20.11.15

Uma aula antes do Duelo da Rabeca com o Violino

Nesta sexta-feira, 20, no Teatro Gasômetro do Paqrue da Residencia, Mestre Maciel Salú e Maestro Israel de França apresentam ao público paraense, “O Duelo da Rabeca com o Violino”, projeto que traz uma aula prática com os dois, das 18h às 18h50, aberta a estudantes de música, compositores, músicos profissionais, artistas de teatro, atores de cinema, pesquisadores, dançarinos, amantes da cultura popular. O público é amplo. A aula, gratuita. Em seguida, a partir das 20h, entra em cena o espetáculo.

Uma história de resistência e muito talento.  Maciel Salíu e Israel de França são dois nomes poderosos da cultura de Pernambuco, duas entidades, costumam dizer. Um tocador de Rabeca, outro de violino, um mestre da cultura popular, outro, maestro premiado internacionalmente, que rege orquestras na Europa. Ambos, homens negros que conhecem muito bem o que é preconceito e o que é superação.

Israel França nasceu em Olinda, aprendeu a tocar no colégio e, com o incentivo de uma professora e foi parar na Europa, onde é maestro da sinfoneta de Granada, na Espanha. E Maciel Salu já nasceu ouvindo o avô e o pai tocando rabeca. Instrumento de origem árabe foi ganhando formas número de cordas, afinações variadas, de acordo com as tradições dos lugares onde era confeccionada.

Quando Israel era criança, corria pela rua com um violino na mão, atrasado para pegar o ônibus. Acabou preso por dois policiais que pensaram que ele tinha roubado o instrumento. Na delegacia, para provar que o instrumento era seu, tocou, mesmo naquela aflição, Jesus Alegria dos Homens composição de Johann Sebastian Bach.

Maciel cresceu em contato com o cavalo-marinho, as sambadas de maracatu, a ciranda, o forró, o coco, entre outros brinquedos. Iniciou a carreira artística, ao lado de familiares, integrando os grupos Os Quentes do Forró e O Sonho da Rabeca.


Para compartilhar histórias e talento

Das 18h às 18h50, a aula prática é o momento em que os dois mestres podem compartilhar suas vivências. “É a hora de contarmos nossas histórias e incentivar os jovens que muitas vezes tem seus sonhos podados pela vida, para não desistirem do que acreditam. Pois mesmo com as adversidades é possível a gente chegar onde queremos. Nem a minha história, nem a de Israel foram fáceis.  Tivemos algumas dificuldades, mas hoje vivemos exclusivamente de música, algo que amamos!”, enfatiza Mestre Maciel Salú.

No espetáculo das 20h, veremos um duelo de muito amor à música, que irá se descortinar para nossos olhos, invadindo de forma suave, mas também vigorosa, nossos ouvidos. Venha para se emocionar. “O repertório foi criado por mim e Israel. Trouxemos para o espetáculo músicas minhas e dele, além de músicas de compositores clássicos como Bach, Vivaldi e Mozart. Entre as músicas estão algumas obras inéditas minhas, “Devaste” e “Dois empariados”, que compus especialmente para o Duelo, além de “Mãe do mar” que compus há alguns meses, mas essa é a primeira vez que executo ao vivo no palco”, revela Mestre Maciel Salú. 

“O Duelo da Rabeca com o Violino, uma peleja de amor à música”,se apresenta em Belém, a última capital da circulação, antes do encerramento, em Recife (dezembro). O espetáculo e a aula show já passaram, antes, por Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Curitiba, com patrocínio dos Correios e realização da Margot Produções em parceria aqui em Belém com o projeto Parque Musical, do Teatro Gasômetro. 

“A experiência do duelo está sendo algo totalmente diferente de tudo que já fiz. Eu sou músico erudito, e como todos, toco Mozart e Bach, e toco também música brasileira, mas eu nem imaginava que ia dar em tudo isso que estamos vivendo. No Duelo, eu provoco a Rabeca de Salú a tocar música clássica, como Vivaldi, por exemplo. E a Rabeca é um instrumento bem Diferente do violino. Não é um instrumento típico de teatro, é do terreiro, é regional, da terra mesmo. Então esta união que estamos fazendo foge a todos os padrões”, diz Israel de França.

“O Duelo da Rabeca com o Violino na verdade só tem de duelo o nome. No palco não estamos preocupados em concorrer um com um outro, queremos somar e aproximar os dois instrumentos, provando que o clássico pode estar no popular e o popular pode também tocar com a maestria do clássico”, continua Maciel.

