21.11.24

A queda do céu já iniciou, mas ainda há esperança

A abertura do 10° Amazônia (Fi)Doc, nesta quarta-feira (20), no CCBA foi uma experiência histórica e profunda com a exibição do "A Queda do Céu". 
A exibição contou com a presença dos diretores Eryk Rocha e Gabriela da Cunha, do montador Renato Vallone e do protagnista do documentário Davi Kopenawa Yanomami.  

O líder indígena subiu ao palco à convite de Zienhe Castro, cineasta, produtora e anfitriã do festival, compartilhando reflexões sobre sua missão com os povos Yanomami e a urgência das questões ambientais, dando uma aula de sabedoria e resistência.

O Amazônia (Fi) Doc está só começando e nesta abertura já mostrou que cumpre com sua missão de amplificar as vozes sobre a região, em tempos de profundas transformações, onde a relação entre humanidade e natureza parece estar em seu limite. Nada mais certeiro que abrir o festival com “A Queda do Céu” , nos proporcionando esse mergulho no universo Yanomami. E melhor do que isso, na presença do protagonista e dos diretores, oportunidade que só costuma acontecer em festivais.

O Xamã e líder político dos povo Yanomami, presidente da Hutukara Associação Yanomami, ativista na defesa dos povos indígenas e da floresta amazônica, foi homenageado com um trofeu e trouxe ao público uma mensagem de alerta, resistência e reflexão. 

Com simplicidade e profundidade, ele destacou o papel fundamental dos povos indígenas na preservação da floresta, mas enfatizou que essa luta não pode ser travada apenas por eles. "Nós precisamos estar juntos", repetiu Davi, apontando a necessidade de uma aliança genuína entre indígenas e não indígenas.

Ele falou sobre a devastação causada pela exploração da floresta, criticando o desejo incessante do homem branco por riquezas que resultam na destruição da natureza. Em suas palavras, o problema não está apenas na crise climática, mas na ausência de sonhos e na falta de respeito pela Terra como um ser vivo.

Com relação à COP30 na Amazônia, Davi expressou ceticismo em relação às soluções práticas desses encontros globais. "Vocês sabem o que vai resolver? Nada. O problema é mais profundo", afirmou, sugerindo que a raiz da questão está na desconexão das decisões globais com o que interessa ao planeta, e com os valores tradicionais que priorizam a coletividade e a sustentabilidade.

Davi concluiu sua fala com um apelo simples, mas poderoso: que todos comecem a sonhar novamente, porque é nos sonhos que se encontra a força para transformar o futuro. “A queda do céu já começou,” alertou. Mas talvez ainda tenhamos tempo. Custa acreditar, como ele mesmo diz, mas talvez a resposta esteja em sonhar mais – e sonhar juntos.

Éryk Rocha: roteiro reestruturado na comunidade Yanomami

Durante o bate-papo realizado após a sessão, Eryk Rocha compartilhou os desafios e as surpresas que marcaram a produção do filme. Ele explicou que o projeto não nasceu exatamente como uma adaptação literal do livro homônimo de Davi Kopenawa e Bruce Albert, mas como um diálogo com a obra, buscando traduzir suas reflexões para a linguagem cinematográfica.

Inicialmente, o roteiro foi estruturado em torno dos três capítulos centrais do livro – diagnóstico, alerta e convite –, mas o percurso da produção trouxe mudanças inesperadas. O falecimento do sogro de Davi Kopenawa, durante o processo, foi um momento decisivo. Esse evento levou a equipe a ser convidada a registrar o Reahu.

O ritual fúnebre, a mais importante celebração realizada pelos Yanomami, onde são reforçadas alianças tendo como pano de fundo principal a homenagem ao morto, tornou o ritual o fio condutor da narrativa, acompanhada por áudios da voz de Kopenawa, refletindo várias questões e também de algumas passagens do livro.

As gravações ocorreram numa imersão de um mês naquela comunidade e isso foi essencial para captar não apenas o ritual, mas também o cotidiano das pessoas. Éryk também disse que durante esse período, a equipe filmava diariamente, dialogava com Davi e outras lideranças e refletia sobre as camadas de significado que emergiam. Ele descreveu essa vivência como “arrebatadora”, afirmando que a festa proporcionou uma compreensão mais profunda da relação espiritual e cultural dos Yanomami com a floresta.

Outro aspecto marcante foi a escolha de trabalhar com jovens comunicadores Yanomami como parte da equipe de produção. Eles contribuíram ativamente nas filmagens, trazendo perspectivas autênticas para o processo. Essa integração reforçou o compromisso do filme em ser não apenas sobre os Yanomami, mas feito com eles.

Na etapa de montagem, Eryk mencionou que o processo foi longo e experimental, com muitas reestruturações. Ele ressaltou o cuidado em equilibrar elementos do livro com as imagens e sons captados, além de incorporar arquivos sonoros e visuais, como transmissões de rádio e ruídos de helicópteros. Esses recursos criaram uma atmosfera de tensão que refletia as ameaças externas enfrentadas pelos Yanomami, sem que fosse necessário mostrar explicitamente cenas de violência.

O diretor concluiu que o filme se tornou mais do que uma adaptação do livro; “ele é uma extensão da obra, um novo capítulo que incorpora a ‘vingança da Terra’ mencionada por Davi”. Para Eryk, o filme reflete a revolta do planeta diante da exploração desenfreada, conectando a visão Yanomami com a crise climática global.

