Desde março, venho acompanhando o projeto "Encantarias de São Benedito: performances visuais do Santo Preto em comunidades de terreiro – Bragança-PA”, contemplado pelo edital de Artes Visuais Fotoativa Aldir Blanc, Secult-PA. Neste sábado, 1º de maio, a partir das 19h, a equipe faz a entrega da sua primeira etapa, na comunidade de terreiro da Vila Que Era. A programação será no centro comunitário, com exposição de fotos e vídeo performances, além do lançamento do videoarte documental "Ritos de Passagem - Pai Raimundo da Vila Que Era”.
O projeto iniciou em fevereiro, mas com a situação pandêmica, ações foram adiadas. A equipe também se deparou com o falecimento de Pai Raimundo, um personagem importante para essa história. A exposição e o documentário trazem registros dos ritos de despedida dele, com ladainhas e tambor de choro acompanhados pela comunidade, em seu terreiro, logo após seu falecimento, no dia 8 de março.
Mestre da cultura bragantina, ele ainda mantinha práticas tradicionais da Umbanda e da Marujada. Todos os anos, ele recebia a esmolação do santo preto que ainda passava pela Vila Que Era, e na festividade de dezembro, ele também costumava dançar no barracão, o Retumbão. Geralmente já saía de lá, incorporado, seguindo para o terreiro, onde as celebrações continuavam, ao som do tambor de mina. O terreiro dele ficava na rua para todo mundo ver.
“Isso é interessante, pois não era uma prática velada, embora muitos marujos tenham abandonado suas práticas religiosas umbandistas ou como eles chamam, macumbeiras, pra poder se encaixar melhor nas exigências da Marujada”, diz Marília Frade, artista-pesquisadora e educadora com estudos teóricos e práticos no teatro do oprimido, moradora de Bragança.
Esse projeto ressalta essa ancestralidade, ao propor a vivência artística e coletiva da fotografia e do vídeo performances a moradores que vivem nessas comunidades de terreiro. São filhos de santo, marujos e marujas, que ainda mantém relação com os cultos a Toiá Averequete, da tradição afro-brasileira do Tambor de Mina; e com São Benedito, da tradição católica.
A Marujada, de acordo com os historiadores, foi realizada pela primeira vez em 1798, quando os escravos tiveram permissão de seus senhores brancos para criarem a organização de uma Irmandade para a primeira festa em louvor a São Benedito. Teria surgido assim, por iniciativa dos homens pretos, a Irmandade do Glorioso São Benedito.
A exposição na comunidade da Vila Que Era só poderá ser vista neste sábado, mas o público em geral poderá acompanhar os conteúdos pelas redes sociais do projeto. O vídeo arte documental será disponibilizado no canal de YouTube do projeto.
“A segunda etapa do projeto prevê oficinas de foto e vídeo performances a serem produzidas pela comunidade do terreiro do Pai Kauê, localizado no bairro da Piçarreira em Bragança. Esperamos que essas práticas tenham um potencial não só de registro dessas memórias, mas também de criação para que essas pessoas percebam que elas criam a cultura, elas criam a arte, elas também são produtoras e fazedoras desse saber cultural e artístico”, conclui”, diz Marília.
Além dela, o projeto conta com Pierre Azevedo, pesquisador e produtor em projetos científicos, culturais e audiovisuais; Pedro Olaia, ator, performer e articulador cultural em rede, que vem desenvolvendo projetos artísticos e culturais em comunidades tradicionais; com as fotógrafas bragantinas, Mayka Melo, mantenedora da cultura popular como maruja há sete anos; e Raquel Leite, que também atua na área do audiovisual; além de San Marcelo, operador de câmera, diretor, roteirista e montador.
Serviço
Encantarias de São Benedito: Lançamento de Videoarte e "Mostra Fotográfica e Audiovisual". Neste sábado, 1o de maio, a partir das 19h, no Centro Comunitário da Vila que Era, em Bragança-PA. O projeto tem apoio da Lei Aldir Blanc-Pa, por meio do edital Artes Visuais Fotoativa, Secult-PA. Acompanhe também nas redes sociais: @encantariasdesaobenedito.
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