9.3.13

"Aqueles Dois" encanta público no Teatro Cuíra

Aplaudidos de pé
Expoente de sua geração, Caio Fernando Abreu tem escrita econômica e pessoal. Fala de sexo, medo, morte, mas principalmente de solidão. A  visão de mundo é fragmentada, mas nem por isso menos profunda. É possível se reconhecer em diversas das situações, desenhadas por ele com as palavras muito bem aplicadas.

Talvez por isso, a estreia de “Aqueles Dois”, na última sexta-feira, foi aplaudida de pé ao final, tendo conseguido obter, durante a apresentação, total empatia e atenção da plateia. Tem mais hoje e domingo, 10, ás 20h.

Os atores Cláudio Dias, Guilherme Théo, Marcelo Souza e Odilon Esteves, se revezam no papel dos personagens. Dois deles, os protagonistas Raul e Saul, que se conhecem na repetição em que passaram a trabalhar fazia pouco tempo. Durante um expediente sistemático e enfadonho, além de burocrático, eles fazem pausas para um cafezinho e nestes pequenos encontros travam conversas sobre música e cinema, principalmente, fazendo surgir assim algo em comum entre ambos. Ambos, pessoas solitárias, acabam achando um no outro, um conforto e uma maneira de superar o dia a dia chato do escritório. 

O diálogo é frenético, a movimentação e as falas trasnpoem tempo e espaço, absorvendo o espectador de sua potrona. Após a apresentação deste sábado, haverá debate com os atores, a chance que o público terá para conhecer mais sobre a montagem, a técnica utilizada em cena, e também conversar sobre a emoção do texto, e as técnias de preparo para dedicar tanta energia assim em uma hora e meia de espetáculo, que aliás, passa sem a gente perceber.

Técnia 'Contato Improvisação' na cena
A Companhia Luna Lunera, vinda de Belo Horizonte, Minas Gerias, está aqui desde o início da semana. O ator e um dos diretores do espetáculo, Cláudio Dias, ministrou a oficina “Ator Criador”, reunindo 25 jovens atores, na Escola de Teatro e Dança da UFPA. 

"Aqueles Dois” faz parte do livro “Morangos Mofados”, o quarto livro de contos de Caio, lançado em 1982, sendo considerado sua obra prima. Divido em duas partes, "O Mofo" e "Os Morangos", tem ao todo 18 contos. 

“Há outros contos maravilhosos neste livro. Eu já tinha montado uma cena de ‘Terça-Feira Gorda’, e levado para a Espanha, onde fiz uma temporada de estudos da técnica ‘Contato Improvisação’, uma técnica de dança, que resolvemos utilizar nas oficinas internas do grupo. Na hora de escolher um texto para este trabalho, resolvemos focar o ‘Aqueles Dois’ e depois percebemos que havia nisso uma identificação. Estávamos naquele momento sem fazer trabalhos artísticos, só lidando com a parte burocrática do grupo, prestando contas, elaborando outros projetos e, de certa forma, vivendo algo parecido com aquilo que os dois personagens do conto estavam vivenciando, um momento árido”, conta Cláudio Dias. 

E na peça, a história de Raul e Saul os mostra desmotivados com relação a suas vidas, a rotina ali, engolindo seus sonhos. “Os personagens se encontram e trocam ideias sobre música, cinema etc e isso acaba gerando, naquele ambiente árido de trabalho, uma bela amizade, mais tarde julgada pelas outras pessoas da repartição”, explica Cláudio.

O papo no cafezinho aproxima Saul e Raul
“Aqueles Dois” foi criado dentro de um processo chamado pela companhia de “Observatório de Criação”. Durante as semanas de ensaio, eram convidados amigos, outros artistas e a comunidade que mora próximo à sede do grupo.

“Isso contribuiu muito pra nossa construção. De alguma forma, o público nos traz imagens ricas do que acabou de assistir”, diz Cláudio. “Esta oficina faz parte da programação, além do bate papo com o público, pois a ideia é mostrar nosso trabalho, mas também trocar com o público”, complementa. 

A Cia. Luna Lunera é considerada um dos expoentes do teatro mineiro contemporâneo, com 12 anos de carreira, é um grupo amadurecido. O primeiro espetáculo “Perdoa-me por Me Traíres”, texto de Nelson Rodrigues, com direção de Kalluh Araújo, arrebatou plateias, e elogios a sua estrutura passional de teatro-dança. 

Em 2001, recebeu nove prêmios Sesc-Sated/MG, incluindo o de Melhor Espetáculo. Em seguida, veio “Nesta Data Querida” (2003), com direção de Rita Clemente e dramaturgia de Guilherme Lessa, resultou do Projeto Cena 3x4: uma iniciativa do Galpão Cine Horto e da Maldita Cia. de Investigação Teatral, propondo uma pesquisa sobre o processo colaborativo de criação. 

Momentos finais do espetáculo
A terceira montagem da companhia, “Não desperdice sua única vida ou...” (2005), teve direção de Cida Falabella. Feita de relatos autobiográficos dos atores, mergulhou em crônicas, obras literárias, matérias jornalísticas, classificados de oportunidades, revistas e programas televisivos, que instigaram os motes das improvisações sobre as contradições, precariedades e ironia cotidianas. 

Em 2006, Não desperdice recebeu o Prêmio Sesc-Sated de Melhor Direção (Cida Falabella) e Melhor Ator (Odilon Esteves), bem como o Prêmio Usiminas-Sinparc de Melhor Dramaturgia Inédita (Cida Falabella e Cia. Luna Lunera). 

“Agora, paralelamente a circulação de ‘Aqueles Dois’, montamos ‘O Prazer’, inspirado num texto de Clarice Lispector, que já estreou em São Paulo. É um trabalho que ainda está ganhando vida. Vamos levá-lo ainda para o Festival de Teatro de Curitiba, e só depois em Belo Horizonte. É a primeira vez que estreamos um espetáculo fora de casa, outro desafio pra gente”, revela Cláudio. 

Variado, como deu pra notar, o repertório da Cia Luna Lunera é fruto de diferentes investigações que têm em comum o foco no trabalho do ator, na valorização da cultura e de dramaturgos brasileiros, sejam eles consagrados ou estreantes. A programação, em Belém, conta com o patrocínio da Eletrobras Eletronorte e Chesf, por meio do Ministério da Cultura.

O cenário, em Belém
“Aqueles Dois” está há três semana na estrada fazendo uma circulação pelas regiões nordeste e norte. 

Sucesso não só em Belo Horizonte, o espetáculo, criado em 2007, também já foi apresentado em outras regiões do país. Já esteve em Aracaju, Maceió e Terezina e depois de Belém, seguirá para Macapá (AP), Manaus (AM) e Boa Vista (RR). 

O espetáculo tem ainda cenário e figurino do Núcleo de criadores do espetáculo, consultoria de figurino de Carla Mendonça, iluminação de Felipe Cosse e Juliano Coelho, criação gráfica de Frederico Bottrel, administração de Sílvia Batista e Elaine Vignoli, assessoria de Comunicação: Luíza Glória, Ethel Braga (MG), com produção local da Cia de Teatro Madalenas.

Serviço
Aqueles Dois (Duração: 90 minutos/ Gênero: Épico dramático/Classificação etária: 16 anos). Dias 08 (às 21h), 09 e 10 (às 20h), no Teatro Cuíra (Rua Riachuelo, Nº524. Campina). Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia). Mais informações: 91 8134.7719/ 3088.5858.

Um comentário:

Allan Jones disse...

Esse domingo vou ir prestigiar a peça.
Estou amando o Blog, parabéns Lu!