Festival reexibe "A Queda do Céu" no domingo

Seria apenas uma única exibição na abertura, mas ontem mesmo a direção do festival tomou a decisão de exibir, mais uma vez "A Queda do Céu",  trazendo agora a experiência no escurinho do cinema. Será única sessão, neste domingo, 24, às 15h30, no Cine Líbero Luxardo – Centur. 

Não percam. Além de tudo, o filme de Éryk Rocha e Gabriela da Cunha é um espetáculo estético e sonoro, uma imersão na essência Yanomami, um privilégio o acesso que a equipe teve à comunidade para realizar este trabalho, tornando possível que nós também possamos conhecer mais essa realidade pela tela do cinema na esperança em que a voz dos povos indígenas seja realmente ouvida. 

Noite de consciência para todos

A noite de abertura também foi marcada pela entrega de um troféu de homenagem à Zélia Amador de Deus, que celebrou com o público o Dia da Consciência Negra. 

“Estou muito feliz em estar aqui, agradeço ao festival. E estou mais feliz ainda porque hoje é dia 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra, que pelo primeira vez, é um feriado. E isso é muito importante, porque o dia passa a ser nacionalizado e com isso uma consciência para todos, todas e todes”, disse a mestra. Zélia finalizou entoando a palavra Ubuntu: "Eu sou porque tu és, e tu és porque eu sou.", disse o significado aos presentes. Foi um chamado à união, tema central da noite. 

A programação do 10o Amazônia (Fi)DOc segue até 27 de novembro e traz em suas mostras, muitas outras vozes amplificadas pelo cinema feito na Amazônia. O festival, nestes 15 anos de existência e em 10 edições realizadas, cresce e aprimora seu olhar na curadoria, assim como na área da formação com a realização de debates, oficinas e workshops. 

Saiba mais e veja a programação completa

https://amazoniadoc.com.br/

20.11.24

Sabor e crise climática no As Amazonas do Cinema

Estreia do curta "Cozinhando no Calor, antes da
chuva, em outubro, no Cine Sesc.
Foto: Marcelo Rodrigues
"Cozinhando no calor antes da chuva", documentário de Auda Piani, retorna ao Cine Sesc Ver-o-Peso, nesta quinta-feira, 21, às 18h, participando da Mostra Competitiva do Festival As Amazonas do Cinema, promovido pelo  Amazônia (Fi)Doc, evento audiovisual que se espalha pela cidade até 27/11.

O documentário explora questões ligadas às tradições alimentares, crise climática e transformação cultural na Amazônia. Lançado oficialmente em 1º de outubro, o curta-metragem de 20 minutos foi recebido com entusiasmo em uma sessão emocionante, que reuniu equipe, personagens e espectadores apaixonados pela temática.

A obra destaca o protagonismo de 13 mulheres – pescadoras, cozinheiras e agricultoras – cujas histórias refletem os impactos da urbanização, mudanças climáticas e exploração ambiental sobre os saberes alimentares da região. O filme é fruto da longa trajetória de pesquisa de Auda, iniciada em 1996 com mestres ceramistas de Icoaraci e aprofundada a partir de 2012 com investigações sobre saberes culinários. 

3 progragonistas do filme, na ilha do Combu,
Auda e Patrícia Passos (produção)
Autora do livro Entre Panelas, Memórias e Sentidos (2022), a diretora viu no documentário uma nova forma de dar visibilidade às mulheres que guardam e transformam as práticas alimentares amazônicas. "Trouxe só mulheres para compor o filme porque esse saber está muito ligado ao feminino", ressalta Auda, que cresceu em uma família de cozinheiras.

Filmado entre março e julho de 2024, o curta revela um panorama sensível e realista das relações entre culinária, identidade e crise ambiental. Com locações em ilhas próximas a Belém e uma equipe técnica que inclui o fotógrafo Marcelo Rodrigues e a produtora Patrícia Passos, o projeto foi realizado com apoio da Lei Paulo Gustavo, lançado pela FUMBEL, Prefeitura de Belém, e contou com apoio de instituições como Sesc-PA, SEMEC, Fundação Escola Bosque e do MMIB.

Mais que um retrato cultural, Cozinhando no Calor, Antes da Chuva traz um debate essencial para a COP 30, desde já, mas principalmente em novembro de 2025. Para quem está em busca de alternativas e soluções climáticas, a melhor dica é ouvir a voz de quem vive nesta região e sente na pele os efeitos dos crimes cometidos contra a floresta e o meio ambiente de forma geral.  A obra articula memória e atualidade para discutir os desafios enfrentados pelas comunidades amazônicas diante da modernização e da exploração ambiental.

Festival destaca o protagonismo feminino no cinema

O Festival As Amazonas do Cinema é uma iniciativa foca na produção cinematográfica dirigida por mulheres cis e trans da região Pan-Amazônica. Em 2024, o festival chega à sua segunda edição, integrando a programação oficial do Festival Amazônia FiDOC, que ocorre até 27 de novembro em Belém do Pará.

Além das exibições, o evento oferece mostras, oficinas, bate-papos e debates, enriquecendo o cenário cultural e cinematográfico da região. Na sua primeira edição, realizada em 2020, o festival selecionou sete longas e 14 curtas documentários para as mostras competitivas, evidenciando a diversidade e a riqueza da produção feminina na Amazônia. Com a continuidade do evento, espera-se fortalecer ainda mais a representatividade das mulheres no cinema amazônico e ampliar o alcance dessas produções.

Serviço

Mostra Competitiva do Festival As Amazonas do Cinema – Exibição de Cozinhando no Calor antes da chuva. No Cinesesc Ver-o-Peso, Belém. Entrada gratuita, limitada à capacidade do lugar. Fica no Boulevard da Gastronomia, na Castilho França – Campina – Belém-Pa.

