31.7.18

Revista Circular lança 4a edição na versão digital

Foto de capa: menino Warao, por Cláudio Ferreira
Há duas semanas que lançamos, mas só agora estou encontrando um tempo para esta postagem. Neste finalzinho de julho, chegou a sua plataforma digital, a revista numero 3, a quarta edição da Revista Circular. Em suas páginas estão conteúdos pertinentes ao território de atuação do Circular Campina Cidade Velha, projeto que chega neste próximo domingo, dia 5 de agosto, a sua 23a edição, com uma programação emocionante, já está disponível no site (www.projetocircular,com.br). 

A primeira edição da revista, que chamamos de número zero, surgiu em 2016, como um projeto piloto, que ganhou continuidade. Em 2017 lançamos outros dois números (1 e 2), ainda sem nenhum recurso, apenas pela certeza de ser este um veículo de voz para as pessoas e as questões do centro histórico de Belém. Evoluímos e em 2018, finalmente o planejamento da revista também entrou no orçamento do projeto, aprovado pela Lei Rouanet e patrocinado com recursos do edital do Banco da Amazônia. Como não foi integral o sonho da edição impressa segue adiante, mas já foi possível trabalhar de forma mais aprofundada. 

A edição de número 3 da Revista Circular  traz novidades no tratamento visual, assinadas pelo designer gráfico Márcio Alvarenga. Incluímos novas sessões que facilitam a compreensão dos leitores, além de reportagens, entrevista e artigo, que contaram com o luxuoso talento da jornalista Camila Barros, do diretor de arte e produtor cultural Marco Tuma e ainda da pesquisadora e professora de arte Renata Aguiar. Não posso esquecer também de agradecer às revisoras de plantão Yorranna Oliveira e Makiko Akao, companheiras do Circular Campina Cidade Velha, e a todos que deram e viabilizaram as entrevistas, ou facilitaram acesso a informações.

Reitor Emmanuel Tourinho com a equipe do Lacore/UFPA
Foto: Otávio Henriques
Na capa, destacamos a imagem que traduz em parte, a situação dos indígenas da etnia Warao que estão presentes, há um ano, no cotidiano dos bairros da Campina e Cidade Velha. A jornalista Camila Barros, convidada a escrever sobre a questão, topou o desafio. Uma das gestoras do Colab – Espaço Autoral, situado na mesma rua que o abrigo dos Warao, na Trav. Campos Sales, ela convive com a situação sem passar indiferente a eles no dia a dia. São mulheres, homens, crianças e adolescentes, que não pensam em voltar para seu país, a Venezuela, mesmo que as dificuldades sejam enormes por aqui. 

Outro assunto da publicação é o 1º Fórum Circular, que será realizado em setembro. A ideia é reunir moradores e representantes da administração pública municipal, estadual e federal, sociedade civil e empresariado, dispostos a colocar na mesa problemas e propostas de soluções para questões urgentes e diretamente ao centro histórico de Belém. As inscrições abrem em agosto, com vagas limitadas.

Nas páginas seguintes trazemos uma ampla reportagem sobre o processo de instalação da UFPA no monumental prédio Convento dos Mercedários. Na entrevista especial, o reitor Emmanuel Tourinho conta os detalhes sobre a implantação dos cursos de preservação e restauro que aproximarão a universidade da comunidade e realidade do centro histórico. 

Abel Lins, estreia do Perfil Circular - Foto: Otávio Henriques
As pesquisadoras Thais Sanjad, Roseane Norat e Flávia Palácios, que coordenam o Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação (Lacore), dizem que neste segundo semestre já iniciam a mudança do campus para o bairro da Campina. O prédio dos Mercedários é ainda o tema do Ensaio Fotográfico desta edição, assinado por Paula Sampaio, que nos leva por viagem no tempo. 

Na sessão Perfil, uma conversa franca com Abel Lins, integrante da Rede Sereia, formada por moradores da Cidade Velha. A missão de decifrá-lo coube a Marco Tuma, diretor de arte e gestor da Casa Velha 226, situada no mesmo bairro. Convidado a escrever para esta edição da revista, Tuma também narrou num estilo literário próprio, o estado de descaso e beleza na história do Palacete Pinho, tema da sessão Crônica da Cidade. 

Na sessão Memórias, Arquitetura e História destacamos um sobrado azul do séc. XIX redescoberto por causa de uma pesquisa histórica realizada pela prefeitura de Belém, a fim de compor o documento de “Identificação e Conhecimento do Bem”, estregue ao IPHAN, e necessário para que se aprove o projeto de execução de restauro do prédio, que tem recursos do Programa de Aceleração das Cidades históricas, anunciados ainda em 2013.

A sede da Fumbel, a espera do restauro (Foto: Cláudio Ferreira)
O Coletivo BEC Bloco, que atua no campo da cultura interagindo com pessoas em situações de sócio vulnerabilidade, é o tema da sessão Iniciativas. A pesquisadora e professora de arte, Renata Aguiar aborda em seu artigo as iniciativas culturais independentes, que estão na contramão do discurso midiático. E para fechar mais este número, trazemos uma galeria de fotografias de momentos vividos nas edições de circulação do Projeto Circular. Os flagrantes são dos fotógrafos Otávio Henriques e Cláudio Ferreira.

Espero que vocês curtam a leitura, mandem sugestões e críticas porque a gente quer melhorar. O próximo número muito provavelmente eu me arrisco a dar esta noticia aqui, sairá também impresso, tendo como conteúdo os principais eixos temáticos do Fórum Circular, onde será feito, na abertura,o lançamento. Ano passado beiramos à primeira edição impressa, mas o patrocinador em potencial, acabou declinando da ideia. Tudo bem, cada coisa a sua hora.

REVISTA CIRCULAR

EDIÇÃO
Luciana Medeiros

DESIGN
Márcio Alvarenga

FOTOGRAFIA
Cláudio Ferreira
Otávio Henriques

REVISÃO
Yorranna Oliveira
Makiko Akao (colaboração)

TEXTOS
Camila Barros
Luciana Medeiros
Marco Tuma
Renata Aguiar

CONSELHO EDITORIAL
Alberto Bitar
Makiko Akao
Maria Dorotéa de Lima
Regina Alves
Tamara Saré

CIRCULAR

Revista Circular 
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Site
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30.7.18

O Grande Show: das telas para os palcos de Belém

Fotos: Marcelo Lobo
Um grande show está pronto para ser lançado à platéia, é só entrar. Contando a história do empresário P.T Barnum e o surgimento do show business, a primeira temporada de O Grande Show será realizada nos dias 9, 10 e 11 de agosto no Teatro Margarida Schivasappa. O espetáculo vem para fortalecer a cultura da produção de teatro musical  na Amazônia e é uma opção de qualidade no segmento. 

Produzido pelo coletivo Mirabolante Maquinário de Teatro, com direção de Erllon Viegas e Luiza Imbiriba, "O Grande Show" é uma iniciativa de fôlego e beleza visual, e conta com um grande elenco, que está em preparação desde o início do ano.

O espetáculo conta a história de P.T Barnum, o americano que ficou conhecido, em meados do século 19, por ser o fundador do circo e o primeiro milionário do que viria a se chamar show business. Ele era um visionário, mas fez fama e fortuna fraudando o público. A história ganhou as telas do mundo inteiro e no Pará, ganha também os palcos em uma livre adaptação Barnum conheceu na infância, Charity, que viria a ser sua companheira para toda a vida. Nessa época, ele já se mostrava um grande artista com a ambição de construir um grande show. Tornou-se adulto e formou sua família, que lhe deu apoio para criar um circo com atrações peculiares.

Mulheres barbadas, pessoas muito altas ou muito baixas, gêmeos siameses, trapezistas, contorcionistas e uma infinidade de pessoas com inúmeros talentos ou peculiaridades formam as atrações do circo de Barnum. Ele, em meio a muitas controvérsias, se torna um grande sucesso na cidade. Mas o destino do circo se vê ameaçado após algumas escolhas de Barnum e somente sobreviverá com a união destas pessoas extraordinárias.

Na dramaturgia, Barnum é um sonhador de origem pobre, com um conhecido carisma, canto agradável e boa dança. Charity é a filha do patrão de seu pai, com quem tem dois filhos e a dificuldade de criar uma família em uma carreira instável nas artes. Mantendo o sonho de um empreendimento artístico, ele dá o pontapé inicial na realização de seu maior desejo abrindo uma espécie de museu de curiosidades, que logo fracassa.

