Bati um papo com José Alberto Lovetro, mais conhecido como Jal, como ele assina seus trabalhos.
O cartunista e jornalista paulista esteve em Belém para participar do júri e ministrar uma plalestra (foto) dentro da programação do 3 Salão Internacional de Humor da Amazônia, que está acontecendo no Espaço São José Liberto, até o próximo dia 26.
O cartunista e jornalista paulista esteve em Belém para participar do júri e ministrar uma plalestra (foto) dentro da programação do 3 Salão Internacional de Humor da Amazônia, que está acontecendo no Espaço São José Liberto, até o próximo dia 26.
Ele iniciou sua carreira na Folha de São Paulo em 1973, é fundador das associações Brasil/Portugal de Banda Desenhada, Brasil/México de Humor Gráfico e Brasil/Cuba de Historietas, produz o Troféu HQMIX que já está em sua 22º edição e é presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil. Jal inaugurou o primeiro Futeblog do mundo e estimula que outros times façam o mesmo. “Humor gráfico e futebol é uma receita que dá certo”, acredita.
No sábado, 18, ele esteve falando a um público de educadores sobre a utilização do quadrinho na sala de aula. “Venho fazendo pesquisas e cursos em escolas, faculdades e entidades como a antiga FEBEM com essa linguagem. O resultado é espetacular”, diz.
Em um trabalho de três meses, Jal e a professora Sonia Luyten, criadora do curso de HQ na ECA-USP nos anos 70 e que já deu aulas no Japão e Europa durante anos, fizeram uma aplicação da prática dentro da sala de aula, em duas escolas da rede pública de São Paulo com apoio da Secretaria de Educação.
Ao lado (Jal é que está de blusa vermelha), momento da abertura do salão, na última sexta-feira, 17.
“Aplicamos os exercícios, junto com os professores, em diversas disciplinas. Matemática, Português, Geografia e até Psicologia. Aplicamos em salas com alunos do ensino básico, médio e até intermediário.
O resultado foi de 100% de evolução em todos os níveis. Alguns alunos mais e outros menos, conforme o interesse de cada um, mas todos evoluíram e aprimoraram no aprendizado”, afirmou.
Apesar de ter sido a primeira vez dele na capital paraense, Jal diz que tem muuitos amigos por aqui, como Biratan Porto, criador do Salão de Humor, J. Bosco, Júnior Lopes (que já está em Sampa faz alguns anos) e outros.
“O melhor lugar é aquele onde estão os amigos e aí nos sentimos em casa. Minha imagem da Amazônia sempre foi de algo mais próximo do que deveria ser nossa vida na Terra. Mais verde em volta. Sei que não tem jacaré na rua, mas de vez em quando aparece um na piscina de alguém, né não? Jacaré também é filho de Deus!”, brincou.
Holofote Virtual: Humor e ecologia.... é crítica pura?
Jal - Acho eventos como esse do Salão Ecológico, criado pelo grande Biratan, a melhor forma de conscientizar desde crianças até os mais velhos. Eu mesmo organizei um Salão de Humor Ecológico em Campos no Rio de Janeiro, em janeiro de 2008, a pedido do Ziraldo. Foi um sucesso. Ainda bem que o de Belém não ficou só no primeiro, pois esse trabalho tem que ser contínuo.
O humor é uma ferramenta forte para fazer as pessoas sentirem o que estão fazendo de errado. Minha expectativa com o salão é grande pois considero o norte do País o ponto de referência de nosso futuro e do planeta. Um evento desses é mais importante que propaganda em TV sobre o assunto. Pois cria raízes e não segundos de informação no ar que desaparecem logo após o próximo comercial. São imagens que fixam na retina para sempre. A experiência do humor é algo especial para cada um de nós.
Holofote Virtual: Para ser bom chargista ou cartunista, basta saber desenhar?
Jal - Temos ótimos desenhistas no mundo. Mas poucos roteiristas ou pessoas de criação. Isso porque sempre pagam mais pelo desenho do que pelo roteiro. Os desenhistas são mais estimulados. Só que eu dou o mesmo valor para o roteiro e o desenho.
Para termos bons roteiristas é preciso que tenhamos pessoas interessadas em aprimorar estudo e com uma cultura suficiente para se comunicar com os outros.
Meu conselho é que, ao mesmo em tempo que se aprimore na arte do desenho, também se empenhe no aprimoramento de sua cultura.
Hoje é mais fácil fazer isso. Temos uma base de pesquisa que é a internet. O problema é que os jovens só pesquisam na internet e o conteúdo indiscriminado da net traz mais mentiras que verdades. Dessa forma é preciso pesquisa em revistas, em entrevistas com pessoas que são referência de conteúdo. Aí está a diferença. Quem fizer isso já ganha de cara muitos pontos na frente dos seus concorrentes.