Mestre Maciel e Maestro Israel de França são representantes legítimos do Movimento Armorial, fundado por Ariano Suassuna na década de 1970, que buscou formas de intervir no que chamava de “cultura brasileira”, encarada por ele como uma espécie de patrimônio nacional, preservado no povo. (BARROS, 2008, p.335). Segundo Suassuna o movimento tinha como objetivo, “criar uma arte erudita brasileira a partir das raízes populares da nossa cultura, e de combater, assim, o processo de vulgarização cultura ao qual ainda hoje nos encontramos submetido”. (id, p.9) Ou ainda: “lutar contra o processo de descaracterização que a cultura brasileira vem sofrendo...” (SUASSUNA, 2003, Apud BARROS, 2008, p.335). Fonte:http://euterpedespedacada.blogspot.com.br/2014/07/o-movimento-e-musica-armorial-de-ariano.html

Artistas e músicos com experiência e talento de sobra

O espetáculo conta ainda com a bailarina e coreógrafa Maria Paula Rêgo (direção artística), o artista visual Toni Braga (projeção de cenário) e os músico multi-instrumentistas Rogê Victor, Rodrigo Samico e Emerson Santana. Todos eles, com larga experiência na cena artística brasileira, prometem dois grandes momentos de arte e educação através da música, da dança e das artes visuais. 

Israel França e Maciel Salú estão muito bem acompanhados. Maria Paula, a bailarina, por exemplo, é formada em Licenciatura em Educação Artística (Teatro) pela Universidade Federal de Pernambuco e Licenciatura em Dança pela Paris VIII/ Sorbonne. Possui Especialização em Coreografia pela Universidade Federal da Bahia. 

Já no Grupo Grial, teve grandes mestres da Tradição Popular (Mestre Salustiano, Paulinho Caboclinhos Sete Flechas, Maurício do Maracatu Estrela Brilhante, Seu Martelo e Seu Biu Alexandre do Cavalo Marinho Estrela de Ouro). Sua experiência profissional como bailarina tem participações no Balé Popular do Recife (PE); Balé Apsaras (PE); Cie Les Passagers (FR) e Grupo Grial (PE). Como coreógrafa cunhou o Balé Apsaras e o Grupo Grial.

Toni Braga, artista visual e produtor, estudou com Abelardo da Hora, Paulo Bruscky, Daniel Santiago, Silvio Hansen, João Câmara, Delano, Gil Vicente. José de Moura, José Carlos Viana. Criou cenários para o Cascabulho, Baião D3, Mestre Salustiano, Encontro de Pífanos e Naná Vasconcelos. 

Como Produtor iniciou no projeto 'Seis e Meia' com artistas como Nelson Gonçalves, Nana Caimmy, Beto Guedes, Toquinho, Carlos Lira, MPB4, Quarteto em Si, Xangai, Lenine, Luiz Melodia. CD's produzidos porToni Braga: Baião D3, 'Sonho da Rabeca' (Mestre Salustiano), 'Cavalo Marinho' (Mestrte Salustiano ) 'Família Salustiano' e 'Mundo' Maciel Salú 2012.

Rogê Victor, músico multi-instrumentista, é formado em Música pela UFPE e professor, atua no mercado profissional desde 1995. Atuou como músico de Fernando Deluqui ( RPM ), Adriana Calcanhoto, Nando Reis, Beto Guedes, Marzinho Lima (Mestre Ambrosio), Juliana Kehl, Ricardo Nash, Ivaldo Moreira, Claudia Dorei, Bruno D la Rosa e Cid Campos entre outros. Trabalha na área de produção musical, trilhas sonoras, sound designer e acompanha artistas pernambucanos como Hugo Linns, Rodrigo Caçapa, Mestre Ferrugem, Fadas Magrinhas e Maciel Salu.

Rodrigo Samico, produtor musical e produtor cultural, compositor, arranjador, é professor de violão popular e violão de 7 cordas do Conservatório Pernambucano de Música e músico multi-instrumentista (violão, violão de 7 cordas, guitarra e guitarra de 7 cordas, cavaquinho, viola de 10 cordas, baixo elétrico) tem como especialidade a música popular brasileira. Com vários CDs lançados e inúmeras turnês internacionais Samico trabalha em Pernambuco com banda de vários artistas, entre eles Maciel Salu.

E Emerson Santana, músico percussionista, teve seus primeiros contatos com a música por meio de seu avô que tocava pandeiro e animava festas de família, partilhando suas experiências musicais com o mesmo.  Aos 13 anos despertou para os tambores no contato com a Capoeira Angola, na qual obteve relação e formação com percussionistas, Ogans e luthiers de tambores. Com eles participou de oficinas de ritmos africanos e regionais tendo estabelecido vivências com a música afro-brasileira. Suas influências estão ligadas ao Candomblé, Coco, Ciranda e Maracatu. Participou de inúmeros festivais nacionais e internacionais e atualmente desenvolve trabalhos com Mestre Maciel Salu , Mestre Galo Preto e A Parte Percussiva.

Serviço
Teatro Gasômetro – Parque da Resiência – Av. Magalhãe Barata, entre 3 de Maio e Castelo Branco. Dia 20 de novembro -  Aula | 18h - Espetáculo | 20h. Entrada gratuita. Mais informações: 91 4009.87 21 |3088.5858 e 91 98134.7719. Fanpage: /oduelodarabecacomoviolino / Instagram: @duelodarabecacomoviolino

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