Amazônia (FI)Doc com lançamento e homenagem

Belém sedia a décima edição do Amazônia (FI)Doc - Festival Pan-Amazônico de Cinema. 

A abertura será no dia 20, às 19h, no CCBA, com a exibição de “A Queda do Céu”, dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha. A programação vai até dia 27, com ações em vários espaços da cidade. 

O documentário de Eryk, filho de Glauber Rocha, é um lançamento em 2024. Estreou em maio na Quinzena dos Cineastas, no Festival de Cannes, passou por festivais brasileiros e já conquistou prêmios internacionais, como Melhor Longa-Metragem Documentário Internacional no GIFF (México), Prêmio Especial do Júri no DMZ Docs (Coreia do Sul), Prêmio Fundação INATEL no DocLisboa (Portugal) e Melhor Documentário na Vagalume Milano (Itália).

Chegou a vez de Belém ver o longa, baseado no livro do xamã e líder Yanomami Davi Kopenawa, e aborda o ritual funerário Reahu, práticas culturais e desafios enfrentados pelos povos originários, como o garimpo ilegal. Após a sessão, haverá um bate-papo com os realizadores e a presença de Kopenawa, que será homenageado junto à professora Zélia Amador de Deus.

Com financiamento das leis Paulo Gustavo e Rouanet, o festival traz uma programação diversa, incluindo seis mostras competitivas e outras atividades como oficinas, masterclasses e mesas-redondas. 

No total, foram inscritos 820 filmes de nove países da Pan-Amazônia, abrangendo ficção, documentários, animação e videoarte. Destaque também para a Mostra de Cinema Indígena e sessões especiais que dialogam com a temática socioambiental da região.

Entre as oficinas, “Montagem Autoral com Foco na Pan-Amazônia”, com Renato Vallone, e “Desenvolvimento de Roteiro para Longa e Série Documental”, com Lúcia Tupiassú, debatem novas linguagens e caminhos para o audiovisual. Já as mesas incluem discussões sobre produção, cineclubes e a importância do audiovisual como ferramenta pedagógica. O estudo de caso sobre o longa "Flashdance TF" explora a produção em áreas urbanas periféricas e desafiadoras.

O festival, que começou focado em documentários, ampliou sua abordagem para incluir ficção em 2023, reafirmando seu papel como vitrine da produção cinematográfica da Pan-Amazônia. “O Amazônia (FI)Doc conecta narrativas, amplia vozes e fortalece a identidade cultural dos povos amazônicos”, destacou Zienhe Castro, diretora-geral do evento.

Consolidado como um dos mais importantes eventos do audiovisual da região, o festival reúne 820 produções inscritas, representando nove países da Pan-Amazônia, com destaque para filmes de ficção, documentários, animações e videoarte.

Serviço

Festival: Amazônia (FI)Doc - Festival Pan-Amazônico de Cinema

Data: 20 a 27 de novembro

Locais: Vários pontos de Belém

Atividades: Mostras, oficinas, masterclasses e mesas-redondas

Abertura: Filme “A Queda do Céu”

Data: 20 de novembro

Local: CCBA (Rua Manoel Barata com Campos Sales)

Horário: 19h

Capacidade: 100 lugares

Informações detalhadas da programação: https://amazoniadoc.com.br/ 

(Obs: As fotos da postagem são de still do documentário de Eryk Rocha)

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"Razões Africanas" estreia nos cinemas brasileiros

Dirigido por Jefferson Mello, o filme estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 21, em 14 estados do Brasil. O Holofote Virtual teve acesso à obra e já antecipa aqui, um pouco da essência dessa obra. 

Preparem-se para mergulhar nas raízes da diáspora africana e explorar as conexões entre três ritmos emblemáticos da música mundial: o jongo, a rumba e o blues. A produção transcende fronteiras geográficas ao estabelecer pontes culturais entre Brasil, Cuba e Estados Unidos, enquanto resgata memórias e histórias que encontram sua origem na África.

O filme é conduzido pelas trajetórias de três artistas que representam esses estilos musicais: Lazir Sinval (jongo, Brasil), Eva Despaigne (rumba, Cuba) e Terry ‘Harmonica’ Bean (blues, Estados Unidos). Por meio de imagens do cotidiano, danças e depoimentos de especialistas, Jefferson Mello apresenta as influências africanas que moldaram a música contemporânea, ressaltando como esses ritmos tornaram-se ferramentas de preservação cultural e resistência.

Razões Africanas também expande sua narrativa para as próprias terras africanas, com filmagens realizadas em Angola, Congo e Mali, que revelam as origens dos ritmos abordados. Segundo Mello, o documentário não é apenas uma celebração da música, mas um convite à reflexão sobre reparação histórica e a importância da contribuição africana na cultura global. "É um resgate da memória e uma homenagem à contribuição africana para a cultura mundial", afirma o diretor.

Fotógrafo e cineasta, Mello - que também assina o roteiro da produção - estreou como diretor de documentários em 2014 com “Samba & Jazz”, inspirado em seu livro de fotografias “Os Caminhos do Jazz”, que o levou a 18 países, entre EUA e Japão, para retratar o gênero ao redor do mundo. 

“Minha trajetória profissional sempre esteve ligada à diáspora africana, em especial na música. Sendo assim, logo depois que finalizei o ‘Samba & Jazz’, comecei a produzir o ‘Razões Africanas’”, explica. 