Holofote Virtual: A internet tem sido um ótimo canal para os estes profissionais?
Jal - Iniciei minha carreira de cartunista na Folha de São Paulo em 1973. Era uma época em que os novos desenhistas só conseguiam espaço para mostrarem seus trabalhos em fanzines produzidos em fotocópias.
Portanto, para mim, a internet é uma maravilha da comunicação. Os novos autores não precisam nem gastar com fotocópia pois basta abrir um blog ou site gratuitamente e chegar ao mundo todo. Claro que essa ferramenta tem que ser bem utilizada. Assim como facilita a comunicação também expõe milhares de alternativas e o autor corre o risco de ficar anônimo no meio de tudo isso. Se juntar competência com criatividade, aí a coisa fica bem a favor do autor.
Holofote Virtual: Qual a função da caricatura?
Jal - A caricatura é real e mostra o presidente como ele é. Se é careca, terá até ampliada sua vasta calvície. A caricatura é história iconográfica pura. Eu trocaria as fotos dos presidentes dos livros escolares por caricaturas. As crianças iriam lembrar mais de cada um e até se interessarem mais pela história deles.
Minhas melhores caricaturas foram do Delfim Neto quando era ministro do Planejamento, Agricultura e da Economia em épocas distintas. Ele esteve em vários governos militares e não podíamos fazer caricaturas dos presidentes militares. Aí o Delfim era o que mais aparecia nas charges.
Um dia fiz um documentário sobre o Salão de Piracicaba onde entrevistamos o Delfin sobre a mania dele de colecionar charges feitas sobre sua pessoa. Ele disse que apreciava quando o chargista o apanhava em momentos difíceis. Usou o próprio bom humor contra o humor. Por isso o chargista precisa ter boa formação de análise para digladiar com essas personalidades fortes.
Holofote Virtual: Você contou "A história do futebol no Brasil através da Charge (2005)". O que anda criando atualmente?
Jal - Bem, esse livro "A história do futebol no Brasil através do Cartum", que fiz junto com o Gualberto Costa, é único e está esgotado. Único, pois não há outro que reúna mais de 100 grandes desenhistas em cerca de 300 ilustrações e que conta uma história que vem de antes do Charles Miller trazer bola e equipamento para o Brasil. Agora estamos para fazer uma atualização e relançá-lo no próximo ano por nova editora.
Atualmente tenho uma empresa de comunicação que trabalha com o Mauricio de Sousa e cria eventos e exposições. Também produzo com o Gualberto Costa o Troféu HQMIX que já está em sua 22º edição e tem a parceria do Serginho Groisman. Na internet estou com mais 10 cartunistas no primeiro futeblog do mundo (www.a-academia.zip.net) onde os onze cartunistas são palmeirenses.
Estou estimulando para que todos os times tenham um desses futeblogs para que no futuro criemos um campeonato de futeblog nacional e até internacional. Isso poderá ter algum patrocínio e ampliar o mercado de trabalho para o cartunista. Humor gráfico e futebol é uma receita que dá certo.
Holofote Virtual: O Troféu HQMIX... Como ele funciona?
Jal - Até hoje não sei como consegue funcionar...RêRêRê.. brincadeira!
Tudo começou no programa TV MIX na Tv Gazeta de São Paulo quando eu e o Gualberto Costa tínhamos uma coluna de quadrinhos no programa apresentado pelo Serginho Groisman e Astrid Fontenele. Aí achamos que seria legal ter um troféu dos melhores do ano votados pelos próprios cartunistas e pessoas da área de desenho.
Começamos com os representantes de cada Estado brasileiro e agora já são cerca de dois mil profissionais da área votando. São 22 anos que levaram o Troféu a ser conhecido pelo mundo como o Oscar das artes gráficas na América Latina. Começamos a trabalhar na organização logo depois da entrega do troféu que acontece entre julho e agosto.
Holofote Virtual: Deve ser uma longa empreitada...
Jal - Dá um baita trabalho já que somos todos voluntários e temos que cuidar de nossos empregos ao mesmo tempo. Mas é algo necessário para a área já que posiciona toda uma categoria diante da produção cultural no Brasil.
Fazemos o levantamento de todos lançamentos e produção do ano que se encerra e várias comissões escolhem os sete indicados em cada categoria. Aí enviamos as cédulas para os votantes. Caso não concorde com os indicados, há a possibilidade de votar em outra opção além dos sete escolhidos pela Comissão de Organização do Troféu.
Nesse ano abrimos um blog para que todos dessem idéias e discutissem essas indicações. É o mais democrático possível. Tem uma auditoria de advogado do Tribunal de Ética da OAB sobre o processo de votação. Depois coordenamos o dia de entrega do Troféu com um show com Serginho Groisman, nosso padrinho, e a Banda do programa Altas Horas.
