30.10.09

Moulma realiza noite audiovisual no feriado de finados

No próximo dia 02 de novembro tem mais uma edição do projeto Tela de Rua, coordenado pelo Movimento Cultural da Marambaia (MOULMA), com apoio do Cineclube Amazonas Douro e da Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema.

A cena traz 3 filmes da Abuso Produções, do escritor, roteirista e produtor cultural Marcelo Marat, que serão projetados às 20h no feriado do dia de finados, na praça Tancredo Neves.

“Caligari” é baseado no clássico do expressionismo alemão “O Gabinete do Dr. Caligari”, de Robert Wiene (tem 6 min.); Necronomicon mostra a vida eterna pode ser apenas o início de uma angústia eterna. Baseado na obra de H. P. Lovecraft e Sammis Reachers (tem 15 min.) e A cela, uma reinterpretação do mito da caverna de Platão. Adaptação do conto de Saulo Sisnando (tem 6 min.).

Os curtas tem roteiro e direção de Marcelo e foram produzidos pela Abuso Produções. Formada por Márcio Cruz e Marcelo Marat, a produtora tem por princípio produzir arte sem gastar dinheiro. Com nove anos de existência, a Abuso já fez exposições, saraus, oficinas, festas, lançou fanzines, divulgou poetas e quadrinistas e agora dedica-se à produção de vídeos. Outros vídeos da Abuso Produções podem ser conferidos pelos links:

- Antitemplo: criado a partir de um poema de Clei de Souza.
http://br.youtube.com/watch?v=z7qprszuzmo

- Vampiro: feito sobre uma seüência de fotos de Thales Weber.
http://br.youtube.com/watch?v=rrsnfvzmtgc


Marcelo Marat por Ele mesmo

"Entre os videastas e cineastas independentes, existe uma corrente que , de forma deliberada, trabalha no chamado gênero trash: filmes de horror ou fantasia, de baixo orçamento, com atores e cenários improvisados, geralmente apelando para muito sangue, tripas e nudez.

Muita gente confunde meus vídeos experimentais com esse gênero, mas a comparação nada tem a ver. De forma geral, meus vídeos são exatamente isso: experimentais. Quando trabalho num gênero, como o terror, horror ou suspense, minha intenção é mesmo assustar o espectador, e não apenas causar nojo ou fazer rir.

O trash, em geral, é engraçado. Diverte, mas não assusta. Não provoca o medo. Para chegar a isso, é preciso exercitar estética e estilo, trabalhar a narrativa, a edição, som e imagens; buscar, apesar dos poucos recursos técnicos, o melhor efeito para obter o melhor resultado. O bizarro e o grotesco são incidentais. Não é pelos sentidos que quero fisgar o espectador, é pela psique.

O trash é todo sensorial. Meus vídeos são mais psicológicos. É na mente que quero causar seu pesadelo, nesse limite indefinido entre consciência e inconsciência. Assustar o espectador é o que quero, não diverti-lo.

E você, do que você tem medo?"
Fonte: http://ecosdonada.blogspot.com/ Por Marcelo Marat


PROGRAMA

Dia 2 de novembro de 2009 - 20 horas
Praça Tancredo Neves - Marambaia

Projeção dos filmes: Caligari / Necronomicon / A cela - de Marcelo Marat
Haverá, claro, leitura de poemas – antes, durante e depois da projeção,
com os poetas Caeté, Marcelo Sebastian, Carlos Pará, Francisco Weyl,
Clei de Souza, Cuité, Buscapé Blues,
além de leituras de trechos de Baudelaire e Lautreamont.
De seguida, faremos um debate sobre A morte do cinema na Amazônia

Realização
Movimento Cultural da Marambaia - MOCULMA

Apoio
Cineclube Amazonas Douro + Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema

29.10.09

In Bust encerra projeto “Bonecos na Estrada em Caravana”

Mais três comunidades quilombolas e dois municípios recebem “O Curupira”. Em Ipixuna do Pará haverá oficina de confecção de bonecos com Aníbal Pacha

Atravessar as estradas que nos levam aos inúmeros municípios paraenses ou adentrar em pequenas comunidades e vilarejos cravados em regiões de difícil acesso, a fim de chegar às comunidades mais distantes, na maioria das vezes com quase nada de estrutura para receber um espetáculo cênico pode parecer apenas dificuldade, mas para o grupo In Bust – Teatro com Bonecos é missão.

Para o grupo, chegar nestes pequenos lugares é o maior compromisso do projeto Bonecos na Estrada – Em Caravana, que a partir desta quinta-feira, 29, inicia a sua terceira e última etapa de 2009, patrocinado pelo Banco da Amazônia através da Lei Rouanet de Incentivo Federal à Cultura.

Com 12 anos de formação, o In Bust Teatro com Bonecos tem circulado por estradas, ramais, rios, baías e igarapés levando seus espetáculos a praças, escolas, galpões, ruas, centros comunitários e teatros, atingindo um público extremamente diversificado, tanto na capital como no interior do estado do Pará.

O projeto “Bonecos na Estrada – Em Caravana” começou no mês de julho e já passou por São Francisco do Pará, Igarapé-Açu, e Peixe-Boi, na primeira etapa. A segunda aconteceu no mês de setembro e chegou em Tomé-Açu, Concórdia do Pará, Inhangapi, Bujaru e São Domingos do Capim. Nesta etapa, entraram no roteiro as comunidades quilombolas de São Judas, próxima a Bujaru, e Pitimandeua, nos arredores de Ihangapi.

Já para a etapa de encerramento, o projeto conta com mais cinco apresentações do espetáculo “Curupira - Um Milhão de Nós”, três delas em comunidades quilombolas e duas nos municípios de São Miguel do Guamá e Ipixuna do Pará, onde também será realizada uma oficina de confecção de bonecos.

“O Curupira – Um milhão de nós” foi criado para o programa Catalendas da TV Cultura do Pará e o episódio, adaptado para ser apresentado como espetáculo. Há dez anos em cartaz, “Curupira” traz o linguajar caboclo, que tem palavras como “mundeado”, “sumano”, entre outros, ligando o público à cultura de nossa região.

Os personagens utilizam paródias das toadas de boi, carimbó e samba de cacete – ritmos da cultura paraense e os bonecos são manipulados com vara, acompanhados por máscaras, mamulengos e outros mais.

Roteiro - Com a saída de Belém programada para esta tarde de quinta, o grupo se apresenta já à noite, na Comunidade Quilombola Nossa Senhora de Fátima do Cracateua, próxima a São Miguel do Guamá.

Com 51 famílias morando na região, o único local possível para a apresentação do espetáculo é uma palhoça de esteios com cobertura de palha e chão de terra.

“Propus de vermos na hora um descampado onde talvez seja possível fazer a apresentação à céu aberto”, diz Cristina Costa, da produção, que uma semana antes visita os locais. A eletricidade será puxada também na hora para onde ficar definida a apresentação.

Acostumado com situações adversas, a maior preocupação do grupo é com a possibilidade de chuva. “Caso isso aconteça, não será possível fazermos a apresentação, pois o barracão não segura a chuva”, explica Cris.

O ritmo do grupo é intenso. Muitas vezes são feitas mais de uma apresentação por dia, a fim de conseguir atingir o maior número de espaços possíveis, aproveitando a estadia do grupo em cada região.

Em São Miguel do Guamá, por exemplo, estão previstas mais três apresentações. Na sexta-feira, 30, a primeira delas acontecerá pela manhã, na comunidade quilombola São Pedro do Crauateua. O grupo precisará de um guia para levá-los à região, onde vivem 112 famílias.

Á tarde, a Comunidade Quilombola Santa Rita de Barreiras já estará aguardando o grupo. Distante cerca de 11 km do município, a apresentação será realizada no barracão, sede da comunidade, de estrutura bastante simples.

“Nesta comunidade tem apenas 48 famílias. O espaço é muito parecido com o que encontramos na comunidade quilombola de Pitimandeua, em Inhangapi (na 2ª etapa do projeto, realizada em setembro), com alguns bancos de madeira no local e sem camarins. Vamos improvisar isso dentro da Van mesmo”, explica Cristina.

No sábado, 31, o In Bust faz a última apresentação em São Miguel do Guamá, no centro urbano do município, na quadra Getúlio Batista, na praça de mesmo nome, que fica no bairro Padre Ângelo. Com 18 mil moradores é um bairro pobre, sem estrutura e com altos índices de violência. A praça é chamada pelos próprios moradores como Praça do Iraque.

