5.11.10

Documentário de Walério Duarte na mostra competitiva do Amazôia Doc

O documentário "Camisa de Onze Varas" de Walério Duarte, vencedor da IV edição do DOCTV e produduzido pela Caiana Filmes terá sessão única na mostra competitiva do Amazônia Doc 2, nesta sexta-feira, 05, às 16h.

Em 1974, um acontecimento abalou profundamente os moradores de São João da Ponta, pequeno município do estado do Pará. Em uma repetição constante do que até hoje acontece na Amazônia, jovens são recrutados para trabalhar em município distante, na derrubada da mata para formação de pasto ou na extração de madeira, por um "gato", intermediador na contratação de "peões" para trabalhos pesados em fazendas e madeireiras. 

Como também acontece até hoje, os contratados foram submetidos a trabalho escravo, vigiados por pistoleiros dia e noite, recebendo apenas comida. Não suportando a situação, 16 trabalhadores de São João da Ponta fogem pela mata numa trágica aventura, onde quatro deles morrem e outros retornam física e mentalmente doentes à sua cidade.

Durante anos, a história seria contatada de pai para filho em São João da Ponta. Há até mesmo registros por escrito, a partir de depoimentos de sobreviventes, para que não se perdesse com o tempo.

A memória desses acontecimentos é o tema do documentário "Camisa de Onze Varas". Como a memória dos vencidos sobrevive sempre em fragmentos, como bem disse Walter Benjamim, seria preciso reunir tais fragmentos a partir dos depoimentos dos sobreviventes, de seus familiares, amigos e descendentes. E, como não havia registro de imagens e sons, seria necessário encontrar uma estratégia narrativa para recontar esta saga. A solução encontrada é extremamente inventiva para reconstituir essa história no filme, cujo título é uma expressão antiga que corresponde à "entrar num beco sem saída".

O autor, depois de registrar o depoimento dos sobreviventes, convoca, através de cartazes e rádios-cipós, jovens que pudessem reconstituir a história contada por aqueles. O próprio teste de elenco também é registrado. Mas, o que o diretor utiliza para compor a narrativa, e que é uma das maiores virtudes do filme, é a reconstituição da história com os atores co-dirigidos pelos próprios sobreviventes que a vivenciaram. São seqüências de impacto, que emocionam aqueles que rememoram a ação e impressionam os espectadores. Uma narrativa da resistência humana à fome, à chuva, aos animais selvagens, às doenças, à morte dos companheiros.

Em paralelo, o filme documenta a realidade da pequena São João da Ponta, sua paisagem física e humana, que é também a de grande parte da Amazônia. Percebe-se que o município pouco mudou: as paisagens de matas, rios e igarapés; a quietude da pequena cidade onde todos se conhecem; o jeito simples da população, na transparência da emoção que aflora em rostos e expressões, ao rememorarem fatos dolorosos, e na conformação com aquilo que acreditam ser o destino; os afazeres de homens e mulheres em seu cotidiano de cultivo de roças, da pequena pesca artesanal.

O filme é também, em última instância, uma oportunidade para reunir novamente os sobreviventes para falar de sua própria história, o que evitavam antes fazer. Um esforço coletivo de registrar para a posteridade e, no dizer de alguns personagens, revelar para o Brasil uma situação desumana que ainda persiste na Amazônia. Um esforço para perpetuar na memória a saga heróica dos "16 de São João da Ponta".

Fonte: Cayanna Filmes

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