Isso acontece no SESC Pompéia que paga a base do evento e os mais de 50 troféus para os vencedores. A cada ano homenageamos um personagem de HQ ou humor gráfico brasileiro. Nesse ano é o Astronauta do Mauricio de Sousa que completou 50 anos de carreira em 2009, ano que estamos premiando. Outras informações podem conseguir no site www.hqmix.com.br
Holofote Virtual: Ziraldo, Jaguar e Millôr fizeram a sua cabeça com o Pasquim, qual foi teu contato com eles na época?
Jal - Eu comecei a publicar no ano de 1973 na Folha de São Paulo. Eram quadrinhos com um personagem meu chamado Zélio O Repórter. Aí eu já fazia quadrinhos jornalísticos pois o tema era bem próximo às notícias dos jornais da época.
O Zélio era o repórter que conseguiu a famosa foto na praia da Jaqueline Kennedy de "peitcho" de fora. Também foi ele quem conseguiu entrevistar o Poderoso Chefão do filme de Coppola. Entrevistou o Shigeaki Ueki, ministro de Minas e Energia do governo militar de Geisel e até conseguiu a última entrevista com Nixon antes dele se demitir da Casa Branca depois do escândalo Wathergate.
Toda essa noção política em minha cabeça de 18 anos vinha da leitura do Pasquim desde os 14 anos. Foi assim com milhares de pessoas nesse país. O Pasquim foi uma revolução pelo humor. Em 1999, ninguém comemorava os 30 anos do Pasca. Aí eu e o Gualberto Costa (sempre ele) resolvemos fazer um documentário sobre a história do jornal. Fizemos para a TV SESC e me orgulho de ter conseguido entrevistas históricas com Ziraldo, Jaguar, Millôr que viraram não um mas dois documentários.
Holofote Virtual: Como anda a criatividade dos profissionais brasileiros?
Jal - Hoje? Vejo os chargistas meio perdidos para fazer humor cáustico. Vejo mais piadinhas sobre os acontecimentos do que uma análise mais profunda do que somos e do que queremos. Acho que o Angelí é o que consegue chegar mais adiante na charge. Não é por acaso que vem ganhando do o Troféu HQMIX como chargista na última década. Já as ilustrações e cartuns e mais ainda a caricatura são espetaculares. Quadrinhos então, vejo uma super-geração tomando conta do pedaço com muita competência.
Holofote Virtual: Como funciona a Associação de Cartunistas do Brasil, da qual você é presidente?
Jal - A ACB - Associação dos Cartunistas do Brasil é uma entidade mantida por voluntários que não cobra mensalidades e procura fortalecer a profissão de desenhista e o mercado de trabalho. Para isso montamos um site que tem muitas dicas e até um livro que pode ser baixado, gratuitamente, que demonstra de como se deve agir para entrar no mercado de trabalho.
É importante pois tem muita desinformação na área o que é ruim para todos. Um desenhista novo que aceita fazer um trabalho gratuito para um veículo de mídia, só para divulgar seu nome, está errando na base.
Quando a pessoa que o chamou tiver dinheiro para pagar um trabalho não vai chamá-lo. Vai procurar um desenhista de nome e ele ficará com o carimbo na testa de que é o cara que faz de graça. Assim ele não terá dinheiro para aprimorar sua arte, fazer cursos, comprar material de qualidade e pelo menos viver disso.
É importante pois tem muita desinformação na área o que é ruim para todos. Um desenhista novo que aceita fazer um trabalho gratuito para um veículo de mídia, só para divulgar seu nome, está errando na base.
Quando a pessoa que o chamou tiver dinheiro para pagar um trabalho não vai chamá-lo. Vai procurar um desenhista de nome e ele ficará com o carimbo na testa de que é o cara que faz de graça. Assim ele não terá dinheiro para aprimorar sua arte, fazer cursos, comprar material de qualidade e pelo menos viver disso.
Ao mesmo tempo ele está acabando com o emprego de um profissional que poderia receber por aquele trabalho. Os empresários que contratam um desenhista devem sacar que pagar bem fará com que o desenhista dedique seu tempo para aquele trabalho e pode ser a diferença entre vender mais seu jornal, revista, etc. Desenhista bem paga dá lucro para o editor. Precisamos fortalecer essa verdade.
2 comentários:
Luciana, o cartunista Jal é um dos mais respeitado do Brasil, fundou e escolheu bem os seus representantes da ACB( associação dos cartunistas do Brasil).
bela entrevista.
bjs
Oi J. Bosco, querido este time do Salão, que você integra também, é inteirinho de craques!!! O Biratan, você e todos que o fazem estão mais do que de parabéns.
bjos e obrigada pela visita!!
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