sua homenagem. Lá, vocês encontrarão muitas fotos, vídeos, a agenda e os contatos para shows do Mestre Vieira. Boa Leitura! E vejam depois o blog de Mestre Vieira em http://mundialprog-ponteado-mestre.blogspot.com

Barcarena, 1934 - O Sr. Joaquim de Lima Vieira nasceu em 29 de Outubro de 1934. Natural da invasão do Itapoã, em Barcarena, Município do Pará que fica a aprox. 40 km da Capital, Belém. Filho do Sr. Zacarias Pinto Vieira, de origem Portuguesa e mecânico, e da Sra. Sofia Rosa de lima Vieira (lavradora). O pai do Mestre, segundo ele, não era amante de música, por este motivo aprendeu a tocar seu primeiro instrumento (banjo) aos cinco anos, assistindo escondido às aulas que seu irmão tinha. Aos cinco anos de idade começou a tocar com seu irmão em festanças das redondezas... ainda escondido do pai!

Aos dez anos montou com seus irmãos e primos um conjunto Regional. Como seu pai não aprovava "este negócio de grupo Regional" (tocava música brasileira com instrumentos regionais, incluindo o Banjo), o Mestre resolveu perguntar-lhe que tipo de música gostava e qual instrumento lhe era agradável ouvir. Seu Zacarias falou que na sua terra natal (Portugal), os músicos tocavam vários estilos que lhe agradavam, incluindo o Fado, e que gostava muito do som do "Bandolim".

O Mestre guardou estas palavras e numa ida à Belém com um de seus irmãos, deparou- se, em uma loja de instrumentos, com o famoso Bandolim. Como não podia comprar o instrumento, convenceu seu irmão, um excelente marceneiro, a fazer uma réplica do instrumento. Assim, com 14 anos aprendeu a tocar o Bandolim e foi convidado a participar de um concurso na Rádio Clube do Pará, vencendo com nota máxima com o choro, de sua autoria, intitulado "Te agasalho". Foi eleito, em meio a feras da época, o melhor solista do Pará, e só tinha 14 anos!

Na mesma época que ganhou o título de melhor solista do Pará, Vieira foi convidado a registrar seu choro (Te agasalho), em um moderno disco de 78 rotações. Gravou-se apenas uma cópia daquele choro maravilhoso... e por ironia do destino o mesmo caiu e quebrou... ele chorou por oito dias...

Profissões - A carreira do menino prodígio do interior seguiu e o grupo Regional continuou a tocar, junto com os grupos "Martelo de Ouro", "Los Crioulos" e a "Banda do Teixeira". Por um longo período, ele cultivou outro sonho: O de ser técnico em operação de rádio. Trabalhou por uns tempos para um amigo chamado Peixoto, fazendo alegorias para a escola de samba Boêmios da Campina. Surge neste período, o rádio à pilha... e Vieira, tempos depois, ganha um de presente de uma senhora vinda do Rio de Janeiro. Logo depois, seu Peixoto lhe dá material e equipamento e ele começa a montar e consertar rádios.

Amplificando tudo - Passados uns anos, o seu Joaquim volta a tocar, formando o grupo "Vieira e seu conjunto". Aprendeu a tocar guitarra, com influência do choro e outros estilos, como o "foxtrot"... só tinha um problema... não possuía um amplificador e também não usufruía de energia elétrica. Com sua genialidade, o Mestre montou um amplificador a pilha, que alimentava em baterias de automóvel!

O menino Joaquim torna-se o criador da lambada e grava o clássico e pioneiro disco de sua carreira: Lambada das quebradas - 1978, gravado em dois canais. São vendidas 80 mil cópias, e seguiu-se com "lambada das quebradas volume 2", outro sucesso, destaque para as músicas "Melô do bode" e "Lambada do rei". Foram vendidas 230 mil cópias deste disco... sucesso total... Mas o Mestre não ficou milionário.

A música de Mestre Vieira ultrapassou os solos brasileiros e chegou à Suíça, França e Inglaterra. Os ingleses negociaram com a Continental, sua gravadora na época, a regravação do LP "Lambada das quebradas volume 2" em Inglês, e seu som contagiante conquistou a Europa.

Em 1980, foi coroado pelos gringos, Rei da Guitarra e da lambada. Em 2002, foi premiado pelos escoceses e ingleses como o melhor guitarrista do mundo.
A partir de 2004, Mestre Vieira viajou o Brasil e alguns países do mundo, como a Alemanha (onde tocou em plena Copa do Mundo), junto a outros dois amigos (Aldo Sena e Curica), que formavam o famoso grupo Mestres da Guitarrada. Paralelo a este trabalho, manteve seu grupo original (Vieira e banda), que tem como baterista e tecladista dois de seus filhos.

Show - O show deste grupo é dividido em 2 partes: Banda show (1ª parte) e Mestre Vieira (2ª parte, na qual o Mestre detona sua Ibanez tocando seus antigos e novos sucessos, em performances dignas de um monstro sagrado da guitarra... ele toca com pente, extintor, dentadura, pata de caranguejo... totalmente instrumental! Além de ser um dos maiores guitarristas do mundo, o Sr. Joaquim Vieira é também o artista de renome mais humilde e hospitaleiro que tenho notícia. É totalmente desprovido de ganância, amor por bens materiais e estrelismo. Vive em Barcarena, e não pretende sair de lá. Não é raro vê-lo nas ruas de Barcarena em sua bicicleta. Fala com todos, é amado por todos... infelizmente, só agora os brasileiros estão lhe dando o verdadeiro reconhecimento... coisa que os estrangeiros e o povo de sua terra sempre lhe deram... mas tudo bem, o importante é que ele está sendo reconhecido.

Homenagem - Em outubro de 2008, Vieira foi homenageado com a Medalha de Honra ao Mérito Cultural. Atualmente o grupo mestres da guitarrada é formado por mestre Vieira e convidados, Curica e Aldo Sena seguiram carreira solo.

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