25.3.11

A cena abusada de Red Bag

Jeferson Cecim, na manipulação e performance com bonecos
Nesta sexta, 25, e sábado, 26, acontecem as últimas apresentações do espetáculo em cartaz no Estúdio Reator, na Trav. 14 de Abril, 1053, entre Magalhães Barata e Gov. José Malcher. A partir das 21h30, somente para adultos. Leia a crítica abaixo.

Por Alberto Silva Neto*

O espetáculo Red Bag, em cartaz no espaço Reator, é uma grata surpresa na cena paraense sob vários aspectos. Em primeiro lugar, a opção por quadros independentes que recusam solenemente a palavra e que não pretendem contar uma história linear tradicional com começo, meio e fim, mas, ao contrário, mergulham em narrativas imagéticas nas quais o sentido é construído, sobretudo, pelas sensações e pelo imaginário do espectador, o que coloca o espetáculo numa relação muito próxima com características marcantes das artes cênicas na contemporaneidade, como a estética pós-dramática e a linguagem da performance.

Exemplo marcante dessa ideia aparece logo no segundo quadro, quando a fusão proposital entre o corpo do manipulador e do boneco (pernas e braços que se misturam) criam uma bela metáfora da condição do próprio ator contemporâneo, que vive intensamente o paradoxo entre ser ele mesmo e ser personagem ficcional, leitura que pode ser ampliada para as dicotomias real/artificial, vivo/inanimado, homem/objeto.
Espetáculo interage com o públcio

Destaco também a ousadia inquietante da montagem, que nunca se rende ao fácil, ao esperado, mas prefere sempre se dedicar a uma corajosa experimentação da linguagem, explorando seus limites, seja na feitura dos objetos-bonecos-coisas, na atuação do ator-performer ou nos elementos da visualidade.

Mas se engana redondamente quem acha que essas características sejam capazes de afastar o espectador desta encenação. Usando com mestria o humor ácido, o erotismo debochado e a dimensão poética invertida que habita a estética do grotesco, o espetáculo comunica-se com qualquer um que viva intensamente a crueldade do mundo moderno, que em suas prateleiras-monitores virtuais privilegia quase sempre uma ideia de beleza idealizada, em detrimento do simulacro, do fake, do kitsch, que muitas vezes representam uma visão mais profunda da condição humana.

No centro da cena, sozinho, Jeferson Cecim comanda a cena e afirma definitivamente seus princípios estéticos (para quem conhece sua trajetória, cultivados com convicção e sem cerimônia ao longo de muitos anos). Mas também é preciso enfatizar que sua performance encontra base sólida na criação segura do trio formado por Nando Lima (direção, vídeos), Leo Bitar (direção, desenho de som) e Patrícia Gondim (iluminação), que também amadurecem um diálogo criativo que vem de “outros carnavais”. 

Visualidade e experimentações impressionam
Por fim, tudo isso acontecendo no mais novo espaço cênico da cidade, criado com sensibilidade e competência pelo Nando, e agora de portas abertas para todos aqueles que gostam das experiências mais ousadas (e abusadas) da cena paraense.

*Alberto Silva Neto é ator, diretor da Cia Usina Contemporânea de Teatro e professor de teatro da Escola de Teatro e dança da UFPA.

Serviço
Últimas apresentações de Red Bag. Nesta sexta, 25 e sábado, 26, a partir das 21h30, no Estúdio Reator – Trav. 14 de Abril, 1053, entre Magalhães Barata e Governador José Malcher. Ingressos: RR$ 20,00 (com meia entrada). Mais informações: 8112.8497.

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