Fotografia de Bob Menezes |
Inspirada nas celebrações católicas e afro-brasileiras, a mostra abre nesta quinta feira, 7, reunindo imagens de 25 fotógrafos. “Não confirmamos o ditado de que religião e política não se discute, fomos na contra-mão: abrimos o debate”, avisam os organizadores da mostra Michel Pinho e Guy Veloso.
A paixão dos paraenses, o Círio de Nazaré, o hibridismo religioso do Vale do Amanhecer, o Candomblé e os Terreiros de Tambor de Mina, a Umbanda, os Cultos hindus, judaicos e evangélicos, além das danças, saias e fitas da Marujada de Quatipuru, enfim a religião e o profano. Nada escapou ao olhar destes fotógrafos.
“Uma parte deles é muito jovem e isso acaba trazendo um vigor visual bastante intenso. É um olhar do fascínio pelo rito, pela dança e pelas cores da religiosidade alheia. Mas podemos observar trabalhos mais delicados, onde a fé está presente para além da imagem, na indicação de um gesto ou plantada na paisagem”, diz o fotógrafo Michel Pinho, responsável pela edição das fotos.
Pela temática, imagina-se a quantidade de fotografias que os organizadores devem ter recebido. Basta lembrar que todos os anos, em Belém, centenas de fotógrafos acompanham o Círio de Nazaré, uma paixão visual, sem dúvida. Irene Almeida, por exemplo, faz o trajeto pela fé e a fotografia a fez enxergar a manifestação religiosa de outra maneira.
“A fotografia fez com que eu continuasse a acompanhar de forma diferente, antes como alguém que via o círio apenas da praça e hoje de dentro e penso que até mais próximo, registrando a fé das pessoas que pra mim é incrível e emocionante. Lembro que um ano não pude estar presente, por motivo de doença e foi como se aquele ano estivesse faltando algo”, diz.
De Francilins |
É claro que a escolha do tema gerou pequenos embates na hora da finalização da montagem, como a colocação da foto de Alan Soares, uma Ganesha (deusa do hinduísmo) no início da exposição. Nada que não se possa discutir como na maioria das vezes se pensa quando o assunto é religião.
Por isso, há de tudo. Os batuques do Tambor de Mina e as danças da umbanda estão presentes pelas lentes de Thiago Araújo e Anita Lima, que dialogam intensamente com a imagem de Fatinha Silva, retratando a Marujada.
“É um assunto conflitante realmente, mas se é tratado com respeito, tudo fica mais simples. E esta foi a linha adotada pelos idealizadores da exposição. O curador recebeu várias imagens e selecionou as que mais se identificavam com a leitura a ser dada pela mostra. Esta nossa diversidade é que faz a beleza deste nosso País”, diz Fátima Silva.
Após algumas discussões, a decisão dos organizadores da mostra foi dar um viés político e não privilegiar exatamente uma única narrativa religiosa em detrimento de outra. “A edição foi feita junto com Michel Pinho, idealizador do projeto. Iniciamos fazendo aproximações entre as fotos de acordo com as tons e cores. Algumas montamos em bípticos, dada a comunhão de estilos entre 2 fotógrafos diferentes”, explica Guy Veloso.
O Vale do Amanhecer, em Planaltina, DF |
Tradição - Para Michel Pinho, a fotografia paraense tem por tradição o envolvimento com causas sociais e polêmicas. De acordo com ele uma breve pesquisa revela mostras e exposições sobre violência contra a mulher, sobre o trânsito, moradia, patrimônio histórico.
“Acompanho o Guy Veloso, desde que passei a militar na Fotoativa, sabia do envolvimento dele com a religiosidade popular e quando recebi um convite para fotografar uma festa de Alabi (festa do candomblé Ketu) fomos juntos. Isso se tornou rotina e assim tivemos a oportunidade de conhecer uma parcela dos terreiros afro-brasileiros de Belém.
Fiz essa digressão necessária, pois havia uma tradição de discussão de temas polêmicos dentro da fotografia paraense mas, no tocante a religião, as exposições que tenho conhecimento eram individuais, como me falou recentemente Geraldo Ramos. Portanto, poderíamos problematizar a religiosidade brasileira com múltiplos olhares. O Guy direcionou determinados fotógrafos, e outros mandaram fotos de arquivos para compor a mostra”, finaliza Michel.
De Analú Morais |
Fotógrafos nesta mostra: Alexandra Farah, Analú Morais, Ana Morkazel, Alan Soares, Anita Lima,Bob Menezes, Cinthya Marques, Emídio Contente, Fatinha Silva, Francilins, Guy Veloso, Irene Almeida, Joyce Nabiça, Luciana Bezerra, Michel Pinho, Paulo Gomes, Roberto Malato, Rafael Araújo, Shamara Fragoso, Tamara Saré, Tarso Sarraf, Thiago Araújo, Valério Silveira, Vinicius Xavier, Wagner Okasaki.
Serviço
Exposição Coletiva Diversidade Religiosa Brasileiro. Abertura: 07/04, às 19h. Visitação: 08 de abril a 08 de maio, de segunda a sexta (09h ás 13h e 15h às 18h) e sábado (09 ás 13h). Na Galeria da Fotoativa – Praça das mercês, n.19 – Comércio – Telefone: 3225-2754.
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