30.5.21

Papo com João Arthur diretor de Males sem Terra

João Arthur, diretor de Niterói-RJ
O cineasta bateu um papo com o blog na ocasião em que exibiu seu filme, no Festival Internacional de Cinema do Caeté. O papo foi longo e resolvi dividir em sua etapas de publicação. Nesta primeira parte da entrevista, o cineasta fala sobre o processo de produção de seu primeiro longa, premiado como melhor longa metragem do Ficca, em 2018, e reexibido este ano, dentro da Mostra Oitava Maravilha.

“Males sem Terra é o resultado da minha percepção sobre todos os filmes que tinha visto nos principais festivais brasileiros e estrangeiros, dos quais a maioria eu não gostava ou contra os quais tinha questões de princípios, estéticas, políticas e artísticas. É assim que o situo no contexto cinematográfico da minha geração”, diz o diretor nascido na cidade de Niterói/RJ, em 1990, onde reside até hoje. 

João Arthur cursou Comunicação Social na PUC-Rio e Ciência Política, na UNIRIO, até que em 2011, deu continuidade aos seus estudos no curso de Cinema da UFF. A partir daí, tornou-se cineclubista, morou na casa coletiva Palacete dos Amores com um grupo de artistas e cineastas que criaram o coletivo independente Osso Osso, que entre outras coisas também realizava filmes. Após graduar-se em cinema, seguindo sua pesquisa na área hoje no mestrado no PPGCine/UFF, cuja linha de pesquisa é: Histórias e Políticas – com um projeto original sobre a Terceyra Eztetyka de Glauber Rocha.

Cena de "Males sem Terra"
"Males sem Terra" é seu primeiro longa-metragem. Estreou em 2016, por meio de edital da Prefeitura de Niterói, no Festival Chorume, e no ano seguinte chegou a ser exibido na Mostra Cine BH. 

Em 2018, o filme vinha sendo exibido de forma clandestina, informal e até marginalizada, por falta de convites e seleção no circuito exibidor oficial, até que o cineasta, roteirista, ator e também professor da Universidade Federal Fluminense (RJ), Sérgio Santeiro, falou para João Arthur, que o FICCA, o Festival Internacional de Cinema do Caeté, estava com seleção aberta e o aconselhou a inscrevê-lo e não deu outra, "Males Sem Terra" recebeu o Prêmio de Melhor Longa Metragem. 

Este ano, o festival realizou uma edição comemorativa, entre março e abril, com apoio da Lei Aldir Blanc. Online, como todos os demais festivais hoje em dia, o evento exibiu 20 filmes que já haviam sido premiados na Mostra Oitava Maravilha e o filme de João Arthur foi um deles, exibido pelo canal de Youtube do Ficca, onde ainda pode ser visto. O filme cai bem ao gosto cineclubista, com questões para longos debates. 

“Deveriamos tê-lo debatido de verdade em um local apropriado à época que ele foi lançado, mas as curadorias ao redor do país não se interessaram por fazê-lo, à exceção do Francisco Weyl (FICCA), do Francis Vogner, Pedro Butcher e Marcelo Miranda (o trio do CineBH) e da Clara Chroma e Cleyton Xavier (Chorume)”, complementa João Arthur, que traz ainda, na filmografia, "Tudo posso naquele que nunca aparece" (25 minutos, 2013) e “O Bobo na Rua”, em processo de finalização desde 2019.  Vamos conferir a entrevista.

João Arthur (foto do perfil no Fabeook)
Holofote Virtual: João, como surge o seu primeiro longa metragem e como ele foi realizado?

João Arthur: O primeiro contexto de realização desse filme que gostaria de demarcar é o universitário. Males sem Terra é um filme independente de um jovem artista, feito na base do grito, ou seja, de maneira forçada quando, à época que estudava cinema na UFF, o corpo docente não estimulava a prática de longas-metragens – cá entre nós, depois da experiência do meu filme e do filme de Catu Rizo, que é contemporâneo ao meu, o Departamento de Cinema da UFF apertou ainda mais as regras para impedir longas- metragens pela via das disciplinas específicas para a realização cinematográfica. Apesar de ser um filme de um estudante universitário, se tivesse dependido da universidade para sua realização estaria até hoje com ele na mesa, “em processo”.

O segundo contexto é o político. Este filme foi escrito entre 2012 e 2015 e filmado entre 2014 e 2016, ou seja, durante os turbulentos anos das jornadas de junho e da traição republicana que deu início à intervenção militar nos três poderes do Brasil. Minha intenção era produzir um filme que olhasse essas questões sob outra ótica que não a da narrativa pelega de muitas das obras brasileiras que via naquele momento. Por ter finalizado ele logo depois que a Dilma foi deposta, não pude explorar esse assunto de maneira apropriada (coisa que intento fazer nesse meu próximo filme), então considero Males sem Terra um filme sobre as jornadas de junho e suas contradições.

O terceiro contexto é a emergência climática, que é meu tema único, uma ideia que pretendo desdobrar para o resto de minha vida, em meus filmes. No Males sem Terra eu só apresentei essa ideia, deixando claro a maneira como vejo essa questão, do ponto de vista filosófico e político, mas que também desdobro neste próximo filme.

Cena de "Males sem Terra"
Holofote Virtual: Fala um pouco da concepção do roteiro e da estética do filme? 

João Arthur: Para realizar esse filme me bastou uma ideia. Essa ideia está representada em dois frames do filme. O primeiro frame é o do plano sul-americano, que é aquele do indígena mirando uma flecha em direção à plataforma de petróleo. Aquela para mim é a perspectiva originária do nosso povo, a visão de 500 anos atrás, de dentro do território, ao ver o invasor chegando para ceifar a plumagem da terra e carburar o sangue da Deusa. À exceção do short do indígena, dos prédios ao fundo com o avião decolando no Santos Dumont e da plataforma de petróleo, todo o passado do Brasil é, ao mesmo tempo, agora. No lugar dos prédios, foi uma floresta; no lugar do aeroporto, o forte Coligny; no lugar da plataforma, a nau Capitânia ou a Santa Maria, a Nova.

O segundo frame é a da insurreição poética do professor linchado (qualquer desses frames montados ao longo do filme), que para tentar interromper o espancamento grita desesperado que não é ladrão e sim professor de história, no que um dos agressores o desafia a “contar uma história, já que ele é professor”, e insiste dizendo pra que seja a da “revolução francesa”. Quando um clarão se forma em torno do professor e ele levanta para falar, não conta a história da revolução francesa e sim a história do nosso povo.

Eu sonhei com esses dois frames, antes de pensar em fazer um filme. Foi a partir deles que tudo se originou. Foi motivado por eles que uma narrativa se impôs ao filme, no fim das contas. A estrutura narrativa dele deriva disso, mas não é tão “própria” assim, na minha opinião. Eu vejo esse filme muito como um diálogo que eu tentei fazer com meus contemporâneos, tanto da minha própria geração quanto da geração que me antecedeu. Muitos dos elementos que eu critico nesses outros filmes eu degluti no Males sem Terra da forma que eu achava que eles realmente deveriam ser aproveitados.

Cena de "Males sem Terra"
Holofote Virtual: Quanto tempo levaram as filmagens, que  dificuldades foram encontradas ao longo da produção?

João Arthur: Foi minha  primeira experiência com longas-metragens e de toda a equipe. Era um filme que eu propunha não carimbar logo marca s em sua constituição imagética – o que significa investimento, fomento, etc, ou seja, era um filme independentíssimo –, o processo de produção teve que ser adaptado aos momentos em que conseguíamos acertar as condições mínimas para cada set em específico. Isso dependia dos horários dos atores e da equipe – que trabalharam de graça –, dos ensaios de determinadas cenas e como elas iam se constituindo, das condições dos equipamentos que usávamos, do período em que poderíamos adquirir emprestada uma determinada lente, refletor, lapela, e assim por diante.