A situação se complica até ele ter a ideia de um show que mudaria suas vidas com pessoas, digamos, talentosamente peculiares: uma mulher barbada, um anão, trapezistas, atores, cantores, artistas de múltiplos talentos e pessoas socialmente rejeitadas de todos os tipos. O show é um sucesso, a despeito das críticas que recebe, e cresce com a ajuda do jovem Phillip Carlyle, um jovem da alta sociedade que eleva a administração do show a outro patamar.

Já reconhecidamente um empresário de sucesso, Barnum segue uma carreira brilhante, agenciando turnês de outros artistas pelo país, se dedicando cada vez mais ao trabalho e cada vez menos a sua família, até que uma tragédia acontece e destrói o circo. É preciso recomeçar do zero. É hora de levantar a lona e mostrar o que sabe fazer de melhor: um grande show!


A dança e o canto como desafios da encenação

Esse é o enredo do musical dirigido por Erllon Viegas e Luiza Imbiriba,  que encararam o desafio de preparar um elenco diverso para o canto e a dança que o espetáculo exige.

“Existe uma quantidade imensa de gente talentosa na cidade que tá só esperando pra ser descoberta. Foi com esses talentos que nós demos de cara e simplesmente não pudemos não fazer esse show acontecer. O teatro musical tá explodindo em Belém e é por que a gente tem muito material cheio de potencial pra ser trabalhado”, afirma Luiza.

Já Hiago Miranda, que interpreta o jovem Phillip Carlyle, também é responsável pela preparação musical e adaptação das letras para o português.

“Esse musical é realmente muito complexo, mas aceitamos esse desafio. A responsabilidade é imensa, pois as letras  precisavam ser trazidas para o português com o mesmo impacto que ela causa originalmente, mas temos feito um grande trabalho e as letras estão surpreendentes”, conta o ator.

O elenco conta ainda com Amanda Borja, Ana Ferris, Andrew Monteiro,Carol Lacerda, Diana Lins, Felipe Fernandes, Gabriela Burlamaqui, Kailane Miranda, Keley Nunes, Lohane Takeda, Luiza Barros, Marcy Ribeiro, Matheus Amorim, Rayane Trindade, Rubens Leal,  Sebastião Junior, Thalyson Moraes, Thiago Freitas, Vinicius Fleury e Yago Damasceno.

Ficha Técnica

  • Adaptação de Dramaturgia - Erllon Viegas
  • Letras/ Versões -  Hiago Miranda
  • Direção -  Erllon Viegas e Luiza Imbiriba
  • Direção Coreográfica - Larissa Imbiriba e Alana Pinheiro
  • Direção Musical - Hiago Miranda e Alcântara Junior
  • Preparação de Elenco -  Paulo Jaime e Renan Delmontt
  • Produção - Álvaro Souza, Larissa Imbiriba e Paulo Jaime
  • Técnico de Som -  Luiz Reis
  • Técnico de Luz- Patricia Grigoletto
  • Cenografia - Cláudio Bastos

Serviço
O Grande Show. Nos dias  9, 10 e 11 de agosto - às 20 horas - no Teatro Margarida Schivasappa (Centur) - Avenida Gentil Bitencourt, 650. Ingressos: R$ 40,00 (R$ 20,00 - meia entrada). Venda online: Sympla - https://www.sympla.com.br/o-grande-show__328408. Venda presencial: Escola de Teatro In Cena ( Tv. Rui Barbosa, 1520). Informações: (91) 98425 0317 | (91) 98863 3362 | (91) 98111 4207 | (91) 98442 5445, Evento: https://www.facebook.com/events/659527337728324/ Instagram: @ograndeshow.

27.7.18

“Palhaço” na segunda temporada do Pauta Livre

A Cia Attuô está de volta nesta quarta feira dia 01, em única apresentação, no Teatro Margarida Schivasappa (Centur), às 20h, com espetáculo que narra a história do processo de Adesão do Pará à Independência do Brasil. Ingressos a R$ 20,00 na bilheteria do teatro no dia da apresentação, a partir das 16h.

A Província do Grão Pará demorou mais de um ano para ouvir os ecos do Grito do Ipiranga e nesse processo, vários índios, tapuios e caboclos se levantaram contra a Junta de Governo da Província, que era formada por famílias portuguesas. Os revolucionários foram sumariamente presos e sem direito à defesa, foram conduzidos ao porão do navio Brigue Palhaço (antes conhecido como São José dos Diligentes). Lá 256 homens morreram sufocados em razão das más condições do espaço.

A encenação “Palhaço” é a primeira, de dezoito apresentações do Projeto Pauta Livre 2018 do Programa Seiva da Fundação Cultural do Pará (FCP), e escolheu a dança, a arte surrealista e o clown para, de maneira didática, abordar esse tema, que é tão esquecido na memória e nas documentações históricas.

Embalados por canções autorais e ufanistas, a fim de recontar de maneira poética esse acontecimento e trazer para uma linguagem atual, toda a discussão política e vivência cidadã que tanto é necessária nos dias atuais.

O clamor por igualdade e liberdade foi tão brutalmente silenciado na época, que não demorou muito tempo para o povo responder com uma das revoltas mais conhecidas do país: a cabanagem, a única realmente liderada pelo povo e para o povo. 

Ela até hoje representa um dos levantes mais representativos do povo nortista. "O espetáculo é uma forma de recuperar e manter viva essa memória, e a cia busca traduzir em dança, música e poesia todo aquele espírito inquieto do cidadão paraense da época", afirma Kleber DUmerval, diretor do espetáculo e que atua juntamente com mais sete artistas das mais variadas linguagens.

A caracterização se destaca pelos figurinos sujos e sem cor que, de certa forma, eles conseguem trazer dramaticidade ao episódio e na tragédia palhaços podem contar essa história sem deixar de serem eles mesmos. 

Outro argumento é que “os fatos históricos somados ao conceito de liberdade de expressão foram utilizados na composição das coreografias e isso dá a cena um alívio visual”, afirma Diego Jaques, bailarino e integrante da Cia Attuô que contribuiu na construção coletiva.

Serviço
O espetáculo acontece no Teatro Margarida Schivasappa no dia 01 de agosto (quarta-feira) às 20h, e os ingressos estarão sendo vendidos a R$ 20,00 reais e ficam disponíveis na bilheteria do teatro no dia da apresentação a partir das 16h.  Informações 91 991191717.

(Holofote Virtual com informações da assessoria de imprensa)

25.7.18

São Luís lembra Papete no 1o Festival de Percussão

Papete (Fotos: Bruno Mendonça)
Quem estiver indo a São Luís neste último final de semana das férias de julho, favor anotar a dica. O Rufar dos Tambores – Festival de Percussão de São Luís acontece nesta sexta, 27, na Praia Grande, centro histórico da cidade. Das 15h às 22h haverá shows e oficinas gratuitas ao público. 

O evento foi idealizado por Luís Claudio Farias, músico percussionista de Belém, que vive há quase 40 anos na capital maranhense. O festival homenageia em sua primeira edição o instrumentista Papete, morto há dois anos, e terá shows de 11 grupos, além de feira de livros, discos e instrumentos e oficinas. 

"Papete é a grande inspiração do festival. Ele dedicou a maior parte de sua vida de artista na divulgação da diversidade de ritmos e batuques maranhenses. Na abertura do evento, apresentaremos um video que conta um pouco sobre sua trajetória. Além disso, alguns grupos irão fazer intervenções lembrando a força de sua música", afirma Luiz Claudio Farias, que também é o diretor artístico do Festival de Percussão de São Luís.

O festival abre com o Couro e Mão, formado por mestres da percussão maranhense, e encerra com o espetáculo Encantarias, mistura de cultura popular, jazz e música erudita. No miolo o festival tem Toque de Mãos, Yluguerê, Afoxé Mina, Batuque de São Benedito, Boi Brilho da Sociedade, Abanijeun, Carlos Pial, Terecô de Igaraú e Divina Batucada.  “Teremos 11 grupos no palco, cada um tocando de 15 a 20 minutos, mas vamos fazer como se fosse um grande show, criando uma unidade entre as bandas e artistas e apresentando aos poucos os instrumentos da cultura popular com suas particularidades”, afirma Luiz Claudio Farias, que também é o diretor artístico do festival.

PROGRAMAÇÃO

Shows
Das 18h às 22h, portanto, haverá apresentações com o Couro e Mão, Toque de Mãos, Instituto Yluguerê, Afoxé Mina, Batuque de São Benedito (Carutapera), Boi Brilho da Sociedade (Cururupu), Abanijeun (Tambor de Taboca da Casa Fanti Ashanti), Carlos Pial e Terecô de Igaraú, Divina Batucada e Encantarias – Luiz Claudio e Banda Fio da Teia.

