15.3.16

Telão do Casarão exibe Quanto Vale ou é por quilo

Dando continuidade à programação lançada no último sábado, 12, o Casarão do Boneco apresenta, nesta quarta, 16, o seu “Telão”, mais uma ação de compartilhamento com o público e artistas da cidade. Será exibido “Quanto Vale ou É Por Quilo?”, uma adaptação livre do diretor Sérgio Bianchi para o conto “Pai contra Mãe”, de Machado de Assis. No elenco, entre outros grandes atores, estão Caco Ciocler, Hérson Carpi, Myriam Pires, Lázaro Ramos, Zezé Motta, Caio Blat, Antônio Abujamra, Leona Cavalli entre outros. A partir das 19h, com ingresso valendo quanto você puder pagar.

De tema extremamente atual, a obra desenha um painel de duas épocas aparentemente distintas, mas, no fundo, semelhantes na manutenção de uma perversa dinâmica sócio-econômica, embalada pela corrupção impune, pela violência e pelas enormes diferenças sociais. É uma boa oportunidade para fazer uma reflexão sobre o Brasil de hoje. 

O filme faz uma analogia entre o antigo comércio de escravos e a atual exploração da miséria pelo marketing social, que forma uma solidariedade de fachada. No século XVII um capitão-do-mato captura um escrava fugitiva, que está grávida. Após entregá-la ao seu dono e receber sua recompensa, a escrava aborta o filho que espera. 

Nos dias atuais uma ONG implanta o projeto Informática na Periferia em uma comunidade carente. Arminda, que trabalha no projeto, descobre que os computadores comprados foram superfaturados e, por causa disto, precisa agora ser eliminada. Candinho, um jovem desempregado cuja esposa está grávida, torna-se matador de aluguel para conseguir dinheiro para sobreviver.

Dessa forma o filme desenha um painel de duas épocas aparentemente distintas, mas no fundo, semelhantes na manutenção de uma perversa dinâmica sócio-econômica, embalada pela corrupção impune, pela violência e pela apartação social.

É um trabalho perturbador, “um soco no estômago” que se inicia com a narrativa de Milton Gonçalves sobre os métodos "correcionais" aplicados aos escravos, como se fosse natural torturar um ser humano; como se aquilo fosse justificável. A narração de Milton evoca a narração de Paulo José no premiado curta “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado. Há uma frieza e neutralidade em sua voz que chega a ser assustadora.

“O que vale é ter liberdade para consumir, essa é a verdadeira funcionalidade da democracia”. A frase proferida pelo ator Lázaro Ramos – em “Quanto vale ou é por quilo?” traz uma entre as muitas questões apresentadas pelo cineasta, que são fundamentais para aqueles que desejam refletir mais seriamente sobre desigualdade, direitos e capitalismo na atualidade.

Bianchi parece nos dizer que é impossível ficar diante ou atento a essa realidade de disparidades sem o choque ou o constrangimento, e que talvez essas sensações sejam de alguma forma produtivas para tirar algumas pessoas de um mundo mágico, recheado de slogans em prol da solidariedade e da responsabilidade social.

Vencedor do prêmio Paratycine nas categorias de melhor filme, júri popular, melhor diretor e melhor edição, “Quanto vale ou é por quilo”, longe de reproduzir a realidade ou ilustrá-la tal qual ocorreu, com algum tipo de pureza estética, a imagem é em si uma construção cultural, uma produção veiculada a interesses e toda uma contextualização demarcada no tempo e no espaço.

Sobre o diretor - Sérgio Luís Bianchi, cuja trajetória passa por estudos de cinema em Curitiba e posteriormente em São Paulo, onde se formou na Escola de Comunicações e Artes da USP, em 1972, tendo sido aluno de grandes nomes do cinema nacional como Paulo Emílio Sales Gomes e Jean Claude-Bernadete.

Em 1979, Bianchi estreou seu primeiro filme longa-metragem comercial: “Maldita Coincidência”. Ganhou vários prêmios nacionais e internacionais de melhor diretor, melhor filme e melhor roteiro em festivais de cinema na Itália, México, Argentina, RJ, PR, SP, Brasília, Gramados e outros. Romance (1988), Causa secreta (1994) e Cronicamente Inviável (1999) foram seus trabalhos mais premiados. Foi ganhador do prêmio de melhor direção no Festival de Gramado e do Grande Prêmio do Festival de Cinema da Cidade do México em 1985 com o filme: Mato eles?

Mais programação nas próximas semanas

Lucas Alberto vai contar história dia 26
Até junho, na verdade, o Casarão do Boneco estará realizando encontros compartilhados, numa provocação à criatividade e à exposição de ideias. Além de divertir, promove também reflexão e traz diversidade à cena cultural da cidade. 

A programação deste mês teve início no último sábado, 12, com o "Abre as Portas", que teve o Projeto Batuque, voltado ao estudo da percussão e ritmos da cultura brasileira. Esta semana temos o “Telão”, com  exibição de “Quanto vale ou é por quilo?”, do diretor Sérgio Bianchi. 

Na semana que vem, dia 22 de março tem a primeira roda do “Conversa Com”, cuja temática será “Cultura Viva e Pontos de Cultura”, e que contará com a presença de Laurene Ataíde, Guardiã do Pássaro Colibir, além de Delson Cruz, chefe da Representação Regional do MINC. A partir das 19h.

Fechando o mês de março, na “Amostra aí”, dia 26, um sábado, às 18h, haverá contações de histórias: “O conto da verdade” (Sorteio de Contos) e “A breve história do Sr. Bongo” (Heyder Moura), além da apresentação do espetáculo “o Conto que eu vim contar”, do In Bust Teatro com Bonecos.  Em abril, iniciam as Oficinas e Workshops, com momentos de formação artística e prática, com cargas horárias variadas. E tudo vale quanto você puder pagar!

Serviço
Exibição de “Quanto Vale ou É Por Quilo”, filme de Sérgio Bianchi. Exibição nesta quarta-feira, 16, às 19h, no “Telão” – Programação do Casarão do Boneco – Av. 16 de Novembro, 815, próximo à Praça Amazonas. Ingresso: Pague quanto puder.

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