O que eu tenho de memória certamente é a distância de 1 ano que levou entre o primeiro bloco de filmagens e o segundo. O primeiro bloco foi filmado com base em materiais que eu já tinha em mãos, como para compor um determinado arranjo que apriori já estava na minha cabeça. O segundo bloco foi filmado com base na montagem do primeiro bloco, como para complementar e amarrar o sentido do filme como um todo. Desta forma, o roteiro foi reescrito quando retomamos as filmagens. O roteiro estava sempre “esquartejado”, à medida que eu ia escrevendo o essencial ficava tão gravado em minha cabeça que na maioria das vezes levávamos o texto para o set, mas resolvemos muitas das coisas sem recorrer a ele diretamente, à risca. À medida que íamos filmando a montagem se solucionava na minha cabeça, e o modo de filmar outras cenas ia se desenhando apartir dessa pré-montagem.

Cena de "Males sem Terra"
Um exemplo disso é a cena das Barcas Rio-Niterói que resultou em um especial desconforto do ponto de vista das relações públicas do Grupo CCR Barcas com o curso de cinema da UFF, afetando principalmente os estudantes que procuraram filmar lá de maneira, digamos, formal, oficial, depois de nossa experiência. 

Por termos nos esquivado a todo momento do “guarda-costas” que o Grupo CCR colocou para vigiar o nosso set (que, além de não sair da nossa cola questionava-nos, a todo momento, o motivo de filmarmos determinada cena ou de gravarmos determinado som diegético que advinha das dependências das Barcas como, por exemplo, obras, burburinhos, etc., chegando até mesmo a questionar como montaríamos uma coisa com a outra ressaltando a preocupação  da empresa de ter sua “imagem” prejudicada por qualquer montagem que “desse a entender” ao público algo que não lhes interessava do ponto de vista da propaganda, vejam vocês... 

Posteriormente à nossa passagem por lá, eles optaram por começar a recusar outras autorizações de filmagem que partiam de outras equipes da UFF, alegando  que a experiência conosco provocou “perturbação aos clientes do serviço” e utilizando esse argumento para, indiretamente, cortar relações com outras produções que eventualmente viriam a utilizar o espaço das Barcas como cenário para seus filmes. Não sei exatamente o nível do desgaste que isso provocou entre mim e os outros estudantes – ou entre mim e o departamento, ou até mesmo entre o departamento e o Grupo CCR. Nem se essa objeção da empresa permanece em vigor ainda hoje, meia década depois das filmagens do Males sem Terra.

Cena de "Males sem Terra"
Outra questão importante que gostaria de pontuar brevemente é o contexto de resistência e retomada indígena da Aldeia Marakanã. O caso da Aldeia Marakanã marcou muito aqueles anos de revolta, pois no caso do Rio de Janeiro as situações que ocorreram naquele período foram também o estopim para muitos dos protestos. 

Os integrantes do movimento estiveram sempre presente nos grandes protestos do centro do Rio, assim como algumas das figuras marcantes daqueles tempos estiveram presentes em muitos dos conflitos deflagrados na aldeia pelas forças repressivas do Estado. Na época das filmagens do Males sem Terra eles não estavam na aldeia, pois haviam sido despejados por ordens do ex-governador Sérgio Cabral. As cenas que aparecem no filme foram feitas num congresso intercultural indígena organizado por eles na UFRRJ como forma de resistência visando um plano de retomada (que acabou acontecendo à época da prisão de Cabral).

Atualmente a Aldeia Marakanã sofre novamente com ameaças de despejo e sabotagens jurídicas em plena pandemia tendo, agora, como antagonista um novo personagem, dessa vez bolsonarista, mas igualmente estúpido e truculento, o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ). Mas esse sujeito desprezível será moqueado na história política do BR assim como foram todos os outros, porque a magia é forte, real e sobrepõe qualquer objetivo racista.

Cena de "Males sem Terra"
Holofote Virtual: E como  está hoje sua produção, você tem planos para o futuro?

João Arthur: Os projetos que tenho neste momento são “presentes”, o que está no futuro é a sua  realização (risos). O mestrado eu estou fazendo em paralelo com o desenvolvimento desses projetos, pois acredito que são movimentos complementares, apesar do desgaste que é escrever visando duas práticas literárias completamente opostas, ainda mais no meio de uma pandemia e diante de um governo genocida. Não posso dar muitos detalhes sobre os filmes porvir, mas adianto que é mais de um.

O que está mais próximo da realização neste momento eu comecei a escrever por incentivo do saudoso Luiz Rosemberg Filho, pouco antes do seu falecimento – a quem também dedicarei a obra, que será filmada quase toda em Niterói/RJ, utilizando a paisagem modernista caracterizada pelas obras de Niemeyer na cidade em contraste com o ambiente neobarroco da Guanabara. Um filme sci-fi tropical embalado por um enredo sobre a distopia da política atual no nosso país e cujo tema principal é a emergência climática global: o “antropoceno”. Este filme se chamará “A Gaya Gaiola”.

Outros filmes estão encontrando seus esboços aos poucos, à exceção de um outro projeto, mais ambicioso, que contará a história da fundação da cidade de São Paulo, Rio de Janeiro e Niterói simultaneamente, durante o período de aproximadamente uma década, que marcou a primeira invasão europeia organizada nas terras de Pindorama cujo enredo compreende as passagens de personagens históricos como Anchieta, Brás Cubas, Villegagnon, Hans Staden, por exemplo. Porém a narrativa estará voltada para o protagonismo de personagens indígenas históricos, tais como os morubixabas Kunhambebe (primeiro líder da Confederação dos Tamoyos), Aymberê (que o sucedeu após sua morte), Pindobuçú, Coaquira, Araraí, jovens guerreiros como Jagoanharo, Parabuçú, Komorim, bravas mulheres como Iguassú e Potira, além de Tibiriçá e Araribóia, contra quem lutaram. 

Será um filme grande demais para caber em uma única obra e, por essa razão, até o presente momento, ele está dividido em três partes e me custará o trabalho de uma década inteira para ser concluído, segundo meus cálculos, a depender das oportunidades de financiamento que me surgirem. Por ora sigo na labuta da densa pesquisa que envolve a escrita do argumento e do roteiro desta trilogia, bem como da organização de sua pré-produção. No meio desse caminho, outros filmes menores e menos complexos podem surgir com força, podem encontrar conjuntura favoráveis para serem realizados, mas não há como, neste momento, prever muita coisa com relação a isso.

João Arthur (foto do perfil no Facebook)

Holofote Virtual: Vamos falar da atual conjuntura da cultura brasileira, política e perspectivas com a  Lei AldirBlanc. Qual é a sua análise?

João Arthur: Não estou em condições de fazer uma análise geral no sentido de dar conta das questões que envolvem a aplicação da lei a nível nacional, mas pelo que pude notar em meu território, foi o que permitiu uma certa continuidade da produção cinematográfica independente, principalmente a de baixo orçamento, incluso curtas metragens, oficinas, aulas online, etc.

Aqui na minha cidade, uma parte desse montante foi direcionada para um objetivo um tanto quanto inusitado e de caráter realmente emergencial: o prêmio Erika Ferreira (em homenagem a uma atriz e diretora teatral da cidade, que faleceu vítima da covid-19 no início da pandemia). Esse prêmio (cujo valor por cabeça era pequeno se comparado a    outros editais que foram lançados no Estado do RJ) visava distribuir renda o mais rápido e com o mínimo de entraves e complicações para o maior número de artistas possível. 

A  maneira que eles encontraram de fazer isso foi premiando a ideia. Não era necessário, por exemplo, prestar de contas do dinheiro recebido e de como foi gasto, nem havia o compromisso de que o artista entregasse uma obra pronta como conclusão do processo, a seleção não levava em conta, por exemplo, as probabilidades e possibilidades que o artista tinha de realmente realizar por completo sua ideia, bastava que ele comprovasse que permanecia trabalhando nela, apresentando um relatório de desenvolvimento depois de algum tempo do dinheiro entregue.