“A Secretaria de Cultura, que fica ao lado da quadra, tem procurado desenvolver um projeto de inclusão desta área às programações municipais e luta contra o estigma do local”, diz Cristina que esteve há uma semana no município fazendo os contatos e levantando este tipo de informação para facilitar a chegada do In Bust.

Neste sábado, é aniversário de São Miguel do Guamá. Haverá programação esportiva acontecendo pela manhã na beira do rio, além da apresentação do In Bust, na praça da cidade.

Á noite, enquanto a população de São Miguel participa das programações de música e grupos parafolclóricos, o In Bust já estará no município de Ipixuna do Pará, onde a apresentação acontece, às 19h, na Praça da Família.

Inaugurada recentemente, a praça tem público natural e é bem estruturada, com uma grande concha acústica, que possui um palco de 1,20m de altura. Será a última apresentação de “O Curupira, um milhão de nós”, pelo projeto “Bonecos na Estrada – Em Caravana – 2009”.

Oficina e apoios - O projeto, porém, ainda não termina de vez. Enquanto a maior parte do grupo retorna a Belém, Aníbal Pacha, um dos integrantes, fica no município para ministrar, até dia 5 de novembro, a oficina “Confecções de Bonecos”. Os interessados em participar devem procurar a Secretaria de Educação e Promoção Social de Ipixuna.

Como em todas as etapas do projeto, as apresentações do espetáculo Curupira são precedidas da exibição de episódios do programa Catalendas, exibido pela TV Cultura do Pará em Rede Nacional, feito pela equipe do In Bust em parceria com a equipe da televisão.
Fazem parte do projeto os atores manipuladores do In Bust, Paulo Ricardo Nascimento, Adriana Cruz, Aníbal Pacha. Na produção, Cristina Costa e na equipe técnica, Milton Aires.

Nesta última etapa, o grupo conta, em todas as apresentações, com o apoio da Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos – Malungu, e da Funtelpa. Em São Miguel do Guamá, o grupo recebe apoio da Câmara Municipal, das secretarias municipais de Educação, Cultura, Desportos e Turismo e do Hotel Rio Guamá. Em Ipixuna, o apoio vem da Prefeitura, através das secretarias municipais de Cultura, Desportos e Turismo; Educação, e de Promoção Social, além do Plaza Hotel.

O projeto Bonecos na Estrada – Em Caravana é a 5ª edição desta ação que o grupo realiza desde 2004, com apresentações e oficinas pelo interior do estado do Pará, buscando dar mais um passo no seu compromisso social de que a arte deve fazer parte da cesta básica do povo.


Com este projeto, o In Bust já viajou, incluindo esta última etapa, por 56 municípios e cinco comunidades quilombolas paraenses e atingiu um público direto de mais de 20 mil pessoas. O Banco da Amazônia já o patrocinou em duas edições: em 2005, Bonecos na Estrada – Em Cortejo, e em 2007, Bonecos na Estrada – O Conto que Eu Vim Contar.


PROGRAMAÇÃO

Quinta-feira – 29
São Miguel do Guamá
Comunidade Quilombola Nossa Senhora de Fátima do Crauateua
Hora:19h
Local: centro da comunidade

Sexta-feira – 30
São Miguel do Guamá
Comunidade quilombola São Pedro do Crauateua
Hora da apresentação: 10h
Local: Sede do centro comunitário
Comunidade quilombola Santa Rita de Barreiras
Hora: 18h30
Local: barracão sede

Sábado – 31
Município de São Miguel do Guamá
Hora: 10h
Local: Quadra de Esportes da Praça Getúlio Batista - Bairro Padre Angelo
Município Ipixuna do Pará
Hora: 19h
Local: Praça da Família – Rua Padre de Anchieta – ao lado do hospital Santa Clara

02 a 05 de novembro
Município: Ipixuna do Pará
Oficina de confecção de bonecos
Local: CRAS – Rua Magalhães barata, 1202 - bairro Vila Nova
Horário: dia 02/11, das 14h às 18h e nos dias 3, 4 e 5, das 8h às 12h e das 14h às 18h

Serviço
O In Bust tem sede em Belém do Pará – Casarão do Boneco, que fica na Av. 16 de Novembro, 815, próximo ao complexo São José Liberto. Mais informações: 3241.8981. e 8843.6931. Assessoria de Imprensa: 8134.7719.

28.10.09

Dossiê Rê Bordosa no Dia Internacional da Animação

Personagens “reais”, que se confundem a acontecimentos inverossímeis. Em off, duas vozes narram a história ao melhor estilo de O Bandido da Luz Vermelha. A técnica utilizada é o stop-motion.

A surpreendente animação de César Cabral, Dossiê Rê Bordosa, é uma das mais aguardadas para hoje, na sessão do Dia Internacinal da Animação, que acontece em Belém, no Instituto de Artes do Pará, a partir das 19h.

Digo que é surpreendente, mas não devo revelar o porquê para não perder a graça. O curta é um documentário fictício sobre o assassinato da mais famosa personagem de Angeli, tendo sido praticado pelo próprio autor.

No início, a brincadeira do que seria falso ou verdadeiro causa um efeito ótimo no espectador. Não se tenta explicar, afinal de contas, mas confundir o público.

Assim, os heróis dos quadrinhos que conhecemos nos anos 80 vão dando seus depoimentos sobre Rê Bordosa e relembrando vários “fatos” que a envolveram nos seus últimos dias de vida. Além deles, depoimentos do próprio Angeli, Laerte e outros produtores e amigos que na época vivam o cotidiano da revista Chiclete com Banana.

Esta é a pedida para quem quiser dar boas risadas e relaxar no final de desta quarta-feira. Não só o Dossiê, mas vários outros curtas de primeira linha estão na programação.

Considerado o maior evento simultâneo do gênero do mundo, esta mostra pelo Dia Internacional da Animção tem como objetivo formar público, gerar um intercâmbio e difundir o cinema de animação. Pelo sexto ano consecutivo no Brasil, o evento tem sessões gratuitas, organizadas pela Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA) em várias cidades do mundo.

No Pará, não será só a cidade de Belém a receber a programação. Em Ananindeua, a mostra acontece na Escola Estadual Eneida de Moraes, no conjunto Júlia Seffer. Em Pau d’Arco, a sessão já rolou pela manhã, apresentando uma programação voltada ao público infantil.

acima, Angeli em Dossiê Rê Bordosa

Nas exibições noturnas a idade mínima para a sessão é de 16 anos. Na primeira parte serão mostrados curtas estrangeiros: “História Trágica com um Final Feliz” (português), “Global Warming” (australiano) e “Selva” (russo). Depois será a vez dos curtas brasileiros. Os mais aguardados são os premiados “Dossiê Rê Bordosa”, de César Cabral, e “O Jumento Santo e a Cidade que Acabou Antes de Começar”, de William Paiva e Leo D.

Também haverá filme paraense na sessão: “Muragens”, de Andrei Miralha, e “A Montanha do Pássaro”, de Fernando Alves. Na mostra deste ano foram inscritos 126 curtas-metragens em animação de vários Estados brasileiros, dos quais nove foram selecionados para o programa oficial. Para 2010, a meta é chegar a 1.500 cidades brasileiras.

Serviço
Dia Internacional da Animação. Hoje, a partir das 19h, no IAP (Praça Justo Chermont, 236). Informações: 3231-1524 / 8828-4244.

26.10.09

Homenagem póstuma a Valdir Sarubbi pode acontecer em 2010

A recente tragédia ocorrida com grande parte da obra de Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro, reacendeu as discussões sobre conservação e aquisição de acervo de obras de arte de artistas brasileiros.

E isso só aguçou mais ainda na minha lembrança que a obra de um artista paraense, considerado um dos maiores nomes da arte contemporânea brasileira, ainda está por ser organizada de forma a ser disponibilizada a pesquisadores e amantes da arte. Caso estivesse vivo, Valdir Sarubbi, nascido em Bragança, interior do Pará, teria chegado, no último dia 10, aos 70 anos. Na foto acima, uma das obra do acervo Valdir Sarubbi.

“A qualidade que empregava em seus trabalhos era tão grande e tão refinada, que lhe renderam, inclusive, em 1999/2000 um prêmio-bolsa pela Pollock-Krasner Fondation de Nova York, da qual recebeu rasgados elogios”, escreveu o pesquisador de arte Rui Dell'Avanzi Jr. em seu blog (http://arteautentica.blogspot.com/), no dia 9 de outubro.

Infelizmente, o perdemos numa madrugada do mês de novembro do ano 2000. No próximo ano, esta perda completará uma década e muito do que ele deixou, inclusive de inéditos, permanece sob a guarda da família, mais precisamente do único filho que teve, Jonas Medeiros.

