Júlia Zardo / Registro do blog |
"O Pará é um estado que possui identidade e cultura expressivas com forte potencial para desenvolvimento de negócios no setor da economia criativa."
A opinião é de Júlia Zardo, jornalista e gerente de Ambientes de Inovação da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), responsável por analisar os dados da 7a edição do Mapeamento da Indústria Criativa (Firjan 2022) enfatizando os números que se referem ao Pará.
São quatro as áreas criativas identificadas pela pesquisa da Firjan: Consumo (Design, Arquitetura, Moda e Publicidade), Mídias (Editorial e Audiovisual), Cultura (Patrimônio e Artes, Música, Artes Cênicas e Expressões Culturais) e Tecnologia (P&D, Biotecnologia e TIC). O Mapeamento da Indústria Criativa começou no ano de 2008 e as publicações podem ser acessadas gratuitamente pela Plataforma Casa Firjan. A edição atualizada do mapeamento está prevista para ser lançada até o início do próximo ano.
Júlia foi uma das conferencistas do painel "Economia Criativa - Preparação e Legado COP30", realizado em outubro no SESI-Pará, integrando a programação do Diálogos da Economia Criativa: Conexões e Colaborações, dentro do do Festival SESI Cultura de Fé. Estiveram presentes no Teatro do SESI produtores culturais, artistas, empreendedores da área, jornalistas e estudantes.
O PIB criativo brasileiro gerou 935 mil empregos formais e 200 bilhões de reais em 2020, último ano analisado pelo Mapeamento, que levantou dados a partir de 2018. A pesquisa da Firjam considera que os valores são originados das chamadas atividades Núcleo, onde estão os criadores propriamente ditos. Os demais atores que compõem a cadeia estão divididos em atividades relacionadas e atividades de apoio.
Economia criativa no Pará rende bilhão
“Quer dizer que em todas as atividades econômicas, o Pará representa 2,2% só que na cultura isso cai para 0,7%, mas a realidade que vemos aqui é outra. Como, por exemplo, o Círio de Nazaré com dois milhões de pessoas na rua, programação com um mês antes e quinze dias depois. Os dados não expressam essa realidade”, analisou a jornalista.
A boa notícia é que a pesquisa também revelou que a economia criativa do Pará, que gera todo ano R$1,5 bilhão, têm apontado uma tendência de crescimento maior que a média nacional quando se trata da criação de vínculos formalizados de trabalho. De acordo com Júlia, a dinamização do contexto mundial em torno das mudanças climáticas e apontando para a economia verde e práticas sustentáveis estão fazendo o mundo olhar mais para o Pará.
“O Pará está em 13º estado no Brasil e em primeiro lugar na região Norte na contratação de pessoas na área criativa com carteira assinada. De 2019 a 2020 foram mais 11 mil vínculos em relação a 2017, um crescimento de 4,1%. No mesmo período, o Brasil contratou menos. Lembrando que esse dado ainda é da pandemia. Hoje com a movimentação em torno da COP 30 esses dados podem ser muito maiores”, explicou Júlia.
Ela fez um alerta para as altas taxas de informalidade na região Norte, que é de 51% e está acima da média nacional (38%). “São pessoas que trabalham na área criativa e não são formais ou que estão no MEI em outras atividades, mas estão trabalhando com cultura. Sabemos que esses dados estão sub-representados”, completou.
Pará é campeão no setor da moda
O crescimento do setor de moda paraense é outro caso que a pesquisa aponta em descompasso com o Brasil, reforçando a tendência em alta da economia criativa local. O segmento cresceu no Pará 21% enquanto no Brasil houve uma queda. Júlia citou exemplos do pescado Pirarucu e da fibra natural Juta, que extrapolaram as fronteiras estaduais para as indústrias de calçados e bolsas.
“É importante olhar para os números para entender quais as estratégias dessas contratações. A moda está crescendo, mas estou formando gente para o setor, para o designer?, exemplificou Júlia. Há 20 anos trabalhando com empreendimentos criativos, ela destacou a importância do olhar para o futuro, mesmo diante das urgências cotidianas. “Aqui no Pará tem uma concentração de atividades de cultura, mídia muito maior que a média do Brasil. Mostra o quanto é forte a economia criativa aqui e pode ser geradora de economia e de desenvolvimento”, finalizou.
Observatório da indústria no Pará
As potencialidades econômicas e de negócios no Pará ganharam um aliado com a inauguração, em maio deste ano, do Observatório da Indústria no Estado. A iniciativa da Fiepa e entidades parceiras, como o SESI-PA, passa a oferecer uma plataforma com informações sobre a indústria no Estado, projetando cenários e contribuindo para os desafios e oportunidades no segmento. A economia criativa é um dos setores que a entidade começa a analisar detalhadamente.Felipe Freitas, gerente do Observatório da Indústria do Pará, que mediou o painel, afirmou que a indústria criativa paraense oferece uma oportunidade para gerar negócios sustentáveis e que sob a ótica Amazônida, porém, vê desafios a serem superados. “O Pará está em 11o lugar no Atlas da Inovação, por exemplo, e tem apenas 1,9% dos ativos de inovação do Brasil. Uma região do nosso tamanho tanto em espaço físico quanto em recursos naturais só responde por 2% dos ativos de inovação. É muito pouco.”, ressaltou.
Durante o painel, ele mencionou uma ocasião em que participou de um bate-papo com jovens, representando o Observatório. Na ocasião, perguntou aos estudantes quem gostaria de continuar no Pará após o encerramento dos estudos. Dos 80 jovens na plateia, apenas 10 queriam ficar no Pará. Dessa dezena, dois demonstraram interesse em trabalhar no interior do Estado.“A fronteira está aqui. Temos a COP30 no ano que vem e muito provavelmente o mundo inteiro olhando para as oportunidades que a Amazônia traz para o nosso desenvolvimento para o desenvolvimento do mundo. A economia criativa é uma oportunidade de levar a região para um cenário nacional mais relevante de produção cultural, de conhecimento e de inovação. Muitas vezes, a oportunidade está bem ao nosso lado”, enfatizou.
(Holofote Virtual, com reportagem de Railídia Carvalho - Fotos e edição: Luciana Medeiros)
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