Inusitado porque, se eu não estiver enganado, creio nunca ter visto um prêmio em dinheiro desse tipo para artistas independentes no Rio de Janeiro. Eu costumo fazer severas críticas ao modelo obsoleto e anacrônico dos editais Brasil afora. Por exemplo, amaneira como eles enxergam o artista do cinema e suas exigências contábeis que não levam em consideração a heterodoxia de uma produção cinematográfica independente diante da cornucópia de maneiras e modos de produção que temos em desenvolvimento simultaneamente no país. 

Nós artistas e produtores aqui na ponta nunca daremos conta de amortecer os impactos da falta que faz uma agenda  nacional de valorização dessas questões. O que podemos fazer é o máximo que nos couber, com afinco, rigor estético e coerência política. Eu, por exemplo, filho de uma migrante nordestina, mas nascido e criado na Guanabara – onde tenho profunda raiz, produzo minhas obras, sobre a qual direciono o foco de minhas escaramuças, intervenções públicas, debates políticos e estéticos sobre o cinema – nunca imaginei que minha primeira entrevista sobre o Males sem Terra, quase cinco anos depois da primeira exibição pública do filme, seria dada a um veículo de imprensa do Pará por ocasião de ter ganhado um prêmio em Portugal, dentro de um festival amazônico. A vida é cheia de surpresas. E sou grato por elas.

Para conhecer mais:

YOUTUBE: https://www.youtube.com/channel/UCQBbTgOYT8tue_kBlo3ED2Q

INSTAGRAM: https://www.instagram.com/agayagaiola/

FACEBOOK: https://www.facebook.com/kynetxa

TWITTER: https://twitter.com/agayagaiola


27.5.21

A Volta do Brega Raiz traz novos clássicos do estilo

Olhem o que recebemos aqui!
Reginaldo Rossi, Waldick Soriano, Odair José e Amado Batista, entre outros compositores clássicos da música romântica, foram as referências sonoras e estéticas que inspiraram o cantor Lucyan Costa em seu primeiro álbum autoral. "A Volta do Brega Raiz" será lançado nesta sexta-feira, 28, em todas as plataformas digitais de distribuição da música. E eu só digo, não percam, porque aqui no Holofote Virtual, recebemos a versão física promocional do disco e já estamos ouvindo as 10 faixas, que foram produzidas por Félix Robatto e Bruno Benitez. 

Em meados dos anos 80, enquanto se anunciava o grande estouro da lambada e do rock nas rádios brasileiras, o que fazia sucesso por aqui também, era o brega. Os artistas dessa caravana despontavam em todo o estado. Os shows, nas principais casas do gênero, foram ficando espetaculares e cada vez mais lúdicos, digamos assim, lotando as casas do gênero, como a boate do Xodó, Saudosa Maloca e Kalamazoo. Quem lembra? Só que com o passar do tempo e com ajuda de um mercado fonográfico impiedoso, o brega perdeu espaço para outros estilos musicais, sendo rotulado como música cafona, de mal gosto. 

Hoje a gente precisa dizer que é de raiz, para que saibam de que tipo de brega estamos falando. Ou como me disse Sonia Ferro, da Lambada Produções, “com as variantes, esse brega virou saudade”. Dura fase. O estilo foi relegado a uma posição periférica na produção musical brasileira, mas ao contrário do que o resto do país supõe, por aqui, o brega nunca perdeu sua majestade, e "A Volta do Brega Raiz”, de Lucyan Costa, é prova disso.

Brega saudade ou de raiz, os clássicos do brega continuam conquistando público e novos compositores como Lucyan Costa que, ao lado de Félix Robatto e Bruno Benitez, seguem defendendo essa cultura, fazendo valer o legado dos que vieram antes, como Mauro Cotta, Magno, Frankito Lopes, Wando, Reginaldo Rossi, entre tantos outros! Aliás, foi cantando essas músicas, as chamadas “marcantes”, que Lucyan Costa começou a conquistar espaço na noite de Belém, há cerca de dois anos. 

Em 2020 ele lançou o clip da música "Melodia e Paixão", composição feita em parceria com Ana Meireles, e que foi inserida neste primeiro álbum. Antes da pandemia, até fevereiro do ano passado, ele lotava a Sexta Bregosa da agora saudosa Lambateria Casa de Dança, no bairro do Reduto. Não a toa a festa dá nome e é citada na letra da quarta faixa. “Foi numa sexta bregosa que te conheci, naquela sexta gostosa ... a Sexta Bregosa é o nosso lugar”, música que já nasce trazendo saudade pois foi lá, afinal, que Lucyan ganhou o título de “Príncipe do Brega”.

Disco autoral, feito em Belém durante a pandemia, "A volta do brega raiz" traz romantismo e instrumental fiel à época desses ícones, com a proposta de mexer com essa nostalgia de quem viveu a música romântica brega no Pará naquele período, mas principalmente apresentar aos jovens essa sonoridade atemporal, que mantém suas características. O nome de cada faixa anuncia a letra que versa sobre uma história de amor, traição, ou superação, depois de alguma perda amorosa, como "Vem, Amor", "A Dor no meu peito chegou", "O Tempo é para Amar", "Eu Quero Mais te Amar", "Vem matar essa vontade", "Naquela Noite" são alguns dos títulos que ganharam as canções de Lucyan. Temos ainda "Atemporal" e "Eu Já me Benzi", completando 10 composições. 

Outra boa pegada foi colocar no início de cada faixa, aquela voz que anuncia “Lucyan Costa, a volta do brega raiz”, outra característica já adquiridas de forma mais enfática na fase em que proliferam as festas de aparelhagens pelas beiradas dos rios da Amazônia, numa fase de transição já para o movimento tecnobrega, que furou o bloqueio imposto pelo mercado fonográfico ainda vigente na época. Foi preciso fazer a própria mídia, o próprio disco, a própria distribuição, vejam Brega S/A e vão entender melhor. E nem tinha internet e redes sociais potentes como agora.  

O que mais eu posso dizer sobre o disco? Ouçam e segurem aí a vontade de rodopiar no salão que a situação ainda não permite como gostaríamos. Em plena pandemia, ouvir brega e não dançar de rosto coladinho, é quase uma afronta, por isso, ao ouvir "A Volta do Brega Raiz",  afaste o sofá e pegue o par que tiver em casa, quem sabe, sejamos otimistas, muito em breve a gente volte vacinado ao velho e bom normal.

Para acompanhar o trabalho de Lucyan, acesse suas redes sociais: @lucyancosta

Oi de Patrocínios Culturais abre inscrições 2021

O lançamento do edital teve gosto de Amazônia, nesta quinta, 27. Além de ter um cenário expandido direto da ilha virtual Amazônia Mapping, com gráficos realistas e tecnologia imersiva 3D, o evento contou com apresentação de Aila e Strobo!  O Programa de Patrocínios Culturais Incentivados 2021 Oi Futuro irá selecionar projetos artísticos realizados em todas as regiões o Brasil e atrações para compor a programação do Centro Cultural Oi Futuro, no Rio. 

Em sua 17ª edição, seleção busca experiências híbridas, formatos inéditos e iniciativas que fomentem novas cenas artísticas e diversidade. As inscrições vão até 02 de julho no site www.oifuturo.org.br. Este ano, o programa Oi Futuro volta a destinar recursos para financiamento total ou parcial de projetos de diversas naturezas artísticas (tais como festivais, espetáculos, exposições, performances e outras manifestações criativas) aprovados em leis estaduais e municipais de incentivo à cultura. 