“A mapoteca do meu pai fica na sala do nosso apartamento, contendo desenhos, gravuras, pequenas pinturas em papel, além de rascunhos e esboços, estes de valor mais histórico. Também temos guardadas, pastas e mais pastas com documentos, reportagens, resenhas, críticas, ou seja, textos escritos pelo e sobre o meu pai. Pensamos que, todo esse arquivo deveria ser objeto de pesquisa de algum profissional sério, interessado em preservar, reconstituir e valorizar a obra do meu pai”, diz Jonas.

Jonas esteve em Belém, no início deste ano, para participar do Fórum Social Mundial. Aproveitou para apresentar a algumas pessoas o projeto “Sarubbi Gravador”, aprovado pela Lei Rouanet. Conversou com diretores de Museus e antigos amigos de Sarubbi, como Lucinha Chaves, Benedito e Maria Sylvia Nunes, entre outros.

No momento, ocupado com o Mestrado em Filosofia, que faz na capital paulista, onde mora, Jonas encontra dificuldades para fazer a captação do projeto. “Temos alguns contatos, mas os reflexos da crise ainda se sentem e também o meio dos departamentos de cultura e marketing das empresas são uma espécie de "mapa da mina". Só quem é conectado tem acesso aos meios”, reclama.

Pintor, desenhista, gravador e professor, foi durante as décadas de 70 e 80, que o artista paraense, radicado em São Paulo, desenvolveu um trabalho intenso na técnica de gravura em metal, notadamente água-forte e água-tinta. Ao falecer, deixou em seu atelier, 25 placas gravadas em cobre e mais duas em estanho, matrizes de suas peças que se encontram bem conservadas (uma delas na foto acima).

O projeto prevê a edição de caixas de gravura, impressão de catálogo, com grande tiragem, e envio, em forma de doação, para instituições idôneas no Brasil e no exterior, de modo que cada instituto elabore seu modo de expor e de validar o registro de parte da obra de Sarubbi. Jonas já conta com cartas de aceitação de instituições como, a Pinacoteca de São Paulo, Museu Casa das Onze Janelas, em Belém, e Museu de Arte de Brasília, entre outras.

O projeto seria uma bela homenagem póstuma a Valdir Sarubbi que, em vida, produziu uma vasta obra, cujos traços e nuances são, declaradamente, reflexos de suas memórias e amor pela Amazônia.

Tomara que sejam obtidos os recursos de patrocínio. Seria legítimo que empresas não só de São Paulo, onde viveu muitos anos, mas principalmente aqui do Pará, sua terra natal, se interessassem. Escrevo com a esperança de que este importante projeto chegue ao conhecimento de muitos que poderiam se unir a esta empreitada. Os contatos com Jonas podem ser feitos através do e-mail: jonas.msm@gmail.com

É preocupante a demora na captação, o que pode custar a suspensão do certificado da Lei Rouanet, que viabiliza patrocínios de empresas privadas através da aplicação de uma parte do IR (imposto de renda) devido, em ações culturais. Isso levaria à perder a oportunidade de realizar o projeto e, mais do que isso, esta merecida homenagem a Valdir Sarubbi, em 2010. Acima, imagem de mais uma das gravuras.

Além das placas gravadas, Sarubbi deixou um grande acervo de telas que foi, logo após seu falecimento, cuidado por Marina Marcondes Machado, mãe de Jonas, que na época só tinha 15 anos. Abaixo, segue a entrevista que fiz com Jonas, pouco tempo depois de sua visita a Belém.

ENTREVISTA

No ano que vem, completam 10 anos de morte de seu pai. Quando foi que vocês começaram a cuidar do acervo deixado por ele?

Jonas Medeiros:
Na verdade, precisamos começar a remexer no acervo desde o primeiro momento, ainda “de luto”, para “desmontar” o atelier que meu pai mantinha na Rua Albuquerque Lins, no mesmo apartamento em que ele morava. Como o espaço era alugado, tivemos que lidar não só com o acervo, mas também com papéis, pastas, móveis, livros e LPs, de modo que, em três meses, esvaziamos o apartamento.

Com o que vocês foram se deparando?

Jonas Medeiros:
Minha mãe foi de fato a responsável pelo “desmanche” do atelier, criando alguns critérios para guardar tudo aquilo que parecesse de alguma maneira importante para a memória do meu pai, e elegendo amigos e conhecidos para doar móveis, telas em branco, fogão, geladeira e outras coisas do gênero. Na época eu tinha só 15 anos de idade.

O que vocês mantêm guardado?

Jonas Medeiros:
Hoje, no nosso apartamento, mantemos um quarto só para abrigar os quadros. Nós temos uma série de telas inéditas que meu pai estava pintando entre 1999 e 2000 (ao lado esquerdo, uma delas).

De nove anos pra cá, entramos em contato com colecionadores e também com amigos próximos de nós e do meu pai. Vendemos algumas obras, especialmente por necessidade financeira. Foi assim que a DAN Galeria adquiriu grande parte da série dos chamados “desenhos negros” e realizou, em 2006, uma exposição desses trabalhos que foi bem bonita e interessante.

A mapoteca do meu pai fica na sala do nosso apartamento, contendo desenhos, gravuras, pequenas pinturas em papel, além de rascunhos e esboços, estes de valor mais histórico. Também temos guardadas pastas e mais pastas com documentos, reportagens, resenhas, críticas, ou seja, textos escritos pelo e sobre o meu pai. Pensamos que todo esse arquivo deveria ser, algum dia, objeto de pesquisa de algum profissional sério, interessado em preservar, reconstituir e valorizar a obra do meu pai.

Quando nasce o projeto das gravuras e quais as parcerias que já estão fechadas?

Jonas Medeiros:
Bom, o projeto de reedição póstuma das gravuras do meu pai nasceu da nossa vontade em resgatar a obra do meu pai, fazer com que ela circule no mundo, que as pessoas possam entrar em contato – em vez da obra ficar aqui, preservada mas isolada.

Quem nos apoiou bastante para começar a tocar este projeto foi o fotógrafo Juan Esteves, cerca de dois anos atrás. Ele nos ajudou a entrar em contato com a Graphias, atelier que será responsável pela impressão das gravuras, e com o Collegio das Artes, escritório parceiro para formatação do projeto para a Lei Rouanet.

O Juan também fotografou a impressão-piloto para nós, que já foi realizada, comprovando a boa qualidade das chapas que mantínhamos aqui em casa. É importante registrar que, antes do Juan nos convencer em apostar neste projeto, esta idéia já vinha nos rondando a mente, principalmente por causa dos conselhos valiosos que recebemos do Gileno Chaves, que além de grande amigo pessoal do meu pai, foi uma pessoa muito importante para a carreira dele.


Como funcionará a parceria com as instituições que receberão as caixas com as gravuras?

Jonas Medeiros:
A idéia do projeto envolve a parceria com nove museus brasileiros, o que o torna um projeto de alcance nacional. As parcerias consistem na doação de uma Caixa de Gravuras, contendo 27 imagens impressas postumamente, com o compromisso de cada museu organizar uma exposição de homenagem póstuma a Valdir Sarubbi, preservando adequadamente as gravuras em seu acervo.

Mais uma das gravuras, acima.


Também serão doados catálogos, em edição bilíngüe e com texto de apresentação do artista, gravador e professor universitário Cláudio Mubarac. Esse formato nos foi sugerido pelo Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Nossa vontade é de que as exposições sejam feitas de forma relativamente simultânea, em diferentes cidades do Brasil, no ano de 2010, por volta dos meses de outubro e novembro, que são os meses do nascimento (se o meu pai estivesse vivo ele faria 70 anos neste ano) e do falecimento (10 anos de sua morte em 2010).

Quais são os museus e instituições envolvidas?
Jonas Medeiros: Já obtivemos o aceite de sete dos nove museus: Pinacoteca do Estado de São Paulo, Casa das Onze Janelas em Belém, Museu de Arte de Brasília, MAMAM do Recife, MARGS de Porto Alegre, MAC-Dragão do Mar em Fortaleza, MARCO em Campo Grande, e estamos esperando resposta definitiva do MAM do Rio de Janeiro e do MON de Curitiba.

Entre os achados no apartamento dele, havia muitos escritos. Você sabia que ele cultivava uma veia de escritor também?

Jonas Medeiros:
Se eu conhecia bem esse lado do meu pai? Acho que não… Eu tenho muitas lembranças lá por 1999, 2000, que foram os dois últimos anos de vida dele, de acompanhar o processo de escrita. Ele, sentado no computador, imprimindo diferentes versões do texto, depois mandando cópias para pessoas que ele conhecia como a prima dele Maria Lúcia Medeiros, escritora que morava em Belém. O meu pai chegou a ilustrar algumas capas de livros dela.

