29.9.20

Na roda virtual a música e o intercâmbio cultural

O projeto de extensão “Intercâmbio Turístico-Cultural entre Belém – Pará - Brasil e Cabo Verde”, desenvolvido pela Faculdade de Turismo (FACTUR) do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), da  UFPA, através do Escritório Modelo de Práticas Acadêmicas em Turismo, inicia uma nova fase nesta sexta-feira, 2 de outubro, com a realização de uma roda virtual de conversa, transmitida às 19h, pelo YOUTUBE, com retransmissão pela página de Facebook do Empactur.

A iniciativa pretende fortalecer um intercâmbio que vem sendo alimentado e maturado junto a discentes, docentes e demais colaboradores da FACTUR/ICSA/UFPA, além da comunidade artística tanto em Belém quanto em Cabo Verde. A ideia é que todos se apoderem de conhecimentos e de trocas de informações que serão somados ao processo de ensino-aprendizagem e qualificação dos profissionais do turismo e da música na região amazônica, potencializando o acesso a esses conteúdos, por meio da distribuição digital.

“Escolhemos a temática do empreendedorismo feminino na música para demonstrar o empoderamento das mulheres nas artes e na cultura de modo geral, pois tanto em Belém como em Cabo Verde, as cantoras se destacam sobremaneira em um cenário que já foi dominado pelo gênero masculino”, comenta o Prof. Dr. Paulo Moreira Pinto, Diretor Adjunto do ICSA/UFPA, que coordena o projeto de extensão. 

A conversa virtual reune as cantoras paraenses Natália Matos e Mariza Black, a cantora caboverdiana Mindela Soares, além de Auda Piani, turismóloga, pesquisadora e produtora cultural do Espaço Na Casa do Artista, de Icoaraci e de Silvia Cruz,  professora da Faculdade de Turismo. Terei o prazer também de participar, levando como contribuição o ponto de vista da comunicação na área cultural. Além do jornalismo, também mergulho na produção cultural na área da música e do audiovisual. A mediação da roda fica por conta de Lívia Duarte, que é Bacharel em Direito e integrante do Grupo de Estudo de Gênero da Universidade da Amazônia.

Mindela tem uma carreira recente, iniciada há cinco anos, quando venceu um concurso de vozes, em São Vicente, cidade de Cabo Verde, onde também nasceu Cesária Évora. Apostando no estilo tradicional de seu país, alternada com a música brasileira, ela logo passou a se apresentar na vida noturna de sua cidade.  

“Pelo meu estilo, caí nas graças dos tradicionalistas e passei a ser convidada para shows de maior importância. Vou falar sobre os estilos que mais me definem, e que são todos os ritmos tradicionais de Cabo Verde, como a Morna, a Coladeira e o nosso estilo de samba. E vamos ver o quanto temos de semelhante entre Pará e Cabo Verde. Eu amo a música brasileira e esse tipo de iniciativa só nos fortalece”, diz Mindela.

Natália Matos é cantora e compositora e costuma misturar em suas canções ritmos latinos misturados ao pop contemporâneo. Com dois discos lançados, ela se prepara para lançar o terceiro álbum ainda este ano , com uma nova estética, mas ainda trazendo a latinidade do disco de estreia. Já Mariza Black é intérprete de voz inconfundível.  A artista mergulha no universo do samba, para interpretar obras dos grandes compositores, em apresentações em espaços que dialogam diretamente com o gênero. 

A professora Silvia Cruz foi coordenadora do projeto de extensão em suas ações de 2019. Turismóloga com especialidade em Planejamento Estratégico do Turismo, ela também é Mestre em Ciências da Comunicação pela USP e Doutora em Ciência Socioambiental pela UFPa. Atualmente vem, desenvolvendo projetos de ensino, pesquisa e extensão; e é membro da Rede de Pesquisadores em Turismo da Amazônia e da Associação Nacional de Pesquisadores em Turismo – ANPTUR.

Também turismóloga, Auda Piani Tavares vai bater esse papo, trazendo na bagagem uma trajetória vasta de pesquisa na área de Patrimônio Imaterial e Saberes Tradicionais. Em 2019 ela participou do projeto de intercâmbio e viajou até Cabo Verde, onde compartilhou sua experiência com o projeto "Entre Panelas, Memórias e Sentidos”, com as mulheres de Tarrafal, e realizou uma palestra na Universidade de Santiago para os estudantes do curso de Ecoturismo. Auda também é gestora do espaço Na Casa do Artista em Icoaraci. 

“Não cabem dúvidas de que as lives se tornaram um instrumento importante para divulgar trabalhos de artistas no mundo todo. Penso que se perde por um lado aquele contato com o público tão importante para os artistas, mas por outro tem-se a fluidez e a massificação que o avanço tecnológico proporciona. Isso para o bem e para o mal”, finaliza o coordenador do projeto, Paulo Moreira.

O Projeto de Extensão “Intercâmbio Turístico-Cultural entre Belém – Pará - Brasil e Cabo Verde” é financiado pela Emenda Parlamentar Individual (Nº 30870013) do Deputado Federal Edmilson Rodrigues, por meio do Ministério da Educação - Governo Federal, UFPA, PROEX - Pró-Reitoria de Extensão | UFPA, Fadesp - Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa, ICSA - Instituto de Ciências Sociais Aplicadas.

Serviço

Roda de Conversa (Live): O empreendedorismo feminino na música em Cabo Verde e Belém do Pará - Projeto de Extensão “Intercâmbio Turístico-Cultural entre Belém – Pará - Brasil e Cabo Verde” . Dia 02 de outubro, às 19h, com transmissão pelo Youtube (http://bit.ly/Live_Musica), com retransmissão pela página de Facebook do Empactur – Escritório Modelo de Práticas Acadêmicas em Turismo da UFPA. 

(Foto/Divulgação cedidas pelas artistas)

28.9.20

Tapajazz realiza workshop com Maurício Maestro

O Tapajazz Mostra Belém encerrou a agenda de shows no último sábado, 26, mas segue sua programação nesta terça-feira, 29, com o workshop do músico Maurício Maestro, contrabaixista e arranjador vocal, fundador do Boca Livre. Ele bate-papo com o público nesta terça-feira, 29, das 15h às 18h, no Núcleo de Conexões Na Figueredo. A entrada é gratuita e está sujeita a lotação do lugar, limitada a 50% de sua capacidade, em decorrência da Covid-19. Segue ainda um rápido passeio pelas três noites do evento. Os links para ver, aliás, estão no final da matéria. 

Fotos: Sérgio Malcher.

Carlos Maurício Mendonça Figueiredo é conhecido e reverenciado na música como Maurício Maestro. “Um nome sarcástico”, diz ele. “Eu faço arranjo, e todos os arranjadores eram identificados nas fichas técnicas do LPs, como Maestros. Quando perguntavam, que Maurício, diziam, o Maestro, e eu resolvi então adotar, mas não tenho formação em regência”, complementa o cantor, baixista e compositor, que esbanjou simpatia nas noites do Tapajazz e promete revelar para o público do workshop todos os segredos de sua trajetória. 

Ele é um especialista. Assina os arranjos vocais e os arranjos instrumentais do Boca Livre e já trabalhou com inúmeros outros músicos da música brasileira. Faz parte de momentos históricos da música popular brasileira, como o emblemático Festival da Record de 1967, quando juntamente com David Tygel, Zé Rodrix e Ricardo Vilas, acompanhou Edu Lobo na apresentação de "Ponteio". 

Em 2018, depois de seis anos sem novas produções, o Boca Livre retomou gravou um novo disco, Viola de bem querer, marcando os 40 anos do grupo, hoje com Zé Renato (violão e voz), David Tygel (viola de 10 cordas e voz) e Lourenço Baeta (violão, flauta e voz), além de Maestro que também tem sua carreira solo, trabalho que ele apresentou na segunda noite do Tapajazz em Belém. 

O workshop com ele será uma grande oportunidade para quem estiver interessado em saber mais sobre arranjos tanto vocais, como instrumentais, além de trocar ideias e experiência sobre processos de composição. O Tapajazz Mostra Belém é uma realização da Fábrica de Produções, patrocínio da Equatorial Energia, por meio da Lei Semear do Governo do Estado, e patrocínio da Alcoa. Apoio cultural da Casa do Saulo – Onze Janelas e deputado Igor Normando.

