4.4.11

"Hélio Oiticica - Museu é o Mundo" abre em seis espaços da cidade

A partir de amanhã, o público já poderá visitar a programação, que conta com exposição de obras e filmes do artista. A mostra poderá ser vista em seis espaços diferentes, até dia 06 de junho. A abertura é nesta terça-feira, 05, às 19h, no Museu do Estado do Pará, com entrada franca.

Este será um dos mais importantes acontecimentos culturais  realizados em Belém este ano. Hélio Oiticia foi um pintor, escultor, artista plástico brasileiro dos mais performáticos.  Morou em Nova York nos anos 70 e de volta ao Rio de Janeiro, em 1980, morreu aos 42 anos. É considerado um dos artistas mais revolucionários de seu tempo e sua obra experimental e inovadora é reconhecida internacionalmente. 

Mostra - Com curadoria de Cesar Oiticica Filho, (sobrinho) Fernando Cocchiarale e Wagner Barja, a mostra cobre todos os períodos da produção do artista. Itinerante, já circulou por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, mas em cada cidade que chega adquire um contorno especial.

“O que mais impressiona no legado de Hélio Oiticica é o poder de síntese que ele sempre teve na pauta das traduções de seu programa artístico. Desde os Metaesquemas, que são desenhos geométricos tradicionais, passando pelos outros projetos: Relevos, Bilaterais, Bólides, Ninhos e a diversas arquiteturas nomeadas até os Parangolés, o Hélio realizou uma ação continuada ininterrupta. Ele sempre falou, no fundo, das questões das cores, das formas, da linguagem da pintura e associou tudo isso ao corpo e à cultura”, afirma o curador Wagner Barja, pesquisador da obra de Hélio Oiticica, e autor de uma dissertação de mestrado na UNB, que envolve a obra do artista.

Acervo em chamas - A maior parte das obras vem do acervo de César e Claudio Oiticica (irmãos), e reúne raridades como seus famosos Metaesquemas, os desenhos do período neoconcreto, guaches, uma calça feita para a Mangueira, além de Bólides e Penetráveis.

Em outubro de 2009, parte destas obras quase se perdeu por causa do  incêndio que houve na casa de César, onde estavam guardadas. Na época, o acidente reacendeu as discussões em torno de preservação de acervos artísticos no país, muitas vezes guardados com a família dos artistas sem as condições necessárias de manutenção. 

A tragédia, no caso das obras de Hélio Oiticica, só não foi maior porque grande parte do material já estava digitalizado. Desde o incêndio várias ações se concentraram em higienizar os trabalhos atingidosa fim de incorporá-los à itinerância deste ano.  “Essa primeira parte do trabalho foi concluída pelo Ministério da Cultura e pelo Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), numa ação rápida e eficaz, que começou já no dia seguinte ao incêndio, o que reduziu o prejuízo e evitou qualquer dano irreversível às obras”, disse César. 

Ainda bem. E no final das contas, infelizmente, pode-se dizer que o mal foi necessário, pois finalmente Hélio Oiticica passa a ser reconhecido como patrimônio nacional e mais do que isso, a ser cultuado também fora do meio acadêmico e artístico.

"Penetráveis"
Penetráveis e muito mais - A exposição traz ainda raríssimos penetráveis, obras monumentais de Hélio Oiticica [1937-1980], como “Tropicália”, de 1967, e “Rijanviera”, de 1979, no Museu Histórico do Estado do Pará; “Macaléia”, de 1978, e “A Invenção da Luz”, de 1978/ 1980, no Museu do Forte do Presépio; “Nas Quebradas”, de 1979, na Estação Docas; e “Rhodislandia”, de 1971, no Fórum Landi. “Éden”, um conjunto de vários ambientes que integrou a primeira exposição do artista em Londres, na White Chapel, em 1969, está na Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves (CENTUR) e “Penetrável Gal”, de 1969, no Espaço Cultural Casa das 11 Janelas.

A ocupação de vários espaços públicos evoca uma característica do artista, que desde menino dizia que precisava andar para pensar, para perceber o mundo à sua volta e organizar as idéias. “Ele desenhava as rotas de todos os ônibus”, diz César Oiticica Filho. Já adulto, costumava fazer longas caminhadas, no que ironicamente chamava de “Delirium Ambulatório”, para relacionar à agitação motora de alguns pacientes psiquiátricos.

