Em cena Alberto Silva Neto, 54, compartilha experiências pessoais numa performance que inicia com uma reflexão sobre o ator que, mesmo se transformando em outro, nunca perde a consciência de sua identidade.
O teatro é uma "metamorfose", mas uma metamorfose consciente, onde tanto o ator quanto o público sabem que o ator está ali, interpretando, mas não se transformando no personagem. Esta reflexão prepara Alberto Silva Neto a si mesmo e a suas testemunhas, para mergulhar num ato poético revolucionário, MOMO.
O teatro como a arte de expor a vida. Um lugar de revolução, onde a arte não é fuga da realidade, mas uma forma de enfrentá-la. MOMO surge em 2023, como um espetáculo solo autobiográfico que mergulha nas complexas relações familiares e na busca pelo autoconhecimento.
A dramaturgia é fundamentada em cartas trocadas na década de 1960 entre seu pai, Eduardo, e seu avô, Alberto, além de um texto escrito por Alberto após a morte de seu pai em 2007. Despojada de elementos cênicos tradicionais, a montagem enfatiza a intimidade do ato performático.
Em cena, Alberto busca revelar-se sem disfarces. Partilha com a plateia sua experiência pessoal de maneira crua e verdadeira, criando um espaço onde o espectador não é apenas um observador, mas alguém que é transformado, tocado e desafiado a repensar a própria vida.
Clínica do Sensível - prática artística e psicoterapêutica
É nesse contexto que a figura de Wlad Lima, artista-analista, escritora, diretora/cenógrafa de teatro e desenhista, se torna fundamental para entender o impacto do trabalho de Alberto. A apresentação ocorreu no porão onde ela realiza a sua Clínica do Sensível, desenvolvendo uma abordagem que integra práticas artísticas e psicoterapêuticas, oferecendo um espaço onde artistas e não-artistas podem explorar e cuidar de seus processos de criação e de si mesmos.
Dedicada ao estudo e à prática da arte como ferramenta de autoconhecimento e cura, utilizando a psicanálise como uma lente para perceber o processo criativo, em sua "Clínica do Sensível", ela é guia ao processo artístico de Alberto, entrelaçado com a análise, abrindo uma oportunidade de explorar emoções e experiências pessoais de forma profunda.
A psiquiatria, neste caso, não é disciplina distante da arte, mas uma prática que dialoga diretamente com o corpo e as emoções do indivíduo, o que a torna uma ferramenta poderosa para o processo criativo. Em "Momo" o público é convidado a vivenciar essa fusão entre arte e terapia. E nesta experiência compartilhada, não só testemunhamos um processo de transformação, demos um salto no abismo e mergulhamos num ritual de cura.
Sobre o ator
Alberto Silva Neto é jornalista, ator e professor com trajetória também como diretor e encenador. Desde 2004, dirige o grupo Usina Contemporânea de Teatro, com foco na pesquisa sobre o trabalho do ator.
Na UFPA, leciona disciplinas como Teorias do Teatro e Sistemas do Pensamento Teatral, além de coordenar projetos de pesquisa. Com doutorado em Artes pela UFMG, sua prática se une à pedagogia, investigando o processo cênico e a dramaturgia do ator, sempre com ênfase no corpo e na criação teatral.
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