Mostra Belém é sucesso e veio pra ficar

Foram três noites incríveis no Teatro Waldemar Henrique, com transmissão ao vivo pelo Youtube. O público curtiu a música instrumental brasileira em conexão com a Amazônia. Foi a primeira vez que o festival, nascido em Santarém e realizado, desde 2014 em Alter do Chão, veio para a capital paraense. O teatro recebeu 50 pessoas por noite, ou seja, menos da metade de sua capacidade, em atenção aos cuidados com a Covid-19.  

O jornalista Tito Barata, convidado para apresentar o evento nos conduziu pelos encantos da música amazônica, ou jazz amazônico, caracterizado pelas misturas sonoras hispano-americana e africana.  O nome Tapajazz, Tito chamou de “achado criativo”. Une a descontração e a universalidade do Jazz com o nome do rio que banha Santarém, o Tapajós.  Guilherme Taré, produtor e idealizador do festival, complementava dizendo que é também uma homenagem ao violonista Sebastião Tapajós, considerado o patrono do Tapajazz. 

“Acredito que depois dessa experiência, não podemos mais deixar de fazer a Mostra Belém. Ela funcionará sempre como um convite ao intercâmbio entre Santarém e Belém, na Amazônia, e o resto do país e do mundo, onde houver música instrumental. Ainda estamos pensando em realizar o Tapajazz, este ano, em Santarém, mas vai depender da situação em relação ao momento pandêmico”, disse Guilherme Taré.

Os shows foram gravados e podem ser vistos no Youtube, no final desta matéria, vocês acessam os links. Das oito atrações, apenas três não estiveram no palco do Teatro Waldemar Henrique e entraram de suas cidades. 

Foi o caso do grupo Conexão Amazônia, com Zé Miguel, Joãozinho Gomes e Enrico di Miceli;  e do músico Alan Gomes, que entraram de Macapá (AP),  trazendo uma sonoridade ímpar do cancioneiro amazônico. O encerramento foi no teatro, com o Trio Paraense, com Luiz Pardal, Paulinho Assunção e Jacinto Kahwage. Fechamos a noite de quinta-feira (24) com o som universal do grupo. 

A sexta-feira (25) foi aberta por Maurício Maestro (RJ), que fez um belo espetáculo, repleto de canções que fazem parte da história da música brasileira, incluindo aí, Ponteio, defendida por Edu Lobo, em 1967, apresentação na qual Maurício fazia o vocal do grupo Momentoquatro, acompanhando o artista. A banda Silibrina entrou em seguida, quebrando tudo, de São Paulo. Ritmos brasileiros, com ênfase nas sonoridade nordestinas, como o frevo, ganharam os elementos incendiários dos metais, das cordas da bateria. Muito bom. A noite encerrou com o grande violonista Sebastião Tapajós, que ainda voltou ao Teatro Waldemar Henrique no dia seguinte, como plateia, para assistir aos últimos shows.

A última noite, no sábado, abriu com o grupo “Jardim Percussivo", liderada pelo percussionista Márcio Jardim e pelo pianista Edgar Matos, trazendo na formação os jovens músicos Wesley Jardim (baixo), Wesley Jardim (guitarra), Marcos Ribeiro (sax) e Marcelino Santos (percussão). 

Em seguida, entrou em cena Toninho Horta, que estava em noite inspirada. Abriu o show sozinho, com o violão, e seguiu acompanhado por banda formada pelos músicos paraenses, Príamo Brandão (baixo), Kleber Paturi e Alcides Alexandre  (percussão), Edvaldo Cavalcante (bateria) e Robenare Marques (piano).  E ainda chamou para participações Maurício Maestro, que estava ali pela plateia e cuja amizade entre os dois remonta aos anos 1970, e também Delcley Machado.  

Toninho executou canções que foram do clássico “Moon River”, de Henry Mancini, à popular “Manuel Audaz”, encerrando "o set de mais uma hora de show, com a plateia cantando alto e afinada, sob sua regência". Foi lindo mesmo, tanto para quem esteve na seleta plateia como para quem esteve atento a live, nestes três dias. Mas se você perdeu, a boa notícia é que está tudo gravado em alto e bom som e também imagem. 

Acesse e assista: 

Tapajazz Mostra Belém

1o dia - 24 de setembro

  • Conexão Amazônia
  • Alan Gomes
  • Trio Paraense

2o dia - 25 de setembro

  • Maurício Maestro
  • Banda Silbrina
  • Sebastião Tapajós

3o dia - 26 de setembro

  • Jardim Percussivo
  • Toninho Horta

Serviço

Tapajazz Mostra Belém. Workshop com Maurício Maestro – Nesta terça-feira, 29, das 15h às 18h, no Núcleo de Conexões Na Figueredo – Gentil, próximo a Benjamin. Realização da Fábrica de Produções, patrocínio da Equatorial Energia, por meio da Lei Semear do Governo do Estado, e patrocínio da Alcoa. Apoio cultural da Casa do Saulo – Onze Janelas e deputado Igor Normando.

26.9.20

Amazônia Doc: filmes liberados na AmazôniaFlix

É verdade, mas só neste final de semana. Depois de encerrar sua programação, com cerimônia virtual de premiação, na última quarta-feira (23), o Amazônia Doc resolver disponibilizar novamente todos os filmes do festival, na AmazôniaFlix, é só acessar. Na reportagem a seguir, saiba quais foram os premiados e também como foram as emoções do encerramento e os impactos deste ano.

Foi uma verdadeira avalanche de filmes. Confesso que não consegui ver todos e vou aproveitar este final de semana.  Sábado  (26) e domingo (27). Dois dias para escolher entre 54 opções, o que assistir. São longas, curtas e médias metragens selecionados este ano para as mostras competitivas desta sexta edição que chegou em formato 3 em 1 e totalmente on-line. Além de todos os outros tantos que na correria do próprio trabalho no festival, acabei perdendo, vou começar pelos filmes premiados, são mais de 20.

O longa metragem paraense “Transamazonia”, por exemplo, foi o vencedor do prêmio principal do Festival Amazônia Doc. E aqui, temos um fato histórico: é a primeira vez que uma diretora trans ganha a premiação. O filme percorre a rodovia que corta toda a Amazônia brasileira, trazendo para o público a perspectiva de pessoas trans e travestis que vivem às margens deste lugar marcado pelo abandono. Parece que pouca coisa mudou desde "Iracema, uma Transa Amazônica", de Jorge Bodanski, feito há 30 anos.

Renata Taylor – que assina o filme junto de Débora Mcdowell e Bea Morbach – estava na cerimônia de premiação e foi surpreendida com a notícia, marcando um dos momentos mais emocionantes da live de encerramento do festival. É o primeiro filme de Renata, que revelou algumas dificuldades que ela e a equipe enfrentaram para realizá-lo. 

“Chegamos a ser hostilizadas em certas situações, mas mesmo assim seguimos. Foram três anos de muito trabalho. Para mim, protagonizar esse processo é uma forma de deixar a mensagem que nós, pessoas trans, podemos ocupar qualquer espaço, basta nos dar oportunidade”, conta a diretora, que tem forte atuação no movimento LGBTQ paraense. O filme também foi premiado como melhor direção em longa no Festival Mix da Diversidade, de 2019, em São Paulo.

Na mostra competitiva de longa metragem, destaque também para os ganhadores das categorias Melhor Roteiro, para o filme “Soldados da Borracha”, de Wolney Oliveira, e Melhor Filme pelo júri popular, para “Xadalu e o Jaguerê”, de Tiago Bortolini de Castro, que também ganhou menção honrosa junto com a produção colombiana “Homo botanicus”, de Guillermo Quintero.

Já na mostra competitiva de curta metragem, o prêmio de melhor filme pelo júri especializado foi para “Quentura”, de Mari Corrêa. A produção traz a perspectiva de mulheres indígenas sobre as mudanças climáticas e suas consequências no cotidiano.

”Uma pergunta me intrigava: ‘será que as indígenas teriam algo em especial para falar sobre as mudanças climáticas?’ As mulheres trazem a perspectiva da roça, elas são as cuidadoras do alimento da comunidade e têm conhecimento profundo sobre as plantas  e seus ciclos. O olhar sensível delas aponta para os impactos dessas mudanças na vida das populações”, explica a diretora, que é fundadora do Instituto Catitu, organização que fomenta a produção audiovisual como ferramenta de expressão para indígenas.

