O cinema marginal brasileiro produzido na Boca do Lixo ganha homenagem, nesta segunda-feira, 18, no Cineclube Alexandrino Moreira, que exibe os documentários “Candeias: da Boca para Fora, de Celso Gonçalves” e “O Galante Rei da Boca”, de Alessandro Gamo e Luís Rocha Melo. Localizada na região central da capital paulista, a área que já representou o maior pólo cinematográfico do país hoje só é referência de prostituição e comércio de eletrônicos.
Texto de Carlos Juliano Barros e Laura Lopes
“A Boca do Lixo ainda respira”. Na década de 60, quando o jornalista Percival de Souza começou sua carreira na crônica policial o submundo de São Paulo tinha endereço. No centro da cidade, o famoso Quadrilátero do Pecado – delimitado pelas ruas e avenidas Duque de Caxias, Timbiras, São João e Protestantes – contava com a maior concentração por metro quadrado de prostitutas e bandidos de todos os tipos.
A região, que nos anos 90 foi rebatizada de “cracolândia”, já não é mais a referência das atividades ilícitas na capital paulista. A prostituição e o crime organizado diluíram-se por toda cidade. Se no passado a Boca possuía até um certo glamour, com histórias fascinantes de uma marginália romântica, hoje a região perdeu esse estranho encanto.
No bairro de Campos Elíseos, pomposos nomes de ruas, como Triunfo, Aurora e Vitória, não refletem o abandono em que elas se encontram. O novo Plano Diretor do município define a região como uma Zona Especial de Interesse Social 3. Quer dizer que possui infra-estrutura, mas precisa de investimentos para incentivar a moradia popular e oxigenar o seu tradicional comércio.
Porém, no que se converteu a famigerada Boca do Lixo? Em prédios antigos e deteriorados, cortiços e casas de prostituição – tanto de mulheres como, em boa medida, de travestis – convivem com intensa atividade comercial, cujo maior expoente é a Rua Santa Ifigênia. (ver pop-up)
É difícil acreditar que, na década de 70, uma pequena quadra da Rua do Triunfo abrigou um dos maiores pólos de produção cinematográfica do país. Por lá, passaram nomes atualmente consagrados e que, certamente, não põem os pés na Boca há tempos. Mas ainda podem ser encontradas personagens de um capítulo mágico do cinema brasileiro.
Representantes da época em que mais se produziram filmes no país misturam-se a homens embriagados, travestis e prostitutas. Hoje, mais fácil do que ver um garoto fumando crack é esbarrar em alguma figura do cinema nacional daqueles tempos, pelos botecos da Rua do Triunfo. Não raro, Ozualdo Candeias, Aníbal Massaini, Cláudio Portiolli, José Lopes Índio, entre outros, estão zanzando pelos Campos Elíseos atrás de algum contemporâneo para conversar. (Leia mais).
Nos documentários a Boca do Lixo e seus personagens
O cineasta Candeias |
O documentário “Candeias: da Boca para Fora” conta a história do cineasta Ozualdo Candeias morreu em 2007, aos 88 anos, em São Paulo. Considerado o pai do cinema marginal, que se opunha ao Cinema Novo, nos anos 70, Candeias aderiu às produções de filmes eróticos na chamada Boca do Lixo, em São Paulo. Seu último filme, "O vigilante", foi lançado em 1992.
Lançado em 2003, o curta documentário sobre o cineasta mostra a irreverência e ousadia de um dos diretores mais inventivos do Brasil. O filme de 17 minutos dirigido por Celso Gonçalves tem depoimentos de Zé do Caixão, Carlos Reichenbach, Jairo Ferreira, Inácio Araújo, entre outros.
Galante |
Rei da Boca - Também chamado de o "Rei da Boca", ou o "Produtor Biônico", A. P. Galante produziu de filmes de cangaço a comédias eróticas, dramas psicológicos e filmes policiais, passando por bang-bangs e filmes de kung-fu, num total de mais de 50 obras.
Com depoimentos do próprio Galante, trechos de seus filmes, imagens de São Paulo e da Boca do Lixo de ontem e de hoje e entrevistas inéditas com nomes como Carlos Reichenbach, Jairo Ferreira, Rogério Sganzerla, Inácio Araújo, Severino Dadá, Miro Reis, Sylvio Renoldi, Pio Zamuner, Antônio Meliande, Cláudio Portioli, Sebastião de Souza e João Silvério Trevisan (técnicos, diretores e críticos que fizeram a história do cinema brasileiro), O Galante Rei da Boca é um documentário que, com humor e a simpatia peculiares de seu personagem central, reflete e informa sobre o fazer cinema no Brasil.
Serviço
Cineclube Alexandrino Moreira. Sessões sempre às segundas-feiras, às 19h. Entrada Franca. Praça Justo Chermont, 236 - Nazaré (Ao lado da Basílica de Nazaré).
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