No contexto da pandemia, o Oi Futuro quer estimular projetos que proponham experiências híbridas, formatos inéditos de interação com o público e iniciativas que fomentem novas cenas artísticas e valorizem a diversidade.  “Ao lançarmos nosso Edital de Cultura neste cenário pandêmico, em que a arte se mostra mais do que nunca fundamental para nossa sobrevivência e nossa saúde mental, o Oi Futuro convida artistas e a criarem e inscreverem propostas que tragam experiências híbridas, rompam as fronteiras físicas e potencializem a vida digital, sempre valorizando a inclusão e a diversidade”, disse Roberto Guimarães, gerente executivo de Cultura do Oi Futuro. 

Desde 2003, o programa patrocinou cerca de 3 mil projetos, impactando milhões de pessoas, com atuação em todos os estados com lei de incentivo à cultura operacional. No ano de 2021, o edital pode receber projetos dos seguintes estados: Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.

Inscrições e seleção

Com o Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados, a companhia quer fomentar a produção artística inovadora, especialmente projetos que ampliem e conectem os diferentes públicos através de plataformas digitais, ultrapassem limites físicos, apostem na pluralidade e proponham formatos híbridos e acessíveis. O processo de seleção conta com uma comissão de avaliação independente, composta por especialistas de distintos campos do conhecimento e de origem regional diversa, e envolve também a participação de profissionais do Oi Futuro e da Oi. O resultado será divulgado no site do Oi Futuro em data a ser definida.

O Oi Futuro utiliza um modelo de inscrições simplificado, sem categorias pré-definidas e sem burocracia. O formulário online resume-se a uma página em branco, em que o produtor apresenta sua proposta da forma que achar melhor. Além disso, o proponente deve incluir um vídeo em que defende sua ideia e os propósitos de seu projeto. 

O lançamento do edital foi realizado pelo Youtube, direto da plataforma Amazônia Mapping, uma ilha 3D imaginária criada com o Unreal Engine, motor de jogos usados no desenvolvimento de gráficos realistas para a indústria de games, e que sediou ano passado, o Festival Amazonia Mapping, colocando a plateia no meio da paisagem da região amazônica, com floresta, rio e cidade envoltos por projeções de luz mapeada. 

Te mete! E boa sorte!

Serviço

17º Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados. Inscrições: de 27 de maio a 2 de julho, pelo site www.oifuturo.org.br

19.5.21

Nanna Reis apresenta sua nova identidade artística

A partir de agora é NAIEME! O show “Meu Canto Minha História”, gravado no Espaço Aruna, no Combu, estreia no canal de Youtube da artista, a partir das 17h deste sábado, 22 de maio, dia em que ela completa 30 anos. O músico compositor Alfredo Reis, pai da artista, faz uma participação especial. Ele bateu um papo com o Holofote Virtual. 

Unir fazer artístico e estilo de vida, nada está dividido, nem separado. Naieme é um retorno às origens e tem uma história interessante, como todo nome. Alfredo Reis lembra-se bem do dia 22 de maio de 1991. Era noite quando chegava ao mundo sua filha caçula. “Era dia de Santa Rita de Cássia. Por isso, minha sogra sugeriu o nome da santa. O que ela não sabia é que sua filha, Edinéia, já havia sonhado com Naieme. Daí juntamos as duas histórias. E assim nasceu Naieme de Cássia Reis”, relembra o compositor.

A cantora cresceu rodeada por arte, com muito acesso à música, principalmente. Alfredo é um dos nomes mais relevantes da cultura paraense, com uma lista extensa de contribuições à cultura local. São 45 anos de carreira, tendo participado de diversos festivais de música desde 1977, com canções que entraram para a história. Ele também é fundador da primeira associação de compositores, músicos e intérpretes do Estado, junto com nomes como Ruy Barata e Nazareno Tourinho, entre outros. O compositor é criador do ritmo Chamegado, que mistura influências sonoras da Amazônia Legal.

“Nessa rotina de trabalho com música, Naieme sempre estava comigo, seja nos ensaios e gravações que aconteciam em casa mesmo, como também em teatros e palcos da vida. Ela ficava encantada com o êxtase do público, vidrada no trabalho dos músicos. Desde pequenina ela dizia que se tornaria cantora. E ela foi além, tornando-se a múltipla artista que é hoje”, conta Alfredo, todo orgulhoso.

Pai e filha já trabalharam algumas vezes juntos, como na composição “Duas notas musicais”, que circulou em alguns festivais de música. “Com esta canção, Naieme se descobriu uma letrista fantástica. Vejo minha filha como uma voz de sua geração sempre atenta à realidade. É uma compositora muito atuante, muito presente. Uma artista que acompanha seu tempo e sabe muito bem o que quer”.

"Meu Canto Minha História" tem roteiro e direção da própria Naieme, com produção de Sandro Santarém e conta com os músicos Luan Lacerda (Contrabaixo), Igor Capela (Violão), Douglas Dias (Percussão) e Willy Benitez (Bateria). A direção de fotografia e de arte é de André Cruz, com câmera de Hilton Naka. No show, a dupla mais uma vez vai mostrar que se supera e, sem antecipar muita coisa, Alfredo garante que o público terá boas surpresas. 

“Não posso dizer muito, mas haverá uma encenação, iremos trazer nossas origens amazônicas para contar a história de minha filha, falar desse resgate ancestral a que ela se propõe agora. Na agulha, temos pelo menos três músicas para executar juntos. Afinal, estamos sempre prontos para tocar e cantar. (risos) Será uma programação linda!”, adianta Alfredo, que teve a circulação de seu trabalho musical “Tambores de Oxóssi”, interrompido durante a pandemia e agora trabalha num projeto inédito para os próximos meses.

Composições autorais, música paraense e inéditas

Alfredo Reis não revelou o repertório que vai cantar com Naieme, mas já soubemos que, em uma atmosfera onírica, eles vão fazer “Místico Solar/ Malha Branca, Lua luar/ Barreira do Mar/ Vai Pescador''. O show traz ainda, músicas autorais como Bom Dia e Fogo de Palha (gravadas por Lia Sophia); e composições da música popular paraense, passeando pelos ritmos do boi, carimbó e também o brega. 

Naieme já mostrará "Azura" e "Yagô", dois singles inéditos do primeiro álbum que será assinado com seu nome de batismo. E vai cantar também Melodia Sentimental, de Heitor Villa-Lobos e Dora Vasconcelos, em ritmo de fado, gênero musical que sempre esteve presente em suas apresentações. Em meio às canções, ela também vai falar um pouco sobre seu processo de autodescoberta. Naieme nasceu em Salvaterra, no Marajó, em uma família de matriarcas. Das avós Dona Rosa e Dona Walquíria conhecedoras da cultura amazônica, ela herdou conhecimentos ancestrais.

“É um grande debut desse novo momento, um abre caminhos para Naieme, porque esse nome invoca minha ancestralidade e toda a força e beleza dos povos do Marajó - tikuna, dessana, samaúma e tupinambá - dos quais herdei a força e a sabedoria, além também da minha parte lusitana e espanhola, de onde provavelmente vieram os melismas e floreios que eu canto naturalmente”, diz.

O projeto, selecionado pelo edital Aldir Blanc, do SESC-Pa, Secult-Pa e Governo do Estado, previa a realização de uma live com transmissão, ao vivo, do espaço Aruna, na Ilha do Combu, mas o inverno amazônico falou mais alto. “Já prevendo que podia dar ruim com a rede de internet na transmissão do show ao vivo da ilha, decidi junto à minha equipe gravar tudo com qualidade cinematográfica, direto do coração da floresta!! Se preparem porque é puro conceito!! Amazônia ancestral e o Norte do jeito que eu gosto”, avisa Naieme.

