15.8.10

"Dionisíacas" incorpora cultura paraense e homenageia o ator Sérgio Cardoso


Foi com muito canto e ensaio vocal que, na última quinta-feira, 12, iniciaram as oficinas do projeto “Dionisíacas”, do mitológico Grupo Teatro Oficina, de Zé Celso Martinez, na Escola de Teatro e Dança da UFPA.

“Amazônia que me pariu, no meu Pará. Ele é filho teu também, veio de cá. Nasceu na Terra do açaí, gostoso. Batizemo-nos, Sérgio Cardoso”, diz a canção “Nascimento de Sérgio Cardoso”, que faz parte de “Estrela Brasyleira a vagar – Cacilda!”.

Cacilda! é o segundo espetáculo a ser apresentado, na sexta-feira, dia 20 de agosto, em Belém. Na peça, Sérgio Cardoso surge como responsável em não deixar que Cacilda deixe os palcos, em um dos momentos difíceis de sua trajetória.

A estréia de Dionisíacas acontece com “Taniko - O Rito do Mar”, na quinta, 19, e, depois do “Cacilda!”, segue com “Bacantes”, na sábado, 21, e encerra com “O Banquete”, no domingo, 22. Com exceção de Taniko, o mais curto (1h40), que inicia às 20h, todos os outros começam às 19h, com entrada franca, mediante troca por 1kg de alimento não perecível.

"Cacilda!" e "Bacantes", tem seis horas de duração, terminarão 1h da madrugada. Já, "O Banquete", às 2h. Por isso, no entorno do Teatro Extádio está sendo montado, também, uma praça de alimentação para maior conforto do público.

Voltando ao trecho da canção, citado acima, importante dizer que ele sofreu uma pequena adaptação do original que está no Hinário do Oficina, e que será distribuído ao público.

A brincadeira com o açaí foi para colocar a turma paraense no clima da peça, durante os ensaios e homenagear o ator Sérgio Cardoso da Fonseca Matos, que nasceu em Belém, na década de 20, e se tornou, na opinião de muitos críticos, um dos mais importantes nomes da história do teatro brasileiro no século XX.

Depois de ter ido morar com a família, em Portugal, nos primeiros anos de vida, voltou para o Brasil na década de 30, instalando-se no Rio de Janeiro, onde deixou a carreira de advogado, ainda recente, para fazer teatro, estreando em 1948, como protagonista de Hamlet, peça de William Shakespeare (foto).

“Não vi a primeira montagem, mas a segunda, maravilhosa”, diz Zé Celso Martinez ao lembrar da história de Sérgio, que nesta quarta-feira, dia 18 de agosto, completa 38 anos de morte.

Na época, Sérgio estava com apenas 47 anos e iria estrear a novela "O Primeiro Amor", de Walter Negrão, ao lado de outra paraense, Rosamaria Murtinho, na Rede Glogo. Deixou para trás uma carreira enorme, marcada por grandes epetáculos, novelas e filmes.

Teatro de Extádio - Há uma semana por aqui, o diretor e agitador cultural-político-social, Zé Celso Martinez, nos traz uma experiência inédita que ele e sua companhia de teatro, reunindo mais de 80 pessoas, entre atores, técnicos e músicos, vivenciam desde o mês de abril, em uma turnê iniciada na cidade de São Paulo, o Teatro de Extádio ou Teatro de Multidões.

Iniciativa que, apesar de toda a estrutura e foco do projeto, traz sempre coisas imprevisíveis. "Nunca podemos prever o que vai acontecer. Em cada cidade os espetáculos se reconfiguram. Cacilda! em Salvador foi de um jeito, em Recife, de outra", diz a atriz e produtora dos espetáculos, Camila Mota.

Segundo Camila, a ideia da turnê foi inspirada nas peregrinações do poeta e romancista Mário de Andrade pelo Brasil, pesquisando a cultura brasileira.

O Teatro Extádio, estrutura que recebe o público do Dionisíaca, já montado na Praça da Bandeira, tem espaço para duas mil pessoas, permitindo assim, que a arte carnavalizada de Zé Celso, obtenha o envolvimento energético com o público e se torne contágio e apaixonamento, numa “festa e celebração, que sacraliza o corpo nu, livre de tabus, livre de preconceitos”.

“Desta forma, a intenção é se aproximar das manifestações populares, do êxtase, da paixão do futebol, da ópera, da tragicomediorgia”. Em cada região, portanto, os espetáculos sofrem transformações, o que torna tudo mais desafiador para todos os envolvidos. E a cada mudança, Zé Celso vibra.

No Pará, além da ênfase na homenagem a Sérgio Cardoso, por ele ser daqui (em Brasília, a ênfase foi para Dulcina de Moraes), já estão nas montagens, inúmeras referências a nossa cultura.

Em “Taniko”, por exemplo, será formada uma corda humana lembrando a procissão do Círio e o ritmo da dança do boto, o lundum (ou lundu), foi incorporado à encenação.

“Não me interessa que era diferente, aqui será desta outra forma, é assim que a gente chega em Belém”, diz ele aos músicos que, na hora, precisam se adaptar às novas versões da trilha, assim como os atores às novas encenações. Os artistas que participam da oficina, ajudam.

“Nos entreguem o ouro”, brada Zé Celso após indagar aos participantes da oficina, os traços marcantes da cultura paraense, para serem integrados aos ritos do Dionisíacas.

As oficinas fazem parte das montagens. E os participantes podem participar dos espetáculos, tanto no coro que faz parte da encenação, quanto na equipe de video que faz as imagens que são projetadas nos telões do Teatro Extádio e transmitidas, via internet, estendendo o raio de alcance do projeto.

O resultado é um exercício de troca e aprendizado, junto a um dos mais importantes e controversos teatros da cena cultural brasileira.

Para o dramaturgo, diretor, ensaísta e tradutor brasileiro, Aimar Labaki, José Celso Martinez é “o diretor de teatro que ajudou a produzir alguns dos mais importantes espetáculos brasileiros - tão inovadores e contestadores como indispensáveis para a construção de um país melhor”, segundo escreveu em “José Celso Martinez”, um dos volumes da coleção Folha Explica (Ed. Publifolha, 2002).


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