Premiado internacionalmente em festivais como o Cinema on the Bayou (EUA) e o Festival Internacional de Cinema Africano da Argentina, o documentário já foi exibido em sessões especiais em Angola e integrou eventos importantes no Brasil, como a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. 

A estreia de Razões Africanas ocorre em um momento significativo, um dia após o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, que homenageia Zumbi dos Palmares e marca a luta contra o racismo e pela valorização da cultura negra. 

A produção dialoga diretamente com os temas dessa data, ao abordar a música como memória e resistência. No Brasil, o jongo preserva elementos das tradições africanas que deram origem ao samba; nos Estados Unidos, o blues ecoa histórias de escravidão e luta por direitos civis; e, em Cuba, a rumba exalta raízes africanas em celebrações de identidade cultural.

Produzido pela Tremè Produções em parceria com a Carmela Conteúdos, o filme conta com patrocínio do Instituto Cultural Vale e da A&M Álvares Marsal.

Veja o trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=-o0eavY9zaU

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19.11.24

Denise Fraga traz "Eu de Você" ao Theatro da Paz

Denise Fraga, uma das atrizes mais admiradas do teatro brasileiro, chega a Belém para uma curta temporada de sua aclamada peça "Eu de Você", no Theatro da Paz, nesta sexta (22) e sábado (23), às 20h, e no domingo (24) de novembro, às 18h. 

Em turnê pelo país, a peça  promete levar o público a uma profunda reflexão sobre a vida, o humor e as conexões humanas. Ingressos na bilheteria do teatro.

Para Denise Fraga, apresentar o espetáculo no Theatro da Paz é mais do que uma escolha de agenda. "Estar em Belém, nesse ícone nacional, é muito especial. Já me apresentei no Teatro Municipal de São Paulo, no Teatro São Pedro, em Porto Alegre, e no Teatro Amazonas, de Manaus, e agora poder trazer essa peça aqui é uma honra.", diz a atriz. 

"Eu de Você" é uma obra que transita por diferentes dimensões da arte. Mistura música, poesia, literatura e histórias reais, criando uma experiência imersiva e única para o público. “A arte ajuda a gente a viver. Quem lê Dostoievski e Fernando Pessoa, no mínimo, vai sofrer mais bonito”, afirma Denise Fraga, sobre o papel da arte na vida cotidiana.

Em uma carreira de 40 anos marcada pela dedicação ao teatro, Denise considera essa montagem uma das experiências mais transformadoras de sua vida artística. 

Criado a partir de uma intensa colaboração em sala de ensaio, "Eu de Você" rompe com a formalidade teatral tradicional, apostando na proximidade entre público e cena. O formato rompe a tradicional “quarta parede”, "Eu de Você"  faz o público sentir-se íntimo da história, de modo que a plateia se torna um personagem dentro da trama.

Denise, porém, deixa claro. Embora o espetáculo dialogue diretamente com a plateia, ele não é interativo no sentido convencional. A obra reforça o vínculo humano por meio de histórias universais. "A peça nos lembra o tempo todo que estamos ali, compartilhando algo essencial sobre a vida", comenta. 

O enredo de "Eu de Você" foi construído a partir de relatos do público. Denise pediu histórias pela internet e colocou anúncio em jornal. Resultado: quase 300 histórias que foram bem difíceis de escolher, mas as que ficaram, vão além das narrativas individuais. 

Denise destaca a força de histórias simples e comoventes, como a de uma mãe enfrentando o Alzheimer ou a de um professor pedindo desculpas a um aluno. "Eu me pergunto: o que é comum a todos nós nesse país polarizado? E percebo que ninguém escapa dessas emoções compartilhadas."

Música, poesia e improviso

Sob direção de Luiz Villaça, "Eu de Você" é uma celebração do coletivo, num processo criativo que envolveu a dramaturgia de Rafael Gomes, a direção musical de Fernanda Maia e contribuições de uma equipe multidisciplinar. 

A peça mistura música, poesia e improvisação, rompendo com métodos tradicionais e oferecendo a Denise uma nova forma de fazer teatro. "Eu sempre tive medo de improvisar, mas isso inaugurou uma maneira inédita de criar para mim", revela.

Embora tenha surgido a partir de uma ideia simples, o espetáculo se transformou em um grande coletivo artístico, com a participação de músicos, atores e criadores. A banda, formada por músicos que estão em cena ao lado da atriz, também é parte essencial da narrativa. 

"Somos 10 pessoas viajando juntas, e a peça nasceu dessa convivência e do prazer de criar em grupo. É um trabalho que fortalece a fé no poder do coletivo e no teatro. A peça acabou sendo um mix de música, improviso e provocações. Cada cena carrega um pedaço da vida de todos nós", conta Denise. 

O espetáculo oferece acessibilidade, com serviços de LIBRAS, audiodescrição e monitoria para pessoas neurodiversas. Para informações sobre esses serviços, o público pode contatar a produção pelo e-mail comunicacao@niafilmes.com.br. 

A realização de 'Eu de Você" é da NIA TEATRO e o patrocínio da Bradesco Seguros, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura e Governo Federal.

Serviço

Espetáculo: Eu de Você

Datas: 22, 23 e 24 de novembro de 2024

Local: Theatro da Paz, Praça da República, Rua da Paz, s/n, Centro, Belém - PA

Ingressos: Bilheteira do Theatro da Paz e site Ticket Fácil

Preços: R$ 20,00 a R$ 140,00

Classificação indicativa: 12 anos

Duração: 90 minutos

17.11.24

Sobre Momo e Alberto Silva Neto

Por Ismael Machado, com 
fotos de Samia Oliveira e Wlad Lima.

