21.12.23

Ópera Estúdio com estreia no cemitério Soledade

Parque Cemitério da Soledade (Ag. Pará)
"Visagens e Assombrações de Belém - Ópera Rock", adaptação da obra do escritor Walcyr Monteiro para o teatro musical, estreia nesta sexta-feira, 22, às 19h, no Parque Cemitério da Soledade. 

A apresentação é única e ocorre dentro da programação do projeto “Uma Noite no Museu” da Secult-Pa, como o resultado do trabalho da turma de 2023 do projeto de extensão  "Ópera Estúdio", do Instituto Carlos Gomes, em parceria com A Liga do Teatro. Em cena, 20 alunos (atores/cantores) do Instituto Carlos Gomes e música ao vivo da banda Álibi de Orfeu. 

"Visagens e Assombrações de Belém - Ópera Rock" é a livre adaptação de sete contos do livro homônimo de Walcyr Monteiro, com dramaturgia e direção cênica de Bárbara Gibson, coreografia de Paola Pinheiro , direção musical e geral do Maestro Pedro Messias, com participação da Banda Álibi de Orfeu, produção da companhia A Liga do Teatro e realização da Fundação Carlos Gomes.

“Eu já conhecia a obra de Walcyr Monteiro, como boa paraense. Visagens é um clássico que eu li na escola, na infância. Estudei com o filho dele e tive oportunidade de participar de uma outra homenagem a ele, interpretando A Mulher do Táxi”, diz Bárbara Gibson.

Ensaio do espetáculo, nesta semana,
no cemitério. Foto/registro: Larissa Imbiriba
Familiarizada com a obra, a diretora não esconde a emoção de trazer para o teatro musical feito em Belém, um autor paraense tão importante para a literatura paraense. “Ele é muito importante pra literatura regional, nacional e com obra reconhecida também internacionalmente. É uma honra pra mim”, diz Bárbara.

Em formato de Ópera Rock, a temática, a música, além da coreografia tornam-se mais interessantes ainda pelo espaço em que será apresentado o trabalho. “Para nós o local é inusitado, como será para o próprio público. É diferente pra gente, pois ocupamos teatros, mas este espaço público tem tudo a ver com o livro. Vários contos do Walcyr ocorrem dentro do cemitério, inclusive do próprio Soledade, a ambientação é interessantíssima”, continua a diretora cênica.

Privilegiando contos da obra que ela achou que melhor funcionariam para o teatro musical, Bárbara chegou em sete textos, alguns mais clássicos como “A Mulher do Táxi” e “Matinta Pereira”, e outros menos conhecidos. “Tem um que fala de um fantasma erótico do Soledade”, comenta. “Todos trazem aspectos lúdicos e mágicos que casaram muito bem”.

Liga do Teatro assume a produção

A Liga do Teatro é um grupo que vem desenvolvendo um trabalho especializado em teatro musical. Já produziu trabalhos como “Queen, Um Toque de Mágica”. Foi a partir desse espetáculo que surgiu o convite do maestro Pedro Messias para Bárbara Gibson, dramaturga do grupo.

“Tínhamos convidado o maestro Pedro Messias para nos dar uma consultoria na montagem do espetáculo e na época, 2019, ele já havia me falado que havia se identificado e que gostaria de trabalhar com o grupo. Estamos agora fazendo isso e tem sido uma experiência incrível essa parceria com o Instituto e a Fundação Carlos Gomes”, diz Bárbara. 

E parcerias são muito bem vindas em se tratando de teatro musical. “Ainda é um grande desafio, mas o teatro em geral é, pela questões basilares, dificuldades de local de ensaio, conseguir pauta em teatro, conseguir recursos financeiros. As questões burocráticas também afetam todos os fazeres teatrais, porém tem uma questão específica no teatro musical que necessita de mais tempo de ensaio e de mais profissionais envolvidos, porque estamos falando de ter pelos menos três linguagens envolvidas, a teatral, a musical e a coreográfica”, desabafa.

Composições autorais adaptadas ao espetáculo

Álibi de Orfeu ao vivo  (Foto: Divulgação)
As composições são autorais, todas da banda Álibi de Orfeu, mas não foram produzidas especialmente para o espetáculo. Foram escolhidas a partir de uma curadoria para se aproximar da temática da peça. 

“É o trabalho de uma banda de rock paraense que toca um som mais melódico rock, suas composições são bem diversificadas passam por vários gêneros. As letras trazem temas ambientais e políticos, mas também falam de lendas urbanas como, por exemplo Rasga Mortalha que está na ópera rock”, diz o maestro Pedro Messias 

O maior desafio dessa adequação musical, segundo ele, foi a de dramaturgia. "Foi um desafio trabalhar a obra musical, adequando as letras do Álibi de Orfeu para a encenação proposta pela diretora Bárbara Gibson. E fizemos tudo foi em conjunto também com a banda. Por se tratar de uma ópera rock, que carrega uma carga emocional e dramática em si mesma, a música conta também a história, não é só fundo musical”, ressalta o maestro.

Coreografia inspirada em lendas e assombrações

A coreografia, tão importante para a encenação de um espetáculo musical ficou sob a direção de Paola Pinheiro. A bailarina e coreógrafa comenta que o tema cultural regional despertou se interesse em fazer o trabalho. 

"Isso ajudou muito na inspiração da coreografia, numa pesquisa de movimento, assim como a dramaturgia feita pela Bárbara Gibson. Trouxemos toda essa carga mística que tem as nossas histórias, as músicas dão um tom a mais. Eu nunca tinha trabalhado com coreografia de músicas de rock e com banda ao vivo. Espero que o público reaja bem a essa encenação inusitada. É também a primeira vez que vou dançar num cemitério", confessa Paola.

Sobre o escritor Walcir Monteiro

Walcyr Monteiro nasceu em Belém, em 27 de janeiro de 1940 e faleceu no dia 29 de maio de 2019, aos 79 anos. Apaixonado pelas narrativas orais que coletava nos mais diversos municípios da Amazônia, o escritor foi um incansável pesquisador dessas histórias, que foram preservadas nas páginas das dezenas de livros escritos.

Era formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e Economia pela Universidade da Amazônia e também atuou por muitos anos como professor e jornalista profissional, quando colaborou com diversos jornais e revistas que circularam no estado. 

E foi esta última vocação que prevaleceu em sua trajetória, a partir do momento que decidiu começar a publicar a série “Visagens e Assombrações de Belém”, numa coluna que assinava no jornal A Província do Pará.  Ele teria completado 83 em janeiro deste ano. 

O saudoso escritor segue, porém, como um dos nomes mais importantes da literatura paraense e sua principal obra “Visagens e Assombrações de Belém” serve de referência para novos escritores que mergulham no universo fantástico das histórias e lendas da Amazônia.

Projeto de extensão da FCG

O Ópera Estúdio é um projeto de extensão desenvolvido pelo Instituto Estadual Carlos Gomes (IECG). Foi criado em 2013 com o objetivo de preparar os cantores líricos paraenses para atuar em montagens de ópera em Belém. No curso, que tem duração de um ano, eles melhoram a performance com aulas de técnica vocal e preparação cênica. A seleção de novas vozes é feita sempre no início de cada ano por meio de audição seletiva. 

“O Ópera Estúdio tem como intenção principal preparar os alunos para uma carreira artística de forma mais completa possível, envolvendo desde a pré -produção, montagem, divulgação, figurino, cenário, locação. O Ópera Estúdio é uma ferramenta metodológica”, comenta Pedro Messias.

Este ano montamos a ópera “Príncipe do Egito”, com orquestra da FCG, e agora encerramos com este espetáculo no cemitério, e já estamos planejando o ano que vem. A temporada promete mais surpresas ao público e para os alunos,  muita música de qualidade, muita paixão pelo que gostamos de fazer que é o teatro musical e a ópera”, finaliza o diretor geral.

Um cemitério aberto à programação cultural

Reabertura do cemitério, como parque
no dia 11 /01/2023
Fundado em 1850, como uma necrópole pública para enterrar milhares de vítimas da epidemia de febre amarela, no século XIX, o Cemitério da Soledade hoje em dia é um parque. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), desde em 1964, como Patrimônio arquitetônico, urbanístico e paisagístico de Belém , hoje é um parque cemitério. 

A obra foi entregue este ano pelo governo do estado, dia 11/01, na véspera dos 407 anos de Belém, mas ainda com uma segunda fase a ser finalizada em 2024, repetindo a parceria com o Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação da Universidade Federal do Pará (Lacore/UFPA).
 
Este ano também, com a criação do projeto Uma Noite no Museu, a Secult-Pa colocou o parque no circuito turístico da cidade, também como um dos espaços a receber programação cultural. E é por isso, que o convite assombrado para sextar no cemitério está feito. Vamos de ópera rock em meio aos mausoléus? 

VISAGENS E ASSOMBRAÇÕES BELÉM - ÓPERA ROCK

Ficha Técnica

Direção  Geral  e Musical - Maestro  Pedro Messias 

Dramaturgia  e Direção Cênica - Bárbara  Gibson 

Direção  Coreográfica - Paola Pinheiro 

Maquiagem - Matheus Ribeiro

Assistente de Maquiagem - Maiteh Fonseca

Produção  - A Liga do Teatro  e  Ópera Estúdio 

Arte - Victor Azevedo 

Redes Sociais - Luiza Imbiriba

Apoio - Banda Álibi  de Orfeu

Elenco

Samantha Pacheco | Lúcia Lobato | Vagner Mendes | Vitoria Cantanhede | Lunna Campbell | Kyria Monteiro | Lucas Mateus | Eugênia Lobato | Discórdia | Lohane Tk | Bianca Marinho | Breno Machado | Léo Meneses | Walace Sousa | Mariluz Vidonho | Olavo Mendes.

Serviço

Visagens e Assombrações de Belém, em Uma Noite no Museu. Nesta sexta-feira, 22/12, às 19h, no Parque Cemitério Soledade. Gratuito. Av. Serzedelo Corrêa - entrada também pela Dr. Moraes, entre Gentil e Conselheiro Furtado - Batista Campos.

18.12.23

Vai começar a 4a edição do Tapajazz Mostra Belém

Andrea Pinheiro (Foto: Walda Marques)
Hamilton de Holanda (Reprod. Internet)
De 19 a 21 de dezembro no Teatro Margarida Schivasappa (Centur), sempre a partir das 20h. São seis shows, todos imperdíveis, com venda de ingressos pelo Sympla e na bilheteria do teatro - valores variam entre R$ 20,00 e R$ 60,00.

O quarto ano do festival na capital paraense traz grandes atrações. No primeiro dia, vamos conferir duas apresentações que se definem no jazz! 

A apresentação da cantora paulista Vanessa Moreno e pelo pianista paraibano Salomão Soares, um dos mais expressivos duetos de jazz brasileiro da atualidade, traz canções de diferentes estilos, improvisos na voz e no piano, como se ouve no primeiro trabalho em estúdio lançado em 2019.  

Nesta terça-feira, 19, a abertura também conta com a orquestra Zarabatana Jazz Band, criada pela cantora Dayse Addario e pelo compositor Ziza Padilha, que assume todos os arranjos, e regida pela maestra Cibelle Donza. Formada em 2010,  com diversas apresentações já realizadas, esta será a primeira apresentação da "big" neste ano, e tem novidade. 

"Diminuímos os metais e trouxemos madeiras", diz Ziza Padilha. "Trabalhamos com 5 saxes, 4 metais e 3 madeiras - flauta, oboé e clarinete, deixando o som mais amadeirado, espero que gostem", conclui.

O segundo dia traz mais duas atrações. O instrumentista bandolinista Hamilton de Holanda, que simplesmente iniciou sua carreira profissional em 1982, aos seis anos de idade, como um prodígio do bandolim em um programa de TV nacional. Hoje, como compositor, educador e improvisador,  sua música transcende os gêneros e encanta o público. Vamos ver ainda a sensacional Veropa Sessions,  banda paraense que mistura o jazz aos gêneros clássicos da música afro paraense amazônica.

Já no terceiro, as duas últimas atrações, a cantora paraense Andréa Pinheiro, que apresenta músicas de Walter Freitas, um dos compositores mais emblemáticos da música paraense amazônica, com uma camerata de 16 cordas no palco, regida pelo maestro Luiz Pardal, e quatro percussionistas.  

A cantora lançou recentemente o álbum "Desencantares", no qual faz releituras de obras do compositor. O álbum já está em todas as plataformas. Após sua apresentação, entra em cena, o Boca Livre! 

"Cantar Walter Freitas é se arriscar, é sair de uma zona de "conforto" e bater no seu limite. Estou numa ansiedade imensa porque um trabalho desse te chama pra uma grande responsabilidade, mas é imprescindível que se faça. E dividir a noite com o Boca Livre aumenta mais ainda essa adrenalina! Um dos maiores grupos vocais do Brasil, do qual sou e sempre fui fã... vai ser uma noite de desafios e de muito aprendizado:, diz Andrea Pinheiro.

Último dia traz show de retomada do  Boca Livre 

Foto: Leo Versa
As cortinas se abrem também, nesta terceira noite, para a banda vocal Boca Livre, que retorna aos palcos. A retomada acontece em grande estilo com a execução de novos projetos e o relançamento de álbuns de sucesso. Esse será também o primeiro show do grupo vocal no Brasil, que saiu recentemente de uma apresentação em Montevidéu, no Uruguai.

Vamos celebrar, pois em 2021, as tensões políticas no país, atingiram em cheio um dos grupos mais aclamados do Brasil, levando à saída de dois integrantes do grupo. O anúncio na época foi feito pela empresária e produtora do quarteto, Memeca Moschkovich, pelas redes sociais. Irmã do cantor e compositor Zé Renato, ela avisou aos fãs e ao mercado que ele e o colega Lourenço Baeta decidiram deixar o Boca Livre.

Isso foi logo após a vinda de Maurício Maestro por aqui, para participar do 1º Tapajazz Mostra Belém, realizado em plena pandemia, no Teatro Waldemar Henrique. Ainda não sabíamos mas o músico, vinha fazendo postagens contra a vacinação contra a Covid-19. E assim, a retomada do grupo, parado há décadas, que já vinha sendo construída na época, caiu por terra. Tudo parecia ser definitivo, sendo impossível uma volta,  afinal... mas aconteceu, o Brasil saiu do buraco bolson@rista, a cultura voltou e o quarteto está junto novamente. 

Grammy e projeto de documentário

Maurício Maestro, 2021, no Wademar Henrique
Foto: Sérgio Malcher
Em 2022, porém, mesmo com o anúncio da dissolução, o Boca Livre lançou o álbum 'Pasieros', gravado há 10 anos, em 2011, e que em fevereiro deste ano,  deu ao grupo o troféu de melhor álbum pop latino da 65ª edição do Grammy. 

Em entrevista ao Correio Brasiliense, um dos integrantes disse que a retomada também se deve a “saudade que tínhamos de tocar juntos, da superação das dificuldades dos brasileiros, baixando as tensões política-ideológicas, da nossa convergência, enquanto amigos”.

Em outubro deste ano, mais uma novidade. O grupo lançou o single inédito 'Rio Grande', feito em parceria com Nando Reis, dos Titãs. Há planos também de um documentário sobre o grupo.  Os arranjos instrumentais, e principalmente, vocais, fogem da métrica convencional utilizada por outros grupos, através do uso de acordes vocais dissonantes e revezamentos nos solos.

Formado no no Rio de Janeiro, em 1978, composto por Maurício Maestro (contrabaixo e vocal), Zé Renato (violão e vocal), Cláudio Nucci (violão e vocal) e David Tygel (violão e vocal). Lourenço Baeta (voz, violão e flauta) entra depois no grupo, saindo Nucci. O primeiro disco lançado em 1979, tornando-se o disco independente que mais vendeu até então.

Venda de ingressos e solidariedade

Assim como no ano passado, a arte e a solidariedade fazem parte do TapaJazz. Frente a um ano desafiador para as comunidades ribeirinhas da região oeste paraense, os organizadores do festival iniciaram uma mobilização para arrecadar alimentos não perecíveis para as famílias vítimas da estiagem, que ainda encontram dificuldades em manter o próprio sustento.

“Belém está nos abraçando de uma forma ainda mais carinhosa porque nunca cobramos acesso ao TapaJazz, mas esse ano cobramos a entrada e a doação de 1 kg de alimento não perecível para ajudar as comunidades ribeirinhas que foram atingidas pela estiagem e que sofrem até hoje. Só a gente, que vive naquela região, sabe o que elas passam por conta da seca. Então eu agradeço Belém por, mais uma vez, nos receber com tanto carinho e promover essa solidariedade ao povo do oeste do Pará”, enfatiza Guilherme Taré, criador do festival.

O TapaJazz Mostra Belém é uma realização da Fábrica de Produções e conta com o apoio cultural da Secretaria de Estado de Turismo (Setur), da Secretaria de Cultura do Estado (Secult), da Fundação Cultural do Pará (FCP) e Casa do Saulo.

Programação

19/12 (1º Dia)

  • Vanessa Moreno e Salomão Soares 
  • Zarabatana Jazz Band

20/12 (2º Dia) 

  • Hamilton de Holanda 
  • Veropa Sessions

Shows 21/12 (Último Dia)

  • Boca Livre
  • Andréa Pinheiro e Camerata de Cordas

Serviço

De 19 a 21/12, no Teatro Margarida Schivasappa (Centur) às 20h - Belém (PA). Venda de ingressos virtual e presencial, valores variam entre R$20 e R$60,00 - Pelo Sympla: clique aqui - ou na bilheteria do teatro, das 14h às 19h.

Discosaoleo lança reprensagem do Tuyabaé Cuaá

Walter Freitas/Foto: Alberto Bitar
Comemorando os 35 anos do álbum clássico de Walter Freitas, o selo apresenta a nova edição em cópias limitadas, já em pré-venda, até 22/12. O lançamento presencial será no sábado, 23/12, às 11h30, co. audição comentada, na Discosaoleo, dentro da programação Risco no Disco, que traz como convidados o radialista e produtor musical Beto Fares e o jornalista e poeta Edson Coelho. 

Em 1988, Walter Freitas lançou pelo selo Outros Brasis o disco Tuyabaé Cuaá. O álbum havia sido gravado no ano anterior, após um longo período de estudos e experimentações do músico e compositor, que desejava alcançar uma sonoridade original. Agora, a obra que se tornou raridade e é considerada um marco na música paraense ganha nova prensagem pelo selo Discosaoleo.

Ao longo do tempo, as oito faixas do disco tiveram grande impacto sobre a crítica especializada. Por ocasião da edição em CD, em 1998, o jornalista Clemente Schwartz escreveu: “O álbum ‘Tuyabaé Cuaá’ é diferente de tudo que já foi lançado no mercado em todos os tempos”. No mesmo ano, o também jornalista Edson Coelho afirmou: “Tuyabaé Cuaá, paradoxalmente, é o novo que já nasceu destinado a ser clássico”.

No mesmo texto, Edson pontua que “Walter apropriou-se ‘fisicamente’ de uma linguagem – a popular, principal formadora de uma cultura – e potencializou-a resgatando expressões em desuso e acrescentando aos dialetos novos termos indígenas e africanos. Chegou ao requinte de praticamente fundar uma linguagem (...)”.

Mais recentemente, a propósito da reprensagem em vinil, o radialista e apreciador de música Beto Fares destacou que, num momento em que orquestras inteiras podem ser sampleadas, trabalhos orgânicos de grandes mestres da música seguem cumprindo o objetivo da emoção:

“Um clássico desse segmento é Tuyabaé Cuaá, disco do ator, escritor, compositor e cantor Walter Freitas, (...) carregado de desempenho artesanal que mostra, nota por nota, hábitos, costumes e transformações da região norte do Brasil.” Segundo ele, trata-se de uma “joia do cancioneiro popular”, “garantida para as novas gerações nesse oportuno relançamento da Discosaoleo”.

Uma sonoridade pra chamar de minha!

Foto: Alberto Bitar
Músico autodidata, Walter Freitas ressalta a importância do lugar onde cresceu no desenvolvimento da sua musicalidade. Nascido no bairro da Sacramenta, foi lá que o artista absorveu muitas de suas referências e onde realizou o intenso período de experimentação que originou as composições de Tuyabaé Cuaá. 

Ele conta: “A Sacramenta, na época, era um celeiro de informações que eu precisava obter pra chegar aos resultados que eu queria, que eu buscava (em alguns momentos até sem saber o que), pra consignar uma decisão que eu tomei, de construir uma sonoridade que fosse, nos termos que eu utilizava na época, somente minha”.