Nas outras categorias da premiação para curtas, como Melhor Roteiro para “Ferroada”, de Adriana Barbosa e Bruno Mello de Castro; e Menção honrosa para “A praga do cinema brasileiro”, de Zefel Coff e Wiliam Alves, filme que traz um recorte único do país retratado em diversos filmes brasileiros. Muito bom. Levou Melhor Filme pelo júri popular para “Ary y Yo”, da cineasta paraense Adriana de Faria, um curta documentário muito poético, narrado em primeira pessoa e que revela uma personagem inesperada para a diretora. 

As Amazonas do Cinema

O 1o Festival As Amazonas do Cinema recebeu mais de 50 inscrições e selecionou 21 filmes que concorreram nas categias de curta e longas. Na mostra competitiva de longa, a vitória foi para o filme “Fakir”, de Helena Ignez, que nos convida a mergulhar na vida e obra de artistas de origem circense, que extrapolaram os limites do corpo em apresentações que foram sucesso no Brasil, principalmente, na primeira metade do século XX. 

“Gostaria de parabenizar ao festival que traz este belíssimo nome, porque me sinto realmente assim, uma Amazona! É uma iniciativa de extrema importância diante de tantos retrocessos. Estimular um sentimento de identidade pan-amazônico, nesse momento de queima e destruição, mostra o valor deste festival”, considera Helena Ignez, um dos maiores nomes do cinema nacional.

Os demais prêmios da mostra de longas foram: Melhor Direção para “Currais”, de Sabina Colares e David Aguiar; Menção honrosa para “Duas Company Towns”, de Priscilla Brasil; Prêmio Especial do júri para “Portunõl”, de Thais Fernandes que também levou o prêmio de Melhor Filme pelo júri popular.

Na mostra competitiva de curtas, dois filmes de países vizinhos em destaque. O Melhor Filme para o júri especializado foi o colombiano “Até o fim do mundo”, de Margarita Rodrigues Weweli-Lukana e Juma Gitirana Tapuya Marruá; Melhor Roteiro para “Tesouro escondido do Equador”, de Kata Karáth e Ana Naomi de Sousa, do Equador; Menção honrosa para os filmes “Mulheres Xavantes coletoras de sementes”, de Daniele Bertollini, e “Opará – Morada dos ancestrais”, de Graciela Guarani.

Além de ganhar o prêmio de Menção Honrosa, a cineasta Graciela Guarani também esteve presente no festival com a oficina “Narrativas Originárias”. “A proposta foi de um bate-papo em que através da perspectiva e o olhar de cineastas de seus lugares de pertencimento, a gente pôde discutir as sensações por trás da construção das imagens, refletir e dialogar  sobre estes processos de criação”, explica a diretora, que nasceu na aldeia Jaguapiru, na reserva indígena de Dourados do Mato Grosso do Sul.

Curta Escolas mostra a juventude em debate

A mostra “Primeiro Olhar”, do 1º Festival Curta Escolas, trouxe para o festival a produção dos estudantes da rede pública. Após a realização de oficinas de formação, em parceria com o TF Cine Clube, o festival ajudou a realizar os curtas propostos pelos alunos. O resultado foram 11 vídeos de excelente qualidade, o que dificultou o trabalho do júri. 

O jovem Gabriel Fernandes, de 18 anos, é estudante da Escola Dom Calábria, de Marituba. Apaixonado por arte em geral, Gabriel levou para casa o prêmio de Melhor Filme com “Homem na roda”. Na produção, um grupo de jovens garotos da periferia se encontram para conversar sobre assuntos diversos, costurados entre temas como masculinidade, racismo e o lugar de resistência da periferia. “A ideia foi estimular a expressão nossa, como garotos. Falar dos nossos sentimentos para aprender a lidar com eles”, conta Gabriel.

"Famílias periféricas na pandemia”, de Marianna Kali e Renan Kauê, ganhou como Melhor Direção. Na produção dos alunos da escola Paes de Carvalho, eles trouxeram os impactos da pandemia no cotidiano de suas próprias famílias. “Foi uma ideia que surgiu bem em cima da hora, gravamos a rotina de nossas casas nessa quarentena durante um dia. Foi uma experiência linda, uma novidade em nossas vidas”, conta Marianna.

Também ganharam destaque as produções “E aí, pretinha?”, de Mederiá Brandão, Jéssica Paixão e Emanuelle Araújo (Melhor roteiro); “Levanta juventude”, de Henrique Lobato e Vinicius Silva (Melhor filme, júri popular), que também ganhou menção honrosa junto com “Seu Erádio”, de Vanessa Serrão e Rebeka Ferreira. Os filmes podem ser vistos pelo canal do youtube do Festival Amazônia Doc.

Troféus,  Prêmio Selo Ela e as conquistas da sexta edição

Não foi possível que os premiados estivessem presentes na cerimônia virtual, transmitida pelo canal de Youtube e que você, inclusive, pode acessar quando quiser. Mas eles receberão em mãos troféus como o que é confeccionado por um artesão do Marajó, Ronaldo Guedes, há dez anos, desde a fundação do festival. O trofeu da Mostra Primeiro Olhar é obra de outro do também artesão marajoara, Brendo Sampaio. 

E o trofeu Eneida de Moraes que será entregue às diretoras premiadas no 1o Festival As Amazonas do Cinema foi uma criação da designer de joias Bárbara Müller, à convite de Zienhe Castro, diretora do Amazônia Doc. Além do trofeu, um dos filmes também levou o prêmio Ela, da Elo Company, um selo de distribuição e fomento à produção cinematográfica independente. E o filme vencedor foi “Rosa Vênus”, de Marcela More.

O 6o Amazônia Doc realizou uma programação de 12 dias com mostras competitivas, oficina, masterclass, web encontros. Tudo de forma on-line, um desafio. Na cerimônia de premiação, a emoção pairava no ar. Zienhe Castro – diretora-geral, produtora e curadora do festival – trouxe os números desta edição. As mostras competitivas, dos três festivais, somaram 65 filmes, sendo mais de 50 deles inéditos, oriundos de cinco países da Pan-Amazônia. Contabilizou-se mais de 5 mil acessos às obras na plataforma streaming AmazôniaFlix. Os onze curtas selecionados para o Festival Curta Escolas foram transmitidos em TV aberta, com alcance para 104 municípios paraenses.

“Estes números são extraordinários para um festival como o nosso, que não é de cinema de entretenimento, mas de reflexão e debate. Foi muito desafiador realizar esta edição, fomos atravessados pela pandemia e precisamos nos reinventar, migramos para o mundo online e ainda agregamos mais festival ao Amazônia Doc. Cumprimos nossa missão com resiliência”, conta a diretora-geral. 

As ações de formação do festival trouxeram resultados positivos. As oficinas prévias do “Curta Escolas” alcançaram mais de cem alunos, além de duas oficinas especiais para os jovens selecionados pelo festival. Foram realizadas também duas oficinas, duas masterclass, um webinário e oito web-encontros, todos com lotação máxima de participantes.

Para Marco Antônio Moreira, um dos curadores do Amazônia Doc, todo este movimento que o festival propicia é fundamental para um novo olhar sobre o cinema amazônico. “O Amazônia Doc representa a nossa produção. Precisamos descobrir a Amazônia efetivamente, para poder revelá-la ao mundo. Não nos falta talento, o que nos falta é estrutura para produzir e distribuir. E o público tem papel fundamental nesse processo de fortalecimento do audiovisual amazônico”. A curadoria do festival recebeu mais de 300 filmes nesta edição.

Júri marcou presença virtual

A cerimônia de premiação também contou com as falas de alguns dos integrantes dos juris oficiais das mostras competitivas. Alguns estavam presentes, como da atriz Wellingta Macêdo, que selecionou os vencedores do 1o Curta Escola, como também Lilia Melo, professora e coordenadora do TF Cine Clube. “Esta iniciativa é uma revolução! Esta garotada está pegando as mazelas que poderiam destruí-los e as transformando em arte”, considera Lilia.

A atriz e produtora paraense Célia Maracajá; e a jornalista paulista Flávia Guerra (SP) enviaram vídeos, como ainda Anna Karina de Carvalho, jornalista. Todas do júri do 1o Festival As Amazonas do Cinema. Para elas, o trabalho de avaliação foi muito difícil. “Tínhamos produções de excelente qualidade, trazendo temáticas diversas. Parabenizo o festival por este recorte de amplas possibilidades”, Anna Karina. 