O psiquiatra José Ângelo Gayarsa, que se notabilizou por fazer ‘sessões e consultas’ na televisão, costumava dizer que a família- pelo menos a nossa família tradicional ocidental- era fonte das nossas maiores mazelas e traumas psíquicos ao longo da vida. Creio que Nelson Rodrigues assinaria embaixo dessa afirmação com um largo sorriso no rosto. 

É difícil olhar ao lado ou mesmo internamente e não ter uma sensação de que nossas fissuras emocionais não são causadas por esses anos de convivência familiar, negociando emoções, suprimindo dores, alimentando fantasmas de rancores, invejas e solidões. Há saída? Difícil dizer.

Alberto Silva Neto encontrou uma. Ou não, vá se saber, numa filosofia caetânica, de resto um ícone na vida de Alberto. Expor as fraturas e as feridas de um relacionamento com o pai e, por tabela, com um avô não conhecido (e que personagem fascinante) foi um modo de o ator Alberto exorcizar o pai, o avô, a família. Prestar homenagem ainda que às vezes sombria, foi uma solução para alguns demônios, anjos noturnos que podem atravessá-lo em noites perdidas, deitado na rede e olhando a cidade do alto.

Momo, o espetáculo exorcismo, o monólogo das entranhas, a peça divanesca, o teatro testemunho, ou qualquer outra definição que queiramos ou possamos dar é, antes de tudo, um atravessar por um terreno pedregoso. Sim, estamos vendo as águas do mar, a praia lá adiante, mas para chegar até ela, é necessário talvez cortar os pés nas pedras afiadas que nos separam dessa suposta recompensa. Não, não nos iludamos. Como o personagem em determinado momento, precisaremos arrancar fora os calçados e encarar os passos nus.

Alberto Silva Neto é um monstro. É um artista-ator que chegou a um momento de plenitude dramatúrgica onde a palavra assombro talvez seja a melhor a nos definir quando o assistimos em cena. Sou testemunha disso. Alberto fez parte de meu primeiro longa de ficção, Flashdance TF e eu, que sempre o cogitei para o papel desde a escrita do roteiro, admito não estar preparado para o que presenciei de forma tão íntima e tão intensa. Cláudio Barros, outro gigante amado, não me deixaria mentir.

Em Momo, Alberto se despe e se veste. Se traveste de armaduras e as joga longe. Ao encarar a vida e a morte do pai, entre cartas, recortes, missivas que mais parecem uma garrafa jogada ao mar, ele nos amarra ao pé da mesa da escuta. Só que essa escuta não é isenta de dor. Ela nos leva aos nossos próprios assombros, nossos escuros, ali onde algo nos escava feridas, nos atropela memórias.

É dor feito gozo, como cantariam Gonzaguinha ou Djavan, que já abordaram essas funduras em letras musicais. Ou aquilo que Caio Fernando Abreu sempre dizia, sobre a dor de criar algo que é verdadeiro, no sentido não da palavra verdade, mas aquela coisa que não nos deixa mentir quando o espelho nos mira de volta nos sombrios momentos de solidão urbana.⁷

O que Alberto busca e ele costuma enfatizar isso, é ultrapassar a barreira do mero ser-estar ator e ir um pouco além. Ou muito além. Alberto grita e chora e ri e sussurra e se cala. E entre os olhos umedecidos ele sorri e confessa ser teatro o que faz. Mas é uma armadilha também, pois nunca é só teatro. A vida pulsa. No efêmero e no eterno.

Há vícios e virtudes no caminho de qualquer artista. Egos impelidos a criar e dizer e mostrar algo que são como portas entreabertas, janelas que iluminam porões empoeirados, onde o fogo que queima gera uma cinza pouco acessível. Não é uma tarefa fácil sacudir os esqueletos de cada armário.

Em Momo há as compreensões e incompreensões sobre os papéis de cada um numa história masculina. Paternar. O pai, o filho, o desamparo materno, o pai que somos, os filhos que fomos, o futuro e o passado que se embolam. Onde o abraço? Onde o encontro? A voz tonitruante imperativa. A voz do pai. A voz do medo. Da distância, do afeto suprimido. Pai. Descasquemos as peles, arrancando as cascas de ferida. O que nos sobra?

Alberto entrega e pede de volta. Reclama compreensão e aceitação. Esse sou o eu descarnado. Talvez não seja. Talvez seja apenas teatro. Mas se teatro é vida, é a vida que está sendo jogada em nós? 

Ou é simplesmente mais uma folia de momo num carnaval de ruas desertas?

O palhaço chora. E eu o observo de meu próprio picadeiro. Alberto?  Esse quer se equilibrar na corda lá em cima. A pergunta que me faço é: há rede para amparar a queda, se houver?

Ave, Alberto. Te saúdo. 

(Ismael Machado)

14.11.24

MOMO: um rito de cura no Teatro do Desassossego

O ato poético foi apresentado no Teatro do Desassossego, nesta última terça-feira (12), em Belém, para uma plateia seleta, 14 testemunhas. 

Em cena Alberto Silva Neto, 54, compartilha experiências pessoais numa performance que inicia com uma reflexão sobre o ator que, mesmo se transformando em outro, nunca perde a consciência de sua identidade.

O teatro é uma "metamorfose", mas uma metamorfose consciente, onde tanto o ator quanto o público sabem que o ator está ali, interpretando, mas não se transformando no personagem. Esta reflexão prepara Alberto Silva Neto a si mesmo e a suas testemunhas, para mergulhar num ato poético revolucionário, MOMO.