Oficinas

Oficina de Tambor de Crioula – das 15h às 17h - Tambor de Crioula de Mestre Leonardo; Oficina de Pandeirões – das 15h às 17h - Carlos Pial ; Feira – das 15h às 22h - Instrumentos artesanais, livros, vinis e CDs sobre os ritmos do Maranhão e comidas; Receptivo – das 17h às 18h - Tambor de Crioula de Leonardo e Boi da Ilha Turino do Alto.

Serviço
Rufar dos Tambores - Festival de Percussão de São Luís. Nesta sexta-feira, das 15h às 22h. No Centro de Criatividade Odylo Costa, filho - Praia Grande.

(Holofote Virtual com Celso Borges, assessor de imprensa do festival, poeta e jornalista)

21.7.18

Nos Bastidores do Suspense com Alfred Hitchcock

Estava em casa curtindo o Dia Mundial do Rock, quando chega e-mail confirmando uma agenda na capital paulista, na semana seguinte, um encontro de trabalho que há um mês me deixava no maior suspense. Coincidência ou não, dobrei a comemoração, afinal a curta viagem me levaria também aos bastidores de filmes e da personalidade de um ídolo, nada menos que o mestre Alfred Hitchcock.

A exposição, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, abriu na sexta-feira, 13 de julho, um mês antes da data de nascimento do diretor britânico. E na quinta-feira, dia 18, lá estava eu, às 15h30, depois de uma ótima reunião, e sensação de missão de cumprida, entrando na fila para comprar o meu ingresso e mergulhar nas profundezas da arte hitchcockiana.  Foi a viagem rápida mais produtiva da minha história recente. O melhor foi poder fotografar tudo que quis da exposição. E o que fazer com tanta liberadade? Mais de 800 clics (risos). 

Interativa, com curadoria de André Sturn, ex-diretor do MIS-SP e atual Secretário de Cultura de São Paulo, a mostra “Hitchcock - Bastidores do Suspense” te transporta para atmosfera e universo enigmático do diretor britânico, mestre do gênero.  O processo criativo de Hitchcock é revelado por meio de fotografias, quadros, objetos de cena de filmes, figurinos, manuscritos, storyboards, croquis, matérias de jornais e revistas, além de cartazes de grandes filmes do cineasta que foram criados em diversos países. 

O cinema de Alfred Hitchock  traz contribuições técnicas e estéticas precursoras para o estudo da sétima arte. Autor de 53 longas, produzidos ao longo de mais de 45 anos de carreira, ele era cuidadoso com tudo. 

O processo criativo de Hitchcock é revelado por meio de fotografias, quadros, objetos de cena de filmes, figurinos, manuscritos, storyboards, croquis, matérias de jornais e revistas.  A exposição também é cheia de cartazes de grandes filmes do cineasta. Há cartazes raros de filmes exibidos em diversos países, um deles é o cartaz japonês de Intriga Internacional. 

Ele dizia que filmar era passar o roteiro pela câmera.  Em várias das fotografias da exposição, publicadas mundo a fora, o vemos na célebre pose com as mãos fazendo um enquadramento, como que estudando o que a câmera deveria revelar. Em outras ele carinhosamente conversando com as atrizes e atores, como se com cuidado estivesse extraindo o melhor de cada um, sem que eles perdessem a própria autoria. Aliás, reparem que as mulheres de seus filmes imprimem muita personalidade. Cada detalhe em sua obra tem função narrativa.

Em preto e branco para não assustar

É famosa a história de como ele resolveu o sangue de cena que escorreu com a água do chuveiro, em Psicose. Após uma série de tentativas, ele optou pelo chocolate em calda que de cor marrom, deu densidade e veracidade ao ser traduzida como sangue para a película, mas não assustou com seu vermelho macabro, como o diretor não queria. Por isso escolheu em fazer o filme em preto e branco. Uma das narradoras dessa história é a atriz Janet Leigh, que viveu Marion Crane, que é cruelmente assassinada por Norman Bates, enquanto toma uma ducha no banheiro.

A entrevista com ela pode ser vista na exposição, assim como inúmeras outras, além de trechos de documentários que abordam a trajetória de vida e os filmes de Hitchcock. Em um deles sobressai a história da música de Psicose, feita com uma orquestra só de cordas. Os sons cortantes produzidos pelos violinos ficaram imortalizados. Escrita por Bernard Herrmann (1911 – 1975), a partitura manuscrita da música e autografada pelo compositor, aliás, foi a leilão, em Londres, em 2009, mas podemos ouvir cada movimento aqui. Isso é muito assustador.

O material audiovisual da exposição é extenso. Além de entrevistas e documentários, 17 de seus filmes são enfatizados e aproximam a gente dos bastidores de grandes filmes como “O Estrangulador de Loiras”,  “A Dama (Mulher) Oculta”, as duas versões de “O Espião Que Sabia Demais”, que inspirou mais tarde a criação de James Bond e “A Sombra de Uma Dúvida”, parceria surrealista dele com Salvador Dalí. Também compõe a mostra, “Quando Explode o Coração”, “Festim Diabólico”, “Janela Indiscreta”, “Ladrão de Casaca”, “Um Corpo que Cai”, “O Homem Errado”, “Intriga Internacional”, “Os Pássaros”, “Marnie”, “Disque M para Matar”, “Psicose” e “Blackmail, Chantagem e Confissão”; Este último, de 1929, foi o 1º longa metragem do cinema falado da Grã-Bretanha. Hitchcock tinha apenas 30 anos. Exercício de suspense, conteúdo psicológico, narrativa tensa e moderna. Ele é gênio.

Abra a porta e surpreenda-se!

Antes de adentrar no corredor em que está a linha do tempo de vida e filmografia do diretor você tem que fazer um pacto com ele. “Entre por sua conta e risco”, avisa uma placa na porta. E não há arrependimento.  O material audiovisual é extenso organizado em cerca de 20 salas em que você pode entrar e experimentar inúmeras facetas do suspense. Em uma bifurcação, por exemplo, duas portas a sua frente. Escola por onde começar. Uma leva a projeção de uma cena de Disque M para Matar. Na sala, em cima de uma mesa, o mesmo telefone que toca na cena, pode ser atendido do lado de cá. Suspiros, um grito. 

Para Hithckcok, porém, suspense não é sinônimo de mistério, muito menos de pregar sustos ou fazer jorrar o sangue vermelho na tela. O que o tornou mestre do gênero foi mesmo a habilidade de deixar o espectador num estado de angústia e desconforto a espera do que poderá ocorrer. Assim, na sala de “Sabotagem” (1936) - ou “O Marido era o Culpado”, nome dado em português - ,  a tensão vem materializada em várias gaiolas com diversos despertadores, cujos sons remetem ao de uma bomba prestes a explodir. 

Em uma das gaiolas, um vídeo mostra a longa e angustiante cena que mostra a caminhada do garoto Steve que é encarregado de deixar uns rolos de filmes na estação de metrô em Piccadilly Circus, juntamente com um pacote, que ele inocente, não sabe, mas carrega uma bomba, que é detonada no ônibus ainda ocasionando a morte dele e de outras pessoas.

O glamour também está na exposição, que traz a sala com figurinos e joga luz sobre o trabalho de Edith Head (1897 – 1981), a figurinista que trabalhou com ele em dez filmes, sendo decisiva para a construções de personagens femininos como o Grace Kally em “Marnie - Confissão de uma Ladra" (1954). Os modelos não fugiam a regra de preciosismo do diretor, e eram pensados por Edith para contribuírem com o clima de suspense em torno das histórias.

Em outra sala, você vê um baú, e não fique na dúvida. Abra, lá dentro, a corda de Festim Diabólico está pendurada e você vê o vídeo do estrangulamento da vítima de Farley Granger e John Dall. Nos bastidores de Psicose, além da fachada do (gótico) Bates Motel, a casa de Norman Bates está lá e você pode entrar e descer as escadas. Há uma galeria de facas que também se referem ao clássico.  Copos de leite evocam a cena famosa de Suspeita, de 1941. Há ainda o telhado de Ladrão de Casaca, a torre de “Um Corpo que Cai”, o edifico de “A Janela Indiscreta”.  Não deixe de curtir a sala de “Os Pássaros”. A célebre revoada é de arrepiar e parecem vir direto pra cima de você. 

No final uma pausa para ver Hitchcock na TV.