O cineasta Victor Lopes, do júri da mostra de longas da mostra Pan Amazônica do Amazônia Doc, é presença cativa, sendo um dos fundadores do festival. Para ele, o evento é um termômetro que aponta para bons rumos na produção amazônica. “Mais uma vez, o Amazônia Doc vem com produções de altíssimo nível, muito focado na produção amazônica, o que demonstra que mesmo em meio à um período de grandes dificuldades, nosso cinema está mais vivo do que nunca!".  

Foi realmente um festival desafiador e emocionante. É preciso reformar que a  realização do Festival Amazônia Doc 3 em 1 é do Instituto Culta da Amazônia, com a Correalização do Instituto Márcio Tuma; patrocínio da Equatorial Energia, por meio da Lei Semear de Incentivo à Cultura - Fundação Cultural do Pará - Governo do Pará. E a produção é da ZFilmes; com apoio cultural da Rede Cultura de Comunicação, Sebrae, Ufpa - Curso de Cinema e Estrela do Norte - Elo Company.

(Holofote Virtual com Luciana Medeiros e Luiza Soares)

25.9.20

Tapajazz começa em Belém no Waldemar Henrique

Noite de emoções sonoras e celebração na abertura do Tapajazz Mostra Belém, nesta última quinta-feira, 24, no Teatro Waldemar Henrique. É neste teatro histórico para a música paraense, além de um patrimônio cultural, que até sábado, 27, será realizado o evento, recebendo grandes nomes da música instrumental. Nesta sexta-feira, 25, estarão na live, Maurício Maestro, um dos fundadores do Grupo Boca Livre (RJ), Banda Silibrina, de São Paulo, e Sebastião Tapajós. O encerramento será com as apresentações de Toninho Horta e o grupo Jardim Percussivo.

Ontem (24), a programação prevista para iniciar às 19h30, sofreu um atraso por causa da queda do link de internet, retomado uma hora e mais um pouco depois, o que não deve se repetir neste segundo dia. O teatro está recebendo até 50 pessoas, menos que a metade de sua capacidade, por causa da pandemia e necessidade de distanciamento.

O público presente de ontem, mesmo com a demora, não arredou o pé. E enquanto a live não entrava no ar, o jornalista Tito Barata, convidado para apresentar as três noites do Tapajazz, cantou para os presentes uma música de Rui Barata, seu pai, em parceria com o irmão, Paulo André Barata; e em seguida, ele ainda convidou Márcia Yamada, diretora do teatro, a mostrar seu talento como cantora. O público aplaudiu.  

E o publico virtual, mesmo sem ver tudo isso, também aguardou e não se arrependeu. Finalmente a transmissão iniciou, pelo canal de Youtube, com retransmissão para a página de Facebook da Equatorial Energia, a patrocinadora máster do festival, e também pela página do projeto. 

Tito Barata nos conduziu por uma noite de encantos da música amazônica, ou jazz amazônico, caracterizado pelas misturas sonoras hispano americanas e africanas. O apresentador falou sobre a origem do festival, idealizado pelo produtor Guilherme Taré, em Alter do Chão, Santarém, e comentou sobre o “achado criativo” do nome do festival, Tapajazz, fazendo alusão ao rio e ao mesmo tempo à universalidade do jazz. Taré complementou que é também uma homenagem ao violonista Sebastião Tapajós, considerado o patrono do festival.

Logo em seguida, a entrada emocionada do Conexão Amazônia, direto de Macapá (AP), com Zé Miguel, Joãozinho Gomes e Enrico de Miceli. Os três artistas apresentaram canções com arranjos instrumentais que embalaram o público, sendo uma grande recepção nesta abertura. Os músicos  dialogam com as influências da rítmica que surge nessa fronteira do Amapá com a Guiana Francesa.

“Estamos felizes de estar aqui, estamos participando pela segunda vez do Festival e desta vez daqui do meio do mundo”, disse Zé Miguel ao lembrar que Macapá fica no meio da linha do Equador. “O Conexão Amazônia tem como proposta o intercâmbio entre músicos e compositores da Amazônia. Recebam nosso abraço em forma de canção”, acrescentou.

Enrico di Miceli lembrou dos tempos em que morou na capital paraense. “Morei em Belém há muito tempo. Aos 18 anos pisei no Teatro Waldemar Henrique, com o show Via Norte, depois com o Porta de Casa, o Norteando... Tenho muitas histórias”, disse ele olhando para Joãozinho Gomes, que respondeu: “Nós que somos conterrâneos, paraenses. Os anos 80 foi uma década marcante, e tudo dentro desse teatro”.

A próxima atração, Alan Gomes, també veio de Macapá, que també ressaltou a importância do Tapajazz como espaço para a música instrumental. “É uma honra poder participar desse festival de tamanha importância, mesmo sendo a distância. Que realmente tenham mais edições”.

O contrabaixista apresentou músicas de seu trabalho autoral. É cantor, compositor, músico atuante e está gravando o seu primeiro EP, intitulado “Vila Nova”, no qual exibe músicas instrumentais e canções, dando ênfase aos tambores de batuque e Marabaixo, que são à base da cultura amapaense.

A primeira noite do Tapajazz encerrou com o Tripa – Trio paraense, formado por Luiz Pardal (guitarra portuguesa, violino e harmônica), músico multi-instrumentista, diretor musical, compositor e arranjador; pelo compositor e arranjador  Jacinto Khawage (piano e violão) e pelo músico e produtor cultural Paulinho Assunção (percussão e bateria. 

Os três já se conhecem há mais de 30 anos e há mais de 15 anos resolveram formar o Trio, no qual trazem repertório de músicas autorais, músicos compositores, da música brasileira e grandes clássicos internacionais. 

Serviço

Mostra Belém Tapajazz segue nesta sexta, 25, e sábado, 26 de setembro, às 19h30, com transmissão direto do Teatro Waldemar Henrique, pelo YOUTUBE TAPAJAZZ – MOSTRA BELÉM e retransmissão pela página de Facebook da Equatorial Energia. Realização da Fábrica de Produções, patrocínio da Equatorial Energia, por meio da Lei Semear do Governo do Estado, e patrocínio da Alcoa. Apoio cultural da Casa do Saulo – Onze Janelas e deputado Igor Normando.

(Holofote Virtual com fotos de Sérgio Malcher)

Jambú Cósmico apresenta seu brega indie no 1o EP

Essa semana conheci a Jambu Cósmico, que acaba de lançar um EP, homônimo, com as músicas “Melô Cósmico”, “Lua do Meio Dia” e “Tão Quente”. O trabalho, gravado ao vivo para o festival online Moa, é marcado pelo estilo, chamado pela banda de “Brega Indie”,  um resultado repleto das referências musicais de seus integrantes.  

Formada por Arielly Jorge (vocal), Maêva Manuell (percussão e beats), Kamila Eduarda (produção e composição), André Araújo (bateria), João Cantão (baixista), Leonardo Silva (teclado), Luan Hermes (guitarra) e Jazz França (vocal), a banda surgiu em meados de 2019, incentivada pelo desejo de criar um novo estilo musical, que posteriormente chamou de brega indie, uma sonoridade que liga as principais referências do grupo na música. 

"Esse trabalho traz a responsabilidade de mostrar para o Pará toda a essência da Jambu Cósmico. O EP conta com três faixas: Melô Cósmico, Lua do Meio dia e Tão quente”, conta Arielly. Embora a banda seja toda de Belém, alguns dos integrantes possuem ligação com o interior do Pará, o que, para eles, influencia diretamente suas composições. A vocalista e o baterista, Jazz França e André Araújo, têm relação direta com o município de Curuçá. Arielly tem vínculo com Irituia.

“Passeamos pelo Tecnomelody, Tecnobrega, Cumbia, Salsa e Carimbó da nossa região, mas também trazemos influência da MPB, do Indie Rock e do Dream Pop. Todo esse ‘mix’ musical se converge e se torna algo que chamamos de "Brega Indie", e vamos sempre explorar as mais diversas sonoridades possíveis e assim estar trazendo um trabalho que abraçado por todos ao redor”, diz Maêva Manuell, que assume a percussão e os beats. 

As influências são diversas, passando por artistas locais, como Wanderley Andrade, grandes nomes da Música Popular Brasileira (MPB), como Gal Costa, e chegando até grupos internacionais, como Arctic Monkeys e até Lana Del Rey, mas um dos elementos que me chamou atenção foi o trabalho vocal. "Investimos nas vozes pra conseguir criar novas sonoridades", me explica Arielly. As composições são das vocalistas, em parceria com o guitarrista Luan Hermes. 

Produção artística e circulação em festivais

O grupo, mesmo novo no circuito cultural da cidade, já havia mostrado seu trabalho em alguns espaços, em Belém e Icoaraci, quando veio a pandemia. Eles voltaram a se apresentar recentemente, no Festival Moa de Música das Periferias, que reuniu 15 artistas do projeto, de forma online.

“Vindos desse cenário pandêmico, mal conseguimos reunir a banda toda. Quando isso aconteceu, foi direto para gravar as faixas de forma ao vivo, que seriam lançadas na live do Moa", diz Arielly. 

Para o próximo período, o grupo, que acaba de fechar uma parceria com a produtora Braçal Disco, mira nos grandes festivais locais e em programas de incentivo à cultura. A Jambu também procura fortalecer a cena musical independente, colaborando com outros artistas do Pará e do Brasil. “Estamos super ansiosos para que todo mundo nos ouça, pois assim que tudo melhorar iremos fazer os melhores shows de nossas vidas”, finaliza Kamilla.

“Ser um artista independente em 2020 é um desafio em qualquer canto desse país. E aqui no Norte temos de ralar ainda mais pois sofremos daquele mal de Alzheimer que atinge os grandes circuitos de incentivos culturais brasileiros ao esquecer que existem artistas nas terras daqui, onde a cultura é infinitamente rica, fazendo uma arte que agrega tudo o que é visto no ‘mainstream’ do país inteiro, mas sorte a nossa que temos atualmente grandes nomes levando a nossa cultura, como a Gaby Amarantos, Dona Onete, Jaloo entre tantos outros”, afirma João.

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Divulgação

22.9.20

Um olhar clínico e terno sobre o cinema do Pará

Vamos nos despedindo da 6a edição do Amazônia Doc. Nesta quarta-feira, 23, conheceremos os vencedores, mas não sem antes  conversar com Victor Lopes, integrante do júri deste ano, mas que viu festival nascer lá em 2009. Nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre os desafios de produzir na América Latina e nos chama atenção para as potências da cena audiovisual paraense. No currículo, 5 longas-metragens, 2 telefilmes, além de diversos curtas, campanhas publicitárias e programas para TV. Seus trabalhos no cinema somam 34 prêmios nacionais e internacionais. O filme “Serra Pelada”, porém, é ponto de partida que revela a forte ligação de Victor com o Pará. 

“Serra Pelada – A lenda da montanha do ouro” demorou mais de dez anos para ser produzido e lhe rendeu três prêmios internacionais. Foi o filme que mais o aproximou da região amazônica. O documentário conta a história da maior corrida de ouro do século XX, numa área localizada no sudeste paraense. “Foram onze anos de processo do ‘Serra’. Neste tempo estabeleci laços fortes com pessoas e também com o cinema paraense, após realização de oficinas no Estado e também trabalhos em conjunto com diretores e produtores locais”, conta o cineasta.

Entre outras produções destacam-se na carreira, "Vênus de Fogo”, ficção de média-metragem de 1992, que integrou uma campanha de prevenção a AIDS, e foi premiado no Brasil e Itália, e hoje integra o acervo do MOMA, de Nova Iorque. O curta-metragem “Bala Perdida”, de 2004, ganhou 20 premiações nacionais e internacionais, sendo pré-indicado ao Oscar naquele ano. O primeiro longa foi “Língua – vidas em português”, de 2003, um documentário sobre a língua portuguesa, exibido em 50 países e premiado no Brasil e em Portugal. Em 2012, ele dirigiu a comédia “As Aventuras de Agamenom, O Repórter”, que contou com a marca de 950 mil espectadores nas salas de exibição brasileiras. 

Na infância, vivida em Moçambique, sem acesso à TV, Victor Lopes viajava por mundos fantásticos através de filmes mudos e de faroeste, sendo um assíduo frequentador das salas de exibição. Daquele lapso de tempo em sua terra natal, à atualidade, após 30 anos morando no Brasil, muita coisa mudou. Mas a paixão pelo cinema não apenas permaneceu intacta como figura parte central de sua vida: Victor tornou-se um reconhecido diretor e roteirista, passeando por gêneros e formatos com muita propriedade. 

Holofote Virtual: Tua carreira é diversificada, mas tem forte presença do cinema documental. O que te motiva a fazer documentário? Como você escolhe as histórias dos seus filmes?

Victor Lopes: O interessante é que mesmo que minha produção documental seja expressiva, eu simplesmente adoro a ficção, inclusive minhas obras que tiveram mais repercussão foram as de ficção. O que me leva ao documentário é essa vivência do real, do contato com pessoas diversas, de lugares distintos. 

É um gênero irresistível, ele joga com o coração do mundo, muitas vezes no olho do furacão, e simplesmente eu não consigo me deter diante dessas possibilidades. Eu sou instigado pela aventura humana e se possível mesclada a um fundo histórico, e essa junção cai muito bem no gênero documentário. Os projetos em que me envolvo ou surgem de convites irrecusáveis ou então vem de algum interesse em particular meu, como é o caso dos longas “Língua” e “Serra Pelada”.

Holofote Virtual: O que te emociona em “Língua” e “Serra Pelada”?

Victor Lopes: Todos os projetos que fiz me emocionam de muitas maneiras e continuam me tocando até hoje. Meu trabalho é muito focado nas personagens, então isso me propicia uma vivência muito profunda com as pessoas que retrato em meus filmes. “Língua” é um longa que ainda é muito exibido. Me marcou muito a entrevista que fiz com o escritor José Saramago, um encontro belíssimo e que enriqueceu bastante minha pesquisa. Com “Serra Pelada” posso dizer que tenho uma relação quase mineral. Toda aquela realidade, a história de vida dos garimpeiros, na qual fiquei mergulhado por onze anos em processo de pesquisa e produção, faz parte da minha vida. 

Holofote Virtual: Você tem uma relação forte com o Pará. Você acompanha a produção cinematográfica paraense? Em sua opinião, como colaboramos com o cenário nacional de cinema?

Victor Lopes: Eu tenho, na verdade, uma relação profunda com Pará e com o audiovisual paraense, desde que comecei a pré-produção e pesquisa sobre Serra Pelada, em torno de 2005.  Eu já ministrei oficina no IAP, por exemplo, onde tive alunos que hoje fazem seus filmes, como os diretores Vitor Souza Lima e Fernando Segtowick, com as quais tive grande privilégio de conviver e espero ter somado com suas carreiras. Sou um ardoroso defensor do cinema paraense e sempre serei. O vejo como potencial não só para Brasil, como para o mundo. 

O Pará em si é um universo incrível e vemos os frutos aí. Como o filme “O reflexo do Lago”, de Segtowick, que este ano esteve no Festival Internacional de Cinema de Berlim, ele que agora está trabalhando em um projeto de ficção, que já estou ansioso para ver o resultado; a Jorane Castro, que é uma diretora incrível, com atuação política forte através da CONNE (Conexão Audiovisual Centro-Oeste, Norte e Nordeste); o Roger Elarrat, que a gente já trabalhou juntos, é uma turma muito interessante e que tem muito o que contribuir.

Holofote Virtual: Você transita pelo circuito mundial de cinema. Em sua opinião, quais são os maiores desafios e potências do cinema produzido no Brasil e na América Latina?

Victor Lopes: Estou sempre ligado nas questões do cinema latino americano, do qual faço parte com muita honra. Interessante perceber que os desafios e potências permanecem os mesmos através dos tempos. Como desafio, destaco a necessidade de criar uma indústria local mais consolidada. No Brasil, geramos para a economia entorno de 25 bilhões de reais e mais de 300 mil empregos. Ou seja, o audiovisual é parte importante da cultura do nosso país. 

A gente não pode ficar vivendo de mercados externos quando a gente tem tantas coisas pra viver aqui dentro do nosso território. Mesmo agora, com a popularização dos streamings, por exemplo, temos que ir além de catálogos de filmes estrangeiros e ter espaços voltados para a produção nacional, que é tão rica. Além disso, encaramos desafios que são  gerados com as próprias politicas de cinema, muito deficientes em diversos aspectos. Então, para fazer cinema, temos que passar por cima de muita coisa, e daí surge nossa potência. Essa nossa sede de continuar criando histórias e reinventando o cinema é nosso forte.

Holofote Virtual: Sobre o Amazônia Doc. Este ano você integrou o júri da mostra principal, mas já estavas presente lá no início do projeto. Como você enxerga a evolução do festival?

Victor Lopes: O Amazônia doc é uma iniciativa essencial, por que fomenta produção local e uma identidade audiovisual muito direta com a floresta em si.  Desde que fui curador lá na primeira versão, a convite de Zienhe Castro (diretora geral do Festival), fiquei honrado.  Essa noção da Pan-Amazonia e unir os países em torno da floresta e esse chamado vir de Belém é algo vital e raro, por isso precioso. Fico tão feliz com a continuidade do festival e essa permanência que ele conseguiu alcançar. 

Quando a gente lembra das duas primeiras edições, em que juntamos produtores de cinema que tão poucas vezes puderam se unir, me vem à cabeça lindas memórias. Encontros com cineastas como Humberto Ríos (Argentina), Marta Rodríguez (Colômbia), Silvio Tendler (Brasil)... Esse espaço de encontro, da gente ter uma reflexão do cinema produzido a partir da cultura amazônica é fundamental. Torço para que esta permanência se confirme a cada edição, pois é um espaço de reflexão sobre a Amazônia que o mundo não pode perder.

Holofote Virtual: Tens trabalhado em algum projeto? Conta pra gente o que vem por aí.

Victor Lopes: Estou trabalhando bastante, mesmo nesse momento delicado para o cinema exatamente quando vínhamos numa crescente, afinal, nunca tínhamos produzido tanto como nas ultimas duas décadas. Mas, sei que nada nos deterá. Então tenho me dedicado a alguns projetos. Um não posso revelar muitos detalhes ainda, mas adianto que é um documentário musical com elementos de ficção científica, sobre um certo Brasil e um certo mundo atemporal. Aguardem! (risos).

Em paralelo, estou preparando um filme sobre as viagens do Mário de Andrade na época em que escreveu “Macunaíma”. É uma obra baseada em seu livro “O Turista aprendiz”, em que ele conta uma experiência de viagem dele na década de 20, uma para Amazônia e outra para o Nordeste brasileiro, trazem essa descoberta do Brasil profundo de Mário. 

Tem também uma ficção que está em processo, feita a partir de um prêmio da Ancine, que é ambientada no Pará, inclusive. É uma história que me leva de volta à Serra Pelada, falando deste lugar nos dias de hoje, uma produção que mistura mineração, tecnobrega, disputas de terra. Um drama social com ação no meio. É um projeto instigante e que me une mais uma vez a este estado, já indissociável de minha história.

Serviço

O 6º Amazônia Doc – Festival Pan Amazônico de Cinema encerra nesta quarta-feira, 23, com o anúncio dos filmes vencedores deste ano em três mostras competitivas. Realização:  Instituto Culta da Amazônia; Co-realizacão: Instituto Márcio Tuma; Patrocínio: Equatorial Energia, por meio da Lei Semear de Incentivo à Cultura - Fundação Cultural do Pará - Governo do Pará. A produção é da ZFilmes; e apoio cultural do Sebrae e da Rede Cultura de Comunicação; Ufpa - Curso de Cinema e Estrela do Norte - Elo Company. Mais informações: www.amazoniadoc.com.br

Holofote Virtual

  • Entrevista: Luiza Soares 
  • Edição: Luciana Medeiros

21.9.20

Amazônia Doc anuncia vencedores esta semana

A mostra “Primeiro Olhar” exibiu 11 curtas, abrindo um espaço especial para a produção audiovisual de jovens estudantes da rede pública de ensino. Já o 1º Festival As Amazonas reuniu 21 filmes dirigidos e roteirizados por mulheres. Enquanto isso, o Amazônia Doc, que recebeu cerca de 300 inscrições, este ano, exibiu 33 títulos. 12 dias de programação, três mostras competitivas. Os vencedores do 6o Amazônia Doc 3 em 1 serão conhecidos nesta quarta-feira, 23, em  evento on-line, que será transmitido, a partir das 19h, pelo canal do Youtube do Amazônia Doc, com retransmissão pela conta do Facebook da Equatorial Energia. 

Estes mais de 30 filmes exibidos na mostra principal trouxeram, entre curtas, longas e médias metragens conversaram sobre as diversas realidades que cabem no Brasil e em países como Colômbia, Peru e Guiana Francesa.  No curta metragem “Mãe Céu”, o diretor peruano Alberto Flores Vílca, por exemplo, passa a documentar as águas da estação pela janela da casa de sua mãe, Honorata Vílca, uma analfabeta de descendência quíchua que vive no altiplano peruano. E ali, entende o que deveria fazer.

“Sempre quis fazer um filme sobre minha mãe, mas não encontrava a forma nem o momento. Um dia, a captei embaixo da chuva, aí encontrei o que procurava. Apesar do governo peruano ostentar números que indicam melhorias, vemos realidades como a da minha mãe, que não frequentou escola e vive da venda de doces. Na verdade, os problemas de 50 anos atrás seguem vigentes e imóveis como pedras”, nos conta o diretor, que este ano foi selecionado para a “Berlinale Talents”, no 70º Festival Internacional de Berlim, na Alemanha.

Já no longa-metragem “Amoka”, da cineasta María José Bermudez Jurado, somos conduzidos à Peña Roja, uma comunidade tradicional no interior da Colômbia que vive os conflitos do minério.  Quem nos leva até lá é o jovem Elvis Matapi, protagonista do documentário. Um retorno às origens após anos vivendo em Bogotá, capital do país.

“Elvis vai à Peña Roja para participar de um ritual de morte do seu pai, Daniel Matapi, que era uma importante liderança indígena. Através do retorno dele,  ‘Amoka’ propõe a reflexão sobre as perdas culturais e os problemas socioeconômicos pelos quais estes povos passam”, diz a diretora. “É profundamente importante conservar o conhecimento tradicional, mesmo que seja inevitável sua transformação. O cinema tem esse papel, de documentar e transmitir essas memórias”, completa.

Os filmes brasileiros Amazônia Sociedade Anônima (RJ) e Xadalu e o Jaguarete (SC), como também o colombiano Nasa Yuwe, entre outros, também trazem ao festival memórias e processos de luta de povos tradicionais que habitam este poderoso bioma.

Pan Amazônia e ancestralidade

Outras nuances dos países que integram a Pan-amazônia também emergem na mostra principal. Como é o caso da força da ancestralidade nos processos de formação das identidades. Um exemplo é o curta “Filhas de Lavadeiras” (DF), de Edileuza Penha de Souza.

“Meu filme reverência e dialoga com o livro ‘As Filhas de Lavadeiras’, de Maria Helena Vargas. É uma homenagem a ela, que tem uma história como a minha e de minha mãe Laura, também lavadeira, e de outras tantas mulheres que conseguiram romper com essa ‘predestinação’ que insiste em nos colocar em um lugar de subserviência. E foram nossas mães que lutaram para mudar nossos destinos”, nos conta Edileuza, que também é a organizadora da coleção de livros “Negritude, cinema e educação” (2003). 

Na mostra,  “Ruído Branco” (SP) e “A morte branca do Feiticeiro Negro” (SC), também tecem nuances da história e resistência afro-brasileira. Lá do pequeno distrito baiano Arraial D’Ajuda, mais exatamente da Aldeia Velha, vem a história de Jaçanã, pajé e parteira de sua comunidade. O curta, intitulado com o nome da protagonista, foi dirigido por um grupo de três mulheres, uma delas é a fotógrafa paraense Yasmin Alves. 

“Jaçanã é uma força na Aldeia Velha, uma comunidade que foi devastada por vários processos de colonização, mas vem ganhando fôlego por meio da união e da escola local, que faz um trabalho incrível de diálogo entre conhecimentos ancestrais e o mundo. 

Entre ervas, rezos e conselhos, esta entidade em forma de mulher é uma das cuidadoras desse saber tradicional e vale muito a pena conhecer esta história”, conta Yasmin, que atualmente empreende o estúdio fotográfico “Casa Tajá”, em Belém. Também costuram poesia e história por meio de narrativas de resistências, os filmes “O mestre da farinha” (MG) e “Hmong de Javouhey” (Guiana Francesa). 

Cinema para transformar

Assim como todas as expressões artísticas, o cinema é um termômetro que mede inquietações, anseios e comportamentos sociais vigentes. Na mostra principal do Amazônia Doc, vários filmes trazem perspectivas pessoais que passeiam por temas atuais com sensibilidade. 

“Preciso dizer que te amo”, curta-metragem do diretor Ariel Nobre, parte da performance e deságua numa produção cinematográfica pessoal e repleta de poesia, mas que acusa um grande problema social: a alta incidência de suicídios entre pessoas transgêneros.

“Quando me assumi homem, em 2014, minha vida deu uma reviravolta e me deparei com a realidade que pessoas  trans enfrentam: a violência diária, a falta de perspectiva na vida pessoal e profissional. É tudo tão desanimador que num momento de desespero absoluto decidi pelo pior, mas esta frase, ‘preciso dizer que te amo’,  me salvou”, conta Ariel. 

A frase, escrita pela primeira vez em uma carta que seria de despedida para uma amiga, virou uma intervenção poética, um culto a vida, sendo reproduzida na pele de pessoas e em muros. “Já escrevi esta frase mais de dez mil vezes. A potência foi tanta que virou uma campanha contra o suicídio de pessoas trans. O filme é mais um desdobramento performático deste trabalho. Precisamos, na verdade, dizer a nós mesmos o quanto nos amamos”, reflete. 

“Um passo importante para nossa afirmação é deixarmos de ser vistos como um ‘tema’. Somos pessoas, e totalmente capazes de contar nossa própria história”, conclui. O longa “Transamazônia” (PA) e os curtas “Maria Luiza” (DF) e “Homens Invisíveis” (RJ) também são protagonizados por pessoas trans.

Pontos de partida

De modo geral, no Amazônia Doc podemos ver produções que trazem diversos pontos de partida. Com uma perspectiva mais política, a mostra exibe “Copacabana Madureira”(RJ), “A praga do cinema brasileiro” (DF) e, entre outros, a produção paraense “Jaburu”, de Chico Carneiro, que discorre sobre as dificuldades que professores enfrentam para exercer o ofício em uma comunidade ribeirinha do Estado. 

Já os filmes “Ary y yo” (PA) e “À beira do planeta mainha soprou a gente” (BA) partem de um olhar mais pessoal e biográfico. Ou seja, é cinema para todos os gostos.

O 6º Amazônia Doc este ano traz mais dois festivais, o 1º As Amazonas do Cinema e o 1º Curta Escolas. A realização é do Instituto Culta da Amazônia, com a Correalização do Instituto Márcio Tuma; patrocínio da Equatorial Energia, por meio da Lei Semear de Incentivo à Cultura - Fundação Cultural do Pará - Governo do Pará. A produção é da ZFilmes; com apoio do Sebrae-PA; Rede Cultura de Comunicação; Ufpa - Curso de Cinema e Estrela do Norte - Elo Company.

Serviço

Os filmes das mostra competitivas do 6º Amazônia Doc foram exibidos gratuitamente, no site www.amazoniaflix.com.br. Acesse, cadastre-se e veja os conteúdos oferecidos pela plataforma.

(Holofote Virtual, com texto de Luiza Soares e edição de Luciana Medeiros)

20.9.20

7ª edição do Tapajazz traz sua 1a Mostra a Belém

Para quem curte música instrumental, na próxima semana tem uma agenda imperdível. Em sua 7ª edição, o Tapajazz, festival que tem origem em Santarém, município do Baixo Amazonas, no Oeste paraense, realiza sua 1ª Mostra Belém nos dias 24, 25 e 26 de setembro, em formato on-line, com transmissão a partir das 19h30, direto do Teatro Waldemar Henrique, pelo canal de Youtube do festival e retransmissão pela página de Facebook da Equatorial Energia.

A programação traz oito shows, em três dias, envolvendo mais de 20 músicos, de cinco estados brasileiros. Participam do Tapajazz – Mostra Belém, os músicos Joãozinho Gomes, Enrico Miceli e Zé Miguel, do grupo Conexão Amazônia (AP), Alan Gomes (AP), a banda Silibrina (SP), Toninho Horta (MG), Trio Paraense - Tripa, formado por Luiz Pardal, Jacinto Kahwage e Paulinho Assunção (PA), Grupo Jardim Percussivo (PA) e Maurício Maestro (RJ), além de Sebastião Tapajós (PA). 

Primeiro festival de jazz do interior amazônico e um dos quatro do gênero na nossa região, o tapajazz acontece mais especificamente, em Alter do Chão, um dos mais visados destinos turísticos do Estado. O balneário é situado a poucos quilômetros de Santarém, cidade que possui uma forte tradição musical. É onde vive o violonista Sebastião Tapajós, nascido em Alenquer; e onde nasceu o saudoso Masetro Izoca. Hoje, com 300 mil habitantes, o município possui uma orquestra sinfônica e investe no ensino superior de música também.

“Já vivi profissionalmente de música, como instrumentista, fora do país. Quando retornei, percebi que, embora em minha cidade haja uma larga tradição de música instrumental, faltava um contato maior dos nossos músicos com esse gênero produzido também no resto do país. Isso me motivou a realizar o Tapajazz, como forma de preencher esta lacuna. Em 2020, estamos ampliando nosso intercâmbio”, diz Taré.

O produtor, com experiência de mais de três décadas na área, resolveu inovar e trazer para para a capital paraense uma mostra do festival, reunindo grandes nomes da música instrumental brasileira que, em maioria, já vem se apresentando nas edições realizadas em Santarém. A realização do projeto é da Fábrica de Produções, com patrocínio da Equatorial Energia e Alcoa, via Lei Semear, do Governo do Estado, e Alcoa, com apoio cultural da Casa do Saulo – Onze Janelas e deputado Igor Normando. 

Intercâmbio artístico e formação de plateia 

E a ideia de trazer uma mostra do Tapajazz a Belém é exatamente esta de contribuir para esta troca de informação e conteúdos, além de estimular a circulação de artistas locais e nacionais entre as duas cidades, gerando ainda oportunidades de trabalho para profissionais da área, além, claro, de promover a linguagem e formar novas plateias para a música instrumental na região. 

Os compositores Zé Miguel (foto), Enrico Di Miceli e Joãozinho Gomes, que formam o Conexão Amazônia, trazem para o evento a sonoridade que nasce no mundo amazônico do batuque e do marabaixo do Amapá. São três artistas que dialogam com as influências dos rítmica e imagética dessa fronteira com a Guiana Francesa e os sons da floresta. 

“Nossa expectativa assim como a de meus parceiros é de grande alegria em participarmos mais uma vez do Tapajazz, (mesmo que em formato de Live) e de fazermos nessa edição, que pela primeira vez será realizada em Belém, como mostra especial, uma apresentação do jeito que o Tapajazz merece.  Daqui do Amapá, nos conectaremos a este belo festival, e através dele, cantar e tocar nossas canções para um público que tem a música como necessidade essencial. A música que fazemos aqui consegue ser vista, ouvida e apreciada por grandes mestres da música planetária, e sem dúvida passa a reverberar em alto e bom som pelo mundo afora”, dizem Enrico di Miceli e Joãozinho Gomes.

Já Alan Gomes, que também vem de Macapá, se destaca como cantor, compositor e músico, atuante em bandas como “Os Sem Nomes”, “Casa Nova”, “Banda Zeta”, “Banda Placa” e “Banda Yes Banana”, essas duas últimas citadas, ainda faz parte e com trabalhos bastante distintos. Como Sadman atuou com todos os principais nomes da música Amapaense. 

Atualmente, ele trabalha na gravação do seu primeiro E.P. intitulado “Vila Nova”, no qual evidenciará tanto o instrumental como também sua atuação como cantor e compositor, um trabalho que terá como base os ritmos da cultura da Amazônia, dando ênfase nos tambores de batuque e marabaixo, que são à base da cultura amapaense.

O Trio Paraense – Tripa – traz três grande músicos instrumentistas, Luiz Pardal (multi instrumentista), Paulinho Assunção (percussão) e Jacinto Kahwage (teclado), que além de amigos resolveram também tocar juntos, a partir de diversas afinidades musicais. “O que nos une é uma grande amizade, de uns 30 anos, e de Tripa, mais de 15 anos. Tocamos o que gostamos e isso faz muita diferença”, diz Paulinho Assunção.