O teatro como a arte de expor a vida. Um lugar de revolução, onde a arte não é fuga da realidade, mas uma forma de enfrentá-la. MOMO surge em 2023, como um espetáculo solo autobiográfico que mergulha nas complexas relações familiares e na busca pelo autoconhecimento.

A dramaturgia é fundamentada em cartas trocadas na década de 1960 entre seu pai, Eduardo, e seu avô, Alberto, além de um texto escrito por Alberto após a morte de seu pai em 2007. Despojada de elementos cênicos tradicionais, a montagem enfatiza a intimidade do ato performático.

Em cena, Alberto busca revelar-se sem disfarces. Partilha com a plateia sua experiência pessoal de maneira crua e verdadeira, criando um espaço onde o espectador não é apenas um observador, mas alguém que é transformado, tocado e desafiado a repensar a própria vida. 

Clínica do Sensível - prática artística e psicoterapêutica

É nesse contexto que a figura de Wlad Lima, artista-analista, escritora, diretora/cenógrafa de teatro e desenhista, se torna fundamental para entender o impacto do trabalho de Alberto. A apresentação ocorreu no porão onde ela realiza a sua Clínica do Sensível, desenvolvendo uma abordagem que integra práticas artísticas e psicoterapêuticas, oferecendo um espaço onde artistas e não-artistas podem explorar e cuidar de seus processos de criação e de si mesmos. 

Dedicada ao estudo e à prática da arte como ferramenta de autoconhecimento e cura, utilizando a psicanálise como uma lente para perceber o processo criativo, em sua "Clínica do Sensível", ela é guia ao processo artístico de Alberto, entrelaçado com a análise, abrindo uma oportunidade de explorar emoções e experiências pessoais de forma profunda.

A psiquiatria, neste caso, não é disciplina distante da arte, mas uma prática que dialoga diretamente com o corpo e as emoções do indivíduo, o que a torna uma ferramenta poderosa para o processo criativo. Em "Momo" o público é convidado a vivenciar essa fusão entre arte e terapia. E nesta experiência compartilhada, não só testemunhamos um processo de transformação, demos um salto no abismo e mergulhamos num ritual de cura.  

Sobre o ator

Alberto Silva Neto é jornalista, ator e professor com trajetória também como diretor e encenador. Desde 2004, dirige o grupo Usina Contemporânea de Teatro, com foco na pesquisa sobre o trabalho do ator. 

Na UFPA, leciona disciplinas como Teorias do Teatro e Sistemas do Pensamento Teatral, além de coordenar projetos de pesquisa. Com doutorado em Artes pela UFMG, sua prática se une à pedagogia, investigando o processo cênico e a dramaturgia do ator, sempre com ênfase no corpo e na criação teatral.

13.11.24

!PULSA! em ritmo de celebração e despedida

Poperópera, do Grupo Mexa (SP)
O !PULSA! compartilha com o público e artistas do Pará, Ceará, Piauí, SP e RJ experiências artisticas e encontros, ações formativas e debates que refletiram sobre a cultura e o patrimônio da Amazônia.

E ainda não terminou, a programação segue até domingo (17), gratuitamente. Além de espetáculos, exposições e roda de conversa, também tem festa do Coletivo Noite Suja, Ocupação do Aparelho, no Mercado do Sal e um cortejo climático saindo da Av. Bernardo Sayão.

Na sexta-feira, iniciando de tarde, o Espaço EcoAmazônias, situado no bairro do Jurunas, abre a exposição “Brincando com a Luz”, de Miguel Chikaoka, que será acompanhada por uma roda de conversa sobre Arte Coletiva em Movimento, com representantes de coletivos locais.
 
Entre os espetáculos, o !PULSA! apresenta a POPERÓPERA TRANSATLÂNTICA, do grupo MEXA (SP), uma ópera inovadora que mistura dance music dos anos 90 com a épica "Odisseia", de Homero, no Teatro Estação do Gasômetro. Já o Casarão do Boneco traz, na sexta e no domingo, duas atrações, o espetáculo Aguar o Tempo, onde a cia In Bust explora as memórias imersas em um rio-tempo, e a performance Boulevard & Gardênias, com Jefferson Cecim e Dudu Nobre, que reflete sobre a vida e o cotidiano com cenas e personagens criados a partir de imagens fragmentadas.

Aguar o Tempo, da In Bust, no Casarão
do Boneco
No sábado o Cortejo Igara Rito de Passar, com Shayra Brotero e Byxa Du Mato. A concentração será às 18h, na Av. Bernardo Sayão, esquina com Rua dos Mundurucus, e que percorrerá as ruas de Belém discutindo as mudanças climáticas. 

A Casa dos Palhaços apresentará, também no sábado, o processo de construção do espetáculo A Comédia da Mulher Calada que Falava Mais que Papagaio na Chuva. Para fechar, o sábado, penúltimo dia do !PULSA!, com chave de ouro, o coletivo Noite Suja tomará a Casa Apoena, numa festa que celebra a performance Drag e a expressão das narrativas amazônicas e dissidentes.
 
Já no sábado e também no domingo, temos dois espetáculos, o tReta, do Original Bombber Crew (PI), que se apresentará no Teatro Curro Velho e, Altamira 2042, da performer Gabriela Carneiro da Cunha (RJ), que amplifica depoimentos sobre a tragédia da hidrelétrica de Belo Monte, no Teatro Cláudio Barradas.

