Autora espera um público de historiadores, artistas e demais interessados para uma noite festiva e reveladora sobre um dos mais importantes patrimônios arquitetônicos erguidos em Belém na Bélle Époque. O lançamento é nesta quarta, 29, a partir das 20h, dentro da programação do Festival de Ópera da Amazônia.
E pensar que tudo começou em 1997, quando foi solicitado à jornalista Rose Silveira, que produzisse um histórico do Teatro da Paz para subsidiar a obra de reforma e restauro que seria realizada pela Secretaria de Cultura do Pará entre 2000 e 2002.
Mais do que elaborar o documento, ela acabou dando início à pesquisa que resultaria em sua tese de mestrado, defendida em São Paulo, onde mora desde 2007, e um pouco mais tarde no livro intitulado “Histórias Invisíveis do Teatro da Paz: da construção à primeira reforma (Belém do Grão-Pará, 1869-1890)”, como resultado de todos estes anos de investigação.
“É a minha dissertação de mestrado defendida no ano passado, no Programa de História da PUC-SP, com a orientação da professora Estefânia Fraga, que assina a apresentação”, explica Rosa Silveira, ao ser entrevistada pelo Holofote Virtual alguns dias antes de pegar o avião, em Sampa para aterrisar, neste final de semana, no aeroporto de Val-de-Cans em Belém.
“Para a publicação em livro, o texto recebeu acréscimos sugeridos pela banca de defesa e eu mesma resolvi inserir mais algumas informações, novas fontes que encontrei depois”, continua. A jornalista acredita que fazer pesquisa é um tipo de neurose. “Quanto mais a gente procura, mais encontra”, e avisa que não se espere um texto formal, dentro do mais formal tipo acadêmico.
“Por mais que eu tenha me esforçado em fazer um texto acadêmico à rigor, acabei escrevendo do meu jeito e isso foi muito positivo na avaliação da banca. A academia avalia bem os escritos mais autorais, autônomos em relação às teses defendidas e aos referenciais teóricos”, revela.
“Tentei fazer isso. Ao mesmo tempo, eu acho que existe muito preconceito em relação ao trabalho acadêmico, como se ele não pudesse ser lido e compreendido.
Na verdade, a qualidade do texto independe do gênero, não é mesmo? Há textos bons e textos ruins no jornalismo, no mundo acadêmico, na prosa e na poesia, nos relatórios de empresa, enfim, no universo da escrita”, continua.
“O meu trabalho, pra dizer a verdade, tem muito humor, sobretudo no segundo capítulo, no qual falo de como a parcela da população que não era rica frequentou o Teatro da Paz no século 19”.
Público - A expectativa de Rose, quanto ao público em Belém, é particular. “Espero um Mangueirão lotado”, diz bem humorada, com certeza.
“Sempre pensei que, publicando o livro, o lançamento só teria sentido se fosse no Teatro da Paz”, diz Rose. Por isso, foi ela mesma quem propôs o lançamento à organização do festival, que acatou de cara a proposta de realizar uma sessão de autógrafos durante o evento.
“Foi tudo convergente: o desejo de apresentar essas histórias invisíveis no lugar onde elas ocorreram, quase 150 anos atrás, e o festival. Espero que os pesquisadores, os arquitetos, os jornalistas, os historiadores, enfim, o público de Belém possa ir lá”, enfatiza.
A sala de espetáculos, com vista do Paraíso, no clic de Paula Sampaio
Autógrafos e palestra
O lançamento do livro faz parte da programação do IV Festival Internacional de Ópera da Amazônia. A noite inicia às 20h, com uma pequena palestra antes dos autógrafos. Em seguida ainda haverá um concerto lírico.
“Vai ser, no mínimo, uma noite festiva”, diz ela, lembrando que o livro foi patrocinado pelo Banco da Amazônia e publicado pela Paka-Tatu. Para saber mais detalhes sobre o livro, acesse também o blog da pesquisadora.
