27.3.13

Panorama de uma fotografia humanística e ousada

A Casa das Onze Janelas se  faz mais uma vez um espaço de fruições. Na exposição Homem Cultura Natureza, aberta ontem à noite, pela quarta edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, há ensaios fotográficos, vídeo arte e instalações sonoras e imagéticas. 

O público vai perceber que as essências presentes nas obras, também estão em seus autores, artistas interessados em experimentar com verdade e coragem de expandir as ideias para além das imagens. São 25 obras selecionadas este ano, três delas, como se sabe, premiadas. 

Na cerimônia de abertura, que aconteceu na noite desta última terça-feira, 26 de março, estiveram presentes representantes dos realizadores do prêmio, o Jornal Diário do Pará e do Grupo RBA de Telecomunicações, dos patrocinadores, Vale e Pátio Belém, membros do júri formado este ano e a equipe que organiza e produz o evento, além do público e de artistas que vieram de outros estados e trocaram ideias com os paraenses, que também estão com seus trabalhos na mostra. 

Em sua fala de boas vindas, Mariano Klautau Filho, curador do prêmio, reafirmou que o Diário Contemporâneo de Fotografia é uma exposição de arte brasileira, em que a presença do Pará tem se mantido forte por suas próprias razões. Disse ainda que este ano, a comissão julgadora esteve especialmente em sintonia e discutiu muito criticamente cada trabalho inscrito.

"Tivemos uma comissão que fluiu muito bem e que teve acima de tudo noção crítica em suas escolhas. Discutimos cada um dos inscritos, atentos ao que se produz na contemporaneidade, sobre o que cada trabalho se sabia, se tinha alma”, relembrou. 

Armando Queiroz, diretor da Casa das Onze Janelas e também integrante do júri, foi de poucas, porém significativas, palavras. Pediu licença e citou Eduardo Galeano (O livro dos Abraços):

“Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovakloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: – Pai, me ensina a olhar!”. 

Ao final da leitura, Armando arrematou: “Sejam todos muito bem vindos. O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é o mar!”, sentenciou, instigando as pessoas a mergulhar neste universo de sentidos, aguçados pelo olhar provocado pelo evento. 

O jovem Emídio Contente, ganhador na categoria local – Prêmio Diário, no valor de 10 mil reais, elogia a harmonia da montagem. “Está muito bonita. Percebe-se que nesta edição, a fotografia em si está marcando território”, disse ele que reconhece a fotografia paraense como uma referência de produção no país.

“Acho que o Prêmio Diário é uma das provas de que a fotografia paraense existe, não só no sentido histórico, pois não paramos nos anos 1980. A fotografia paraense continua tendo uma produção contemporânea boa e forte, pronta pra receber o mundo e sair pra ele também”, afirmou. 

A obra premiada de Wagner Almeida- Livrai-nos de todo o mal
Sobre o seu trabalho, Cobogó, ele diz que espera que o público mergulhe na viagem de um universo próprio como ele mesmo faz em sua pesquisa, iniciada em 2007 e sem data para acabar. 

“Cobogó é um trabalho que, em certas horas é muito pessoal e em outras, é universal. Minha ideia é que em cada foto, a pessoa possa ali, naquele furinho, mergulhar em um universo que ela mesma crie ou tenha a curiosidade de entrar e inventar qualquer outra coisa da cabeça dela mesma, e que pode ser totalmente diferente do que eu pensei”, diz o jovem artista. 

Emoção ao ver o resultado alcançado

Na opinião do fotógrafo Luiz Braga, que foi um dos artistas a integrar o júri desta quarta edição, o resultado da seleção dos trabalhos condiz com o cuidado que ele, Armando Queiroz e Maria Helena Bernardes tiveram ao analisar as 310 obras inscritas.

“Eu vejo isso com uma emoção peculiar, principalmente por ter tido o privilégio de ter participado do processo. Eu sei o universo de onde saiu tudo isso. E para mim este também é um grande prêmio. Ter brigado por esse trabalho do Marajó (diz ele apontando na parede a obra de Betania B.) foi acertado. Acabei de conhecer a autora, e isso me fez constatar que ela é exatamente o quem eu imaginava que estava fazendo aquilo. Isso mostra que a gente estava com a antena bem calibrada na hora de perceber os trabalhos”, comentou.

“Pelo que vi aqui, confesso que não me arrependi de nada. Existem um critério que, quem passear pela exposição vai perceber de imediato, que é a sinceridade da exposição, pois eu não admito estelionato artístico, pra mim isso é um pecado que considero mortal. As pessoas que estão aqui têm sinceridade no que fazem e têm aquilo que também considero fantástico, a ousadia de tentar expandir o que fazem, além do que seria esperado, como o cara das salinas (referindo-se a obra Homens de Sal, do paulista Ricardo Hantzschel), que dialoga com o que o Emídio fez também”, disse.

Daniela Alves, veio do Rio de Janeiro
“Aqui está um panorama de uma fotografia, antes de tudo, humanística que respeita o outro, que se permite interpretar sem se apropriar, sem ser aquilo que a gente falou muito na seleção, um predador visual altamente instrumentalizado, que se permite tentar enganar com fórmulas e maneirismos. Não tem nada disso aqui. Estou muito feliz e orgulhoso disso. E já estou querendo ver o catálogo”, enfatizou Luiz.

A carioca Daniela Alves, que recebeu junto com Rafael Adorján, o prêmio Diário Contemporâneo por “Derrelição”, disse que foi muito bem acolhida pela equipe do evento e pela cidade. 

Os dois chegaram na segunda-feira, 25, para acompanhar o final da montagem e tiveram a oportunidade de conhecer um pouco da cidade. Impressionada com a qualidade da exposição, ela se diz muito feliz em estar participando desta edição. 

“Que bacana estar junto com todos estes outros de jovens artistas que estão produzindo e experimentando. Todos os trabalhos têm uma qualidade incrível. É uma mostra em que você ao participar, dialoga com o Brasil inteiro. Belém é um ponto reconhecido e de referência para a fotografia. Estar em contato com estas pessoas, saber mais um do outro, é realmente muito gratificante”, conclui. 

Serviço
A mostra Homem Cultura Natureza ficará aberta na Casa das Onze Janelas até dia 26 de maio, com entrada franca – Pça. Frei Caetano Brandão, aberta de terça a sexta das 10h às 18h e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 14h. Mais informações: 91. 4009-8821 (Recepção). Para agendar visitação, ligue para (91) 4009 8845 (8h30 às 13h30). As escolas interessadas também devem preencher a ficha de cadastro e relato no site (www.diariocontemporaneo.com.br).

Nenhum comentário: