Antes tarde do que nunca. O cineasta Sérgio Péo (na foto, argumentado algo) é finalmente cultuado, mesmo que por um público ainda restrito, em sua terra.
O paraense, nascido em Belém nos anos 40, foi para o Rio de Janeiro ainda adolescente, aos 13, onde se formou em arquitetura, profissão que mais tarde o influenciaria na carreira de documentarista. Neste mês de novembro, ele esteve em Belém para apresentar seus filmes e disse que ficou bastante emocionado, pois há 17 anos não vinha aqui.
Foi exibido em diversas oportunidades, como na mostra realizada pela ABDeC-PA, dentro da programação do 2º Amazônia Doc . Mas pouca gente soube, poucos viram. Eu mesma não consegui ir a nenhuma das sessões, que ficaram restritas ao auditório do Instituto de Artes do Pará com pouca divulgação e concorrendo com a overdose de exibições do festival no Cine Olympia, sem falar da turma, na qual me incluo, que ficou envolvida nas oficinas e seminários oferecidos pelo evento, praticamente tudo no mesmo horário.
Não estou dizendo que é ruim ter programação paralela, mas estou convencida de que Belém não tem público suficiente para tantas programações, dentro de um mesmo segmento artístico, nos mesmos horários, já que são as mesmas pessoas ávidas por cinema que comparecem, sem poder clonar-se a estar presente em tudo. Ou será outro, o problema? É bom que a gente pense sobre isso.
Esta semana, houve mais uma oportunidade para ver seus filmes, no Cineclube Pedro Veriano, na última terça-feira, 16, mais uma iniciativa da ABDeC-PA. E neste final de semana haverá mais uma, só que em Soure, quando o Coletivo Resistência Marajoara irá exibir, em pleno trapiche da ilha, o curta “Marajó”, filmado entre 92 e 94 (20min, 35mm e HI8).
“Este filme abre portais para uma nova percepção da cena marajoara, seja pela montagem paralela, com imagens desfocadas e tremidas, seja pela pujança de planos fixos prolongados, travellings ondulados a imitar o marear dos popopôs, e leves passeios de câmera por sobre a econografia que a natureza grafa nas areias das praias de Pesqueiro e Araruna (Soure)”, diz Francisco Weyl, do coletivo, de forma entusiasmada.
Esta iniciativa, ao meu ver, soma-se a da ABDeC-PA na intenção de difundir a obra deste autor pelos quatro cantos do Pará, seja em espaços abertos, fechados, mas sobretudo em programações gratuitas, o que não restringe nada e nem ninguém.
Sérgio, além de arquiteto, poeta e atuante como cineasta e artista plástico, fez na década de 70, uma série de filmes em Super-8 e 16mm. Entre outros, realizou os curtas Rocinha Brasil (1977), premiado na Jornada de Salvador e menção honrosa no Festival de Obenhauser, Alemanha e Associação dos moradores do Guararapes (1979), melhor curta no Festival de Gramado. Acesse o link acima e veja.
Na década de 80, acompanhou a emergência do movimento operário e do Partido dos Trabalhadores no ABC paulista (com ABC Brasil), e esteve bem próximo à movimentação artística em torno do Paço das Artes com O Muro - o Filme. Realizou ainda Nanderu, panorâmica tupinambá (1991), melhor filme no Rio Cine Festival. Hoje dedica-se sobretudo às artes plásticas.
Então, que venham mais e mais mostras de seus filmes, e que sejam eventos bem divulgados em ações que levem o público ao cinema e aos cineclubes, estejam eles onde estiverem, no Pará ou na China. Que a discussão em torno da exibição desses curtas seja engrandecedora e preocupada com a difusão de uma obra que tem muito a dizer, tanto quanto o próprio cineasta, que esteve pessoalmente aqui, emocionando-se com Belém e o Marajó mais uma vez.
Um comentário:
Perfeito Lu!
Que bom que pegaste o fio da meada... O importante é difundir, seja lá onde for, e sem necessidade de ser o primeiro...
Beijos
Dani Franco
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