Acompanhe:

https://www.youtube.com/channel/UCvdZLgDQC5M9vbDXhFlt-zA/videos

https://www.instagram.com/reisnanna/?hl=pt-br

https://pt-br.facebook.com/nannareisoficial

https://twitter.com/reisnanna

Ficha técnica

Roteiro e direção: NAIEME

Músicos: Luan Lacerda (Contrabaixo), Igor Capela (Violão), Douglas Dias (Percussão) e Willy Benitez (Bateria)

Direção de Fotografia e direção de Arte: André Cruz - Cruz Imagem

Câmera - Hilton Naka

Fotografia - Grazi Calliman

Produção: Sandro Santarém - Samel Produções

Assistentes: Camila Castro e Jonas Macedo e Thuareag Samel Produções

Cenografia e Iluminação: Natasha Leite

Styling: Vinny Araujo,

Beleza: Isis Penafort 

Gravação de áudio: Assis Figueiredo,  

Sonorização e Iluminação: MM Produções

Local: Espaço Aruna - Ilha do Combu

Artes: Maia Miriam

Fotos divulgação: Gabriel Zambrone, Styling Kátia Gimenez, Beauty Leo Almeida.

Redes oficiais: NAIEME 

(Holofote Virtual, com Luiza Soares e Luciana Medeiros)

18.5.21

Tarô Amazônida ilustrado com foco nas mulheres

Ilustrado por mulheres artistas, o projeto revisa o tarô de forma criativa e inovadora. Jogo de cartas cuja leitura interpreta situações ou mesmo cria um panorama da vida de quem o consulta, nesta jornada mística, a ideia é navegar com personagens emancipadas, numa verdadeira releitura que traz como força a valorização das mulheres da Amazônia.

Surgido na Itália no século XIV, o Tarô rapidamente ganhou popularidade. Desde então, artistas em todo o mundo fazem releituras do famoso baralho, composto por 22 Arcanos Maiores e 56 cartas de um baralho comum. O Tarô Amazônida é uma iniciativa das artistas Renata Segtowick, Ty Silva, Moara Brasil e Mandie Gil, viabilizado por meio do MAR (Mulheres ARtistas Pará), projeto de conexão feminina artística e selecionado pelo edital Moda e Design da Lei Aldir Blanc Pará, organizado pelo Instituto Ágata, Secult, Governo do Pará, Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal.

Ty Silva
“O tarô permite uma profunda conexão espiritual com os nossos ancestrais e guardiões. Então, fazer essa ponte com os seres encantados e com as culturas amazônidas, além de ser um processo de busca pela nossa ancestralidade, também reforça a necessidade de termos mais conteúdo produzido por artistas que vivenciam esse local e cultura”, conta Ty Silva, artista paraense e uma das ilustradoras e organizadoras do Projeto Tarô Amazônida.

O baralho, que inicialmente terá os 22 Arcanos Maiores, foi ilustrado totalmente com personagens femininos ou sem gênero definido. Com o objetivo de trazer o tarô para referências locais, 11 artistas paraenses ilustram as cartas. “Buscamos recriar os personagens com a cara das mulheres da amazônia, com sua diversidade étnica, valorizando nossos corpos, nossas cores, nossa cultura”, explica a ilustradora e designer gráfica Renata Segtowick.

Revisar o tarô de forma criativa e inovadora é a chave para que o trabalho artístico abra portas para discussão de vários temas como feminismo, descolonização e valorização de mulheres da amazônia. Através de pesquisa, produção de ilustrações e do lançamento de exposição em plataformas digitais (Instagram e website), seguido de debate, este material é mais um elemento de empoderamento e reflexão sobre várias questões do corpo feminino.

Moara Brasil
"Essa é a primeira etapa do nosso projeto, que inclui apenas artistas participantes do MAR. A maioria é moradora da Região Metropolitana de Belém, mas, na sequência, com o financiamento coletivo, vamos poder chamar outras artistas, inclusive mulheres cis e trans de fora da nossa região, para dar maior diversidade ao projeto", reforça Moara Brasil, uma das ilustradoras envolvidas no projeto.

A coleção inspirada no Tarô Amazônida incluirá camisetas e canecas e será colocada à venda na loja online do MAR. Posteriormente outras peças também estarão disponíveis como recompensas na campanha de financiamento coletivo, criada para possibilitar o desenvolvimento das outras 56 cartas. 

As vendas servirão de fonte de renda para a equipe, composta exclusivamente de mulheres que vivem de sua arte e foram duramente atingidas pela crise resultante da pandemia da covid-19, além de reverter 15% do lucro para comunidades indígenas da região do Tapajós. “Projetos como este possibilitam que artistas continuem criando, pois o setor da cultura foi um dos mais atingidos com pandemia, e deveriam ter mais apoio e recurso”, reforça Moara.

Conhecimento e acessibilidade

Renata Segtowick
O Tarô Amazônida conta ainda com duas oficinas virtuais na área de design gráfico e arte: uma de Fundamentos de Aquarela com a artista Marina Pantoja e outra, de Teoria das Cores, com a artista Mandie Gil. As oficinas serão disponibilizadas gratuitamente no YouTube e tanto elas quanto a live de lançamento contarão com tradução simultânea em libras para deficientes auditivos.

O MAR (Mulheres ARtistas Pará) é um projeto de conexão feminina que foi criado e organizado para dar visibilidade e divulgar o trabalho das artistas plásticas, grafiteiras, ilustradoras, game designers, profissionais de animação, profissionais de lettering, tatuadoras e quadrinistas da amazônia paraense. Hoje, o coletivo conta com mais de 100 inscritas.

Para saber mais sobre o projeto, siga o Instagram do M.AR (@mulheres.artistas.pa) e participe da live de lançamento, que será no dia 20, às 18h.

III Festival do Filme Etnográfico recebe inscrições

Divino Tserewahú, líder Xavante
Estão abertas as inscrições para as duas mostras competitivas do III Festival do Filme Etnográfico do Pará, iniciativa do Grupo de Pesquisa em Antropologia Visual Visagem do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFPA. As inscrições são totalmente gratuitas até o dia 27 de junho pelo site do projeto.

A novidade desta edição é a mostra a Mostra Competitiva Divino Tserewahú, voltada exclusivamente para produção de cineastas indígenas e vai premiar o melhor Curta, Média e Longa-Metragem realizados por esses cineastas. Esta mostra se une a Mostra Competitiva Jean Rouch, que premia o Melhor Filme Etnográfico em Curta, Média e Longa-Metragem. 

Para estas Mostras serão aceitas produções nacionais e internacionais de filmes que abordem questões socioculturais contemporâneas sobre pessoas, grupos sociais, processos históricos de temas de interesse antropológico e afins.

Os filmes não selecionados para as Mostras Competitivas poderão ser exibidos em Mostras Paralelas do festival, divididas por temáticas e com curadorias próprias. O Festival também será composto por conferências, rodas de conversa, oficinas e homenagens.

Jean Touch

As duas Mostras Competitivas homenageiam grandes nomes deste tipo de produção. Um deles é Jean Rouch, cineasta e antropólogo francês, grande referência paradigmática para o que se entende por filme etnográfico. O outro é Divino Tserewahú, líder comunitário do povo Xavante e pioneiro no Cinema Indígena no Brasil e um dos maiores realizadores ainda na ativa.

Ao longo desses seis anos de realização, o Festival do Filme Etnográfico do Pará busca difundir, fomentar e premiar produções audiovisuais com qualidade técnica reconhecida na área do cinema e da antropologia, além de promover o diálogo entre produtores, cineastas, pesquisadores, estudantes e público em geral.

Apesar da pandemia da covid-19 ainda ser uma triste realidade no mundo e, de forma ainda mais cruel, no Brasil. Um dos coordenadores gerais do Festival, Alessandro Campos junto a Denise Cardoso, afirma “que a nossa dor e o nosso luto somam-se a de milhões de famílias devastadas por tantas perdas irreparáveis onde o choro e a revolta se tornaram sentimentos coletivos, assim como deve ser a esperança”, relata.

