6.9.11

Pássaros e Bois juninos na Belém dos anos 20

Luiz acompanha os ensaios na quadra da escola de samba
Um dos diretores de “Chama Verequete” (Kikito de Melhor Música em Gramado - 2001), e vencedor do DOC TV de 2008/2009, com “Turcos Encantados”, o cineasta Luiz Arnaldo Campos inicia, nesta quarta-feira, 07, as filmagens de seu mais novo curta mestragem, “Pássaros Andarilhos e Bois Voadores”, premiado pelo MinC. 

Por Wanderson Lobato

Na Escola de Samba do Quem São Eles, no último domingo (04), músicos e dançarinos ocuparam boa parte da quadra num ensaio inusitado: o confronto entre os Bois Touro de Ferro e Flor de Lis. “Só vô avisar mais uma vez. Tu conhece o batalhão, tu conhece o cantador, respeite e sai da frente, o boi é dominador”. 

O refrão da toada levada por Mestre Pantoja anuncia a chegada do batalhão do Touro de Ferro. Logo em seguida, será a vez do grupo do For de Lis, comandados por Mestre Alarino ocupar a quadra. A cena se repete algumas vezes até o momento mais esperado: o confronto entre os dois grupos – uma das principais cenas do curta “Pássaros Andarilhos e Bois Voadores”, de Luiz Arnaldo Campos.

Mestre Pantoja, do Boi Touro de Ferro
“Foi maravilhoso, conseguimos ir envolvendo as pessoas, fazer surgir a motivação. O filme conseguiu gerar um envolvimento na comunidade, envolver tanto os mestres quanto a juventude. 

Foi muito legal”, comemora Luiz Arnaldo, diretor e roteirista do curta, cujo roteiro venceu, em 2010, o Concurso de Apoio à Produção de Obras Cinematográficas Inéditas, de Curta Metragem, de Ficção ou Documentário, do Ministério da Cultura.

“Pretendo traduzir para a linguagem cinematográfica, a estética presente nos cordões de pássaros e bois juninos”, explica Luiz Arnaldo. “O título é uma brincadeira com a tradição, já que a história traz uma discussão sobre o que é o bem e o que é o mal, com a inversão de papéis de quem seria o bem e de quem seria o mal”.

Valendo - No domingo, 04, porém, era só um ensaio. O filme começa a ser rodado a partir desta quarta-feira, 07. Será uma semana de filmagens em locações nos bairros da Cidade Velha, Campina, Terra Firme, em Belém, e nos municípios de Ananindeua e Santa Bárbara, com a participação de dezenas de figurantes. Só pra se ter uma idéia, cada boi terá a participação de cerca de 80 brincantes.

A cena do confronto entre os dois grupos está programada para o dia 12, em pleno bairro da Terra Firme. As filmagens terão a participação do Regimento da Polícia Montada, da Polícia Militar do Estado. Um esforço de produção, mas também da direção de arte, a cargo de Célia Maracajá.

“A direção de arte é responsável em dar o tom do filme, tanto para os figurinos, quanto para o cenário, que tem que casar com a luz a ser usada”, diz Célia, também responsável pelo teste com os atores. “Optamos em trabalhar com atores profissionais, como é o caso de Aninha Moraes (do grupo de teatro Atores Comtemporâneos), que no filme faz a Rosimeire, mas também com pessoas que têm a vivência em trabalhar com bois e pássaros, como é o caso da Juliana Silva, integrante de um grupo de toada de Santa Bárbara que faz o papel da Floramor”, conclui.

Célia Maracajá, na direção de arte
Época - Ambientado em Belém no ano de 1925, a obra é uma grande homenagem aos pássaros e bois juninos - duas expressões que marcam profundamente a cultura paraense. 

“São duas matrizes culturais muito fortes. E o ano de 1925 foi escolhido por que é um momento de inflexão, é quando fica muito forte a repressão policial, principalmente por conta das arruaças que aconteciam envolvendo os confrontos entre os bois”, explica o diretor. 

A história se desenrola em plena festa junina - inicia na festa de São João e encerra no dia de Santo Antônio. Na trama, magia e sedução, amor e desventuras envolvendo Floramor e Rosimeire, fada e feiticeira, respectivamente, do Cordão de Pássaro Quero-Quero que se envolvem na disputa entre os bois Flor de Lis e Touro de Ferro, organizados por seus namorados, Zebedeu e Ladislau.

“Estamos trabalhando para que a produção também seja uma possibilidade de acontecimento para este universo”, afirma Luiz Arnaldo, explicando que a montagem dos bois ficou sob a responsabilidade daqueles que mantém viva a tradição no Estado. Ao lado de D. Helena e D. Analu, guardiãs de Pássaros Juninos, está Mestre Alarino, 84, com mais de 60 anos de atividade no comando do Boi Caprichoso, do bairro da Castanheira. Juntos, eles montaram o Boi Flor de Lis.

“Pra mim está sendo um grande prazer da minha vida participar deste filme. Nunca pensei que ia fazer algo assim. Estou muito feliz, feliz mesmo”, repete emocionado. Mestre Pantoja, Mestre Diquinho e Carlinhos do Boi, outros profissionais da arte de dar vida aos bois juninos, são os responsáveis pela confecção do Touro de Ferro.

Mestre Alarino, que toca o boi Flor de Lis
Estreia - Em outubro, o filme já estará entrando na ilha de edição ser finalizado. A idéia é que em novembro, Belém tenha uma pré-estréia da estética peculiar de bois e pássaros juninos na tela de cinema.

O trabalho mostrou uma das grandes dificuldades quando se quer rodar filmes de época na cidade, carente de áreas preservadas. “Se você quiser rodar um filme sobre a Cabanagem, por exemplo, ou você monta uma cidade cenográfica ou vai filmar no Reviver, em São Luis. Aqui está tudo muito descaracterizado”, lamenta Luiz Arnaldo.

Por outro lado, o cineasta carioca se mostra cada vez mais envolvido por Belém e a região amazônica. “Estou há 15 anos aqui, fui afundando, submergindo cada vez mais nessa cultura que ainda é pouco conhecida pelo Brasil. 

Que tem uma força criativa, uma cultura de imagens e ritmos bastante diversificada e rica - todas as matérias-primas que compõem o cinema você tem aqui. É um combustível para minha profissão”, comemora.

Patrocínio e apoios - Financiado pelo Ministério da Cultura, o curta-metragem “Pássaros Andarilhos e Bois Voadores” conta com o apoio dos Grupos de Bois e Pássaros e de Grupo de Toadas Juvenis (Belém e Santa Bárbara), da produtora Amazônica e do Regimento Polícia Montada, da Polícia Militar, além do Núcleo de Produção Digital, do IAP, que cedeu parte dos equipamentos para as filmagens.

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