A última sala é como um convite ao descanso, depois de passar mais de duas horas andando, olhando, lendo, ouvindo, se divertindo e interagindo, sentando na cadeira do diretor ou brincando de bater a sua claquete, você se depara com um sofá na sala de ver TV. 

Na telinha, começam a ser exibidas as aberturas de Hitchcock Presents, uma série de televisão americana antológica apresentada e produzida pelo cineasta. Vi todas, mas não sei se estão lá as apresentações de todos os mais de 200 programas que foram ao ar, sendo o primeiro episódio no dia 2 de outubro de 1955 e o último no dia 26 de junho de 1965. 

Entramos às 16h e saímos 19h30, foram três horas e meia de muita informação e alimento para quem gosta de cinema. Simplesmente amei! Lembrei também da exposição de outro ídolo, David Bowie. Com muita sorte, em 2014, percorri a gigantesca exposição, em duas horas e meia recordes de visita, porque era o último dia quando a fila dobrava e dobrava, mas conseguimos entrar nas últimas horas antes de fechar, ufa, essa vida é mesmo um suspense. E não poderia ter sido mais rock'n'roll.

Para quem pretende ir ver a exposição

A mostra "Hitchcock - Nos Bastidores do Suspense" ficará em cartaz até dia 21 de outubro. No dia 13 de agosto, data de aniversário de nascimento do mestre, a entrada que não é cara (custa R$ 12,00, a inteira, na bilheteria) será franqueada. Em setembro, nos dias de 4 a 9, haverá uma mostra com 20 filmes. 

Não sei o horário, mas no dia da abertura, quando foram exibidos, a partir das 23h, Os Pássaros, Trama Macabra e O Homem Que Sabia Demais, na versão de 1956, a exposição ficou aberta por toda a madrugada também. O  MIS - SP. fica na Av. Europa, 158; 3093-7800. 3ª a 6ª, 10h/21h, sáb., 10h/22h, dom. e fer., 11h/20h. Abre 6ª (13). R$ 6 e R$ 12. Até 21/10.

X Colóquio de Fotografia e Imagem será em agosto

Figuras na Paisagem - André Parente
O evento, uma parceria entre a Associação Fotoativa e o Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal do Pará, reunirá estudantes, pesquisadores, professores, artistas e interessados pelo campo visual entre os dias 22 e 25 de agosto, em diversos pontos de estudos e artes de Belém. Inscrições gratuitas.

O tema desta edição, Arquivos e Outras Memórias, será percorrido entre leituras de portfólios, conferências, oficinas, laboratórios temáticos e projeções na tentativa de ampliar o alcance do campo de pesquisa e exercício visual, assim como a externalização do conhecimento para além da universidade. 

De acordo com Camila Fialho, presidente da Associação Fotoativa, extrapolando a preocupação com os arquivos da própria entidade, essa parceria com o PPG em Artes "abre a reflexão para pensar o lugar entre o público e o privado, o cruzamento dessas memórias, como se conformam na formulação de narrativas a partir de uma perspectiva outra que não aquela ditada no centro do país. Este ponto aliás converge para uma reflexão acerca do lugar dessas outras memórias que ficam veladas nos discursos hegemônicos. O que queremos trazer para debate é um pouco de tudo isso”.

Pinhole Day - Úrsula Bahia
Consolidando a importância deste lugar de troca e compartilhamento do saber, esta edição do projeto conta com o apoio dos grupos de pesquisa “Bordas Diluídas” – CNPq / UFPA, “Arte Memória e Acervos na Amazônia” – CNPq/UFPA, “Grupo de Pesquisa LAB AMPE” – CNPq/UFPA e “Arte Contemporânea nos Acervos e Museus Paraenses” – vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura – PPGCLC/Unama, e com a colaboração dos centros de pesquisa CRAE – Centre de Recherche en Arts et Esthétique, da Université de Picardie Jules Verne | UFR des Arts, o Institut ACTE, da Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne, e o LAA, Laboratoire Architecture Anthropologie UMR LAVUE, da École Nationale d’Architecture de Paris La Villette, através do coletivo francês Suspended Spaces. 

“O colóquio é de suma importância pois é fruto da colaboração de várias instituições por um fim comum que é a reflexão acerca da imagem, tanto por parte de realizadores, quanto por parte de pesquisadores e críticos. O colóquio vem sendimentando um local do conhecimento e a sociedade civil organizada e as instituições de ensino trabalham como aliadas em prol do debate e da ampliação dos conhecimentos”, diz Orlando Maneschy, presidente da Comissão Organizadora do evento.

Documentação
As reflexões serão acerca do universo dos arquivos, repertórios imagéticos e documentais que reservam, cada qual, sua singularidade. Um arquivo sempre diz muito acerca das memórias de um lugar, desdobrando-se em histórias possíveis ainda inacabadas. 

O colóquio será um convite a refletir sobre como nascem arquivos e acervos, de que forma conformam suporte para construção de narrativas, como se vinculam às histórias de uma localidade, de uma geração ou de um território, como se atrelam a determinado espaço e dele reverberam outras leituras contextuais, afetivas ou poéticas.

Também um passeio por narrativas pessoais e coletivas, o evento abordará também a trajetória da Associação Fotoativa que comemora, em agosto deste ano, 34 anos de ações culturais ininterruptas. “Atuar em uma instituição com mais de três décadas é um grande desafio que se apresenta tanto maior quando compreendemos através de seus arquivos que as memórias ali abrigadas são coletivas e que transbordam sua própria história”, diz Camila.

Foto: Samir Dams
Dentre suas ações, o Colóquio Fotografia e Imagem surge como um potente espaço de troca reunindo artistas e pesquisadores locais, nacionais e internacionais com a proposição de estimular a reflexão crítica sobre a relação entre produção imagética e os diversos campos do conhecimento. 

O evento estabelece um fórum permanente de criação e compartilhamento de informações entre pesquisadores, profissionais e estudantes ligados ao campo da fotografia e outras imagens, no estado e fora dele. 

Interessados em compartilhar trabalhos e pesquisas em conexões com o tema do encontro, podem se inscrever para apresentações dentro da plataforma Comunicações no Laboratórios Temáticos, com os temas propostos: Acervos Amazônicos; Arquivos apropriados em processos artísticos/criativos; Arquivos e Memórias Ancestrais; Memórias Suspensas e Projetos Modernos na Amazônia.

Oficinas e leituras de portfólio terão inscrições específicas devido ao número limitado de vagas a partir de 10 de agosto. Interessados em obter certificados de participação em mesas e palestras devem realizar credenciamento in locu no primeiro dia de Colóquio.

Serviço
X Colóquio de Fotografia e Imagem. Dias 22 e 25 de agosto, nos espaços da Fotoativa, Centro Cultural Sesc Boulevard, Galeria Benedito Nunes e Casa das Artes. Mais informações em www.fotoativa.org.br, nas redes sociais da Fotoativa ou pelo 3225-2754. A participação no evento é gratuita.

(Holofote Virtual com informações da assessoria de imprensa da FotoAtiva)

14.7.18

Lamugem discute práticas e memórias da cerâmica

O chamado “barro limpo” ou ainda “lama limpa”, oriunda da limpeza do excesso de barro nas mãos dos oleiros que trabalham com cerâmica, é o que se chama de Lamugem. O material, carregado de significados, deu origem ao projeto que pretende produzir, expor e difundir as memórias e vivências do cotidiano da cultura ceramista de Icoaraci. De 14 de julho a 26 de agosto serão realizados encontros, rodas de conversa, oficinas e exposição sobre a cultura ceramista de Icoaraci.

O projeto “Lamugem, memórias vividas na palma da mão”, contemplado pelo programa SEIVA – Edital de Produção e Difusão da Fundação Cultural do Pará, é coordenado pela designer de interiores Milene Guedes, que mora em Icoaraci e traz em sua trajetória a vivência das olarias de cerâmica, e pela artesã Val Genú, que vem há mais de um ano experimentando e produzindo com a Lamugem da Olaria do Espanhol, espaço escolhido como sede para as rodas de conversa, oficinas e exposição que serão realizadas ao longo de julho e agosto.

“Pretendemos estimular a participação e reflexão desse público em conservar e preservar hábitos, costumes e tradições da cultura ceramista de Icoaraci. As rodas de conversas e oficinas são ferramentas de interação com o público alvo do entorno da Olaria do Espanhol, e difusão das vivências e dos saberes desta cultura ceramista, que pretende estimular a participação e reflexão desse público em conservar e preservar hábitos, costumes e tradições da cultura ceramista de Icoaraci”, explica Milene Guedes.