Eu sempre tive muita dificuldade em ler os escritos dele, quero dizer, em vida, eu acho que não dei o valor que hoje eu gostaria de ter dado, talvez por ser muito novo e, agora, depois da sua morte, eu ainda acho doloroso pegar os textos dele pra ler.


Como ele te vem na memória?

Jonas Medeiros:
Eu tenho uma memória daquelas que você não sabe se ela vem realmente de conversas que eu tive com o meu pai, ou então se ela já é fruto daquilo que li em entrevistas dele, sobre a vontade de ser escritor quando era jovem, uma “vontade de escrever como o Guimarães Rosa”.

Eu não sei se existem textos desses anos que sobreviveram, mas ele falava que, por ser um bom leitor, ele reconhecia que ele mesmo não era um bom escritor nessa época.

Acho que, com o passar dos anos, ele foi sentindo a vontade de se expressar de outras formas, para além das artes plásticas. O que eu posso te dizer sobre os escritos é que existem duas impressões em papel, que mantemos aqui em casa; uma série de contos chamada “Amanhecer, amanheceres” e um romance que se chama “Histórias paralelas”. Eu não sei muito bem dizer qual a relação entre um e outro, só sei dizer que os dois começam com uma dedicatória assim: “Para Jonas, estas memórias de minha cidade natal”.

Essa coisa de memória tem tudo a ver com o todo da obra, se for ver nesta própria dedicatória está contida uma referência ao “Quarteto de Alexandria”, do escritor Lawrence Durrell, que faz uma dedicatória quase igual a essa. A série do meu pai “Memórias de Alexandria”, que marca uma produção mais abstrata na virada da década de 1980 para a de 1990, é inspirada nessa série de livros, segundo ele mesmo uma “releitura sensível” destes livros. Então no final das contas a literatura sempre esteve como horizonte do meu pai, seja como leitor, como “releitor”, na forma da produção artística e também no final da vida, como escritor.

Depois de todos esses anos, eu e minha mãe ainda não conseguimos encaminhar a forma de tornar isso público, de modo que seja reconhecido, vamos ver se isso não vira um projeto pros próximos anos…

Como foi retornar a Belém? Você visitou várias pessoas ligadas diretamente ao teu pai ou à obra dele.

Jonas Medeiros: É verdade. Eu estive em Belém agora no final de janeiro e acho que não deu ainda pra digerir totalmente o que foi essa viagem, principalmente porque tudo foi muito intenso. Foram cerca de 10 dias que muitas coisas aconteceram.

Encontrei toda a minha família que eu não via há anos e conheci pessoas que eu não conhecia, além de estar com meus amigos de São Paulo, que foram mais ou menos na mesma época para o Fórum Social Mundial.

Na foto logo acima, obra do acervo Valdir Sarubbi.

O que aconteceu de mais importante?

Jonas Medeiros:
Acho que o mais importante, nesse caso, foi que a viagem me proporcionou assumir um papel mais ativo em relação ao cuidado do acervo do meu pai. Eu pude entrar em contato com dirigentes de diferentes museus de Belém, como a Nina Matos na Casa das Onze Janelas e a Jussara Derenji, no Museu da UFPA, além de ter encontrado a Lucinha Chaves, esposa do Gileno, na galeria Elf.

Também conversei com outras pessoas sobre a possibilidade de valorizar a obra do meu pai em Belém, como o Ronaldo de Moraes Rêgo e o Mariano Klautau Filho. Como estava para começar o período de captação de recursos por meio da Lei Rouanet para o projeto das gravuras, eu também estava interessado em sondar possíveis formas de patrocínio.

Tive a oportunidade de encontrar o prof. Benedito Nunes e a sua esposa Maria Sylvia Nunes, que foram grandes amigos do meu pai. Foi um prazer ter sido recebido na casa deles. Mas acho que o principal dessa viagem na verdade foi ter voltado pra Belém. Eu tinha ido pela primeira e única vez, em agosto de 1998, com o meu pai, obviamente. Na época, ele foi homenageado em diferentes ocasiões, aconteceram exposições em Belém e na cidade-natal dele, Bragança. Acho que esse foi o núcleo dessa viagem. Ter voltado sozinho, sem ele, foi muito intenso, de diferentes maneiras.

“Reverso” é o vencedor da 6ª Mostra Curta Pará

Ontem, no cinema Olympia, foram conhecidos os vencedores da Mostra Curta Pará Cine Brasil. O primeiro lugar ficou com curta-metragem maranhense “Reverso”, de Francisco Colombo, e recebeu o prêmio Banco da Amazônia de Melhor Curta-Metragem Brasileiro, no valor de R$ 1.000,00.

Também foram premiados os curtas “Pelo Ouvido”, de Joaquim Haickel (MA); “Homens”, de Lucia Caus e Bertrand Lira (ES); “Muro”, de Tião (PE); e “Cães”, de Adler Paz e Moacyr Gramacho (BA).

Foi o público paraense que decidiu o vencedor do prêmio Banco da Amazônia de Melhor Curta-Metragem Brasileiro, dentro da Mostra Competitiva de Curtas-Metragens. (Já era de se esperar. Enquanto nos outros dias da mostra os curtas ficaram equilibrados no gosto do público, dividindo o número de votos, no primeiro dia, Reverso, de fato, foi o melhor da noite. L.M.).

O curta “Reverso”, de pouco mais de cinco minutos, sagrou-se vencedor ao cair no gosto da platéia com uma história simples, contada em um único plano sequência (termo que designa uma cena gravada sem cortes). E não foi só o público paraense que se identificou com a história de “Reverso”. Na 32ª edição do prestigiado Festival Guarnicê de Cinema, no Maranhão, o curta recebeu os prêmios de melhor filme e melhor ator, segundo o júri popular.

“Reverso” narra o encontro de um assaltante com seu assaltado que, de vítima, se reverte em algoz. O assaltante, negro, interpretado por Gilberto Martins, aborda o personagem do ator Antonio Saboia, branco, estudante universitário que filmava um bêbado no centro de São Luís. Na agonia diante da possibilidade de perder sua câmera, o estudante resolve negociar, apelando para uma pretensa igualdade entre os dois:

“A vida não é mole pra mim também não. No fundo, nós dois somos iguais”. É a deixa para o assaltante desferir duras palavras que tocam, indiretamente, na constituição da estrutura social brasileira. A questão sociorracial está presente na narrativa do curta, já que, segundo Francisco Colombo, “o assaltante sintetiza, em poucas frases, uma crítica ao sistema capitalista, e toda a história do povo negro, do povo africano que foi arrancado e trazido para cá para ser escravo”.

Além de “Reverso”, o segundo lugar do Júri Popular também é do Maranhão. Trata-se de “Pelo Ouvido” (foto ao lado direito), de Joaquim Haickel, que coleciona premiações nacionais e internacionais, incluindo os prêmios de melhor filme no Seattle International Film Festival e Syracuse International Film Festival (ambos nos Estados Unidos) e V Ibero Brasil Cine Festival (Espanha).

Para a coordenadora da Mostra Curta Pará, Márcia Macêdo, o fato de os curtas do Nordeste terem se destacado é um motivo a mais para se comemorar. “Isso reflete a situação atual da produção audiovisual, que está se descentralizando. As linhas de incentivo, alinhadas com o Ministério da Cultura, estão trazendo resultados muito interessantes. É muito bom verificar que o Nordeste está com uma produção de qualidade”, comemora Márcia.

Por causa disso, a coordenação da mostra já pensa em algumas novidades para a próxima edição da Curta Pará. “Na 7ª edição, queremos inovar no conceito geral da mostra. Vamos manter a Mostra Competitiva, com curtas de todo o Brasil, e abrir uma mostra competitiva para a produção do Norte e Nordeste. Isso cria uma integração entre as regiões e possibilita uma aproximação entre elas”, considera Márcia Macêdo.

O terceiro lugar ficou com o documentário “Homens”, que conta histórias de coragem vividas por homossexuais do interior nordestino. O filme de 22 minutos é uma produção capixaba dirigida por Lucia Caus e Bertrand Lira.

Júri Oficial - O Júri Oficial da Mostra entregou o Prêmio Associação dos Críticos de Cinema do Pará (ACCPA) ao curta-metragem pernambucano “Muro” (foto à esquerda), que tem direção e roteiro de Tião. Com imagens do sertão nordestino, intercaladas pela corrida espacial do homem à Lua e um muro de barro que impede a locomoção de alguns personagens, “Muro”, segundo o Júri Oficial, é um convite à reflexão.

