4.11.24

Encontro traz diálogos entre Brasil e Guiné-Bissau

A Casa da Linguagem recebe nesta quarta-feira, 5, a partir das 9h, o evento “Antlânticos Lusógrafos: Diálogos literários Brasil e Guiné-Bissau”.  O encontro traz roda de conversa com Paulo Nunes e lançamento do livro O Candeeiro Pendurado, de Nhima Nanqui de Barros.

A iniciativa dialoga sobre a relação literária entre os dois países, apresentando a similaridade, diferenças e conexões da língua portuguesa. Segundo Paulo Nunes, a roda de conversa abordará questões essenciais sobre o relacionamento dos países Guiné-Bissau e o Brasil, especificamente no Pará, onde há uma relação muito forte que remota ao período colonial. 

“A temática interessa na medida em que vamos trabalhar de forma fraterna e igualitária, sem hierarquizações à língua portuguesa, que pertence a esses dois povos. O uso que se faz da língua é cultural, mas nesse diálogo, eu sempre dei por me afastar da ideia de uma lusofonia, que é um posicionamento extremamente colonialista por parte de Portugal, e prefiro me aproximar da ideia da lusografia, que prevê um relacionamento fraterno entre os países”, declara Paulo Nunes.

Reprodução da Internet
Na programação, a roda de conversa buscará gerar diálogos e trocas entre professores, pesquisadores e estudantes. 

“Esse evento será fascinante. Eu espero falar muito menos e ouvir muito mais esse belo português matizado de africanidades que é o português de Guiné-Bissau. Além disso, há o toque especial que é o sabor literário, que vai acontecer num espaço mágico, que é a Casa da Linguagem, e irá reunir outros professores de letras e diversos estudantes da cidade de Belém”, reforça Paulo Nunes.

O evento também é um momento de celebração entre Paulo e Nhima, que se conhecem desde 2010, quando a escritora foi monitora de Paulo na graduação em Letras da Universidade da Amazônia (Unama). Segundo ele, Nhima sempre foi uma aluna protagonista quando iniciaram pesquisas de literatura e negritude, onde estudaram os afro-amazônicos, os brasileiros e africanos que escrevem em língua portuguesa.

“A minha experiência com a Guiné-Bissau se deu com a Nhima Nanqui de Barros, agora professora, mas que foi minha orientanda em Belém, quando morou aqui no Brasil, e caminhou comigo nas pesquisas. Nhima me ensinou muito, mais muito mesmo, sobre seu país, sua vida, literatura, gente e culturas. Sempre tenho expectativas em aprender mais em meus encontros com essa professora e escritora incrível chamada Nhima Nanqui”, conta Paulo Nunes

Lançamento do Livro o Candeeiro Pendurado

Provocativo e criativo, o livro O Candeeiro Pendurado, da professora e escritora Nhima Nanqui de Barros, reúne cinco narrativas curtas que envolvem os leitores. Esse é o primeiro livro escrito pela escritora, que aos 23 anos saiu de Guiné-Bissau para prosseguir com o seu percurso académico no Brasil.

“O Candeeiro Pendurado não foi um livro planeado; escrevi-o sob a pressão do medo. Escrever histórias é algo que fazia há muito tempo, mas guardava-as. Às vezes mostrava-as a alguns amigos e familiares próximos, mas nunca passei disso. Em 2020, cheguei a Portugal para o nascimento do meu primogênito e uma semana após o nascimento dele, começou a pandemia de Covid-19. Eu tinha tanto medo do que poderia acontecer conosco e comecei a questionar-me: se acontecesse algo comigo, o que diriam ao meu filho? Que legado teria deixado para ele? Foi nestas perguntas sem respostas que comecei a inventar músicas e a contar pequenas histórias para ele. Foi assim que ‘O Candeeiro Pendurado’ se tornou uma realidade, um legado que vou deixar para o meu filho e ou meus filhos e a todas as crianças”, comenta Nhima.

A escritora conta que está um pouco ansiosa para o lançamento que representa e significa tanto para ela e seu legado. “Eu também estou “receosa” porque é o meu primeiro livro. Não sei como será a recepção do público. Acredito que este sentimento não é exclusivamente meu; qualquer pessoa que esteja numa situação de iniciante passa por isso. Aliás, o primeiro filho é sempre uma experiência ímpar e conta-se com a participação de todos no seu processo de educação para torná-lo num homem exemplar. Este livro é o meu filho também”, enfatiza ela.

Para a participação na roda de conversa, Nhima fala sobre a importância de debater sobre as relações entre os dois países: “A temática a ser abordada é muito importante, abrangendo um público diversificado. O Brasil e a Guiné-Bissau além da cooperação bilateral e comunitária que existe entre os dois países, há uma outra relação de irmandade e de sentimentos comuns, forjados pela colonização, hoje em dia essa ligação não é uma relação forjada, mas uma interação construída na aceitação do outro como o semelhante, na troca de ideias, na livre circulação de pessoas e bens, sem distinção de raça, cor e crença. É essa a nossa visão comum do mundo, expressa na nossa literatura!, reforça Nhima.

Serviço

Antlânticos Lusógrafos: Diálogos literários Brasil e Guiné-Bissau”. Horário: 9h, na Casa da Linguagem. Av. Nazaré, 31. Evento gratuito. 

(Holofote Virtual, com reportagem de Vagner Mendes) 

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