13.11.10

Espetáculo revela história de amor e traição na trajetória de Magalhães Barata

Como já disseram, o ex-governador Magalhães Barata é de fato um mito que resiste ao tempo. A prova  disso está na montagem de "Sem Dizer Adeus", parte do mais novo projeto do Grupo Cuíra de Teatro, o “Cuíra por Memória”, que resgata além de sua trajetória, vários acontecimentos da época. 

Sua morte, em 29 de maio de 1959, deixou para trás muitas histórias, a maioria delas, oficiais, contidas nos livros didáticos ou contadas por amigos, hoje fontes da pesquisa que vem sendo feita pelo grupo, como Aurélio do Carmo , que também chegou ao governo do Pará em 1962, governando até 1964, quando foi deposto pelo golpe militar, liderado aqui por Alacid Nunes e Jarbas Passarinho.

Há histórias, porém, que apesar de terem sido contadas, ainda estão obscurecidas no tempo para a maioria das pessoas. Uma delas está no livro “Eu e as últimas 72 horas de Magalhães Barata”, escrito por Dalila Ohana, companheira de Barata após sua separação de Georgina de Oliveira Barata, com quem ele teve filhos.

Dalila foi alvo de uma sociedade conservadora, que infelizmente ainda se faz presente. Afastada de Barata, no momento em que ele definhava em seu leito de morte, vítima de leucemia, foi tratada de forma cruel pelos correligionários de Barata, a fim de evitar escândalos.

Escrever um livro sobre isso, um ano depois, foi a forma que ela encontrou para dar fim a toda esta hipocrisia com que foi rechaçada inclusive por aqueles que se diziam amigos. Além de tudo, Dalila acaba relatando informações importantes, de contextualização social e dos bastidores políticos do Pará, repleto de ações conspiratórias.

O livro foi um achado para Zê Charone e Edyr Proença, fundadores do Grupo Cuíra, que imediatamente se deram conta da preciosidade que tinham mãos, justamente no momento em que eles tinham aprovado o projeto “Cuíra por Memória” (Lei Rouanet - Petrobrás).

Juntos, eles pensaram da mesma forma, que esta história de Dalila precisava ser contada. E assim está sendo, graças ao Prêmio Myriam Muniz de Teatro da Funarte que contemplou “Sem Dizer Adeus”, espetáculo que se baseia no relato de Dalila, agora em cartaz no Teatro Cuíra, sempre às 21h em todas as sextas, sábados e domingos de novembro.

Edyr diz que o livro de Dalila foi encontrado na Bahia. “Alguém falou do livro pra gente e eu saí à caça disso na internet, mas acabei achando num sebo em Salvador”, lembra. “Eu e as  últimas 72  horas de Magalhães Barata” teve revisão de Santana Marques, jornalista, e de Jarbas Passarinho. “Há vários nomes citados no livro e que são muito próximos a nós, como Aurélio do Carmo, que está vivo, e com quem conversei para confirmar várias informações, já que ele foi testemunha de tudo isso”, diz Edyr.

Os interessados em lê-lo, aliás, podem comprar um dos poucos e raros exemplares que estão sendo levados pela família de Dalila para o teatro nas noites de apresentações, oportunidade única para historiadores e aos que gostam da verdade, para quem de fato, como disse a própria autora, foi escrito o livro.

O espetáculo - De suas páginas, saltam as histórias de ciúme, traição, ambição e maldade encenadas no palco pelos atores Cláudio Barradas e Zê Charone, que dão seguimento a uma parceria cênica iniciada em “O Abraço”, no ano passado. 

“Eu trabalhei no jornal do Barata, era o repórter que fazia a cobertura dos comícios que o levaram a ser governador. Fazer este papel foi um presente, porque ele foi grande, teve erros, mas foi e ainda é a grande figura politica do Pará”, disse Barradas.

Pela segunda vez em cena com ele, Zê Charone diz que esta relação só está amadurecendo. “Mais um e a gente acaba casando”, brinca Zê. “O Cláudio é um colega maravilhoso”, completa. “Quando a gente começou a trabalhar sobre o livro, o Edyr fez questão de colocar a figura do Barata na cena e não haveria outro ator melhor para retratá-lo, que o Cláudio”.

A atriz conta que ficou muito emocionada com a história de Dalila. “As mulheres têm tomado as dores dela, mais que o público masculino. E foi a mesma sensação que tive, além de que o livro tem tudo a ver com o nosso projeto “Cuíra por Memórias”, que surgiu pelo nosso interesse em contar a história do Barata”, explica.

