Realizado em 1962, o drama Porto das Caixas, filme de estreia do cineasta Paulo Cesar Saraceni, será exibido nesta quarta-feria, 21, dentro da Mostra “Cinema Moderno Brasileiro (re) visitado”, a partir das 19h, na programação do Espaço Benedito Nunes - Livraria Saraiva (2o. Piso do Boulevard Shopping). Entrada franca.
Baseado na história original de Lúcio Cardoso, Porto das Caixas conta a história de um crime ocorrido no município de Itaboarí, no Rio de Janeiro. Uma mulher muito pobre, maltratada por um marido ignorante e bruto, resolve assassiná-lo e para isso utiliza seus encantos femininos. A mulher que tanto anseia sua liberdade é o símbolo da insurreição, do estar disposta, a qualquer custo, a ser livre. Isso leva seus atos para longe dos valores morais.
Cinema Moderno - Algumas das principais e mais básicas características do cinema moderno são o desapego a uma narrativa contínua de causa e conseqüência e a presença do ambiente ou espaço como deflagrador das ações das personagens. No caso de Pôrto das caixas, primeiro longa-metragem de Paulo César Saraceni, esses dois elementos estão fortemente presentes a cada cena, a cada plano do filme. Apesar de o enredo funcionar com acúmulo de situações (mulher vai sendo maltratada pelo marido até não agüentar mais e decidir livrar- se dele), importa menos a Saraceni como sua protagonista vai conseguir resolver a situação do que o envolvimento e a interação dela com tudo que está ao seu redor.
Pôrto das caixas serve como estopim do Cinema Novo, movimento que já surgia forte e iria explodir no ano seguinte, com a trinca Vidas secas, Os fuzis e Deus e o diabo na terra do sol. Porém, diferente destes três, Pôrto das caixas focava o ambiente urbano e retratava de maneira direta, sem maiores cargas de simbolismo, as angústias de pessoas à margem dos grandes centros e das possibilidades de ascensão.
A personagem principal, interpretada com grande expressividade por Irma Álvarez, é reflexo disso: dona de casa submissa, ela tenta, por meio do forte poder de sedução, fugir do aparente determinismo no qual está enjaulada. No caminho, ela se insinua a vários homens, conspira contra o marido, movimenta-se pelo espaço onde vive, nas redondezas de uma estação de trem que parece servir de principal fonte de renda da região.
Saraceni mistura ficção com um tom realista marcante, em especial ao se fixar no rosto de pessoas comuns, prováveis moradores incorporados à própria realidade criada pelo diretor. É o típico cinema que coloca a câmera nas ruas, em contato com o povo e, dali, ilustra sua própria temática.
A fotografia e os enquadramentos de Mario Carneiro, junto à trilha sonora de Tom Jobim, colaboram para o tom melancólico e triste que perpassa todo o filme. Triste, sim, mas jamais piedoso.
Saraceni não demonstra compactuar com sua protagonista. Ainda que o andamento do filme pareça dar razão a ela por querer desaparecer com o marido violento, a construção tanto da mulher quanto do homem guarda ambigüidades que evitam o maniqueísmo.
(com informações da crítica de Marcelo Miranda: crítico de cinema dos sites Digestivo Cultural, Cinequanon e Filmes Polvo).
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