“O júri privilegiou o tipo de cinema que faz o espectador pensar, que o instiga a refletir sobre o que o diretor quis dizer com as imagens expostas na tela”, argumentou Marco Antônio Moreira, presidente do Júri, logo após o anúncio da decisão.

Seguindo essa tendência, o Júri Oficial conferiu uma Menção Honrosa ao curta baiano “Cães”, dirigido e roteirizado por Adler Paz e Moacyr Gramacho. Livremente inspirado na obra do escritor e fotógrafo mexicano Juan Rulfo, o filme conta a história de um pai que carrega seu filho ferido nos ombros, em busca de ajuda. Fotografado em preto e branco, “Cães” chama atenção pelas belas imagens do sertão nordestino e por seus personagens fortes.

Na Mostra Competitiva de Curtas, 15 produções nacionais disputaram os votos do público e do Júri Oficial, formado por membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Para escolher o vencedor da categoria Júri Popular, os espectadores da Curta Pará recebiam, na entrada do Cine Olympia, uma cédula de votação para escolher um dos curtas exibidos em cada noite.

A Mostra Curta Pará alcançou um público de duas mil pessoas em seus cinco dias de programação, com ingressos, vendidos no valor simbólico de R$ 0,25.

Fonte: Assessoria de Imprensa da 6ª Mostra Curta Pará Cine Brasil.

24.10.09

Eles não usam Black-Tie no Inovacine

Com Fernanda Montenegro e Gianfrancesco Guarnieri, “Eles não usam Black-Tie, de 1981, coloca a favela e as lutas do operariado em questão. Autor da peça que deu origem ao filme Guarnieri, nascido na Itália, sempre pronunciou temas que o restante do século e ainda o seguite veriam tornar-se etéreos. Escreveu a peça em 1958, para o teatro de arena, na qual o filme homônimo se baseou, em 1981, e ganhou a brilhante direção de Leon Hirzman e fotografia de Lauro Escorel.

A trilha sonora tem músicas de Chico Buarque de Hollanda, Adoniran Barbosa e Gianfrancesco Guarnieri. As locações são na Lapa e Vila Brasilândia, no Rio de Janeiro, e São Paulo. No elenco, entre outros, temos Fernanda Montenegro (Romana), Gianfrancesco Guarnieri (Otávio), Carlos Alberto Riccelli (Tião), Bete Mendes (Maria) e Milton Gonçaves (Bráulio).

Mais uma vez, por causa do feriado de Recírio, a sessão de segunda-feira, 26, será realizada na terça-feira, dia 27, a partir das 18h, no Espaço Ná Figueredo (endereço no serviço da matéria).

O debate ao final da sessão será coordenado por Miguel Haoni, idealizador e fundador da APJCC e membro-criador dos projetos Cine Uepa e Cinema na Casa. Também ministrante do curso de “História do Cinema”, na Escola de Governo do Pará (EGPA), o jovem apoia as ações do Cine EGPA e, atualmente, coordena o Cine CCBEU e o Inovacine.

Esta será a terceira sessão do Inovacine, uma iniciativa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa), em parceria com a Associação de Jovens Críticos do Pará (APJCC) e o espaço cultrual Ná Figueiredo, onde aprogramação segue até dezembro, quinzenalmente.

O filme - Tião (Carlos Alberto Riccelli) é um jovem operário que namora Maria (Bete Mendes), uma colega da fábrica. Quando toma conhecimento de que ela está grávida, resolve marcar o casamento. Mas as dificuldades do casal são imensas. Nisso, eclode uma greve. Otávio (Gianfrancesco Guarnieri), o pai de Tião, veterano líder sindical, que passou alguns anos na cadeia devido à militância política reprimida pela ditadura militar, adere à greve mesmo contrariado com a decisão da categoria, que lhe parece precispitada.

Participando dos piquetes em frente à fábrioca, entra em choque com a polícia, é espancado e preso. O filho, indiferente ao drama do pai e dos colegas, fura a greve. Individualista, credita à militância do pai, a miséria em que sempre viveram. O conflito explode no interior da família e Tião é obrigado a deixar a casa dos pais e o emprego. Maria é adotada pelos futuros sogros, Otávio e Romana (Fernanda Montenegro), que assumem o nascimento próximo do neto.

A repressão à greve provoca uma vítima fatal; Bráulio (Milton Gonçalves), líder ligado à igreja, e o maio amigo de Otávio. O moviemnto operário tem seu mártir, que se transforma numa bandeira de lutas.

Prêmios - O drama tem 134 min (Cor), recebeu Leão de Ouro do Festival de Veneza, 1981; prêmio FIPRESCI (Federação Internacional de Crítica Cinematográfica; prêmio OCIC (Office Catholique International du Cinéma); prêmio AGIS da Banca Nazionale del Lavoro; prêmio FICE (Federação Italiana dos Cinemas de Arte); Grande Prêmio do Festival dos Três Continentes, Nantes, França, 1981; Grande Prêmio Coral do III Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano, Havana, Cuba, 1981; Espiga de Ouro do Festival Internacional de Valladolid, Espanha, 1981; melhor filme do X Festival Internacional de Cinema de Montreuil, França, 1982; prêmio da crítica para o melhor filme ibero-americano no Festival de Cartagena, Colômbia, 1983; Margarida de Prata da CNBB para o melhor longa-metragem de 1981; Prêmios Air France de Cinema de 1981 para melhor filme, diretor e atriz (Fernanda Montenegro), e prêmio especial para Gianfrancesco Guarnieri; prêmio Curumim do Cineclube de Marília, SP, 1982.

Serviço: Sessão do Inovacine. No espaço cultural Ná Figueiredo (Av. Gentil Bittencourt, 449, entre Dr. Moraes e Benjamin Constant). Nesta terça-feira, 27 de outubro, a partir das 18h. Entrada franca.

Uma noite de ótimos filmes na Mostra Curta Pará

Além do lançamento paraense, o 3º dia da mostra reuniu documentário e ficção, destacando-se os filmes documentais.

Na foto ao lado, “Homens”, doc. capixaba.


Não fui ao pré-lançamento que aconteceu no início do ano em Belém. Vi hoje, pela primeira vez, a animação dirigida por Cássio Tavernard, “O Rapto do Peixe Boi”.

Depois de algum tempo sem vê-los, ao rever os personagens Caranguejo (Ailson Braga), Camarão (Ester Sá) e aqueles moleques dos Candirus (Adriano Barroso e André Mardock) em novo episódio, percebi que estava com saudades deles, senti até uma emoção, ali no escurinho do cinema.

Mas tenho que dizer que o primeiro da série, “A Onda – Festa na Pororoca”, para mim, não foi superado. Não que isso tire algum mérito do Rapto, onde temos o bom humor e o sarcasmo dos personagens, a qualidade da animação. Mas o primeiro quase sempre é o melhor de uma série e se torna um marco, é natural.

Pena que perdi o iniciozinho da sessão que abriu a noite desta sexta-feira da Mostra Curta Pará Cine Brasil, no cinema Olympia. O curta traz uma deliciosa história, que nos envolve. No final, talvez seja essa a única queixa, sentimos que queríamos ver mais, quem sabe ainda não sai um longa.

O fato é que mais uma vez a equipe que faz essa turma criar vida, consegue arrancar aplausos calorosos e emocionantes da platéia paraense, que tem fome e gostaria muito, de ver mais da sua identidade cultural, na tela.

Depois da animação paraense mais quatro curtas foram exibidos dois documentário e dois de ficção.

O primeiro foi “Superbarroco” (Renata Pinheiro - Ficção, 17’, PE, 2008), que nos mostra a solidão de um homem e nela, o seu sonho de felicidade.

As imagens que contam a história dele se sobrepõem as que fazem parte de sua ilusão. Na arte barroca também há luz e a sombra e ainda os contrastes entre tristeza e alegria, que estão no filme que venceu como Melhor Curta no Festival de Brasília em 2008.

Em “Minami em Close-Up” (Tiago Mendonça – Documentário, 18’50”, SP, 2008) vimos um pouco da história da revista Cinema em Close-UP, mas a impressão que fica é que foi apenas o gancho para na verdade contar um pouco do movimento de cinema paulista que ficou conhecido como Boca do Lixo. Ótima opção, valoriza ambos.

Vários trechos de filmes produzidos à época são mostrados enquanto também vemos os depoimentos dos diretores, atores e atrizes que fizeram dessa história do cinema brasileiro. Quase votei nele para o Melhor na Opinião do Público.

Traz depoimentos de figuras como o próprio Minami Keizi, Cláudio Cunha, Helena Ramos, José Mojica Marins e Índio Lopes (foto), entre outros. A produção executiva é da Van Fresnot (Politheama Filmes), que está em Belém, também por causa do longa de Eliane Caffé, no qual fez a direção de produção.

A última premiação deste curta, foi o Tatu de Ouro, por Melhor Filme e Melhor Trilha Sonora, na Jornada Internacional de Cinema da Bahia, em 2009.


O quarto filme da sessão foi uma ficção, “Ana Beatriz” (Clarissa Cardoso e Santiago Dellaque, 9’13”, DF, 2008). O roteiro conta ao mesmo tempo duas histórias que acontecem paralelamente. Enquanto vemos a trajetória de Ana Beatriz naquele sábado, ouvimos, em off, a narração do mesmo dia, de Paulo.

Ora a narração vai confirmando-se nas imagens, ora divergindo-se. Ao final do dia, a vida dos dois se cruza e eles acabam começando uma relação e se casam, confirmando a afinidade que nós, expectadores, vamos tendo a certeza de que existe entre eles, a cada seqüência. Gostei. O curta recebeu Prêmio Aquisição Porta Curtas no 20º Festival Internacional de Curtas de São Paulo.

Deixo pra falar do terceiro filme da noite, por último, porque foi o que mais curti, e no qual votei como o melhor desta sexta-feira, 23. Ainda que todos os anteriores tenham prendido a atenção, provocado a imaginação e a boa sensação de se ir ao cinema, o curta “Homens” (Lúcia Caus e Bertrand Lira - Documentário, 21’40”, ES, 2008) mexeu mais.

Gosto desse cinema dá voz às histórias que talvez jamais viéssemos a conhecer, não fosse a generosidade e a sensibilidade de um cinema documental. Neste filme, uma série delas é contada. Os personagens, muito bem encontrados, são todos homossexuais, homens, que vivem no interior de estados como Paraíba e Ceará. Cada um conta sua vida em questão de minutos.

Há pelos seis depoimentos, todos muito bons e verdadeiros. Sempre em seu ambiente, seja no trabalho ou em casa, cada personagem coloca ali sua vida, do jeito nordestino, com humildade e grandeza.

As locações tornam a fotografia importante, pois ela revela mais ainda, sobre tudo que é relatado.

Além de outras premiações em 2008, recebeu Menção Honrosa, em 2009, pela pesquisa e construção dos personagens, no II Curta Taquary - Festival Internacional de vídeos de curta metragem de Pernambuco.

A Curta Pará segue até a premiação de domingo, 25. Tomara que os curtas deste sábado, 24, consigam ser tão bem recebidos pela platéia quanto foram todos os desta sexta-feira. Vamos assistir “Olhos de Ressaca” (RJ), “O Divino, De Repente” (SP), “Muro” (PE) e “Teresa” (SP). Veja os detalhes no blog http://curtapara.wordpress.com/

22.10.09

Mestre Laurentino e Radio Cipó seguem para o Velho Mundo

No mês de novembro, o Coletivo Rádio Cipó estará se apresentando no London International Festival of Exploratory Music. Para eles, um evento catalisador de mudanças, com colaborações internacionais e experimentações que promovem o interculturalismo e a partilha do conhecimento.

O repertório está pronto e em menos de quinze dias eles estarão no Velho Mundo, onde, mais exatamente no dia 6, vão fazer um show com cerca de 50 min, para uma platéia que eles podem não ter dimensão, ainda, mas que sabem: serão ouvidos por centenas de pessoas de várias nacionalidades. Por isso mesmo a expectativa do grupo é a melhor.

Serão mostradas músicas novas e do ótimo CD Formigando na Calçada do Brasil. Além das músicas, o público verá projeções de Guto Baca, feitas especialmente para a ocasião. Do Brasil apenas três grupos vão participar. Além da banda paraense, as outras duas são de São Paulo, Madame Mim e Da Cruz.

Este ano, o festival está destacando a música do Brasil, Reino Unido e Japão, mas também contará com artistas e grupos do Canadá, Groenlândia, Irlanda, Turquia, Iraque, Bélgica, China, Sérvia e Polônia.

Para garantir o espaço na mídia e projetar o trabalho das bandas e o evento, a produção do festival já fez parcerias com as revistas The Wire, Songlines e Jungle Drums e com as rádios Resonance FM e Last.FM.

“Conhecido há oito anos como Atlantic Waves, a partir de 2009 passou a se chamar LIFEM, tendo concepção que reflete seu novo rumo, mais internacional e inovador”, diz Carlinhos Vas, produtor e baterista do RC.

“O festival é um compromisso anual com o mundo emocionante da vida e da música de todos os gêneros e origens, tendo como objetivo surpreender, enriquecer, iluminar e entusiasmar audiências”, complementa.

O RC surgiu em 2002, quando Vas resolveu montar um estúdio em casa. Isso acabou reunindo os músicos Jared (baixo), Renato Chalu (guitarra), Luís Bolla (percussão) e Rodrigo “Jamanta” Lima (vocais). Já o vocalista Rui Montalvão, o Rato Boy, foi um dos primeiros a se chegar.

A partir destes encontros constantes na casa de Carlinhos, surgiram, naturalmente, experimentações de hip-hop, dub, breakbeats, jungle, ragga, rock e reggae jamaicano, hoje, a base do grupo. Além deles, estão no Coletivo RC, outros músicos e artistas populares como Dona Onete e o grande Mestre Laurentino, que irá junto com eles para a Europa.

A inventividade do grupo e suas experimentações sonoras de qualidade, com investimento em novas mídias talvez tenham sido os principais fatores para o convite do festival. Mas quem vai falar mais sobre isso pra gente é o Carlinhos, nesta entrevista.

HolofoteVirtual: Como rolou o convite e o que vocês estão achando de participar deste festival?
Carlinhos Vas: O convite rolou através da BM&A e Apex Brasil, que são nossas parceiras para escoar a nossa produção para os EUA, Europa e Japão. Achamos ótimo. É nossa primeira turnê européia. Estamos conseguindo abrir mais espaços fora do nosso país. A minha idéia hoje é conseguir tocar mais nos países da América do Sul, como: Colômbia, Argentina, Uruguai e Chile.

HolofoteVirtual: Quem vai com vocês pro Velho Mundo?
Carlinhos Vas: Gostaria de ter fechado para 12 músicos, mas não deu. A verba é muito alta. Estamos indo com 5 músicos: 01 VJ e 01 Manager Tuor, que é o Paulo André do Abril do Rock. Ele gosta muito da gente, é fã do Coletivo RC e está fechando shows também em Paris, Copenhagen e em Londres. Os músicos que vã, além de mim (bateria), são o Renato Chalu (guitarra), Jarede da Arabias (baixo e guitarra), Rato Boy (vocal) e, Mestre Laurentino (gaita). O Guto Baca vai fazer as projeções, gravação e filmagem para nosso próximo DVD.

HolofoteVirtual: Fora a viagem vocês também andam produzindo muito...
Carlinhos Vas: Estamos produzindo o Acervo Audiovisual Mestre Laurentino 80 anos de vida. Este projeto visa a produção de dois CDs de musica, 01 DVD e 01 biografia da obra e vida de Mestre Laurentino e estou fazendo a Pré-produção do CD da compositora Dona Onete, intitulado “A diva o Chamegado Paraense”.
Hoje somos Ponto de Cultura com o projeto Rede Rádio Cipó de Comunicação Digital. Temos um projeto junto com a Fapespa e Sedect para a Escolinha de Música Digital Mestre Laurentino/Estúdio-Escola. E também estamos produzindo jingles para o documentário “Mídias Digitais Alternativas”, que vai ao ar no Canal Brasil. E ainda estamos elaborando projetos culturais e sociais junto com o BNDES e Banco da Amazônia para o Ponto de Cultura.

HolofoteVirtual: Ah, me fala da participação de vocês e Mestre Laurentino no programa do Faustão. Isso, de alguma forma, rendeu profissionalmente ao grupo?
Carlinhos Vas: O Mestre Laurentino recebeu uma homenagem do programa e estreou o quadro "Figuraça". Foi lindo e maravilhoso. Ele é um mestre popular autodidata e com certeza merece tudo de bom nesta vida e na próxima. Quem quiser ver de novo a apresentação pode assistir neste link http://video.globo.com/Videos/Busca/0,,7959,00.html?b=mestre%20laurentino Aparecer no programa do Faustão abriu um leque de opção para shows no Brasil e me ligou a produtores de todo o país. Um curador quer levar a gente para tocar em Nova York.