Na essência do processo criativo, o projeto Lamugem se propõe demonstrar como a arte na sua dimensão social, cultural e ambiental, estabelece vínculos não somente materiais, mas energéticos, no sentido da troca entre as energias passadas de mão em mão. A entrada em qualquer programação do projeto é gratuita. Para participar das oficinas é preciso se inscrever por telefone e whatsApp (98859.0203 e 98932.8636)

Programação encerra com exposição de ecojoias

Val Genú
A programação será realizada na Olaria do Espanhol, em Icoaraci, com abertura neste sábado, dia 14 de julho, às 10h, quando haverá inauguração da área de convívio “José Croelhas”, implantada pelo projeto Lamugem. Na sequencia, a primeira roda de conversa será sobre “Cultura e Meio ambiente, o homem se transforma ao transformar natureza em arte”, que será conduzida por Walciclea Cruz, pedagoga especializada em Educação Ambiental, Mestra em Educação pela UFPA, residente em Icoaraci. 

A analista ambiental é ex- servidora do IBAMA, atuando hoje no ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), onde desenvolve atividades socioeducativas e de gestão participativa com comunidades rurais e tradicionais residentes em unidades de conservação federais do Pará.

Também neste sábado, 14, haverá oficina  “Modelagem de ecojoias”, com  Val Genu. A artesã vem trabalhando com o barro (argila) há alguns anos em seu atelier, o Art Genuína, focando na pesquisa e produção de eco joias em cerâmica artística (argila/barro). Agregando elementos da natureza, como sementes, madeiras e fios naturais, as peças resultam num misto de rusticidade e sofisticação.  
Rodas de conversa seguem até agosto

A programação do Lamugem segue no dia 4 de agosto, com a turismóloga Auda Piani, que falará sobre “O saber ceramista como patrimônio”. Mestra em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável- PLADES/NAEA/UFPA e Pesquisa na área de Patrimônio Imaterial e Saberes Tradicionais, Auda já foi Premiada pelo IPHAN pelo projeto “A Memória na Fala dos Mestres de Cultura de Icoaraci".

O projeto resultou no livro Mestres da Cultura e os documentários: Arte de Mestre(Cerâmica), Brincadeira de Mestre(folguedos), Música de Mestre(Carimbó) e Festa de Mestre (festas religiosas populares). Com vários artigos publicados, Auda atualmente trabalha como produtora do espaço Na Casa do Artista e desenvolve o projeto “Entre Panelas, Memórias e Sentidos”.

A última roda de conversa, no dia 18 de agosto, terá como tema “Valorização cultural e os flexos projectuais do design paraense”, com Viviana Fonseca, Design de Interiores, graduada em Arquitetura e Urbanismo (UFPA, 2012), pós-graduada em Gestão e Docência no Ensino Superior e Legislação Acadêmica (FACI, 2016) e especialista em Design de Interiores, Iluminação e Paisagismo (Estácio, 2018). Sua trajetória permeia sobre arquitetura de interiores residenciais com o intuito de promover qualidade de vida para seus clientes e valorização da funcionalidade e cultura familiar dos usuários.

Vivência na Olaria do Espanhol

Ciro Croelhas, Val Genú e Milene Guedes
A Olaria do Espanhol foi escolhida como sede do Lamugem, por se tratar de um espaço simbólico, um empreendimento familiar que teve início com a chegada de Antônio Croelhas e João Croelhas, vindos da Espanha para Belém, em 1903. Os dois são respectivamente, bisavô e avô de Ciro Croelhas, que hoje administra a olaria.  

“Eles deram início à Olaria do Espanhol, trazendo na bagagem muitos conhecimentos e técnicas europeias, tais como, o torno de bancada e o forno caieira, conhecimentos estes que contribuíram para a melhoria dos processos de produção existentes em Icoaraci”, conta Ciro, que ministrará a oficina “Vivência e os processos da produção ceramista”, no dia 11 de agosto.

Ciro vai abordar os conhecimentos adquiridos dentro desta tradição familiar, que vem sendo repassados de modo espontâneo através do contato direto com clientes, visitantes e pessoas interessadas na vivência com esses costumes. Ele também vai falar sobre os encontros realizados dentro da Olaria do Espanhol com este objetivo de manter viva a tradição.

“Vou falar sobre a olaria que desde o início de sua fundação vem difundindo junto a comunidade, as técnicas trazidas na bagagem por meu avô João Croelhas, que contribuíram para a formação de novos oleiros (quem trabalha no torno), que por sua vez transmitiam esses aprendizados à suas famílias dando início à criação de novas olarias e a formação do Polo ceramista do Paracuri”, finaliza.

PROGRAMAÇÃO COMPLETA

OLARIA DO ESPANHOL - Rua Sta. Isabel n° 2010 (entre Andradas e Soledade), Bairro: Paracuri – Icoaraci – Belém - PA. Informações e inscrições para as oficinas: 98859.0203 e 98932.8636

RODAS DE CONVERSA - 10h
14/07 - Cultura e Meio ambiente, o homem se transforma ao transformar natureza em arte. Walciclea Cruz. 
04/08 - “O saber ceramista como patrimônio”. Com Auda Piani.
18/08 - A valorização cultural e os flexos projectuais do design paraenses. Viviana Fonseca.

OFICINAS (inscrições)
14/07 - Modelagem de ecojoias - Val Genu -14h às 18h
11/08 - Vivência e os processos da produção ceramista - Ciro Croelhas- 14h às 18h

EXPOSIÇÃO
26/08 – Mostra "Lamugem, memórias vividas na palma da mão" – A partir das 10h30

12.7.18

Dois olhares para cenários de Soure no Marajó

Foto: Octavio Cardoso
Desde o dia 7 de julho os fotógrafos paraenses Paulo Ribeiro e Octavio Cardoso estão com a exposição UMA ILHA, DOIS OLHARES, no Salão de Exposição da Secretaria Municipal de Cultura, no Porto de Soure, Marajó. A mostra apresenta cenários paradisíacos e a maneira módica de viver do homem marajoara.

“Vejo grande sabedoria nas pessoas que habitam a ilha e me chama a atenção a forma como elas vivem em harmonia com a natureza, o que me leva a refletir sobre como a maioria das pessoas vive nas grandes cidades urbanizadas e então me questiono sobre a forma de viver do homem, sobre nossos valores, enfim, é para mim um momento de reflexão”, explica Paulo.

Ao compartilhar seus registros na rede social, o fotógrafo acabou atraindo olhares de pessoas de outras cidades do Brasil e de outros países. Há três anos ele é membro do perfil EVERYDAY BRASIL no Instagram, formados por fotógrafos de diversos países.

A mostra, montada a partir convite da Prefeitura do município, é uma bela oportunidade para quem vive no Marajó e para quem curte o período de veraneio no arquipélago do Marajó, que possui beleza encantadora, com paisagens espetaculares.

Com uma área de 40.100 km² e população de mais de 500 mil habitantes é uma ótima opção para quem curte o contato com a natureza, com pouca, e em algumas áreas nenhuma, interferência urbana. No arquipélago é possível desfrutar de praias e fazendas, ter contado com animais e experimentar saborosa comida rústica.

(informações da assessoria de imprensa)

Casa de Folha leva batuque autoral para o Apoena

Para quem fica em Belém neste segundo final de semana de julho, a noite de sexta-feira, 13, no Espaço Cultural Apoena, promete não deixar ninguém parado no salão. A Banda Casa de Folha agitará o espaço com seus batuques e música paraense autoral. No palco, a banda receberá convidados especiais para fazer ferver a noite com boa música.

Neste retorno aos palcos, o Casa de Folha já programou uma série de shows que tem sido bem acolhido pelo público, em uma sintonia com a pulsação que a banda apresenta nos palcos. Para esta apresentação, a banda promete transitar pela música nortista em seus baques e versos.

 O quarteto é formado por Dany Teixeira (voz), Jassar Protázio (baixo), Ismael Rodrigues (bateria) e André Butter (violão) e, nesta sexta, recebe o reforço de Marcos Sarrazin. “Tocar no Apoena é sempre maravilhoso! Tem um baú de recordações e encontros bem vividos neste espaço. É impossível não se sentir à vontade e garantir que a noite vai ser deliciosa!” afirma André Butter, violonista do Casa de Folha.

A festa começa as 21h com discotecagem da DJ Jack Sainha que vai esquentar a pista antes do show com um set de ritmos variados. Depois da apresentação, a DJ assume novamente, fechando a noite.

Serviço
Ingressos: R$ 10,00 até as 22h
Horário: a partir das 21h
Data: Sexta Feira (13/07/2018)
Local: Espaço Cultural APOENA – Tv. Duque de Caixas, 450.