Altamira, performance de Gabriela da Cunha
A programação do domingo, 17, conta ainda com a exposição Organoléptica, do Coletivo Vadios, na Kamara Kó Galeria, e a ocupação artística do Coletivo Aparelho, às 12h30, no Mercado do Porto do Sal, com o Mercado do Choro e o Pandeiro Livre.
 
A realização do !PULSA! é da Olhares Instituto Cultural e Outra Margem, com patrocínio do Instituto Cultural Vale e Ministério da Cultura via Lei Federal de Incentivo à Cultura. Parceria institucional: Fundação Cultural de Belém, Prefeitura Municipal de Belém, Fundação Cultural do Estado do Pará, Secretaria de Estado de Cultura e Governo do Pará. Apoio cultural: IBT - Instituto Brasileiro de Teatro
 
Programação Final do !PULSA!

Sexta-feira, 15 de novembro
 
Exposição "Brincando com a Luz" (Miguel Chikaoka)
16h30 - 20h - Espaço EcoAmazônias (Rua dos Tamoios, 624 – Jurunas)
Boulevard & Gardênias, com Jeferson Cecim e Dudu Nobre
18h - Casarão do Boneco (Av. 16 de Novembro, 815 – Batista Campos)
Aguar o Tempo (In Bust Teatro com Bonecos)
18h30 - Casarão do Boneco (Av. 16 de Novembro, 815 – Batista Campos)
POPERÓPERA TRANSATLÂNTICA (MEXA - SP)
19h - Teatro Estação do Gasômetro
 
Sábado, 16 de novembro
 
Organoléptica (Coletivo Vadios)
15h – 18h30 - Kamara Kó Galeria (Trav. Frutuosos Guimarães, 611 – Campina)
A Comédia da Mulher Calada que Falava Mais que Papagaio na Chuva (Casa dos Palhaços)
15h30 - Casa dos Palhaços (Trav. Piedade, 533 – Reduto)
Cortejo Igara Rito de Passar (Shayra Brotero e Byxa Du Mato)
18h - Concentração na Av. Bernardo Sayão, esquina com Rua dos Mundurucus
Altamira 2042 (Gabriela Carneiro da Cunha)
20h - Teatro Universitário Cláudio Barradas (Rua Cônego Jerônimo Pimentel, 546 – Umarizal)
tReta (Original Bombber Crew - PI)
20h - Teatro Curro Velho
Festa Noite Suja (Casa Apoena)
22h - Casa Apoena
 
Domingo, 17 de novembro
 
Organoléptica (Coletivo Vadios)
10h – 13h - Kamara Kó Galeria
Mercado do Porto do Sal (Coletivo Aparelho)
15h - Mercado do Porto do Sal
Boulevard & Gardênias, com Jefferson Cecim e Dudu Nobre
17h30 - Casarão do Boneco (Av. 16 de Novembro, 815 – Batista Campos)
Aguar o Tempo (In Bust Teatro com Bonecos)
18h - Casarão do Boneco (Av. 16 de Novembro, 815 – Batista Campos)
Altamira 2042 (Gabriela Carneiro da Cunha)
19h - Teatro Universitário Cláudio Barradas
tReta (Original Bombber Crew - PI)
19h - Teatro Curro Velho

Serviço
Mais informações:
https://pulsa.art.br

Terreiro celebra Seu Légua e 90 anos de Mãe Lulu

Mãe Lulu
Fotos Divulgação
O Terreiro de Mina Dois Irmãos, celebra, nesta quinta-feira, 14, uma festa a Seu Zé de Légua e aos 90 anos de Mãe Lulu, zeladora de santo da terceira geração da casa. O templo centenário localizado no bairro do Guamá, é o mais antigo em funcionamento de Belém, com 134 anos, e o único terreiro tombado do Pará e da Amazônia.

A programação começa às 15h30, com o debate: “O Direito do Povo de Terreiro: Patrimônio Material e Imaterial”, integrando o “!PULSA! Movimento Arte Insurgente”.

As discussões abordarão a importância dos terreiros e suas manifestações culturais, como patrimônio imaterial, e políticas públicas que possam reconhecer e proteger esses espaços ancestrais. Participam do encontro: Mãe Eloísa de Badé, da quarta geração de mulheres à frente do Terreiro de Mina Dois Irmãos; Pai Amilton, do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa); Babalaô Ivanir do Santos, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Pedro Neto, antropólogo; e mediação de Daniel Faggiano, bacharel em direito com mestrado em antropologia.

Após o debate, as comemorações continuam a partir das 19h, com um cortejo e um tambor em celebração à entidade espiritual Seu Zé de Légua, a Festa dos Boiadeiros e aos 90 anos de Mãe Lulu. A programação é gratuita, mas com recomendações de vestimentas - não compareça com roupas pretas, curtas (bermuda, saia e vestido curtos), decotadas e calça apertada.

Filha caçula de Mãe Amelinha de Dom José Rei Floriano, Mãe Lulu de Toy Averekete foi escolhida para dar continuidade às tradições do “Dois Irmãos” em 1963, aos 29 anos de idade. Ao longo de mais de 60 anos de luta, recebeu diversos reconhecimentos, como a Comenda Mãe Doca. Aos 90 anos, repassou a zeladoria do terreiro para sua filha caçula, Eloísa de Badé, mas sua jornada espiritual continua marcada pela luta constante para manter vivos os fundamentos do terreiro e as tradições que suas ancestrais transmitiram.