HolofoteVirtual: Tem algum show antes da partida?
Carlinhos Vas: Infelizmente acho que não vamos tocar antes de viajar para a Europa. Ainda estamos vendo isso. Chamei um produtor para trabalhar isso aqui em Belém, geralmente tocamos mais fora do que aqui na nossa cidade. Isso é chato. Mas é isso mesmo. Valeu a entrevista, sucesso a todos!

20.10.09

Dand M lança lança novo livro de poemas

Confesso que desarrumei as palavras recebidas, remontei o texto e misturei suas falas às minhas. Não tive tempo de tê-lo demoradamente à frente para conversar bebendo talvez uma taça de vinho, ou quem sabe um copo de vodka, pura!

Estou falando do poeta Dand M, que lança nesta quarta-feira, 21, o livro de poemas “Possuído ou a diluição de Lorena”, a partir das 20h, no Teatro Waldemar Henrique, Praça da República.

A noite, que certamente promete, terá participação especial de Olivar Barreto, Juliana Sinimbú, Arthur Nogueira, Renato Torres, Felipe Cordeiro e Pedrinho Callado.

“Os poemas surgiram, a partir do momento em que me vi possuído pelo amor por Lorena”. Foi assim que Dand me definiu a inspiração que o arrebatou, resultando em seu novo livro de poemas.

Testando o lugar da poesia na cidade, Dand M leva em frente o desafio da literatura em favorecer o contato do leitor com o texto e representa, com estilo refinado, a literatura produzida no Pará.

O que torna este lançamento promissor está, sobretudo, na potência poética do livro. “De acordo com análise de alguns estudiosos, potência poética: o verso raro, a capacidade de criar imagens com a palavra escrita”, me explica e por isso mesmo peço que me envie um dos poemas do livro, que agora presenteio os leitores deste blog.

r i t u a l

repartido o pó

servido o vinho

fatiado o verso

Lorena estando convosco

poeta

teu demônio sorrirá

famigerado

voltarás ao inferno na próxima estação

Dand M


“Minha produção é invariavelmente mundana, noturna e alcoólica”. Sim, disso eu já sabia desde que o conheci e isso faz algum tempo, já perdido na memória etílica, mas sempre vivo na alma.

Quero saber sua opinião sobre a poesia na internet ao que tenho como resposta. “Me agrada, em proporção menor que o livro, que é táctil, e tem sabor”.

Duas vezes premiado com o edital de Literatura do IAP, “Flores da Campina – poezia” (2002) e “Branco ou 33 Poemas Diluídos” (2006), “Possuídos ou a diluição de Lorena” chega desta vez pela Editora Amazônia e já tem espaço para lançamento no início do ano que vem em São Paulo. No Rio de Janeiro há outras possibilidades ainda indefinidas.

Dand M, que já venceu o prêmio da Academia Paraense de Letras com o livro “Do Nu ao Infinito”, alguns anos depois, teve sua poesia adaptada para o consagrado espetáculo Verde Ver-o-Peso.

Nascido em Belém, o poeta e escritor tem veia de compositor. “A (boa) música, em geral, é carregada de poesia. Comecei a escrever através dos poetas da música – desaguando depois na literatura mais densa, que é o que gosto realmente”, disse o poeta ao HolofoteVirtual.

Tem poemas seus nas vozes de Vital Lima, Olivar Barreto, Andréa Pinheiro, Clepsidra, Karina Ninni e Anny Lima. Está em fase final de criação de um CD autoral.

No teatro, está dando início à produção do monólogo O Ser Sem Ser e, no cinema, participa da produção do documentário Transtempo – vida e obra de Benedicto Monteiro, a ser lançado em breve.

Simultaneamente, trabalha na revisão para a segunda edição de seu livro Branco ou 33 Poemas Diluídos, que sairá também pela Editora Amazônia.

Luciana Magno abre as portas de casa e ganha o terceiro grande prêmio do Arte Pará

Na próxima sexta-feira, 23, completa uma semana que a artista visual e fotógrafa Luciana Magno se mudou de “mala e cuia” para a Rua Rui Barbosa, 1660, entre a Gentil Bittencourt e Conselheiro Furtado. Não se trata de um endereço exatamente residencial, embora seja lá que ela esteja morando nos últimos dias.

A Dell Ano, uma loja de decoração e modulados foi o espaço escolhido pela fotógrafa para realizar a intervenção Vit(r)al, com a proposta de habitar (ocupar) um espaço já montado com quarto, sala e cozinha durante uma semana. A idéia que à princípio causou espécie na proprietária e vendedoras da loja, acabou agradando o júri de um dos eventos de arte mais sólidos do Estado do Pará que concedeu à obra, o terceiro grande prêmio do Salão Arte Pará.

Os espaços, já prontos, foram ocupados por Luciana e seus objetos pessoais: roupas, livros, CDs, lençóis, toalhas, pratos, pequenos eletrodomésticos. Desde então, seu dia a dia é acompanhado diariamente pela internet através de câmeras espalhadas pela loja. Prestando atenção em tudo você consegue desenhar o perfil dessa jovem artista que já tem na trajetória outros trabalhos tão instigantes quanto este.

Neste caso, ela dorme na loja, acorda, estuda, lê, trabalha o TCC. E tudo é transmitido em tempo real. No Museu da UFPA, um dos espaços do Salão Arte Pará, uma tela de TV mostra tudo aos visitantes.

Para quem achar qualquer semelhança com um reality show, ela avisa. “É um pouco o oposto, vou sair e também receber amigos, fazer o que faço normalmente só que em uma casa de vidro. Estou abrindo minha casa. Num Big Brother, por exemplo, as pessoas são isoladas em um coletivo. Eu quero abrir esse isolamento”, explica Luciana.

A loja funciona normalmente no período do dia e os clientes se espantam um pouco com aquela moça tão à vontade circulando por lá. Os olhares são curiosos. “Teve uma senhora que achou que eu era uma cliente que tinha saído apressada de casa e esquecido de trocar o pijama”, brinca.

A instalação tem feito sucesso também entre as crianças que passam pela loja. “Tem gente que entra e até abre o meu armário. As crianças ficam maravilhadas no quarto porque eu tenho muitos brinquedinhos. No sábado eu fui até o Museu da UFPA e vi na televisão uma menininha brincando com os senhores Cabeça de Batata em cima da cama. Isso foi ótimo porque além da minha própria vida, do meu corpo, das minhas ações, existem os objetos que ficam aqui quando eu saio e as pessoas ficam muito mais à vontade de tocar nas coisas. Estou vivendo o dia a dia, vamos ver o que mais acontece até sexta”, diz.

Magno tem gostado da experiência e aos poucos se sente mais e mais em casa. No último sábado, por exemplo, ela recebeu alguns amigos para um feijoada, pasmem.
Ela observa, porém, o contraste grande entre o período do dia, quando a loja tem movimento e à noite, quando o silêncio é total. “Chego a ouvir os móveis estalarem”, se diverte.

“Cortei os vínculos com a minha outra casa, desde sexta que não passo lá e pretendo não ir até esta próxima sexta, assim fica mais fácil formar um novo referencial de residência e viver isso”, afirma.

Sobre Luciana Magno sabemos que: ela nasceu em 1987 em Belém do Pará. Ainda criança começou a se interessar pela imagem. Em uma mudança repentina de residência foram abandonados inúmeros objetos assim como todas as fotografias da família que estavam guardadas juntas em uma mala-baú. Essa ausência da imagem, da identidade visual, a fez iniciar na fotografia em 2003 através da oficina Photo Morphosis ministrada por Miguel Chikaoka.

Desde então participa de diversas exposições coletivas, salões, colóquios e seminários de arte. É uma das integrantes do grupo “Espiandomundo” - mais nova prole que nasceu da Associação Foto Ativa. Faz experimentações com fotografia artesanal (pinhole), vídeo, e com novas mídias de imprimir, aprisionar ou libertar imagens. Atualmente finaliza o curso de Artes Visuais e Tecnologia da Imagem na Universidade da Amazônia.

Para saber mais sobre a artista, durante a semana da intervenção, tanto na galeria do Museu da UFPA, quanto no acesso de qualquer ponto de internet, você pode ver o desenvolvimento do trabalho pelo site http://www.blogtv.com/People/vitral. No encerramento do Arte Pará, a artista irá apresentar um vídeo editado de toda a ação.

Magno diz que a idéia de fazer a instalação tem haver com o que ela investiga, hoje, em seu TCC. Pesquisando o reboliço do movimento artístico dos anos 80, ela percebeu como as pessoas viviam pelas ruas, pelos bares, pelas casas uns dos outros e nascia disso um monte de projetos e ações interessantes.