(com informações da assessoria de imprensa)

5.7.18

Arraial do Pavulagem lança o álbum Caeté-Camará

O Arraial do Pavulagem pede passagem desta vez para lançar o mais novo álbum “Caeté-Camará”, neste sábado, 7 de julho, no bar Mormaço. A programação é extensa. Começa às 16h e vai até depois da meia noite. O disco já se pode ouvir, está on line em várias plataformas digitais. Os passaportes para esta viagem pela cultura popular já estão à venda  antecipado num valor promocional.

Produzir um disco é uma imersão. Um mergulho profundo na ancestralidade, em tudo aquilo que demarca a trajetória dos integrantes do Arraial do Pavulagem como artistas do Norte, fazendo música brasileira na Amazônia há mais de 30 anos.

O novo disco do grupo traz no tom a diversidade da cultura em conexão com a tradição dos mestres. Nnavega pela imensidão cultural do Pará, percorrendo as influências das regiões do Salgado e do Marajó, tão presentes na pesquisa musical do Arraial, como toadas de boi, banguês, carimbós, xotes, marabaixo e guitarrada.

Em “Caeté-Camará”, a parceria de Junior Soares e Ronaldo Silva fortalece os laços do Arraial com a cultura popular em composições que reverenciam a tradição dos folguedos e as festas de rua do norte brasileiro. Com selo da Na Music, o nono disco do Pavulagem chega depois de cinco anos do último álbum lançado, "Céu da Camboinha".

A programação de lançamento do novo CD conta com artes circenses e juninas, Djs, passeio de barco, com direito a open bar,  e shows do próprio Arraial, claro, previsto para 19h, com Jr Soares (voz e violão), Ronaldo Silva (voz), Rubens Stanislaw (baixo), Marcelo Fernandes (guitarra), Franklin Furtado e Rafael Barros (percussão), e, a partir das 21h30,  o Sentinelas do Norte, com Allan Carvalho e Luiz Girard.

Ouça “Caeté-Camará”


Google Play - http://bit.ly/2t3sFc3

iTunes - https://apple.co/2sSvyND

Spotify - https://spoti.fi/2t4cJ9g


E no domingo tem Arrastão

Depois do sábado, o Boi Pavulagem realiza mais um arrastão. Neste domingo, 8 de julho, a concentração começa a partir das 8h na Praça dos Estivadores, ao redor dos Mastros de São João que foram fincados na saída do primeiro Arrastão de 2018. Às 8h30 começa a cerimônia de derrubada dos Mastros de São João. 

Em seguida, inicia o cortejo por volta de 9h pela Avenida Presidente Vargas em direção à Praça da República. O Arrastão é encerrado em frente ao Theatro da Paz e a banda Arraial do Pavulagem comanda a festa na Praça, no palco montado ao lado do teatro. Além das canções clássicas que já fazem parte da tradição dos festejos juninos do Pará, o novo show da banda traz as músicas do disco “Caeté Camará”;

PROGRAMAÇÃO
Sábado, 7 de julho
Lançamento "Caeté Cametá"

  • Abertura dos portões – 16 h
  • Artes circenses e cênicas juninas – 16h às 17h
  • Set DJ Eddie Pereira – 16h às 19h
  • Passeio Iate Borari, com open bar pela orla de Belém - 17h às 18h
  • Show Arraial do Pavulagem – 19h
  • Jr Soares (voz e violão), Ronaldo Silva (voz), Rubens Stanislaw (baixo), Marcelo Fernandes (guitarra), Franklin Furtado e Rafael Barros (percussão)
  • DJ Zek Picoteiro - 21h às 21h30
  • Show Sentinelas do Norte – 21h30
  • Set DJ Zek Picoteiro – 23h30
  • Encerramento – 1h

Serviço
Passaportes - 1º lote
Ingresso individual: 15 reais
Ingresso + CD: 30 reais
No dia do show: R$ 25 reais (com meia entrada para estudantes até 17h)

Iate  + Camarote Open
(Passeio de barco pela orla de Belém)
1ºlote
Ingresso individual: 60 reais
Ingresso + CD: 75 reais

Mormaço - Rua Carneiro da Rocha, 1 - Cidade Velha (ao lado do Mangal das Garças)
Apoio: BDL Group, Moiré, Gold Mar Hotel, Na Music e Sentinelas do Norte.
Informações e vendas: 98369-0093/3085-8400.

(Informações da Assessoria de !mprensa e edição do Holofote Virtual)

3.7.18

Mostra Wim Wenders no histórico Cinema Olympia

Neste mês de julho, o Cinema Olympia traz pequena mostra do genial Wim Wenderes, um dos mais importantes cineastas do Novo Cinema Alemão. De 5 a 15 de julho, com  entrada gratuita. Apoio: Instituto Goethe e Casa dos Estudos Germânicos.

Além de ser uma ótima pedida para quem estuda cinema ou simplesmente aprecia filmes de arte, é também oportunidade de ver seis dos grandes filmes de Wim Wenders num telão. Aliás você deve ficar de olho nas sessões do cinema mais antigo do país em funcionamento ininterrupto. Vira e mexe tem coisas muitos boas em cartaz, com programação de Marco Antonio Moreira, da Associação de Críticos de Cinema do Pará - ACCPA.

Nos anos 1980 e 1990, por interesse próprio, em estudar e fazer cinema, me impus o doce prazer de conhecer os clássicos do cinema europeu. A maioria eu assisti ainda em VHS, com locações homéricas na FOX Vídeo nos finais de semana, mas havia também como acessá-los nas ilustres sessões de arte do Cine Líbero Luxardo e das salas do Cinearte. Assim devorei coisas que me nutrem até os dias de hoje, vendo Ingmar Bergnam, Alfred Hitchcok, François Truffaut, Vittorio De Sica, Federico Fellini, Luchino Visconti, Mario Monicelli, Michelangelo Antonioni, Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog e outros.

O Estado das Coisas, A Letra Escarlate, 
Paris Texas, Quarto 666, Um Filme para  
Nick e No Decurso do Tempo.
Daí que indico veementemente essa mostra que traz seis dos grandes filmes de Wim Wenders. Desde 1996, presidente da Academia de Cinema Europeu em Berlim, é também dramaturgo, fotógrafo e produtor do cinema alemão. Uma de suas características mais marcantes é a maneira como ele soube misturar ficção com documentário, dois estilos narrativos que sem traquejo pode se tornar um desastre para qualquer diretor, mas não Wenders, que sensível e versátil sempre soube dominar as diversas possibilidades de se contar uma história. Outra característica marcante é sua destreza e cuidado na escolha da trilha sonora de seus filmes, um elemento de suma importância em cada roteiro.

A mostra do Cinema Olympia antecipa de certa forma uma homenagem ao cineasta que completa, no dia 14 de agosto, 73 anos. Valeria outra semana dedicada a ele no mês de seu aniversário, trazendo alguns de seus filmes mais recentes, como “Pina” (2011), “O Sal da terra” (2014), "Submersão" (2017), “O Hotel de Um Milhão de Dólares” (2000), “Buena Vista Social Clube” (1999) e quem sabe, com ajuda da Casa de Estudos Germânicos até mesmo o novíssimo "Papa Francisco: Um homem de palavra", que estreou este ano em Cannes.Veja também dele, entre outros mais antigos, os obrigatórios "Asas do Desejo", "Alice nas Cidades", "O amigo americano".


PROGRAMAÇÃO

MOSTRA WIM WENDERS

Dias 05 e 13/07 – 18h30 - “O Estado das Coisas” (1982)
Uma equipe grava filme de ficção científica em Portugal sobre sobreviventes em uma Terra pós-apocalipse. O dinheiro acaba, o produtor desaparece e a equipe vai ficando impaciente e entediada, esboçando reações cada vez mais sentimentais. O Estado das Coisas é um filme central na obra de Wim Wenders. Uma obra que fixa um momento decisivo na sua carreira e reavalia o seu particular ‘estado das coisas’, permitindo uma profunda reflexão sobre o cinema em geral e a sua carreira em particular. 

Dias 07 e 15/07 – 16h30 - "A Letra Escarlate” (1973)
A história de Hester, que vive um amor adúltero com o reverendo Dimmesdale e assim é obrigada a usar na roupa a letra A na cor escarlate. Intolerância e paixão num dos mais belos clássicos da literatura mundial.

