O escritor, poeta e jornalista Pedro César Batista lança hoje, em Brasília, o livro de poemas “Candeeiro do Tempo”. Na verdade, serão dois lançamentos da mesma obra.
Nesta quinta-feira, 05, na capital federal, a partir das 19h30, na Biblioteca Demonstrativa de Brasília - W3 Sul EQS 506/507 e um mês depois, no dia 05 de setembro, um domingo, aqui em Belém do Pará, a partir das 11h, no Bar do Parque, Praça da República.
Nesta quinta-feira, 05, na capital federal, a partir das 19h30, na Biblioteca Demonstrativa de Brasília - W3 Sul EQS 506/507 e um mês depois, no dia 05 de setembro, um domingo, aqui em Belém do Pará, a partir das 11h, no Bar do Parque, Praça da República.
Com prefácio do jornalista Guido Heleno, capa e ilustração de Léo Pimentel, o livro reúne uma coletânea de poemas que, divididos em três tempos, representam três décadas de produção, em que o escritor se pautou em utopias e sonhos, sempre traduzidos pela palavra escrita.
Autor de “João Batista, mártir da luta pela reforma agrária” (2008), livro sobre o advogado, irmão e único deputado assassinado no Brasil, depois da abertura política, devido sua militância em defesa da reforma agrária, Pedro chega ao 14º trabalho.
O primeiro surgiu no final da década de 1970, intitulado “Tudo tem” (1979). Depois vieram: “E aí” (1980), “Poesia Matutaí” (1982), “Letras Livres” (1982), “Coração de Boi” (1983), “Sonhos reais” (1997) e “63 poemas de amor para uma flor dos pampas no cerrado” (2004). Participou também de coletâneas, como “Revoada de poetas em Ilhéus” (1980) e “Enluadonovo” (1983).
Em 1991, lançou “Conivência e Impunidade” e em 2004, “Gilson Menezes, o operário prefeito”. Em 2006 lançou o romance “Marcha interrompida”, onde denuncia o massacre contra os trabalhadores rurais sem-terra ocorrido em 1996, na cidade de Eldorado dos Carajás (PA).
Em “Candeeiro do Tempo”, o poeta volta a sua veia poética, com poemas como “Iluminado”: “Toda luz vem do céu/ da boca aberta, faminta / por sonhos e beijos”, destacado pelo prefaciador como “pensa e age o poeta cidadão”.
De Brasília, onde trabalha com assessoria de comunicação de movimentos sociais e presta consultoria a órgãos governamentais e não governamentais, além de fazer parte do Movimento de Olho na Justiça, ele respondeu, na sexta-feira passada, 30, algumas perguntas para esta entrevista que o Holofote Virtual publica agora. No bate papo, se falou sobre vida, poesia, política e, claro, de Belém.
Holofote Virtual: O que te motivou a montar esta coletânea?
Pedro César Batista: Depois de publicar oito livros com poemas, ter centenas não publicados e verificar que apesar das mudanças ocorridas ao longo de três décadas os sonhos que meus poemas falam ainda permanecem, senti a necessidade de fazer Candeeiro do Tempo.
Sinto que as pessoas se tornam cada vez mais pragmáticas e possuem relações utilitaristas com seus semelhantes e não gosto disso. Então tento com minha poesia colocar um pouquinho de esperança e fraternidade nas relações humanas.
Poesia inspira e meus poemas tentam inspirar o respeito à vida. Esse foi o motivo principal. Precisamos de luz em nossas relações, por isso Candeeiro do tempo.
Holofote Virtual: Além dos que estão no livro, escritos ao longo de sua vida, você tem textos inéditos também?
Pedro César Batista: Sim. Possuo ainda muitos poemas inéditos. Além dos poemas manuscritos, dos datilografados, possuo muitos em meu computador e outro tanto escrito diretamente no blog: www.pedrocesarbatista.blogspot.com. Escrever poemas é como fortalecer a musculatura da alma e da vida. Dar consistência em minha caminhada.
Holofote Virtual: Começastes a publicar “ainda na geração que ficou conhecida como do mimeógrafo, no final da década de 1970". Que recordas daquele momento?
Pedro César Batista: Um período difícil. Inclusive recebi hoje, após minha solicitação, documentos oficiais do Arquivo Nacional sobre as informações repassados pelo antigo SNI aos militares.
Foi interessante ver a estupidez dos informantes da ditadura, ao mesmo tempo em que me trouxe informações que não tinha como precisar. Por exemplo, falam de momentos que fui preso, da minha eleição para a diretoria da UBES e outras passagens de minha militância.
Ou seja, o tempo da geração do mimeógrafo era um tempo onde os inimigos da liberdade e da democracia tentavam nos impedir de conquistar um mundo mais livre. E conquistamos esse mundo, ainda imperfeito, porém muito melhor do que aquele tempo de escuridão, medo e dor.
Holofote Virtual: Como observas o movimento literário de poesia no Brasil - produção, políticas públicas?