Ele complementa ainda que “essa esperança perpassa, inevitavelmente, pela arte e pela diversidade da cultura humana em sempre encontrar caminhos para a adaptação e para a resistência. Esse é o sentimento e a atitude desta edição do Festival do Filme Etnográfico do Pará” e convoca à resistência.

O III Festival do Filme Etnográfico do Pará está programado para o período de 16 a 21 de novembro deste ano. A ideia é até lá poder realizar alguns eventos presenciais, mas isso depende da situação sanitária em que se encontrar o país, o estado e Belém.

Serviço

Abertas Inscrições de filmes III Festival do Filme Etnográfico do Pará. Até o dia 27 de junho de 2021.Mais informações: https://festivaldopara.com.br/2021/

16.5.21

Fotógrafos doam obras para criar fundo solidário

João Ramid

A fotografia pode representar e recriar experiências, além de expressar sentimentos, registrar e documentar fatos. E foi esta a linguagem que o Sindicato dos Jornalista no Estado do Pará escolheu para realizar a campanha que pretende criar um fundo solidário em prol de jornalistas que estão enfrentando dificuldades por conta do coronavírus. O convite feito pelo SINJOR e atendido por 55 fotógrafos que doaram, juntos, as 127 obras que estarão na exposição virtual “Pará Ver-O-Peso que uma imagem tem”. A abertura com lançamento da campanha pela compra das fotografias será na próxima quarta-feira, 19, às 20h, com live pelo canal Sinjor Pará, no YouTube, com apoio do Acervo H, Max Color e PANAMAZÔNICA. Algumas das fotos você já confere aqui no Holofote Virtual. 

A programação de lançamento conta com o debate “Imagem e Solidariedade em tempos de pandemia”, que terá como participantes, Shirley Penaforte e Sidney Oliveira, que desenvolveram trabalhos específicos de fotografia relacionados a esse tempo de pandemia, e Cláudio Pinheiro, diretor do sindicato. O fundo servirá para a compra de cestas básicas, remédios, máscaras e álcool em gel para serem distribuídos aos profissionais de Imprensa.

A exposição virtual integra o projeto “Pará Ver-O Peso que uma imagem tem” do Grupo de Trabalho Contra a Covid-19 do Sinjor Pará, formado para pensar estratégias de combate à pandemia e de proteção à saúde dos jornalistas que atuam no estado. 

Paula Sampaio

"Queremos somar forças e recursos para ajudarmos os que adoeceram ou que foram atingidos pela crise econômica. Nosso intuito é fortalecer a união entre os jornalistas e a sociedade pela solidariedade e companheirismo. Somente unidos poderemos enfrentar este triste momento que o Brasil atravessa com a perda de mais de 400 mil vidas e 14 milhões de casos confirmados", diz Vito Gemaque, presidente do Sinjor-Pa.

Na mostra poderemos visualizar distintas gerações de fotógrafos e fotógrafas, alguns começando no campo da fotografia no início da década de 1980. Nas obras expostas é possível perceber também as múltiplas estéticas no fazer fotográfico, do fotojornalismo ao documental, passando por figuras e paisagens amazônicas, de natureza e de cunho social. 

A ideia foi inspirada na iniciativa dos familiares e amigos do fotógrafo Lilo Clareto, que criaram uma galeria para arrecadar fundos e ajudar no tratamento dele, vítima da Covid-19. O fotógrafo veio a óbito no último dia 21 de abril em decorrência do coronavírus. Com essa ideia em mente, o Grupo de Trabalho Contra a Covid-19 do Sinjor Pará decidiu organizar a exposição e venda de fotos para ajudar os jornalistas paraenses.

Hely Pamplona

“O Pará sempre foi um celeiro de grandes fotógrafos e fotógrafas. Fizemos o convite e, solidários, eles encamparam de imediato a ideia da exposição virtual. Cada obra será vendida por R$ 200,00, um valor simbólico considerando o peso dos profissionais envolvidos na ação”, relata a jornalista Claudia Aguilla, coordenadora do projeto, juntamente com os jornalistas Afonso Gallindo e Maria Christina, todos voluntários no projeto do Sinjor Pará. 

Disposta em ordem alfabética, a galeria conta com as obras e uma pequena biografia dos fotógrafos participantes. “Fiz com todo carinho. Coloquei meus talentos e conhecimentos em favor dos companheiros que precisam. Estamos juntos nesta caminhada e, juntos, vamos achar soluções para viver e trabalhar num mundo que muda a todo instante e necessita de muita solidariedade”, relata o jornalista Afonso Gallindo, da Matapi Produções, responsável pela montagem virtual da galeria.

Thiago Azevedo
O público poderá visitar a exposição e adquirir obras até o fim do mês de julho, no site que estará on line na próxima semana. Será possível passear por esta galeria, selecionar as obras e adicioná-las ao carrinho de compras. O pagamento pode ser feito por meio de boleto ou cartão.

Além da criação da galeria virtual, o que chama a atenção no “Pará Ver-O-Peso que uma imagem tem” é a capacidade de aglutinar pessoas em torno da ideia de realização da exposição, incluindo os fotógrafos e fotógrafas que cederam suas obras, os profissionais e estudantes que voluntariamente se dispuseram a atuar no projeto. “Aceitei somar forças e participar desta ação porque resistir é preciso. E ser solidária é a melhor resposta a um governo cujo descaso e negacionismo retira nosso direito de viver”, diz Maria Christina, que também está no projeto como uma das fotógrafas convidadas.

Veja mais fotos em @holofote_virtual 

Fotógrafos envolvidos

Bárbara Freire
Participam da exposição os fotógrafos Alessandra Serrão, Ana Catarina Peixoto de Brito, Bárbara Freire, Bob Menezes, Carlos Borges, Cezar Magalhães, Cláudia Leão, Cláudio Pinheiro, Cristino Martins, David Alves, Dirceu Maués, Eduardo Kalif, Elza Lima, Eunice Pinto, Fernando Nobre, Fernando Sette, Flávia Mutran, Hely Pamplona, Isabel Abreu, Iza Girard, João Ramid, Klewerson Lima da Silva, Kleyton Silva, Leonilda Fernandes, Lucivaldo Sena, Luís Celso Borges, Marcelo Kalif, Marcelo Seabra, Marcílio Costa, Marco Santos, Maria Christina, Mariano Klautau Filho, Mauro Fernandes, Michel Pinho, Nailana Thielly, Octavio Cardoso, Osmarino Souza, Oswaldo Forte, Paula Sampaio, Paulo Amorim, Paulo Santos, Paulo Souza, Pedro Cunha, Raimundo Paccó, Renato Chalu, Ricardo Lima, Sandro Barbosa, Shirley Penaforte, Sidney Oliveira, Tamara Saré, Thiago Azevedo, Uchoa Silva, Ursula Bahia, Wagner Santana e Walda Marques.

O SINJOR na Pandemia

David Alves

Diante de uma realidade tão desafiadora imposta pela Covid-19, o Sinjor Pará vem procurando alternativas para o combate e à prevenção do coronavírus, assim como diminuir as consequências danosas geradas pela pandemia junto à categoria de jornalistas. A primeira ação do sindicato foi solicitar às empresas para garantirem segurança sanitária para os profissionais de Imprensa com distribuição de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e adoção do home office. 

Em seguida, no último dia 7 de abril, a entidade lançou o Relatório Covid-19, onde está registrado o falecimento de 19 profissionais de Imprensa vítimas do coronavírus até 30 de março passado. Segundo o documento, o número de mortes é um dos mais altos do Brasil em comparação com os dados da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ). O relatório informa que o Pará está entre os três primeiros estados com mais mortes de profissionais de Imprensa no país.

Alessandra Serrão

Após a divulgação do documento, o Sinjor Pará reuniu com o governador Helder Barbalho, com o secretário executivo da Federação das Associações de Municípios do Estado do Pará (Famep), Josenir Nascimento, e com representantes de Prefeituras Municipais para pedir apoio e assegurar a inclusão dos profissionais de Imprensa na lista de prioridade para a imunização contra a Covid-19, especialmente daqueles que estão na linha de frente cobrindo a pandemia no estado.