A montagem de “Sem Dizer Adeus” é simples, se utiliza de recursos audiovisuais para compor a época. Através de projeções de cenários e vídeos que trazem a participação dos atores Henrique da Paz, Olinda Charone, Saulo Sisnando, André Mardock, Roni Hofstatter e Flávio Ramos, que interpretam figuras da nossa história, contracenando com Zê e Barradas, há ainda trechos de alguns cinejornais que cobriram, por exemplo, o velório do governador, mostrando as longas filas formadas pelo povo que buscava olhar pela última vez a face de seu líder.

Realizados pelos documentaristas Milton Mendonça e Líbero Luxardo, os cines jornais foram cedidos pelo Museu da Imagem e do Som do Pará, e trabalhados na edição e montagem de André Mardock. A música, em vários momentos, é composta e arranjada por Edyr Augusto Proença, com execução do multi-instrumentista Luiz Pardal.

Magalhães Barata, o projeto - O espetáculo “Sem Dizer Adeus” abre com chave de ouro o projeto “Cuíra por Memória”, que irá realizar, até 2012, várias ações, entre elas a montagem de um espetáculo baseado em um livro de Haroldo Maranhão, muito provavelmente o “Rios de Raiva”, e um outro sobre a história de uma antiga prostituta que atuava no bairro da Campina. Tudo se encerrará no início de 2012, com a montagem de um grande musical sobre a vida de Magalhães Barata.

O ex-governador tinha uma personalidade autoritária, traduzida por um forte sentimento de justiça social, o que lhe trouxe a admiração do povo e o ódio dos adversários e da elite paraense mergulhados em vaidades e ambições.

Foram quase 30 anos no poder, em que ele trabalhou a interiorização do executivo, através de um governo itinerante, realizando audiências públicas, abrindo as portas do poder ao povo, o que gerou no inconsciente coletivo, a imagem de um político admirado e de administração reconhecidamente populista. Isso, mais tarde seria o viés pelo qual ele se tornaria este mito de hoje, fazendo com que o Joaquim de Magalhães Cardoso Barata entrasse definitivamente para a História como o maior líder político do Pará.

E é dessa Belém antiga que o grupo Cuíra de Teatro, atuante há 30 anos em Belém, quer falar. “Quando nós viemos para cá (Bairro da Campina), percebemos o local histórico em que estávamos,. O bairro aqui é tombado e muito rico de histórias. Logo montamos “Laquê”, onde contamos a história do Meretrício. 

Dalila e Magalhães Barata
Quando fizemos o PRC 5, sobre a Rádio Clube do Pará, mais historias vieram à tona e aí nos deparamos com um texto do Ítalo Calvino, em “As Cidades Invisíveis”, onde ele dizia que se você não souber onde está, você sempre estará pisando em um local como se fosse a primeira vez. Como se o mundo começasse a cada vez que uma pessoa nascesse e aí você não tem história. Isso abriu caminho para uma pesquisa que resultaria neste projeto”, me disse Edyr Augusto, após a estreia do espetáculo “Sem Dizer Adeus”, na semana passada.

“Encontramos uma Belém maravilhosa, que era chamada de pequena Paris, uma Belém que vai até os anos 60, com a construção da Belém-Brasília, a televisão, a própria revolução e que parece que nós, paraenses, colocamos um muro daí para traz e esquecemos da cidade bonita, bucólica e com talento artístico impressionante que Belém ganhou desde então”, finaliza o escritor e diretor do espetáculo "Sem Dizer Adeus". Acima, uma das fotos que estão no livro de Dalila.

Serviço
“Sem Dizer Adeus”, em cartaz às sextas, sábados e domingos de novembro, às 21h, no Teatro Cuíra. Na Rua 1º de Março, esquina com a Riachuelo. Ingresso R$ 20,00 e R$ 10,00 (meia).

2 comentários:

Edyr Augusto disse...

Muito bom, Lu. Obrigadíssimo!!!
Bjs
Edyr Augusto

Unknown disse...

Parabéns Edyr e sua produção vocês revivem uma história de um de nossos políticos mais prestigiados em nosso estado que nunca foi contada para o povo paraense e esquecida no ostracismo. Gostaria se podessem me enviar o contato seja telefone ou celular dos familiares de Dalila, pois gostaria muito de comprar um exemplar do livro que se tornou a obra prima desta peça magnífica.

Sidney Ferreira meu email sidney-ferreira@hotmail.com cel 091 88531613 ou 09181493860