25.8.11

Últimas sessões de Gainsbourg - O homem que amava as mulheres

Anos 60. Serge Gainsbourg é um jovem poeta judeu que vaga pelas ruas de Paris, tentando deixar para trás suas pinturas para entreter as plateias de clubes noturnos. As imagens que surgem em sua cabeça ganham forma nas telas que pinta, da mesma forma que seus casos amorosos logo tornam-se escândalo. O filme que retrata sua vida Gainsbourg - O homem que amava as mulheres está em cartaz no Cine Oi Estação esta semana.

Serge Gainsbourg, o cantor francês, o fumante inveterado, compositor, produtor e arranjador de mão cheia, o polemista, colecionador de casos amorosos e criador de confusão. Um prato cheio para produtores/diretores afim de filmar uma biografia?

Nem tanto. Desde sua morte, em março de 1991, muito se especulou sobre uma versão cinematográfica de sua vida - e em face do risco que era (e ainda é) expor sua vida em 35 milímetros a ideia sempre caiu por terra. Coube ao cartunista francês Joann Sfar escrever e dirigir este Gainsbourg - O homem que amava as mulheres, título canalha que mancha o original (Em francês, traduzido livremente, chama-se Gainsbourg - Vida heróica).

Ao invés de arriscar-se numa cinebio paradigmática (seguindo pares como Ray, Johnny e June, Piaf e quetais), Sfar adapta a própria graphic novel sobre Gainsbourg num longa-metragem que, com frequência, descamba para a fantasia - o que torna o filme muito mais uma fábula do que propriamente uma biografia filmada; seu foco é na essência do personagem, não em suas peculiaridades. Observado assim, Gainsbourg é quase impecável.

Dois episódios, expostos bem no começo e em sequência, definem o resto da vida de Gainsbourg e do filme, dando a justa medida do que interessa ao diretor/autor. O jovem Lucien Ginsburg (Serge Gainsbourg é um nom de scène), orelhudo e baixinho, é rejeitado por uma garota:

- "Posso segurar sua mão?"
- "Não, você é feio demais!"

Logo em seguida, ele encontra sua primeira bituca de cigarro numa praia. Tais temas - dúvida e autodestruição - se mantém durante o filme. Gainsbourg, que constantemente faz pouco de suas próprias características físicas, nunca é visto em cena sem seus cigarros Galouise e sua densa fumaça. No terreno pantanoso das biografias filmadas, Gainsbourg - O homem que amava as mulheres se dissocia dos demais por não ser didático e muito mais idílico, tal e qual seu personagem central.

Serviço
‘Gainsbourg – o homem que amava as mulheres’. Em despedida nesta quinta-feira (25), às 18h e 20h30. No domingo (28), às 10h (matinal), 18h e 20h30. OI Cine Estação. Ingressos: R$ 7,00 (inteira) R$ 3,50 (meia). Realização OS Pará 2000, Secult e Governo do Pará. Patrocínio Oi.

(Crítica publicada no Jornal do Brasil – Filipe Quintans - Cotação:ótimo)

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