Dia 08/07 – 16h - "Paris Texas" (1984) 
Wim Wenders, cineasta europeu atraído pela cultura americana, ele próprio um misto dessas referências, convocou dois imaginários opostos para o mais amado dos seus filmes. Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1984, Paris, Texas é um dos mais deslumbrantes ensaios cinematográficos de que o espectador pode usufruir. Não obstante uma fotografia primorosa, é a simplicidade detalhada da obra que nos permite absorver todo um enredo de emoções, tão humanas quanto a própria realidade. Embalado pelo som da humilde, mas profunda banda sonora de Ry Cooder, o filme desenrola-se de forma igualmente despretensiosa ao longo da jornada de Travis (Harry Dean Stanton).

Dia 10/07 - 18h30 - "Quarto 666" (1982)
Durante o Festival de Cinema de Cannes de 1982, o diretor Wim Wenders reúne quatro renomados diretores de cinema em um quarto de hotel, liga uma câmera e pergunta a cada um deles individualmente qual é a sua visão sobre o futuro do cinema.

Dia 12/07 – 18h30 - "Um Filme para Nick" (1980)
Em Um Filme Para Nick, de 1980, ele faz uma bela homenagem a um de seus diretores favoritos, o americano Nicholas Ray, falecido em junho de 1979. Wenders foi até Nova York e acompanhou o amigo durante seus últimos dias de vida. Depois de um certo ponto, é impossível dizer de quem é o filme. A interação entre Wenders e Ray é das mais perfeitas e fica claro que estamos diante de duas forças criativas sem igual. Um dos temas que norteia o filme é a morte do cinema. Isso em uma análise mais metafórica, pois, na verdade, vemos a morte de um cineasta e, com ela, a morte de uma arte. Um Filme Para Nick, assim como Pina, que Wenders veio a fazer décadas depois em homenagem à coreógrafa Pina Bausch, é Cinema, com “C” maiúsculo. Inspirado, visceral, contestador e inesquecível.

Dia 14/07 – 16h - "No Decurso do Tempo” (1976)
"No Decurso do Tempo" faz parte da Trilogia da Estrada, junto com "Alice nas Cidades" e "Movimento em Falso". Acompanhamos a amizade que nasce entre Bruno (Rüdiger Vogler) e Robert (Hanns Zischler). O primeiro conserta projetores de cinema e o segundo acabou de se separar da esposa. Os dois decidem viajar juntos. No caminho, Wenders apresenta personagens e situações que de tão simples e  espontâneas parecem reais. Wenders consegue aqui, ao mesmo tempo, evocar a força de uma amizade e ainda fazer uma belíssima declaração de amor ao Cinema. 

(O Cinema Olympia fica na Praça da República - Av. Presidente Vargas - Belém do Pará, ao lado das Lojas Americanas).

Alberto Silva Neto entre pesquisa, teatro e cinema

"Pureza" (Foto: Divulgação)
Trinta anos de trajetória. Ator, diretor e encenador de teatro, jornalista e apresentador, professor, mestre, atualmente também fazendo um doutorado. Paralelamente, do ano passado para cá, interpretou papéis em uma série de televisão, prestes a estrear, e dois longas metragens. Todos eles com temáticas universais que dizem respeito e se desenrolam na região amazônica, lugar no qual Alberto Silva Neto se reconhece e se reinventa. É sobre esses processos e seu mais novo mergulho no cinema que conversamos na entrevista a seguir.

O teatro entrou muito cedo em sua vida, no final da década de 1980, aos 17 anos, quando ele estreou como ator. Até aqui já atuou em 19 espetáculos, passou por cinco grupos da capital paraense, teve oportunidade de conhecer a visão de encenadores e diretores de três gerações, vive em constante trocas de experiência que agora também são transportadas ao seu fazer no cinema. 

Na série “Pacto de Sangue”, que traz como temas o tráfico de drogas, turismo sexual, mas principalmente mostra como o sensacionalismo da televisão pode custar vidas. Alberto interpreta um alcoólatra. A série estreia no dia 13 de agosto, pelo Canal Space. 

“Eu Nirvana”, longa metragem com direção do paraense Roger Elarrat, tem previsão para estrear final deste ano. Conta a história de uma ribeirinha que sofre um acidente de barco e fica em coma durante muito tempo, quando acorda se depara com uma realidade, segundo a sinopse, mutilada e assustadora. Alberto interpreta o marido da personagem de Manuela Monte.

Já “Pureza”, longa de Renato Barbieri, que ainda está sendo filmado, Alberto encarna um aliciador. O roteiro é baseado na história real de Dona Pureza, cujo filho saiu do Maranhão em busca de trabalho no Pará, na década de 90, e acabou vítima do trabalho escravo. Pureza denunciou a prática a três presidentes da República e em 1997 ganhou um prêmio em Londres de Direitos Humanos.

"Pureza" (Foto: Magno Barros)
Intenso em tudo que faz, seja o teatro, televisão, jornal e agora no cinema, ele também é rigoroso e exigente com seus parceiros, mas principalmente consigo mesmo, não à toa, mergulhado na academia, vem investigando seus próprios processos criativos e artísticos, assunto abordado na entrevista a seguir onde ele também conta como está sendo seu reencontro com o cinema, e que este vai além da atuação para a câmera.

“Tenho planos de criar um projeto para cinema com uma adaptação de Chove nos campos de Cachoeira pelo Usina. Já estou dialogando com realizadores da área”, adianta ele o assunto que a gente aprofunda no bate papo a seguir, onde ele fala ainda das pesquisas acadêmicas, onde investiga atualmente xamanismo e teatro, e sobre a recente premiação do Rumos Itaú Cultural, que levará seu grupo de teatro a percorrer regiões ribeirinhas no Pará, e de seu doutorado que ele defende junto com a estreia de Pureza. 

Mergulhar na vida e na arte tem sido uma constante na trajetória de Alberto Silva Neto, com quem já tive a experiência de trabalhar no Diário do Pará, e de forma mais densa também na TV Cultura do Pará, onde fazíamos o programa Cultura Pai D’ Égua, uma revista cultural que nos cinco anos em que ficou no ar marcou época e desbravou linguagens na televisão. O jornalismo não ficou de fora da  nossa conversa.

ENTREVISTA

Holofote Virtual: Para quem estudou jornalismo e está há trinta anos fazendo teatro, como está sendo esse outro mergulho no cinema?

"Pureza" (Foto: Magno Barros)
Alberto Silva Neto: Realmente, de uma forma surpreendente pra mim, tenho atuado bastante em produções audiovisuais, aqui. Embora todas sejam feitas com verba federal ou privada, já que a atual gestão da nossa Cultura que se perpetua no poder é o fiasco que bem sabemos. No ano passado gravei Pacto de Sangue para o canal Space, e logo depois a Jerusa Franco, preparadora de elenco da série, me indicou para o produtor da Rede Globo que estava em Belém fazendo os testes para a novela A força do querer. Fui lá, passei no teste e fui chamado para uma pequena cena. Depois, tive a sorte de ser selecionado para dois longas quase em sequência.

No início do ano atuei em Eu, Nirvana, com roteiro e direção do Roger Elarrat, que considero um dos melhores cineastas paraenses da atualidade. Foi uma parceira incrível com ele e o preparador de elenco Claudio Barros, meu companheiro de criação há tantos anos, além do aprendizado de contracenar com Manuela do Monte, numa das trocas humanas mais belas que já vivi num processo criativo. 

E, agora, estou tendo uma aula de cinema ao participar das filmagens de Pureza, de Renato Barbieri, com um elenco maravilhoso que tem a frente Dira Paes, essa atriz genial e generosa na mesma medida, além de uma equipe técnica de primeiríssimo nível, para trazer ao debate de forma inédita no cinema o tema do trabalho escravo contemporâneo em zonas rurais. 

Holofote Virtual: Como está sendo essa experiência para você como ator que vem do teatro?

Eu Nirvana, contracenando com Manuela Monte
(Foto: Divulgação)
Aberto Silva Neto: Em relação à experiência enquanto ator, estou tendo a oportunidade de perceber o quanto atuar no cinema é tão visceral como no teatro. Na essência, é a mesma coisa: a arte de contar a vida de um ser humano com a máxima verdade possível. Mas, por outro lado, as diferenças são imensas em questões de ordem técnica. Por isso a grande dificuldade que atores de teatro encontram na hora de pisar num set. Diferentes linguagens exigem processos criativos específicos e isso a gente só aprende fazendo. Como disse certa vez a Fernanda Montenegro, em nossa arte se aprende muito pouco a cada dia. 

Holofote Virtual: Descreve teus papéis em Eu Nirvana, Pacto de Sangue e Pureza. O que marcou a construção dos personagens?

