1.3.13

CD Céu da Camboinha chega finalmente ao público

O “Arraial do Pavulagem” é um espetáculo de múltiplas emoções, mas realizando três cortejos anuais, vários shows por mês e tendo mais um instituto para tocar, o grupo não conseguia parar e fazer o registro das novas músicas, até que ano passado, em meio aos preparativos do cortejo junino, o grupo resolveu encarar estúdio. O resultado será apresentado nesta sexta-feira, 01, às 20h, na Praça do Povo, no Centur

Ao longo de 26 anos de carreira, o que começou como uma brincadeira entre amigos que se reuniam pra tocar na Praça da República no final dos anos 1980, se tornou um movimento cultural que hoje arrasta multidões pelas ruas de Belém. Foram 7 anos sem gravar, o que não significa que o grupo esteve parado, muito pelo contrário, foram anos de intensa atividade.

“Não deixamos de produzir. Em nossos shows sempre tiveram músicas novas. A nossa dinâmica é sempre esta, testar, mostrar as músicas primeiro para o público, que aprende a cantá-las nos nossos arrastões”, conta Junior Soares. A demora em gravá-las tem uma explicação lógica. “Gravar demanda dedicação. E nós do grupo é que fazemos tudo. Produzimos, captamos, prestamos conta dos projetos, fazemos a direção musical, os arranjos. E no meio de três arrastões anuais, que foram intensos nos últimos cinco anos, exigindo da gente cada vez mais logística e tempo, estes sete anos sem gravar acabaram passando despercebidos”, explica o músico. 

Junior ressalta que para fazer um disco de qualidade é necessário pelo menos três meses de dedicação entre gravação, mixagem, masterização. “É um grande envolvimento, mas comigo e Ronaldo à frente dos arrastões, ficou difícil de largar tudo e entrar no estúdio. Até que entre maio e junho de 2012, deu aquele ‘start’, as pessoas começaram a cobrar mesmo. Acabou que gravamos o CD num período bem atribulado, mas acho que veio em boa hora, como tudo”, conta. 

(Foto: Bruno Carachesti/Diário do Pará)
Tempo suficiente para amadurecer as formas das 12 músicas que estão no novo CD e que já vinham sendo testadas nos arrastões. Por isso o público que vai ao Centur, hoje, provavelmente já chegará com intimidade e cantando tudo. Mas é bom saber que será um show para ouvir o disco.

“Não será uma apresentação comum. Vamos apresentar as músicas do disco, com intervalos. Será diferente da forma com que todos estão acostumados a ver e ouvir em nossas apresentações pelas praças”, avisa Junior Soares. “Vamos focar no novo CD, embora a gente saiba que será inevitável, no final, atender pedidos de músicas antigas”, complementa. 

Há 5 anos tendo em sua formação, além de Ronaldo Silva (voz) e Junior Soares (voz, arranjos de base, violões de aço e nylon e banjo), os músicos Marcelo (Pyrul) Fernandes (guitarra), Rubens Stanislaw (contrabaixo), Rafael Barros (percussão), Alan Fraklin (percussão) e Edgar Júnior (percussão), o Arraial do Pavulagem apresenta um CD, que traz novidades sonoras e participações especiais. A rabeca está presente com o toque de Luê Soares, em “Realeza do Guamá”, música que homenageia o povo daquele bairro, e Luiz Pardal, que a toca em “Retumbão do Caeté” e “Barca da Lua”. 

“A rabeca foi um instrumento que nos permitimos inserir, pois tem tudo a ver com nossa sonoridade. Além disso, adotamos a guitarra de forma marcante na melodia do Arraial do Pavulagem”, revela Júnior. O resultado sonoro é excelente. Das muitas músicas que o grupo já tinha prontas, ficaram aquelas as de melhor arranjo e de maior identidade com as pessoas. “Céu da Camboinha” é cara do Pavulagem. 

“Barca da Lua” e “Cachoeira Prateada” já estão tocando direto na rádio e, além das que já foram citadas aqui, o disco tem ainda “Mensageiro do Arari”, “Céu da Camboinha”, “Princesa do Marajó”, “Passarinho da barreira”, “Malena Mariá”, “Retumbão do Caeté”, “Cajá”, “Quadrilhão do Guamá” e “Mastro de São João”. 

Ouvir o disco é entrar em contato direto com a cultura paraense, mas principalmente com as regiões que são o foco da pesquisa musical do grupo, como Belém, Maiandeua, Bragança e Marajó. Os arranjos de rabeca somam-se à guitarra e realçam o retumbão, o carimbó e o boi bumbá.