No repertório o grupo traz composições autorais, de outros músicos paraense além de clássicos da música instrumental brasileira e internacional. Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, Vila Lobos, Pixinguinha, Jacob do Bandolim, além e Waldemar Henrique estão nos shows que eles realizam em diversos eventos. Tango, Fado, Pop transitam em suas apresentações, que também trazem carimbó, retumbão, choro samba e salsa.

“Vamos mostrar uma parte de tudo isso no show do Tapajazz. Vamos coisas autorais do Pardal e do Jacinto, além de outras que merecem ser mostradas.  Esse é um projeto importante que já se estruturou no cenário da música instrumental na Amazônia, e no qual é uma participar”, diz o percussionista.

2o dia traz mais três grandes atrações

No segundo dia, o público vai conferir o trabalho do músico contrabaixista Maurício Maestro (foto), que nasceu no Rio de Janeiro e começou sua carreira profissional integrando o grupo vocal Momentoquatro, juntamente com David Tygel, Zé Rodrix e Ricardo Vilas, grupo que acompanhou Edu Lobo em 1967 na apresentação de "Ponteio", no Festival da Rede Record. Arranjador do sucesso, entre outras coisas em sua trajetória, de 1975 a 1977, atuou em dupla com a cantora e compositora Joyce. Em 1978 fundou o conjunto Boca Livre juntamente com David Tygel, Zé Renato e Claudio Nucci. 

Sebastião Tapajós dispensa maiores apresentações. É um dos nomes consagrados da música instrumental no mundo. Violonista e compositor brasileiro, nascido em Alenquer-PA, ainda pequeno mudou-se para Santarém, onde começou a estudar violão. Em 1964 foi estudar na Europa e formou-se pelo Conservatório Nacional de Música de Lisboa, em Portugal. 

Na Espanha, estudou guitarra com Emilio Pujol e cursou o Instituto de Cultura Hispânica.  Ao longo de sua carreira, o artista já tocou com nomes conhecidos da MPB como Hermeto Pascoal, Jane Duboc, Zimbo Trio, Waldir Azevedo, Paulo Moura, Sivuca, Maurício Einhorn e Joel do Bandolim, e internacionais, como Gerry Mulligan, Astor Piazzolla, Oscar Peterson e Paquito D’Rivera. 

Já a banda Silibrina com dois discos lançados, O Raio (2017) e Estandarte (2019), reúne sete instrumentistas, tendo como líder Gabriel Nóbrega – filho do multiartista pernambucano Antonio Nóbrega. O grupo abusa do piano, baixo, guitarra e metais que se juntam a instrumentos de percussão muito presentes na música popular do Brasil, como o caracaxá, ganzá, timbal, alfaia, gonguê e o pandeiro. O resultado leva o público a uma nova leitura das possibilidades musicais, que chega aos ouvidos de uma forma elegante e ao mesmo tempo eletrizante.

Toninho Horta e Jardim Percussivo encerram a mostra

A programação vai encerrar com duas grandes atrações. O guitarrista compositor, instrumentista, cantor, arranjador e produtor Toninho Horta chega em meio às comemorações de seus 50 anos de carreira. O músico mineiro, autor de músicas que já fazem parte da história da música brasileira, já teve dois  álbuns indicados ao Latin Grammy e está entre os 74 guitarristas mais representativos do mundo. É outro nome que dispensa maiores apresentações e que já esteve diversas vezes em Belém, com shows próprios. 

A noite conta ainda com o grupo Jardim Percussivo, que tem a frente o músico percussionista Márcio Jardim, e que reúne ainda Edgar Matos (teclados), Wesley Jardim (baixo), Willian Jardim (guitarra) e Marcelino Santos (percussão). No Tapajazz eles apresentam um show autoral, que busca manter a sonoridade de instrumentos percussivos, trazendo, além de ritmos, a melodia, para fazer uma ligação entre a mãe África e o pulmão do mundo, a Amazônia.

PROGRAME-SE

Canal de Youtube | Facebook Equatorial Energia. 

Saiba quem entra na live de Belém. Sempre às 19h30.

QUINTA-FEIRA | Dia 24 de setembro 

Grupo de Conexão

De Macapá (AP).

Alan Gomes

De Macapá (AP)

Tripa - Trio Paraense 

Em Belém

SEXTA-FEIRA | Dia 25 de setembro

Maurício Maestro (RJ) e Sebastião Tapajós (PA)

Em Belém (PA).

Banda Silibrina

De São Paulo (SP).

SÁBADO | Dia 26 de setembro

Jardim Percussivo e Toninho Horta

Em Belém

Serviço

Mostra Belém Tapajazz. Nos días 24, 25 e 26 de setembro, às 19h30, com transmissão direto do Teatro Waldemar Henrique, pelo canal de Youtube do festival e retransmissão pela página de Facebook da Equatorial Energia.  Realização da Fábrica de Produções, patrocínio da Equatorial Energia, por meio da Lei Semear do Governo do Estado, e patrocínio da Alcoa. Apoio cultural da Casa do Saulo – Onze Janelas e deputado Igor Normando. 

18.9.20

Amazônia Doc: “As Mulheres na Crítica de Cinema"

O 6º Amazônia Doc segue sua programação on-line até dia 23 de setembro. Neste sábado, 19, além das mostras competitivas que podem ser acessadas na plataforma de streaming AmazôniaFlix, será realizado o Webinário “As Mulheres na Crítica de Cinema”. O bate papo começa às 18h, mas para participar é preciso fazer sua inscrição pelo site  do Amazônia Doc (40 vagas).

Será um bate com profissionais da crítica de cinema, com forte atuação na imprensa e na academia com o intuito de trocar percepções sobre a representação de raça, gênero e as possibilidades de atuação profissional no âmbito da crítica. A mediação é de Lorenna Montenegro, jornalista e crítica de cinema paraense e coordenadora do 1o Festival As Amazonas do Cinema, que este ano integra o Amazônia Doc.

“Vou apresentar um breve histórico das Elviras, nosso coletivo de mulheres críticas de cinema. E esperamos a intensa participação dos inscritos, com perguntas e intervenções”, diz Lorenna Montenegro, crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo, com mais de 18 anos de atuação na área.

Cecília Barroso (DF) é jornalista cultural e crítica de cinema; e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.  

Flávia Guerra (SP), além de jornalista é também documentarista e curadora de cinema.produziu  e dirigiu Karl Max Way (premiado no Festival É Tudo Verdade 2010); foi co produtora e assistente de direção de O Caminhão do Meu Pai (pré-finalista ao Oscar 2015).

Flávia (foto de abertura) integrou a equipe de Marcha da Vida, da nomeada ao Oscar Jessica Sanders; roteirizou e narrou a série Brasil Visto do Céu.  Foi pesquisadora e roteirista de Em Busca da Cerveja Perfeita (2019), de Heitor Dhalia. É co diretora de Poemaria (www.poemaria.com.br).  Atualmente, desenvolve o documentário Notícias Populares - Muito Além da Verdade.

Também participa do bate papo Kênia Freitas (ES), professora, crítica e curadora de cinema, com pesquisa sobre Afrofuturismo e o Cinema Negro. Doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ. Realizou a curadoria das mostras "Afrofuturismo: cinema e música em uma diáspora intergaláctica", "A Magia da Mulher Negra" e "Diretoras Negras no Cinema brasileiro". Escreve críticas para o site Multiplot! Integra o Elviras - Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.

A realização do Amazônia Doc 2020 é do Instituto Culta da Amazônia, com a Correalização do Instituto Márcio Tuma; patrocínio da Equatorial Energia, por meio da Lei Semear de Incentivo à Cultura - Fundação Cultural do Pará Governo do Pará. A produção é da ZFilmes; apoio cultural do Sebrae-Pa, Rede Cultura de Comunicação; Ufpa - Curso de Cinema e Estrela do Norte - Elo Company.

Serviço

1o Festival As Amazonas do Cinema - 6o Amazônia Doc

Webinário “Mulheres na Crítica de Cinema”

Neste sábado, 19, às 18h. 

Inscrições: http://bit.ly/WebCritica. 

Mais informações: www.amazoniadoc.com.br