Ao longo de sua trajetória, mãe Lulu se tornou uma referência para outras casas de axé, contribuindo para a perpetuação dos rituais, da história e da sabedoria dos ancestrais no Estado. Mãe Eloísa de Badé, que leva à frente o legado do “Dois Irmãos” há mais de dez anos, conta que a trajetória do terreiro se entrelaça com a resistência das comunidades de matriz africana diante das adversidades históricas.

“Essa programação celebra a luta incansável das mulheres pela preservação das nossas tradições religiosas e culturais. A defesa do tambor de mina e do legado de Mãe Lulu, Mãe Amelinha e de Mãe Josina, fundadora da nossa casa, visa valorizar as culturas de origem africana no Brasil, especialmente na Amazônia”, diz mãe Eloísa.

No dia 30 de agosto de 2024, o Terreiro de Mina Dois Irmãos completou 134 anos de história, sempre localizado na Passagem Pedreirinha, no bairro do Guamá. Em 2010. foi tombado como território simbólico, de valor histórico e cultural para o Pará, pelo Departamento de Patrimônio Histórico Artístico e Cultural do Estado do Pará (Dphac), da Secretaria de Estado de Cultura (Secult).

Em 2024, o Terreiro de Mina Dois Irmãos foi uma das fontes de pesquisa da escola da escola de samba Grande Rio para o desenvolvimento do enredo “Pororocas Parawaras: As Águas dos meus Encantos nas Contas dos Curimbós”, que vai levar a encantaria amazônica para o Carnaval do Rio de Janeiro.

Serviço

Festa de Seu Zé de Légua e 90 anos da Mãe Lulu

Data: 14/11 (quinta-feira)

Programação

15h30 - Debate “O Direito do Povo de Terreiro: Patrimônio Material e Imaterial”, com Mãe Eloísa de Badé, Pai Amilton, Babalaô Ivanir do Santos, Pedro Neto e mediação de Daniel Faggiano.

19h: Cortejo e tambor em homenagem a Seu Légua e Mãe Lulu

(Holofote Virtual com informações da assessoria de imprensa)

Festival traz oficinas da cultura cinematográfica

Estão abertas até esta sexta-feira (15), as inscrições para as oficinas, workshops e masterclasses que fazem parte da programação do 10º Amazônia (FI)Doc - Festival Pan-Amazônico de Cinema, que ocorre em Belém, de 19 a 27 de novembro. 

A proposta é amplificar as discussões sobre a produção audiovisual feita na Pan-Amazônia e por amazônidas, assim como semear a cultura cinematográfica na região. 

Com o slogan “O cinema de todas as Amazônias na luta pela floresta em pé”, o Amazônia (FI)Doc vai reunir produtores, diretores e interessados em audiovisual numa rodada de debates. Na oficina “Montagem autoral com foco na Pan-Amazônia”, o produtor cinematográfico e montador Renato Vallone vai falar da criação cinematográfica, especialmente na montagem e na edição, e das narrativas transformadoras capazes de enfrentar as dinâmicas eurocêntricas e hollywoodianas, sutis ou explícitas, que ainda persistem no audiovisual sul-americano. “Analisaremos filmes que se recusam a seguir os padrões de legitimidade do circuito global elitista e que se erguem como potentes expressões de resistência e criação”, disse Renato.

No workshop “Desenvolvimento de roteiro para longa e série documental”, a roteirista Lúcia Tupiassú combina conteúdos conceituais e estudos de casos de filmes e séries para apresentar caminhos para a realização de projetos documentais. “Documentários têm roteiro? O que faz um roteirista de documentários? Como pensar a linguagem e as escolhas narrativas em documentários? Qual a importância da pesquisa na realização de documentários? Série, curta ou longa: qual o melhor formato para o meu projeto? Como montar um projeto de venda? Essas são algumas das questões abordadas nos encontros”, são alguns questionamentos.

A diretora Luh Maza, no workshop “Criação para TV e Streaming”, compartilha de forma descomplicada seu processo criativo no desenvolvimento de séries. Minom Pinho, produtora e diretora, vai coordenar o workshop “Viabilizando filmes documentais para cinema e TV”. Serão abordados os diversos caminhos para viabilizar projetos de documentário em longa-metragem para cinema, TV e VOD e as  estratégias adotadas no processo de criação em sintonia com o mercado. 

Na oficina “Criação, desenvolvimento e comercialização de projetos para TV e cinema”, a produtora e pesquisadora Vanessa de Araújo e Souza apresenta os caminhos para desenvolver e aprimorar uma ideia e transformá-la em produto no mercado audiovisual. “Ao longo da oficina, você aprenderá a estruturar sua proposta, explorar estratégias para se conectar com sua audiência e engajar potenciais investidores e parceiros”, afirmou.

Em  masterclass, a cineasta Maya Da-Rin fala das perguntas que movem o processo criativo, do roteiro à cena. A cineasta abordará questões de estrutura narrativa e roteiro, dando ênfase na preparação e construção das cenas.

A cineasta Marina Person estará à frente da masterclass “Por que temos tão poucas diretoras de cinema?”. Marina contará a história de quando e por que os homens passaram a ocupar os cargos de comando e a expulsar as mulheres do fazer cinematográfico, como os filmes dirigidos por cineastas mulheres estão ganhando espaço e reconhecimento ao longo das décadas, além de relacionar a sua própria experiência como cineasta nesse panorama atual.

Serviço

A programação completa do Amazônia (FI)Doc e inscrição nas oficinas e workshops estão disponíveis nas redes sociais (site e Instagram - @amazoniadoc). Inscrições podem ser feitas pelas redes sociais.