Além das obras, também serão apresentados, no MHEP e no Fórum Landi,  os filmes “Agripina é Roma Manhattan” (1972) e “Brasil Jorge, Homenagem a Jorge Salomão” (1972), ambos de Hélio Oiticica, e “Phone” (1975), de Andreas Valentim.

Com apoio da Universidade Federal do Pará (UFPA), a exposição é uma realização da Alliaz, Foco e Secretaria de Cultura do Estado do Pará, a mostra será apresentada no Museu Histórico do Estado do Pará, no Museu do Forte do Presépio, na Estação Docas, no Fórum Landi, na Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves (CENTUR) e no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas.

Da série "Parangolés"
Sobre Hélio Oiticica - o artista é neto de José Oiticica, anarquista, professor e filólogo brasileiro, autor do livro "O anarquismo ao alcance de todos" (1945). Em 1959, fundou o Grupo Neoconcreto, ao lado de artistas como Amilcar de Castro, Lygia Clark e Franz Weissmann.

Na década de 1960, Hélio Oiticica criou o Parangolé, que ele chamava de "antiarte por excelência". O Parangolé é uma espécie de capa (ou bandeira, estandarte ou tenda) que só mostra plenamente seus tons, cores, formas, texturas e grafismos, e os materiais com que é executado (tecido, borracha, tinta, papel, vidro, cola, plástico, corda, palha) a partir dos movimentos de alguém que o vista. Por isso, é considerado uma escultura móvel.

Foi também Hélio Oiticica que fez o penetrável Tropicália, que não só inspirou o nome, mas também ajudou a consolidar uma estética do movimento tropicalista na música brasileira, nos anos 1960 e 1970. Foi responsável, assim como Lygia Clark, por nos tirar do gueto nacional. Impossível falar em arte contemporânea brasileira sem citá-lo.

E mais, ele obteve a 13ª posição na lista "O brasileiro do século", na categoria "Arquitetura e Artes Plásticas", organizada em 1999 pela revista IstoÉ, tendo recebido 22% dos votos dos especialistas que formaram o júri.


PROGRAMAÇÃO

  • Centur - No hall de entrada, o “Éden”, um conjunto de vários ambientes que integrou a primeira exposição do artista em Londres, na White Chapel, em 1969. Na galeria Theodoro Braga,“Cosmococa”, de 1973. Av. Gentil Bittencourt, 650 – Nazaré. Todos os dias, das 9h às 22h.
  • Casa das 11 Janelas - O “Penetrável Gal”, de 1969. Praça Dom Frei Caetano Brandão, s/n. Cidade Velha. De terça a sexta, das 10h às 18h. Sábado e domingo, das 10h às 16h. Feriados, de 9h às 13h.
  • Estação Docas - O penetrável “Nas Quebradas”, de 1979. Boulevard Castilho França, s/n. De segunda a domingo de 12h às 24h
  • Fórum Landi - No corredor lateral, o penetrável “Rhodislandia”, de 1971. Rua Siqueira Mendes nº 60 - Bairro da Cidade Velha. De segunda a sexta, das 9h às 18h.
  • MHEP - Na Sala da Cavalariça está o penetrável “Tropicália”, de 1967. Na Sala Transversal estão “Meta-esquemas”, “Relevos Especiais”, “Bólides” e “Desenhos Neoconcretos”. Na varanda dos fundos, o Penetrável “Rijanviera”, de 1979. Palácio Lauro Sodré - Praça Dom Pedro II, s/nº - Cidade Velha. De terça a sexta, das 10h às 18h. Sábado e domingo, das 10h às 16h. Feriados, de 9h às 13h.
  • Museu do Forte do Presépio - Na área interna do museu, o penetrável “Macaléia”, de1978, e, na área externa, “A Invenção da Luz”, de 1978/ 1980. Praça Dom Frei Caetano Brandão, s/n. Cidade Velha. De terça a sexta, das 10h às 18h. Sábado e domingo, das 10h às 16h. Feriados, de 9h às 13h.

    Nenhum comentário: