25.5.14

À Sombra de Dom Quixote em despedida no Sesc

Quando termina o espetáculo, a cena é do público, 
convidado a ver o que há por trás das cortinas,
ou melhor, da tela.
A reestreia em Belém, na última quinta, 22, no Centro Cultural Sesc Boulevard, marcou o retorno do Miasombra às apresentações, com seu 1º espetáculo, montado em 2010, a partir do Prêmio Funarte Miryam Muniz de Teatro. Nos dois primeiros dias, o público chegou curioso. No sábado, o teatro lotou e pessoas voltaram pra casa. Neste domingo, 23, às 21h, é a ultima apresentação, mas já há agenda para estar na cidade em julho, no Reator, e em outubro, no Teatro Cuíra.

No mesmo ano em que Belém do Pará foi fundada, em 1616, morria na Espanha, Miguel de Cervantes y Saavedra, autor de uma das obras mais importantes da literatura universal, “Don Quijote de La Mancha”, que conta a história de um senhor que, ao ler compulsivamente vários romances de cavalaria, moda literária da época, acaba transformando em um cavaleiro andante que sai pelo mundo em busca de seu próprio romance.

Cervantes morreu, mas sua obra atravessou o oceano e veio parar na América Latina, descendo pelo Solimões, até desaguar no Amazonas. Daí, o universo de Dom Quixote, no espetáculo do Miasombra, ser feito de meninos peixes, sereias, caranguejos, uma rosa e a cidade, o rio. 

Você se prepara para ir ao teatro e o
que acaba vendo  é, de certa forma,
cinema.
Trazendo interfaces entre o real e irreal, permeado de ilusionismo, característico do teatro de animação, o espetáculo coloca o personagem de Cervantes num estado de jogo que sugere um encontro entre a literatura, imagem estática, e o teatro, imagem em ação. 

Três cartas, escritas pelos atores manipuladores, ainda na fase de pesquisa e experimentações que levaram a montagem, costuram a narrativa ilustrada com trilha sonora, sombras e luz. 

As apresentações surpreendem o público, que é gentilmente convidado a ver de perto, após o espetáculo, seus bonecos e todo aparato de bastidores. O espanto vem, pois na tela, pode parecer complicado, mas por trás dela, é tudo bem mais simples.

De acordo com os integrantes, é uma questão de ensaios, coreografia e condicionamentos. “Temos que apresentar todo o espetáculo acocorados, para não aparecer sombras indesejáveis dos atores. Isso também exige preparo físico”, diz Milton Aires, que coordena a produção e atua no espetáculo.

Adaptações e inspirações - A história de Dom Quixote já inspirou e continua inspirando artistas diversos, ganhando milhares de adaptação para peças de teatro, óperas, composições musicais e de dança. No século XX, o cinema e a televisão também se apropriaram do Cavaleiro da Triste Figura. Nas artes visuais ele aparece em trabalhos de Willian Hogarth, Francisco Goya, Honoré Daumier, Vasco Prado  e Pablo Picasso

Em “À Sombra de dom Quixote”, do Miasombra, não há adaptação. Trata-se de uma livre inspiração, que não procura recontar a história, mas fazer revirar dentro do ser humano sentimentos sobre sua trajetória, o direito de escrever certo em linhas tortas, de não desistir dos sonhos. Mas sim, estão lá Dom Quixote, uma certa Dulcinéia e Rossinante, afinal eles existem dentro de nós.

Todo mundo quer uma foto. O Miasombra, gosta!
Voltando para circular - A volta do espetáculo foi um desafio para o grupo. Vontade de estar com ele novamente em cena, era antiga, sempre esteve nos planos, mas como tudo tem o seu tempo, só agora foi possível.

“Quando o estávamos criando, em 2010, dentro de um espaço específico, não sabíamos quando e nem onde poderia voltar em cartaz. Construímos tudo para funcionar, dentro do Estúdio Reator”, lembra Milton Aires. 

“Depois desta temporada no Sesc, que acreditou neste projeto, nos convidando para dar uma oficina seguida dessas apresentações, nos sentimos preparados para ganhar o mundo”, complementa o ator.

A demora para voltar com o espetáculo teve alguns motivos bem pontuais. Entre 2011 e final de 2013, alguns dos integrantes do grupo estavam morando e trabalhando fora de Belém. Um deles, Lucas Alberto Cunha, nem chegou a voltar, continua morando no sudeste do país, trabalhando com artes cênicas. 

A nova montagem conta com Milton, Márcia Lima e agora, com o ator Patrick Mendes, do grupo Teatro que Roda (GO). Ele está se radicando em Belém. Foi convidado e topou assumir uma das manipulações, que não são só de bonecos, exige o agilidade com a operação de luz e outros materiais, que ajudam a produzir aquela ilusão de ótica que maravilha as retinas na plateia.

Entrei para o grupo em 2010, para fazer uma simples assessoria de imprensa na estreia do espetáculo. Vieram as fotos, o maior envolvimento com os integrantes do grupo, e fui ficando. 

"À Sombra de Dom Quixote" tem ainda David Matos, na direção e dramaturgia,e conta com Mauricio Franco, que criou os bonecos originais, hoje revistos por Aline Chaves, para terem maior durabilidade; Leo Bitar, ana trilha sonora, Thiago Ferradae, na operação de luz, Nando Lima, em sua sempre consultoria de tudo, além da contribuição de Iara Regina Souza  e Aníbal Pacha, que ministraram laboratórios de criação. Todos nos ajudam a compreender melhor este teatro de tecnologia própria para a dramaturgia de sombras, com atores e bonecos.

Serviço
“À Sombra de dom Quixote”. Última apresentação neste domingo, 21h, no Centro Cultural Sesc Boulevard. Entrada franca, com distribuição de ingressos 1 hora antes. O Sesc fica na Av. Castilho França, no lado oposto da Estação das Docas, próximo ao Ver-o-Peso.

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