Atualmente, há 1.500 jornalistas registrados no Pará e 864 filiados ao Sindicato dos Jornalistas. A exposição “Pará Ver-O-Peso que uma imagem tem” dá sequência às atividades do Sinjor em prol da categoria neste contexto de pandemia. Para participar da live de lançamento da exposição acesse Sinjor Pará no YouTube. O projeto “Pará Ver-O Peso que Uma Imagem Tem” é uma ação do Grupo de Trabalho Contra a Covid-19 do Sindicato.

Para compra das fotografias: 

opesodaimagem.com.br (a partir de 19/05)

Instagram: @opesodaimagem

Facebook: /opesodaimagem

12.5.21

Um plano emergencial para a cultura em Belém

O Fórum de Culturas do Pará mobilizou nesta terça-feria, 11, fazedores, gestores e parlamentares da área, para discutir mecanismos de sustentabilidade e fomento ao setor cultural na capital paraense. O momento revelou o quanto poder público e sociedade civil precisam estar de mãos dadas, e que são necessários esforços maiores para que possamos avançar. A mediação foi de Eliana Pires.

O objetivo maior da reunião foi buscar alternativas para se obter recursos que possam ser destinados a um plano de emergência cultural para Belém. Foram listadas algumas das alternativas estudadas pelo Fórum, como por exemplo o remanejamento de recursos do orçamento da Fumbel. Foi sugerido também que a fundação verifique a possibilidade do uso de recursos do Fundo Municipal de Cultura que, segundo Valcir Bispo dos Santos, que abriu a live pelo Fórum, já teve uma parte usada para o segmento do carnaval.

Outra sugestão é que que a modalidade de apoio emergencial seja realizada por meio de auxílios destinados aos fazedores e fazedoras de cultura, masi também para os espaços culturais, verificando ainda a possibilidade de isenção do IPTU e de outras taxas aos CNPJs culturais, como por exemplo, a TLPL. Entre outras coisas, também ficou encaminhada a criação de um Grupo de Trabalho com a participação do Governo Municipal (FUMBEL e GAB. Prefeito), CMB e Câmara Federal.

Entre os representantes do poder público, estavam presentes o Deputado Federal Airton Faleiro; o presidente da Fumbel, Michel Pinho, além dos vereadores Allan Pombo e Lívia Duarte. E pela sociedade civil, entre outros artistas, fazedores e produtores culturais, estavam Claudia Peniche (Fórum e Culturas Afro Brasileiras), Valdete Brito (Dança), Mana Josy (Hip Hop), Rodrigo Wai Wai (Indígenas), Fátima Matos (CEDENPA) e Carlos Gonçalves (Fórum e Livro e Leitura).

O presidente da Fumbel Michel Pinho disse que o diálogo da com o Fórum já teve início, em relação ao reordenamento da Lei Valmir Bispo, que está sendo estudada novamente e que há interesse em construir o GT para viabilizar os auxílios. A vereadora Lívia Duarte falou sobre ampliar o orçamento da Fumbel por meio de emendas e lembrou que a plataforma “Tá Selado”, já aberta para apresentação de propostas para o PPA. 

O deputado Allan Pombo elogiou o governo de Edmilson Edmilson e disse que vai verificar a possibilidade de emendas dos vereadores de Belém para a cultura, além disso ele também se comprometeu em viabilizar reunião com Georgina Galvão, que coordenar o Fundo Ver-o-Sol, que também poderia ser um caminho.

Airton Faleiro agradeceu o convite e lembrou que “é nas crises que encontramos a solução”. Vice-presidente da Comissão de Cultura da Câmara Federal, também concorda que devem haver mais emendas destinadas à cultura e sugeriu que houvesse “na regulamentação dos Royalts, a destinação de percentual para a cultura”. E citou algumas iniciativas como o projeto do Dia de Resistência dos Povos Indígenas, a indicação de mulheres para o livro Heroínas da Pátria, do Projeto de Lei do senador Paulo Rocha de incentivo à cultura, a Lei Paulo Gustavo, e do projeto dos Fundos Constitucionais para investimento em economia criativa. 

Fazedores desabafam mas dizem que têm esperança

Michel Pinho e Lívia Duarte, no debate com os
fazedores de cultura

Os fazedores também falaram e os depoimentos foram sinceros, diretos e urgentes, como o de Mametu Nangetu, 75 anos, que coordena o Instituto Nangetu de Tradição Afro-religiosa e de Desenvolvimento Social, homenageada com o título de Mulher Axé do Brasil, e fundadora do terreiro Manso Massumbando Quem Quem Neta, que funciona há 35 anos em Belém. Ela lembrou do orçamento participativo feito nas primeiras gestões do prefeito Edmilson e pediu que os projetos de cultura cheguem aos mestres. 

A professora e bailarina Waldete Brito, do Colegiado de Dança do Pará, também ressaltou que “precisamos ter uma lei emergencial de cultura para Belém, pois as pessoas que vivem da arte estão em situação delicada”. Rodrigo Wai Wai, representante dos estudantes indígenas na UFPa, comentou que a Lei Aldir Blanc foi de difícil acesso para os indígenas por “excesso de burocracia”. Ele relatou que seu povo passa por um momento difícil e que não está conseguindo a sustentabilidade por meio da venda de seus artesanatos, “porque está tudo parado”. Alertou que tem muitos parentes morrendo e que faltam recursos para necessidades básicas. 

Da capoeira, Luiz Carlos, primeiro saudou os povos tradicionais e em seguida os parlamentares. Depois passou a relatar a situação dos mestres de capoeira, que “estão vivendo à míngua”. Lamentou a morte de “cada mestre e vidas perdidas”, mas disse que tem esperança e finalizou dando seu voto de confiança aos “senhores e senhoras presentes na reunião”.

Para Valcir Bispo Santos, um dos principais mobilizadores do Fórum de Culturas do Pará, a live de hoje deu um passo importante, mas ele também fez um apelo ao maior envolvimento dos fazedores e fazedoras de cultura. “Precisamos agregar mais pessoas. O Conselho Municipal de Cultura precisa ser democratizados com fóruns setoriais e distritais”, concluiu.

Outros fazedores também tomaram a fala na reunião que se estendeu por cerca de duas horas e pode ser conferida, na íntegra, no canal de Youtube do Lab Livre Belém (link). 

11.5.21

Cena teatral anos 80/90 pelas lentes de Chikaoka

A cena artística de Belém e sua efervescência teatral dos anos 80 e 90, registrada pelas lentes do fotógrafo, dão vida à exposição e às oficinas do projeto "O Teatro Paraense 80/90: Fotografias de Miguel Chikaoka", da Kamara Kó Galeria, contemplado pelo Edital de Multilinguagens - Aldir Blanc, por meio da Secretaria de Estado de Cultura do Estado do Pará (Secult).  

Trata-se de um recorte único e inédito de registros de processos criativos, que vão desde a leitura de textos, construção de personagens, ensaios até a encenação de peças teatrais mais relevantes no referido período. 

As imagens da exposição, em processo de digitalização, foram selecionadas com a curadoria do fotógrafo e artistas convidados, que viveram aqueles momentos e são referências do teatro no Pará, como Wlad Lima e Cláudio Barros, além da atriz e pesquisadora Valeria Frota Andrade. O acervo histórico poderá ser acessado a partir de 11 de junho, na galeria do site.
 
Já as oficinas serão realizadas na sequencia, sendo a primeira "Fotografia Ágil x Memória Volátil", de 14 a 16 de junho, e em seguida, "Fotografia de Palco", de 17 a 21 de junho, voltadas sobretudo para alunos de escolas públicas. A programação também contará com live entre Chikaoka e os artistas curadores convidados, com direito a entrevistas e participação do público, no dia 19 de junho, às 19h. 

