12.2.11

Cinema, poesia e experimentação na obra de Carlos Nader em Belém

Waly, em "Pan-cinema Permanente"
“Uma das pessoas mais interessantes em atividade criadora no mundo”, segundo Caetano Veloso, o documentarista e videomaker paulista Carlos Nader é o tema da mostra que entra em cartaz na próxima terça-feira (15) e se estende até domingo (27), no Cine Olympia.

Caetano tem toda razão. O editor, documentarista e videomaker já produziu diversos documentários para redes européias de televisão (Judeus Caboclos da Amazônia, Expresso Transiberiano, etc.). 

Nos anos 90 ele chamou atenção com a produção de “O Beijoqueiro”, um dos vídeos brasileiros mais premiados em festivais internacionais dos anos 90.

Em 1994, aproveitando a presença de Bill Viola no Rio de Janeiro, realizou, juntamente com Marcello Dantas, Território do Invisível, documentário poético sobre a obra do célebre artista norte-americano. No mesmo ano, apresentou a videoinstalação Tempo Vento Morte, por ocasião do 10º Videobrasil.

Trabalhando temas abstratos, como o passar do tempo e as relações das pessoas com a câmera, e perpassando questões sociais polêmicas, como o racismo, a obra do cineasta já foi exibida em mais de 20 países e arrematou prêmios importantes ao redor do mundo – como o “Mondial de la Vídeo de Bruxelles” (Bélgica, 1993), o Internationaler Videokunstpreis da ZKM (Alemanha, 1998) e o grande prêmio do festival “É Tudo Verdade” (Rio de Janeiro, 2008).


Preto e branco
Em síntese, sua técnica consiste na mistura de linguagens que vão do documentário clássico ao videoarte. Devido à alta carga poética e reflexiva, a obra de Carlos Nader, de acordo com o poeta e filósofo carioca Antonio Cicero, se apresenta na forma de documentários, mas deve ser vista – lida - como poesia, porque revela, da mesma maneira que os poemas, “um novo mundo, a sair do já conhecido”.

A mostra em Belém - O trabalho de Carlos Nader foi visto pelo jcantor e compositor  Arthur Nogueira, que esteve em São Paulo, em setembro do ano passado, no lançamento do Pan-Cinema Permanente, a convite do poeta Antonio Cicero, com quem, aliás, Arthur vem estabelecendo parceria para um novo trabalho que deve surgir no segundo semestre deste ano.

Encantado com os filmes, Arthur fez, pessoalmente a Nader, que é amigo de Antonio Cícero, a proposta de trazer esta mostra para Belém. Aqui, Arthur entrou em contato com o amigo e documentarista Vitor Souza Lima.

“Vitor viu os filmes, adorou, e propôs a mostra ao Marco Antonio Moreira, que coordena a programação do Cinema Olympia. Ele escolheu os títulos e fez a programação”, simples assim, me contou Arthur, há pouco, pelo gmail.

Concepção -  "é estranho, eu existo entranho"
Vai ser uma ótima oportunidade para se conhecer melhor o trabalho deste cineasta por aqui, onde a maioria dos filmes que estão na programação, nunca foram exibidos. 

Uma pena é o próprio Nader não vir pessoalmente a Belém para comentar e trocar experiências com o público de cinema e das artes visuais. A idéia, porém, começa a ser alimentada pelos realizadores da mostra Arthur e Vitor, que buscam parcerias futuras para isso.

“Quis fazer a mostra porque os filmes do Nader tem muito a ver com poesia. Ele dialoga com música, poesia, questiona os limites do próprio cinema”, diz Arthur.  A abertura traz o curta “Carlos Nader”, com participação dos poetas Waly Salomão e Antonio Cicero, seguido do longa “Pan-cinema Permanente, de Carlos Nader (longa-metragem), ensaio poético focado no poeta Waly Salomão (1943-2003), com participação de Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso, Regina Casé, mais uma vez Antonio Cicero e outros amigos de Waly.

O longa esteve em exibição aqui há duas semanas mais ou menos, no Cine Sesc Boulevard, mas muita gente não teve oportunidade de ver. Pois então é chegada a hora. A programação de abertura fica em cartaz de 15 a 20 de fevereiro. A mostra seguirá de 22 a 27, com os curtas “Concepção”, “Trovoada” e o longa “Preto e branco”.

Carlos Nader
Não entrou, porém, na curadoria de Marco Antonio Moreira, “O Beijoqueiro”, de 1992, um semidocumentário sobre um dos personagens mais exóticos da vida brasileira, José Alves de Moura, que recebeu o apelido de "Beijoqueiro" por causa de sua obsessão (fartamente explorada pela imprensa) de beijar personalidades da vida política e do mundo dos espetáculos, como uma forma de virar notícia a qualquer preço. 

Mas tudo bem. Percebe-se que as escolhas de Marco Antonio Moreira primaram pelas obras que dialogam entre e si e trazem o lado mais experimental e poético do diretor Carlos Nader. Com toda a certeza, uma programação que não deve passar despercebida por quem gosta e consome arte nesta cidade.

Programação

15 a 20/02/11

“Carlos Nader”, de Carlos Nader (curta-metragem)
São Paulo/1998/15 Minutos

Sinopse: Nos limites da identidade, um vídeo sobre o autor, sobre qualquer um, sobre ninguém, com participação dos poetas Waly Salomão e Antonio Cicero.

“Pan-cinema Permanente, de Carlos Nader (longa-metragem)
São Paulo/2008/83 Minutos

Sinopse: Premiado no Festival "É tudo verdade" (2008), este ensaio poético foca no poeta Waly Salomão (1943-2003), artista irrequieto e de personalidade fulgurante, que rompia as fronteiras entre realidade e ficção. Com participação de Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso, Regina Casé, Antonio Cicero e outros amigos de Waly.

22 a 27/02/11

“Concepção” de Carlos Nader (curta-metragem)
São Paulo/2001/16 minutos

Sinopse: Tendo como estrelas a mãe, a mulher e o filho recém-nascido, o autor orbita sobre a concepção do vídeo e da vida, na constelação que vai do retrato à endoscopia.

“Trovoada” de Carlos Nader (curta-metragem)
São Paulo/1995/18 minutos

Sinopse: Por meio de uma estrutura associativa como a da mente humana e depoimentos de Bill Viola, Waly Salomão e Antonio Cicero, o vídeo trata da sensação do tempo.

“Preto e branco” de Carlos Nader (longa-metragem)
São Paulo/2004/73 minutos

Sinopse: Episódicas relações raciais entre cidadãos comuns da cidade de São Paulo levantam questões pouco discutidas sobre o modelo racial brasileiro.

Serviço
Mostra Carlos Nader. De 15/02 a 27/02 no Cine OLympia (Av. Presidente Vargas, 918). Sessões de terça a domingo, às 18h30. Entrada franca. Mais informações: (91) 3230-5380.

(Holofote Virtual, com informações de  Arthur Nogueira e  da Eciclopédia Itaú Cultural)

2 comentários:

Vitor Souza Lima disse...

Oi Lu. Os filmes da mostra foram sugeridos pelo próprio Nader. Certamente existiam vários outros que seriam interessantíssimo que também fossem exibidos, mas pode ter havido algum problema com relação ao suporte disponível para sua exibição, por isso este não foi nos passado pelo Carlos.
Abraço,
Vitor Souza Lima

Holofote Virtual disse...

Vitor,

a programação está ótima. e seria mais bacana ainda trazer este cara para Belém, heim! Ia render ótimos debates em torno da estética, da experimentação e da poesia no cinema. Espero que vcoês consigam parcerias para quem sabe isso rolar mais à frente.

parabéns a todos que organizam a mostra.