É preciso prestigiar, afinal foram 12 anos de pesquisa mais de uma centena de documentos analisados e inúmeras visitas às estantes do Arquivo Público do Estado do Pará, Biblioteca Estadual Arthur Vianna (setores de Microfilmagem e Obras Raras) e Museu da Universidade Federal do Pará (Sala Vicente Salles), além do acervo virtual do Center for Research Libraries.
A autora encontrou sem dúvida muito do que falar sobre este que é um dos símbolos arquitetônicos mais fortes da nossa Bélle Époque, palco de diversos acontecimentos importantes ao longo de sua trajetória secular. Por isso, a autora sempre lembra que o Teatro da Paz ainda é um mar aberto à tantas outras pesquisas.
Uma nova investigação surge
Após o lançamento de “Histórias Invisíveis...”, Rose Silveira deve retornar à capital paulista, onde mora e cursa atualmente um doutorado, também na PUC. Ela conta que ainda este ano sairão mais dois livros seus, sendo que em um deles, o “José Márcio Ayres: guardião da Amazônia”, ela também assinará a edição.
Já o doutorado, bem, é um estudo da historiografia do pesquisador paraense Vicente Salles. Realmente, a autora tem razão. Em pesquisa quanto mais se busca, mais se acha...
“Ainda tenho um chão imenso pela frente nessa nova fase. Mas, como a vida não dá trégua, também estou fazendo freela como pesquisadora, revisora e editora - além de ser, claro, dona de casa, modelo fotográfico, cabeleireira, esteticista, cozinheira, lavadeira, passadeira, dona de hospedaria e guia turístico”, brinca denunciando mais uma vez sua veia para o humor.
Acervo de preciosidades
Certa vez, tive o prazer de entrevistar o historiador Vicente Salles. Ele estava em Belém, visitando o Museu da UFPA, onde acontecia o projeto de recuperação e difusão do acervo musical que faz parte de sua coleção, doada à Universidade Federal do Pará, ainda em 1993.
Além da parte musical, cujo projeto foi contemplado no edital da Petrobras, em 2006, o acervo reúne livros, periódicos, correspondências, vários documentos sociais e culturais (na foto acima, de Márcio Ferreira, o maestro Jonas Arraes, que coordenou o projetro). São mais de quatro mil, sem falar de uma coleção de cartuns, fotografias de época, cordéis, peças de teatro do repertório regional e nacional, teses, folhetos e cartazes, e cerca de 70 mil recortes de jornal, sobre temas como música, folclore, negro, artes cênicas e literatura.
Vicente Salles dizia que já não tinha mais onde armazenar, em segurança, todas as preciosidades que guardara com ele por toda uma vida. Graças a sua preocupação com a preservação desse acervo, este já colaborou com vários pesquisadores, como Rose Silveira, que já o utilizaram e souberam retirar dele, pérolas da nossa história cultural.
Aliás, outra boa notícia é que este ano o Museu da UFPA aprovou mais um projeto que beneficia este acervo, desta de informatização dos Livros e Periódicos da Coleção do historiador, aprovado pela Lei Rouanet e em fase captação.
A entrevista com Vicente seguia, enquanto ele percorria os corredores do acervo, localizado na parte inferior do Museu da UFPA, um espaço devidamente preparado para abrigar a coleção (Programa Cultura Pai D’Égua, TV Cultura do Pará, 2006/2007).
O professor Vicente Salles (foto) ia pegando documentos, revistas, coleções raras e contando um pouco sobre seus significados, histórias. Perguntei como ele começou estas coleções, quais as primeiras coisas que foram guardadas por ele.
“Comecei recolhendo o lixo do Teatro da Paz”, disse ele relembrando, por alguns segundos, os tempos em que resgatou cartazes de espetáculos e outras coisas do gênero, que integram, hoje, sua coleção e que eram descartadas do lixo pelos próprios funcionários, em mais um episódio invisível do Teatro da Da Paz.
Atenção: O livro de Rose Silveira está disponível para venda na Editora Paka Tatu. Informações: 91 3242.5403 e 91 2312.1063.
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