Pedro César Batista: Somos um povo muito rico em criação literária. Por todos os estados há uma grande quantidade de artistas, destacadamente na literatura. Infelizmente não há uma política educacional que incentive a leitura e o acesso aos livros.
Mesmo existindo uma série de isenções fiscais e tributárias aos editores e produtores de papel, o preço das publicações é caríssimo. Há uma ação deliberada para incentivar uma literatura de consumo, que sirva aos interesses de mercadores de desejos por bens de consumo, valores superfluos e sonhos mercantis.
Os editores deixam de lado os que ousam escrever contra o sistema, questionar os valores, propagadas. Tentam impor, de forma autoritária e violenta, com uma ditadura, o que deve ser lido. Editar e distribuir, então, é algo quase impossível. Por isso é preciso ousar. E há muitos autores que insistem nesse caminho, no qual me incluo.
Holofote Virtual: Ainda tens ligações com Belém e a literatura paraense?
Pedro César Batista: Muitas ligações. Minha história foi nessa terra, encantada e combativa. Terra de Dalcídio Jurandir, Rui Barata (foto), Benedito Monteiro e a turma da atualidade. No início da década de 1980 criamos a União dos Poetas do Pará - UPOP que, acredito, um dia voltará a aglutinar os poetas e poetisas locais levando a poesia às baixadas, ao interior do estado e ao povo paraense.
Holofote Virtual: Como foi tua mudança para Brasília?
Pedro César Batista: Sai do Pará por necessidade de sobrevivência física. Meus amigos e familiares dizem que fiz o certo. Fico em dúvida, mas estou aqui, ainda escrevendo e nas trincheiras ao lado do povo, usando minha escrita como combustível para alimentar o sonho propor um mundo melhor.
Desde minha saída dessa terra encantada já morei em São Paulo, Alagoas e estou nesse momento em Brasília. Desejo imensamente um dia voltar a sentir o calor marajoara e banhar nas águas quentes dos rios paraenses, tendo a companhia de meus amigos e amigas que vivem em Belém e em inúmeras cidades do estado.
Holofote Virtual: Em 2009, você esteve aqui, durante o Fórum Social Mundial. Quais os frutos gerados por estas mobilizações em torno da solidariedade?
Pedro César Batista: Somente com ações coletivas, plurais, capazes de articular e mobilizar os mais variados setores que sofrem a imposição dos valores do sistema será possível animar a esperança e a luta.
Infelizmente certas práticas antes condenadas se tornaram aceitas em nome da conquista de um poder inexistente, pois os mais ricos continuam controlando tudo, inclusive o aparelho de Estado.
Somente com as redes que congreguem amplamente os que acreditam na construção de novas relações, mais humanas, mais fraternas, mais justas, será possível enfrentar o poder hegemônico.
Holofote Virtual: A poesia é uma arma eficiente contra tudo isso?
Pedro César Batista: A poesia provoca o respeito a todas as formas de vida. A poesia provoca a sensibilização das pessoas, tornando-as mais fraternas. A poesia provoca a indignação contra as injustiças e o acomodamento causado pela alienação do consumo desbragado que a mídia alimenta nas almas da população. A poesia é um combustível imprescindível para a vida.
Holofote Virtual: Poesia e política...
Pedro César Batista: Política é vida. Política não é o balcão de negócios que existe nas relações publicas, o qual, muitas vezes, acaba nas páginas policiais. Acredito que a poesia é a política da alma, da natureza e da utopia.
A poesia é a política do suspiro e do encantamento com a existência humana e de todas as formas de vida. Claro, a vida é plural, então também há a poesia que serve ao consumo, ao desrespeito e a busca desesperada por todas as formas de poder.
Holofote Virtual: Em Brasília, o lançamento será em uma biblioteca. Em Belém, no Bar do Parque...
Pedro César Batista: O Bar do Parque é o centro da cidade de Belém. Local onde reunia seus artistas e seu povo, não àseus artistas e seu povo, não a-toa está localizado ao lado do Teatro da Paz. E o que escuto quando chego em Belém e falo que vou ao Bar do Parque? Que é perigoso, que é isso e aquilo... no entanto, a violência e o abandono do Bar do Parque é o reflexo de que como está sendo tratada a cidade de Belém.
A falta de paz e de luz que tem provocado medo e insegurança aos que se assustam ao passar pela Praça da República - que considero a praça mais bela do Brasil - e o mesmo que contamina toda a cidade.
Também vivi parte da minha infância e toda a adolescência nos bairros de Campina, Cidade Velha e Batista Campos. Não aceito o que fazem com Belém. É preciso resgatar o Bar do Parque como o símbolo da criatividade, da poesia e da alegria, que toda a população de Belém merece...
Um comentário:
Viva o Pará e o tacacá!
Viva as mangueiras e o vento da baia.
Viva o povo cabano.
Poesia, luta e paz.
Sempre.
Abraços.
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