Alberto Silva Neto: Em Pacto de Sangue faço um marido alcoólatra e violento, contracenando com minha amiga e ótima atriz Vandiléa Foro. Tentei fazer uma composição de forte base física, com ênfase no desequilíbrio daquele corpo embriagado. No dia da gravação tudo estava ótimo até o momento em que o diretor me disse que naquela cena ele não estava bêbado (risos). 

Senti um frio na espinha. Tive que reelaborar tudo em segundos e descobrir como era aquele homem sóbrio, que nunca tinha feito. As cenas são em flashback e narram a terrível infância de Edinho, um dos personagens centrais da trama, feito pelo ator Adriano Garib. E aviso logo que o desfecho é terrivelmente surpreendente. 

Já em Eu, Nirvana eu faço o marido da personagem Liane, da Manuela, que sofre de um câncer terminal e é acompanhada no hospital pelo companheiro. Fisicamente é alguém bem próximo de mim, então meu mergulho foi interno, processo no qual a participação do Claudio como preparador foi fundamental. Eu e Manu temos uma cena de emoção funda e tivemos que nos preparar muito pra ela. Tomara que fique bonito. 

E agora, em Pureza, faço João Leal, um aliciador de trabalhadores para a escravidão, mais conhecido como “gato”. É um homem cruel, então tentei evitar cair no estereótipo do mau, buscando nele um tom sarcástico, jocoso. Mas, na prática, foi a troca de informações com os trabalhadores rurais que participam do filme que me deu os elementos que precisava para compor alguém com um comportamento físico tão diferente do meu. 

Holofote Virtual: Falastes que estás querendo produzir um filme inspirado na obra do Dalcídio Jurandir – Chove nos Campos de Cachoeira. Estar na frente das câmeras já não te basta?

Eu Nirvana (Foto: Divulgação)
Alberto Silva Neto: Pela primeira vez, tenho o desejo de mergulhar mais fundo na experiência com o cinema, e isso começa pelo que você quer dizer, que histórias você quer contar. Um dia encontrei por acaso com o Roger numa praça de alimentação, conversamos bastante e falei a ele que achava instigante pensar numa versão cinematográfica para a obra de Dalcídio Jurandir, que já abordei duas vezes no teatro com o grupo Usina. 

Ficamos de conversar no final do ano. Engraçado é que, voltando no mesmo voo de Marabá a Belém com o Claudio, que também participa de Pureza como ator e preparador de elenco, fui contar dessa ideia a ele e soube que o Roger já tinha falado antes de mim. Aí o Claudio já me contou que comentou sobre a ideia com a Dira Paes lá em Marabá e ela teria perguntado qual seria o papel dela no filme. Impossível não sonhar com essa atriz extraordinária fazendo uma personagem feminina de Dalcídio. Vamos ver no que vai dar. Mass, antes de tudo, teríamos que negociar direitos autorais. 

Holofote Virtual: O Usina foi um dos cinco projetos selecionados no Pará pelo edital Itaú Rumos Cultural. Vocês pretendem percorrer comunidades ribeirinhas em um barco. Já era uma vontade antiga? 

Alberto Silva Neto: Faz muito tempo que o Usina, grupo que dirijo desde 2004, busca uma poética que expresse a vida do homem da floresta, do povo caboclo. Então essa circulação é uma forma de devolvermos todo esse conhecimento que vimos produzindo com nossa poética às pessoas que nos inspiram e cuja existência é a razão, até certo ponto, de nosso próprio fazer artístico. Sou suspeito pra falar, mas o projeto é bem bonito. Vamos descer o rio Amazonas de Belém até Santarém, aportando em 12 cidades com quatro espetáculos e oficinas para artistas da cena. 

Holofote Virtual: Podes falar alguma coisa sobre o que está previsto?

Edgar Castro em "Dezuó", do Usina
Alberto Silva Neto: Vamos levar a trilogia do grupo Usina composta por Parésqui, com Valéria Andrade e Nani Tavares, Solo de Marajó, com Claudio Barros, e nossa mais recente criação, Pachiculimba, um espetáculo-cerimônia atuado por Claudio Barros e Claudio Melo, apresentado no final do ano passado no quintal de minha casa, em Mosqueiro. 

O quarto espetáculo, convidado do grupo, será Dezuó, breviário das águas, que discute os impactos da Usina de Belo Monte, com dramaturgia do filho de Itaituba Rudinei Borges e atuação do também paraense Edgar Castro, parceiro de teatro de longa data em Belém, mas que há muitos anos mora em São Paulo. No final, a ideia é produzir uma revista contando toda essa aventura e distribuir em nível nacional. 

Holofote Virtual: Divides teu tempo entre a academia e a prática do teatro. Essa última ficou um pouco de lado nestes anos em que vens mergulhando na pesquisa e na sala de aula?

Alberto Silva Neto: Acho que não. De 2009, ano em que entrei para a Universidade, até aqui, dirigi três espetáculos pelo grupo Usina. O que acontece é que eu tenho sido cada vez rigoroso com nossos processos criativos, e isso exige tempo. Então nossas criações têm sido mais espaçadas. 

Pra você ter uma ideia, Pachiculimba é resultado de cinco anos de pesquisa. E, pra mim, não teria a natureza singular que acredito que ele tenha se não fosse assim. Esse tempo está impresso na cena, creio eu. E isso é bastante saudável tanto para o artista quanto para aqueles que vão usufruir da obra. Afinal, num tempo de sociedade tão consumista, é urgente que a arte siga na contramão da produção em série, ditada pela lógica do mercado. A arte precisa ajudar as pessoas a reaprenderem como deixar o tempo jorrar. É necessário e transformador.

Holofote Virtual: Teatro e Xamanismo. Por onde percorres tua pesquisa de doutorado e o que pretendes discutir?

Cláudio Barros em "Pachiculimba" 
Foto: Alberto Silva Neto
Alberto Silva Neto: Estou no meio desse caminho. Devo defender a tese até março de 2020, na Escola de Belas Artes da UFMG. A pesquisa em arte é uma aventura tão visceral quanto é a criação em arte. Na verdade, a pesquisa e a escrita acadêmica são criação poética, também. Minha pesquisa se chama Peles para outras teatralidades. Procuro fazer um diálogo entre os processos de atuação no teatro e as práticas xamânicas. 

Para isso investigo alguns processos criativos do ator Cacá Carvalho, a quem considero um mestre, num cruzamento com minha própria trajetória artística sob a forte influência dele. Enquanto pesquisador, o que acho relevante nesse caminho é fortalecer esse território epistemológico ligado aos saberes da floresta, de modo a contribuir para a cada vez mais necessária “desocidentalização” do nosso pensamento. 

Holofote Virtual: Tens a experiência com a pesquisa na academia e na prática, com vasto currículo no teatro paraense. Esses dois lados se encontram mais uma vez neste teu doutorado?

Alberto Silva Neto: Meu fazer artístico e minhas práticas acadêmicas estão organicamente interligados. E a cada dia, mais. Minha tese de doutoramento, assim como o foram minha monografia de especialização e minha dissertação de mestrado, será um mergulho no meu próprio fazer artístico: seus princípios, seus processos, sua razão de ser. 

Por trás das questões investigadas, minhas escritas acadêmicas são uma grande registro da minha trajetória no teatro, que já tem 30 anos. Mas, isso não significa que não sirva ao outro como conhecimento produzido sobre a arte de ator. Mas é um conhecimento que construí no meu próprio corpo e, portanto, não posso acessá-lo sem esse mergulho pessoal, como acontece na criação. Como pesquisador, vou tão fundo em mim quanto em qualquer processo criativo como ato ou encenador.

Holofote Virtual: E não posso esquecer teu lado comunicólogo. Depois da TV Cultura do Pará, onde apresentavas o programa Cultura Pai D’Égua, onde está o jornalista Alberto Silva Neto? 

Alberto Silva Neto: Vontade de voltar à televisão não me falta, confesso. Acho que a programação local das nossas emissoras comerciais, no que diz respeito à cobertura de nossa produção artística e cultural, é muito ruim, não raro apegada a um exotismo de gosto duvidoso, o que caracteriza uma prática alienante. 

Então, eu sinceramente gostaria de voltar a pensar numa revista semelhante ao que era o programa Cultura Pai-D’égua. Mas, por outro lado, penso que um projeto como esse não está nos planos das emissoras, cujos objetivos são de outra natureza. Então, há um desejo quase utópico, eu diria, com o qual venho convivendo. Quem sabe um dia o destino muda isso.