A oficina Fotografia ágil x Memória volátil trata da guarda e recuperação de fotos e vídeos capturados com câmeras de dispositivos móveis como smartphones e tablets.  É dirigida às pessoas que tenham apreço pela memória,  a oficina busca reunir, analisar práticas de armazenamento, organização de imagens. Nos dias atuais, um contraponto necessário à extrema facilidade de produzir e compartilhar imagens. 

A oficina Fotografia de Palco será desenvolvida a partir da leitura de vivências do fotógrafo na cena teatral paraense. 

Além dos aspectos técnicos que envolvem o trabalho, Miguel abordará questões que tratam dos posicionamentos em cada etapa do processo de construção  até a invisibilidade e o silêncio nas apresentações. Estão em jogo, tudo que envolve o universo cênico da leitura dramática, os atores,  construção dos personagens, as expressões corporais e faciais, as interações, o jogo cênico,  os bastidores, o camarim, o cenário, o desenho de luz e o desenho de som.

Inscrições

O projeto O Teatro Paraense 80/90: Fotografias de Miguel Chikaoka está com inscrições abertas para as oficinas com o educador e fotógrafo. A participação é gratuita para o público em geral, prioritariamente para estudantes de escolas públicas, com inscrições até o dia 29 de maio (sábado) pelos links:

Oficina Fotografia Ágil x Memória Volátil: 

Oficina Fotografia de Palco: 

Mais informações 
Kamara Kó Galeria – www.kamarakogaleria.com.br. 

10.5.21

Nota de esclarecimento: petição casa da Estrella

O blog recebeu e publica, nesta segunda-feira, 10, a nota de esclarecimento do “Coletivo pela Preservação da Casa da Estrella”, sobre a petição pública que solicita celeridade ao processo de tombamento da casa em que residiram Benedito Nunes e Maria Sylvia Nunes, ele falecido em fevereiro de 2011, e ela, em março do ano passado. 

A casa em questão guarda inúmeras memórias do casal. É de arquitetura modernista, com projeto assinado por Angelita Silva, irmã de Maria Sylvia Nunes, e Ruy Meira, e está localizada na Travessa da Estrella, no bairro do Marco, em Belém do Pará. 

O processo de tombamento, que não necessariamente implica em desapropriação do imóvel, foi solicitado pelo coletivo em janeiro e aceito pelo Departamento de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (DPHAC) da Secult, no dia 27 de abril deste ano, assim como também já foi encaminhado a Fumbel e ao IPHAN. 

A iniciativa parte de um coletivo que reúne professores e pesquisadores de diversas instituições brasileiras e internacionais, mas depois de divulgada nas redes sociais, a petição gerou ruídos de comunicação a que se vem responder a seguir: 

 NOTA DE ESCLARECIMENTO

A preservação da Casa da Estrella

Por favor, comece a ler esse texto com menos emoção e mais razão, como diz uma conhecida youtuber. O assunto merece um debate público de qualidade, pois toca em diversos traumas já sofridos pela sociedade paraense, relativos à preservação do patrimônio histórico. 

Poucas vezes testemunhamos uma polêmica tão intensa em Belém como a que ocorreu no último final de semana. O motivo foi a abertura de uma petição pública endereçada ao Governo do Pará, na qual algumas pessoas pleitearam duas coisas: 

1) o tombamento da residência de Benedito e Maria Sylvia Nunes; 

2) a aquisição, repetimos: aquisição, da casa pelo Poder Público, de maneira que sua manutenção possa ser garantida. A petição recebeu a adesão de quase mil pessoas em apenas quatro dias. Ela foi muito divulgada com mensagens de esperança. Todas querem ver o legado de Benedito e Maria Sylvia preservado.

Houve, contudo, quem a recebeu de forma negativa e confusa. Essas pessoas se sentiram ofendidas com algo que é direito de qualquer cidadão: pedir providências ao Poder Público para que um bem de interesse social seja preservado. Em uma atitude defensiva e desproporcional, postagens foram feitas nas redes sociais deturpando argumentos, outras lançaram ataques pessoais e houve até aquelas que fizeram a defesa da propriedade privada (!) e acusaram os peticionários de questionar a legitimidade dos herdeiros (!), assim como de quererem confiscar ou desapropriar a casa (!). Sim, tudo isso foi dito, algumas vezes de maneira deselegante e vil.

Contra esse tipo de ruído, convém jogar luz sobre o assunto, uma vez que muita gente assinou a petição e merece esses esclarecimentos. Vamos, portanto, aos fatos – repetimos: aos fatos: 

1) sim, os herdeiros legítimos manifestaram diversas vezes, repetimos: diversas vezes, que não poderiam manter a casa e que, por esse motivo, cogitavam vendê-la; 

2) o interior da casa está esvaziado, pois a biblioteca foi transferida para a UFPA e parte do mobiliário, as obras de arte e as antiguidades foram de lá retirados. Esses fatos são suficientes para preocupar quem conhece o valor arquitetônico, histórico e social da casa – e exigem, sim, uma mobilização que se antecipe a um final bem conhecido dos habitantes de Belém.

Com a finalidade de proteger a residência, solicitamos o tombamento do imóvel. Esse é um instrumento legal que as sociedades civilizadas dispõem para que a responsabilidade pela preservação do patrimônio histórico seja compartilhada com o Poder Público. O tombamento nada tem a ver com demolição, desapropriação ou confisco. 

Pelo contrário: ele permite que os proprietários tenham um desconto no IPTU, recebam investimentos públicos, sejam auxiliados em serviços de arquitetura e engenharia ou mesmo tenham facilidade para obter empréstimos destinados à manutenção do imóvel. Convém, portanto, que o Governo do Pará avalie a necessidade de tombar a Casa da Estrella, pela importância que ela adquiriu para a cidade e para que os esforços em prol de sua manutenção sejam recompensados.

Casa abrigava biblioteca e pinacoteca do casal
A outra demanda feita na petição, a aquisição da casa pelo Poder Público, segue exatamente na direção do que foi sinalizado pelos herdeiros legítimos: ora, se não há condições de manter a casa e se não há outra opção a não ser vendê-la, então que o comprador seja o Poder Público. 

Nesse caso, a demanda dos peticionários também pretende se antecipar a uma possível situação de risco para a casa, abrindo uma janela de soluções que contemple o interesse dos herdeiros legítimos. Essa proposta também nada tem a ver com desapropriação ou confisco, mas com uma possibilidade concreta, talvez a única na atual conjuntura do país, de preservar a residência caso seja vendida. Repetimos: caso – seja – vendida. Se a intenção não é vendê-la, se os planos mudaram, a sugestão feita pelos peticionários pode ser ignorada.

Ao leitor que chegou até aqui, pedimos que volte à petição e releia o texto. Ele é claro em suas intenções e propostas, é verdadeiro nos seus argumentos e vislumbra, sim, um destino factível para a Casa da Estrella. Esse é um lugar de memória que justifica um esforço coletivo para sua preservação. Isso é o que importa. Se toda essa polêmica resultar na proteção do Poder Público e no apoio da sociedade civil, seja qual for seu proprietário, teremos todos razão e sairemos todos ganhando.

Coletivo pela Preservação da Casa da Estrella

Atualização sobre a petição, em 13 de maio: 

O coletivo acaba de informar que a petição alcançou a meta de assinaturas e encerrou. Será encaminhada aos órgãos de patrimônio das três esferas de poder, no caso o IPHAN, Secult-Pa e Fumbel, que já aceitaram o pedido de tombamento do imóvel.

https://secure.avaaz.org/community_petitions/po/ao_exmo_sr_governador_do_estado_do_para_helder_zah_pelo_tombamento_e_preservacao_da_casa_da_estrella_a_casa_de_benedito_e_maria_sylvia_nunes/?zmAxAkb