“Encantados” mostra, entre outros aspectos, a experiência dos professores em utilizar narrativas do imaginário popular como instrumento de aprendizagem em sala de aula. A programação, organizada pela ABDeC-PA, também conta com a exibição de mais dois documentários "Brincadeira de Coco" (PB) e "Vamos Dançar Cariimbó" (PA). Nesta terça-feira, 21, a partir das 18h30, no auditório da Casa da Linguagem. Entrada franca.
Tema de Trabalhos de Conclusão de Curso-TCCs de quatro professores de duas escolas rurais multisseriadas da Ilha de Colares, nas comunidades de Jenipaúba e Mocajatuba, o vídeo documentário “Encantados” foi realizado com apoio da Fundação Curro Velho, em 2010, enfocando a relação entre a Mitopoética Amazônica, com seus entes, aparições, visagens e lendas, a partir do relato oral dos alunos do ensino fundamental.
A partir deste vídeo, os professores do Campus da Ufpa, em Castanhal, Luiz Carlos de Carvalho Dias e Ana Lúcia Bentes Dias, aprovaram na Universidade o programa de extensão “Encantados – A Mitopoética Amazônica como Processo Educativo Socializador”, que pretende utilizar o Patrimônio Imaterial presente nas narrativas infantis – visagens, assombrações e encantarias - como catalisador para diferentes ações junto às comunidades dessa microrregião paraense. O município de Colares será o locus da pesquisa, com itinerância prevista para outros municípios da mesma região, como Vigia, Santo Antônio do Tauá e São Caetano de Odivelas, além da ilha de Mosqueiro, distrito da capital, Belém.
Mitos e encantarias - A região escolhida para o projeto é singular. Serpenteada por rios e igarapés, torna-se um terreno fértil para o florescimento de mitos, lendas e encantarias, como as que envolvem os primeiros habitantes da região, os índios Tupinambá. Segundo os antigos, os indígenas não foram dizimados durante a ocupação portuguesa, mas sim, foram habitar o fundo dos rios, de onde, ainda hoje, “encantados”, cuidam da floresta e dos rios.
As comunidades rurais e ribeirinhas da região amazônica ainda mantêm bem viva a sua cultura ancestral e isso está muito presente no cotidiano de seus habitantes, principalmente em alguns momentos de seus afazeres, como na pescaria, na casa de farinha, nas atividades agrícolas, nas conversas de vizinhos à porta de casa. São momentos mágicos em que a mitologia amazônica reaparece nas narrativas orais com muita força.
No município de Colares, no nordeste paraense, a situação não é diferente. Apesar do impacto da tecnologia, a alma da floresta sobrevive na relação respeito e admiração de seus habitantes por esses lugares, e se perpetua a cada vez que eles tomam um chá de alguma casca de arvore, ou preparam um banho com ervas cheirosas como atrativo ou proteção.
A floresta é coletiva, assim como as estórias que são contadas sobre os seus sons, ruídos, movimentos, plantas e animais. As histórias sobre a chuva e o rio mimetizados em seres fantásticos se perpetuam no imaginário não como paisagem geográfica, mas como saber, poesia, melodia; arquétipos que nos diferenciam entre nós e entre culturas.
Com a chegada da energia elétrica, o cenário das encantarias e lendas ficou mais frágil. O clima mágico das histórias contadas à luz de lamparinas e candeeiros desapareceu com a luz artificial. A presença desses seres míticos, no cotidiano, começa a perder consistência. Entretanto, essas experiências “encantadas” resistem mesmo com as mudanças tecnológicas; elas estão presentes no imaginário dos adultos, mas são principalmente as crianças que no espaço escolar explicitam no contar de suas estórias a Mitopoética Amazônica, tornando as escolas um espaço que oportuniza o intercâmbio de suas experiências míticas.
Capitação - Ainda em fase de captação de recursos, o projeto segue três vertentes metodológicas: a pesquisa bibliográfica e documental; a cartografia cultural; e a pesquisa de campo e registro onde serão investigados os bens culturais dos grupos comunitários.
Em parceria com a comunidade local e instituições de Ensino Superior, o Projeto vai resultar em produtos de diferentes formatos a serem reunidos num kit multimídia que será distribuído em escolas públicas da microrregião de itinerância do Projeto e espaços de cultura das regiões do Estado.
Serviço
Exibição dos documentários “Brincadeira de Coco”, produção da Paraíba, e “Vamos Dançar Carimbó?” e “Encantados”, documentários paraenses. Programação do Cineclube Pedro Veriano . Nesta terça-feira, 21, a partir das 18h30, no auditório da Casa da Linguagem (Av. Nazaré, 31), com entrada franca.
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