“O TCC é um período de isolamento pirante, foi desse isolamento que nasceu a vontade de abrir as portas de casa”, diz Luciana. “O que faz uma casa ser uma casa é a vida que habita nela. Acho que é um questionamento muito pessoal acerca da intimidade, dos espaços e da utilização disso tudo”, complementa.

Eliane Caffé: “O Sol do Meio Dia” é um filme de atores

Eliane Caffé não virá a Belém para a abertura da Mostra Curta Pará Cine Brasil, que acontecerá a partir das 19h30, desta quarta-feira, 21, no Cinema Olympia (veja a programação no blog do evento, em www.curtapara.
wordpress.com).

“O Sol do Meio Dia”, dirigido por ela, será exibido nesta noite e contará com a presença de um dos protagonistas, Luiz Carlos Vasconcelos, e da produtora executiva, Van Fresnot. No dia seguinte, quinta-feira, 22, eles conversam com o público, na sessão de bate papo, às 17h, no Hilton Hotel.

Em São Paulo, com a agenda tomada, ela reservou um tempo para responder a entrevista enviada pelo HolofoteVirtual.

“O Sol do Meio Dia” (2006) é seu terceiro longa-metragem. O primeiro, “Kenoma” (1998), traz em sua trama o andarilho Jonas, que chega a um pequeno povoado e ali permanece, atraído por uma jovem de nome Tali. Habitada por camponeses, garimpeiros e pequenos comerciantes, a comunidade é um daqueles vilarejos que ainda transpiram um modo de vida primitivo.

“Os Narradores de Javé” veio em seguida (2004), projetando a cineasta nacional e internacionalmente. No filme a diretora homenageia contadores de histórias e coloca em pauta a tradição oral.

Ambos foram exibidos em Belém. Em 1998 mesmo, Kenoma foi visto no Teatro Margarida Schivasappa, um dos espaços que sediava o Festival Internacional de Cinema da Amazônia, coordenado por Flávia Alfinito (diretora dos curtas “Chuvas e Trovoadas” e “Carlos Gomes”).

“Os Narradores de Javé” ganhou exibição no cine Líbero Luxardo do Centur, com a presença de Eliane, que estava na cidade já em função das filmagens de “O Sol do Meio Dia”. Buscava parcerias e locações.
Em seu terceiro longa, a diretora conta a história de três personagens que partem do interior do Brasil rumo a Belém, numa viagem de auto-
conhecimento. Do universo fabuloso de seus dois primeiros filmes, a cineasta agora investe nas atuações profundas e diz que este é um filme essencialmente de atores, personagens.

Além de Luiz Carlos Vasconcelos (na foto abaixo, com a rabeca), tem no elenco principal Chico Diaz (foto acima) , Cláudia Assunção (abaixo, com Eliane Caffé) e Ary Fontoura. Na equipe, além de profissionais da área técnica, quase metade do elenco é de atores paraenses, além da figuração que é toda local.

No enredo de “O Sol do Meio Dia”, Artur (Luiz Carlos Vasconcelos) comete um crime passional e em seguida inicia uma viagem até Belém, sendo orientado por vozes misteriosas. Por isso talvez, inicialmente o filme tivesse se chamado “Andar às Vozes”.

A história começa a tomar novos rumos quando Artur encontra Matuim (Chico Diaz) e Ciara (Cláudia Assunção), duas pessoas que, por razões diversas, rompem com seu modo de vida em suas cidades de origem. A trajetória dos três se desenrola num triângulo amoroso que tem como cenário a cidade grande de Belém.

O filme demorou pra ficar pronto. Do início da produção até agora, levou quase quatro anos para estrear. No Pará, foram quatro meses de filmagens.

Já premiada em festivais internacionais como os da Suíça, Bélgica, Canadá, França e Barcelona, Eliane diz que “O Sol do meio Dia” tem uma carreira projetada. “Temos alguns convites para seleção de Festivais Internacionais e estamos torcendo, para o filme trilhar um pedacinho do mundo lá fora”.

Nesta entrevista, a diretora nos conta como é filmar um longa metragem na Amazônia, das dificuldades que surgiram, de diversas naturezas, incluindo o desaparecimento de uma lata de filme que já estava a caminho de São Paulo.

Mas Eliane se diz feliz com o resultado, elogia o elenco paraense e diz ter ficado surpreendida com a cultura local que, em sua opinião, ainda mantém vivos seus traços mais tradicionais.


ENTREVISTA


HolofoteVirtual: Parabéns pela premiação no Festival do Rio de Janeiro. Como foi a recepção do público carioca ao filme, considerando sua temática?

Eliane Caffé: Tivemos uma boa recepção! Uma platéia calorosa e os críticos dos principais jornais ("Estado de S.P."; "O Globo" etc) falaram bem do filme. O prêmio de melhor ator dividido entre os dois protagonistas Luis Carlos Vasconcelos e Chico Diaz foi a grande recompensa da pré-estréia no Rio.

HolofoteVirtual: A produção do filme começou há anos atrás e só agora estreou. Você encontrou muitas dificuldades para filmar aqui?

Eliane Caffé: O fato do filme não ter um apelo comercial dificultou a captação de recursos para sua realização. Este fator foi o único determinante para a demora tanto da produção como da finalização.

HolofoteVirtual: O projeto se chamava “Andar às Vozes”, nome que eu particularmente achava poético e muito simbólico à trama. Por que mudou para “O Sol do Meio Dia”?

Eliane Caffé:
Pelo fato do nome não ajudar na comercialização do filme. Se você prestar atenção, "ANDAR ÀS VOZES" funciona bem na escrita porque você vê a crase. Mas, ao falarmos, a crase pode desaparecer e o sentido poético se perde também.

HolofoteVirtual: Você disse no Rio que o filme teve muitos problemas de produção e que a equipe não podia saber. Quais foram? Um deles teria sido o desaparecimento de uma lata de filme que seguia já rodado, em um caminhão, para São Paulo?

Eliane Caffé:
O roubo da lata de negativo referente a primeira semana de filmagem foi um golpe duro, porém ao refazermos estas seqüências conseguimos melhorar muitas coisas. A grande dificuldade estrutural que encontramos foi a falta de dinheiro para concluir o filme. Uma série de "coincidências" neste plano atrapalhou muito a administração financeira. E este tipo de problema numa produção como a nossa, dispersa em vários pontos da região, trouxe um peso enorme como uma bola de neve, um problema provocando e se somando a outro. A garra da equipe e também a ousadia da produtora Van Fresnot foram determinantes para não pararmos o filme.

HolofoteVirtual: Você utiliza em seus filmes alguns elementos do universo fantástico, como em “Kenoma” e “Os Narradores de Javé”. O que prevalece neste novo trabalho?

Eliane Caffé: Ao contrário dos outros dois filmes, neste o que prevalece é a trama do universo intimista e humano dos personagens. Por isso, diria que este é um filme sobretudo de atores .

Holofote
Virtual:

Na figuração você tem os brincantes do Boi de Máscaras de São Caetano de Odivelas, o Boi Faceiro, manifestação marcante da cultura paraense. O que ficou em você dessa vivência com as coisas do Pará?

Eliane Caffé:
O fato de filmar longe de casa traz a melhor oportunidade de adquirir conhecimento e vivências de uma forma intensa e no corpo a corpo.

Muito do que vi em Belém não conhecia a não ser de formas mais estereotipadas que chegam através da mídia dominante. O que testemunhei no curto período foi uma cultura que se manifesta ainda de modo mais autêntico (menos misturada em certo sentido) do que em outras partes do nordeste que conheci. Este fato garante um frescor e força bastante acentuados nas diferentes manifestações. A música, principalmente (quase sempre acompanhada dos rituais mais diversos), parece ser uma das artes mais expressivas e fortes daí.

HolofoteVirtual: Como foi trabalhar com o elenco paraense?

Eliane Caffé: Foi um elenco que garantiu a autenticidade e vigor para a atmosfera do filme como um todo. O elenco vindo de outras regiões como São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Pernambuco, bebeu muito da fonte dos atores locais que traziam no suor o que havia de melhor na cultura regional.

HolofoteVirtual: Como está a carreira de “O Sol do meio Dia” e quais seus novos projetos?

Eliane Caffé: Estamos só iniciando a carreira com "O Sol do Meio Dia". Temos alguns convites para seleção de Festivais Internacionais e estamos torcendo, para o filme trilhar um pedacinho do mundo lá fora. Novos projetos estão germinando, aliás, é a única maneira de desapegar-se de um para criar sentido em outro e seguir vivendo.