15.6.11

Aldeotas, quanto mais eu vejo, mais gosto

Adriano e Ailson (fotos: Marcelo Lélis)
Na última quarta-feira fui assistir pela terceira vez Aldeotas – Lugar de Memórias, do Gruta. O espetáculo é uma viagem no tempo, em que o espectador, levado pela velocidade e emoção do texto, mergulha nas cenas que vê a sua frente, com os meninos que nascem das ótimas atuações de Adriano Barroso e Ailson Braga, Levi e Elias, respectivamente.

Hoje será a segunda apresentação do espetáculo nesta nova temporada (sempre às quartas-feiras de junho), no Teatro Cuíra que se afirma como um dos espaços que, em Belém, disponíbiliza períodos mais longos de apresentações por espetáculo.

Isso porque o Grupo Cuíra, que apresenta lá a sua produção, também abre a casa “para qualquer outro grupo que queira se apresentar, por no mínimo um mês”, já disse Edyr Augusto. O escritor e dramaturgo integra o grupo, fundado em 1982, por Maria de Fátima Nunes, Cláudio Barros, Wlad Lima, Zê e Olinda Charone.

Foi o Grupo Gruta de Teatro, agora em cartaz, que inaugurou o espaço em 2006, com “A Peleja dos Soca Soca João Cupu e Zé Bacu”, espetáculo que chegou a ser reapresentado em 2008, também no Cuíra. De volta a casa, com o “Aldeotas – Lugar de Memórias”, o diretor Henrique da Paz disse que o grupo já está penando inclusive numa próxima montagem, que provavelmente será a adaptação de um texto clássico.

Aldeotas -  A história toda começa com o retorno de Levi a Coti das Fuças, mas ao longo do espetáculo há idas e vindas no tempo. Logo no início, vemos Elias deitado, em plano de fundo no palco e à frente, sentado muito próximo do público, Adriano Barroso (Levi) faz uma cena que dura cerca 20 minutos, já provando de cara, o poder textual do espetáculo, que extrapola limites entre personagens e atores.

Num jogo de luz (Sônia Lopes), os flashes fazem deles também narradores de uma trama escrita pelo ator e poeta, Gero Camilo, que em entrevista aqui, como numa previsão, antes da estreia, disse que “eles (referindo-se a Adriano Barroso, Ailson Braga e Henrique da Paz), como homens de teatro, vão abrir, cada um, o seu baú para despertar em seus corpos de atores, camadas de emoções e pensamentos de compreensão da vida. Espero que eles se divirtam e se emocionem, pois quanto mais próximos chegarem disso, mais o público adentrará nestas memórias e com o depoimento deles, construirá a própria memória, a partir da história mágica que o teatro nos faz viver”.

Ver o espetáculo mais de uma vez,  me permitiu pinçar, em cada uma delas, um olhar mais apurado sobre os temas que são abordados, como a saudade, o tempo deslocado da infância perdida na memória, a amizade, o reencontro e as intempéries humanas revestidas de preconceitos e hipocrisias. Tudo sutilmente amarrado aos diálogos de Elias e Levi.

O drama se confunde com vários momentos de humor que reforçam, poeticamente, a ligação entre os dois personagens. São assim as cenas corriqueiras de uma cidade de interior, onde os dois amigos vão às festinhas de final de semana e competem em quase tudo que fazem juntos. É de rir e comover. Indico o espetáculo, principalmente, para quem gosta de um teatro de emoção profunda.

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