“Conversando com Ronaldo, percebemos que é quase sem querer que a gente acaba falando dos lugares onde estes ritmos estão latentes. É natural, pois trabalhamos com estas rítmicas há muito tempo, nos arrastões e isso faz parte da nossa vida e da nossa pesquisa musical. Céu da Camboinha é a transformação dessa pesquisa em algo tão tangível quanto a música que hoje em dia as pessoas dançam, pegam em forma de CD e se apropriam”, reflete Junior. 

O disco traz carimbó, cada vez mais presente nos próprios arrastões do Pavulagem, duas toadas de boi, uma com sotaque mais diferente, de barrica, e outra de bumba meu boi, mas tudo com a linguagem do Arraial, que não é algo de raiz propriamente. 

"Fizemos três xotes, e fazia tempo que a gente não gravava este ritmo. São especiais para as pessoas dançarem, muito bonitos, com arranjos bem feitos. 

Tem ainda o retumbão bragantino, inevitável escolha, pois o grupo possui um trabalho forte com a Marujada, mas só que é aquele retumbão mais estilizado, que a mistura-se ao reggae, e faz fluir aquela coreografia que as pessoas fazem. Há ainda uma música de quadrilha. No show, só não vamos tocar ‘Mastro de São João’, que traz a presença de metal e tudo, pois a estamos guardando pro Arrastão de São João”, avisa Junior. 

Depois do show de lançamento de “Céu da Camboinha”, o Arraial do Pavulagem já tem extensa agenda a cumprir. No dia 7 de abril tem o circuito do Cordão do Peixe Boi, e no mesmo mês, o grupo se apresentará em Salvador. “Fazemos uma média de cinco ou seis shows por mês, fora de Belém e até do estado. Além da Bahia vamos levar o show para Paragominas, Castanhal e outros municípios. Para todos levaremos os CDs”, diz Junior. 

Pintando o 7, literalmente, e de áurea cabalística, vejam só, o show que o Arraial do Pavulagem faz hoje, promete fortes emoções. O grupo estava há 7 anos sem gravar. Céu de Camboinha chega após outros 7, já lançados (Gente da Nossa Terra; Sotaque de Reggae Boi; Arrastão do Pavulagem; Arraial do Pavulagem - ao Vivo; Rota da Estrela; Folias do Marajó – IAP e Música do Litoral Norte) e com 7 integrantes, a próxima atuação está marcada para o dia 7 de abril.

Gravado, mixado e masterizado no estúdio Midas Amazon Estúdio, em Belém, o disco também tem participação de Johab Quadros e Jó Ribeiro nos trompetes, Esdras Souza, no Sax. Junior Soares, além de tocar e cantar, assina a produção executiva a direção musical. 

O CD, patrocinado pelo Banco da Amazônia, traz belas ilustrações de Elton Galdino, projeto gráfico de Carol Abreu e já pode ser comprado, por R$ 20,00, nas lojas Ná Figueredo. Além do novo disco, este ano o Pavulagem ainda pretende relançar os discos antigos, todos juntos em uma caixa de edição especial. 

“Escrevi um projeto para a acaptação e vamos ver. Vai ser árdua  atarefa, ams vamos conseguir. É que nos discos anteriores temos muitos compositores que não estão mais no grupo ou que só foram gravados por nós e vamos ter que conseugir as autorizações. Hoje, penso com planejamento neste tipo de coisa. 

No novo disco, só há uma música que não é minha ou do Ronaldo ou de nós dois juntos, que é “Cajá”, do Ronaldo e do Allan Carvalho”, conclui Junior Soares, que passou a semana inteira, ao lado de Ronaldo dando inúmeras entrevistas. E se fosse só isso, tudo bem. Pai de Luê Soares, que também lança disco no próximo dia 09, Junior anda com a agenda, de produtor executivo local da filha, lotada. Mas isso vai ficar para a próxima postagem, uma entrevista especial já concedida por Luê ao Holofote Virtual. Aguardem. Vamos todos ao show do Pavulagem que, por hora, é o que interessa.  

Serviço
O show de lançamento tem patrocínio do Banco da Amazônia e apoio da Cultura Rede de Comunicação e Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves. É nesta sexta, 1º de março, na Praça do Povo, no Centur, às 20h. Ingresso custa R$ 1,00. Para mais informações sobre o Arraial do Pavulagem, acesse: www.arraialdopavulagem.org.

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