Avenida Dalcídio Jurandir |
Há dois anos coordenadores da Assembléia de Deus vêm tentando fazer auto homenagem em via pública para marcar centenário da instituição a ser festejado no próximo mês de junho. Como se lê neste link aqui, eles tinham duas alternativas a propor ao poder público. Num atentado à memória da cultura paraense, venceu a pior.
A primeira ideia foi propor a abertura de uma "rua passando por dentro do terreno do Templo Central, ligando a avenida Governador José Malcher à rua João Balbi, no centro de Belém". A segunda era iniciar "articulação para a mudança do nome da avenida Dalcídio Jurandir, às proximidades da avenida Independência, para avenida Centenário". A segunda opção foi a mais fácil de ser conquistada.
No dia 08 de abril, o escritor e jornalista Alfredo Garcia deu o alerta em seu blog Página Nua. Os vereadores, “em acordo conchavado”, decidiram trocar o nome da Avenida Dalcídio Jurandir (extensão da Av. Independência que vai da Rodovia Augusto Montenegro até a Av. Júlio Cesar), que homenageia o grande romancista brasileiro nascido em Ponta de Pedras, no Marajó, para Avenida Centenário da Assembleia de Deus.
Painel em sua homenagem, no Fórum de Letras da Unama, em 2010 |
Vale ressaltar aqui outros atos desatentos para com a memória de Dalcídio. No dia 20 de abril, o poeta e contista Paulo Nunes, graduado, com Mestrado e Doutorado em Letras, atuando nos temas: Dalcídio Jurandir, Ciclo do Extremo Norte, Amazônia, entre outros, também se manifestou sobre o assunto e comentou, em carta publicada no Jornal O Liberal (Caderno Cidades, seção Jornal do Leitor, pg. 8), a “decisão” parlamentar. Leia o artigo a seguir, na íntegra.
Vereadores e a triste Belém - por Paulo Nunes
O escritor |
O despreparo e a escassez de bons propósitos fazem com que a gente ouça por aí que os políticos não pensam no bem comum, mas em seus objetivos mesquinhos, que esbarram na falta de ética e na ganância. Não exageremos. Há exceções. Mas há um problema tão sério quanto os que correm em boca pequena: a falta de compromisso de alguns políticos com a memória e a cultura do povo, este que teve como ancestrais os cabanos. Que barganhas levam os legis]ladores a leis tão estapafúrdias, a projetos estúrdios?
Os senhores vereadores de Belém - ó, quão mísera cidade! - acabam de decretar suas anorexias mentais. Em nome da demagogia, os representantes do povo alvejaram votos de numerosa fatia dos evangélicos (a Assembleia de Deus, diga-se, merece todas as homenagens pelo seu centenário, graças ao culto a Deus e ao bem que promove à humanidade) ao trocar o nome da avenida "Dalcídio Jurandir", um dos mais importantes escritores da América Latina, por "Centenário da Assembleia de Deus".
Livros escritos por Dalcídio |
Dalcídio Jurandir, que era comunista convicto e ateu, era, entretanto, um dos mais respeitadores aos cultos religiosos, de qualquer cor e motivação. Se a religião é para o bem, pois que se faca dela algo que desaliene e ao mesmo tempo exalte a dignidade humana, pensava o escritor, conforme me disse, certa vez, seu filho, José Roberto Pereira".
Descaso também no Marajó
No mês de março, o cineasta Darcel Andrade, que tem trabalhos na região marajoara, informou pelas redes sociais, que a casa que fora habitada pelo escritor em Cachoeira do Arari, sendo inclusive um ponto turístico marcante da cidade, ao lado do Museu do Marajó, está em total estado de abandono e começou a ruir.
Casa que pertenceu ao escritor, em Cachoeira do Arari |
A parte da frente já está no chão e falta muito pouco até que ela desapareça para sempre. Em 2009, à época do centenário de seu nascimento, o escritor foi lembrado e eleito patrono da Feira Pan Amazônica do Livro.
Paralelamente, o governo do estado tinha iniciado um processo, via Secretaria de Cultura do Estado, de desapropriação da casa para ser transformada em Espaço – Museu Dalcídio Jurandir, mas por questão de valores e outros fatores discutidos com a família do escritor, nada mais foi feito ou resolvido.
Paralelamente, o governo do estado tinha iniciado um processo, via Secretaria de Cultura do Estado, de desapropriação da casa para ser transformada em Espaço – Museu Dalcídio Jurandir, mas por questão de valores e outros fatores discutidos com a família do escritor, nada mais foi feito ou resolvido.
3 comentários:
Assim, Belém "desomenageia" o escritor Dalcídio Jurandir, enquanto, no Rio de Janeiro, após a sua morte, ocorrida em 1979, A prefeitura do Rio de Janeiro homenageou-o nomeando uma rua na Barra da Tijuca (bairro nobre da cidade)que permanece até hoje.
Parece que os cariocas têm uma visão diferente do valor deste grande romancista paraense
Margarida M. P.Benincasa
Devo acrescentar que na cidade de Americana-SP, existe a Rua Dalcidio Jurandir em um bairro com nomes de grandes escritores brasileiros.http://www.links10.com.br/mapas/mapa-sp.php?idsp=49584&local=rua-dalcidio-jurandi,
também em Manaus:
http://eguias.net/empresas/AM/manaus/273640-associacao-comunitaria-de-arte-e-musica-e-bem-estar-social.htm
Envio uma frase apropriada para este assunto:
POLÍTICOS E FRALDAS DEVEM SER TROCADOS SEMPRE PELO MESMO MOTIVO.
Lamentável a atitude dos vereadores de Belém.
Carmen
É exatamente nessas situações que me pergunto: Alguem irá fazer algo por nós, por nossas culturas? Fica cada vez mais difícil acreditar naqueles que se proclamam defensores do povo. Cadê o respeito? O pior é que alguns de nós deixa isso acontecer de braços cruzados e o mínimo já está posto aqui neste blog pelo autor. Precisa-se urgentemente de conscientização.
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