Foi no retorno de um período de dois anos em São Paulo, quando Walter tinha 18 anos, que teve início uma fase essencial de sua dedicação à música e à composição, num exercício que gerou a linguagem particular do artista. “Eu fui percebendo que eu estava fazendo coisas no violão, nas letras, na minha forma de cantar, que eram diferenciadas”, relata. Apenas quando sentiu ter alcançado um resultado original, decidiu mostrar o que fazia.

Circulando no cenário artístico de Belém nos anos 1980, Walter se aproximou do grupo Sol do Meio-Dia e, posteriormente, de Nilson Chaves, com quem (ao lado ainda de Almirzinho Gabriel e Genésio Tocantins) realizou uma série de concertos fundamental para que chegasse ao lançamento de seu primeiro disco. 

Ao final da temporada, foi convidado por Marcos Quinan para ser um dos primeiros artistas a gravar pelo selo Outros Brasis, que o produtor estava criando junto com Nilson. Destes contatos, surgiu o planejamento para as gravações de Tuyabaé Cuaá, realizadas no Rio de Janeiro, em 87. 

A escolha das faixas veio na esteira da decisão de Walter Freitas de criar sua própria marca: “Eram as canções que eu tocava, que eu ouvia, que eu lia a letra, que tinham exatamente aquilo que eu buscava, ou seja, elas ao serem executadas me davam como resposta essa certeza: tu estás cantando uma coisa que ninguém fez antes”. 

Walter ressalta que Tuyabaé Cuaá é um recorte de todo um contexto criativo desenvolvido por ele em anos de carreira, atuando também em outras linguagens, como a literatura e o cinema. No entanto, ele reconhece o poder próprio e inegável do disco de tocar os ouvintes ao longo de gerações.

Conceito musical e audição de emoção profunda

O álbum foi lançado no dia 25 de junho de 1988 e, como comenta Walter, não teve uma grande aceitação imediata, mas é um trabalho que envolve profundamente o público que o aprecia. 

“Não tem milhões de pessoas curtindo, ouvindo, acessando, mas ele vai muito fundo em quem ouve, em quem gosta, aí é como se ele implodisse o conceito musical, implodisse o ouvido das pessoas, implodisse a emoção das pessoas, fizesse elas se voltarem pra um universo que elas desconhecem. As pessoas ficam abismadas diante do que elas ouvem, diante do que elas veem, diante do que elas percebem quando escutam as músicas do Tuyabaé Cuaá”.

Este é um aspecto determinante na longevidade da obra, que agora é relançada pelo selo Discosaoleo com reprensagem em vinil 180 gramas preto, com capa dupla, ilustração inédita de Mindiyara Uakti (filho de Walter), pôster com foto de Alberto Bitar e colagem de jornais antigos, em trezentas cópias limitadas e numeradas. O disco já está em pré-venda, até o dia 22, e será lançado no dia 23, com audição comentada, reunindo Walter Freitas e os convidados Beto Fares e Edson Coelho.

Sobre a Discosaoleo 

Foto: Alberto Bitar
A Discosaoleo sempre teve por maior objetivo contribuir para a valorização e a movimentação do cenário artístico independente local, abrindo as portas para trabalhos de diferentes linguagens e estilos. Criada em 2014 pelo audiófilo Léo Bitar, como selo fonográfico analógico, também se tornou um espaço aberto ao público para venda de discos e realização de programações culturais variadas.

Desde a estreia, o selo já lançou vinis de Ana Clara, The Thump!, Molho Negro, Pio Lobato e Dulce Quental (RJ), além de um álbum de Zé Manoel (PE), em parceria com a Três Selos, e fitas cassete de Pratagy e Meio Amargo. 

Em 2023, após um intervalo de seis anos, a Discosaoleo retomou os lançamentos com o projeto 30por3, uma coletânea em fita e distribuição digital, reunindo Erik Lopes, Jimmy Góes e Mainumy, e agora retorna ao vinil com a reprensagem de Tuyabaé Cuaá, de Walter Freitas – iniciativa que marca o início das comemorações pelos dez anos de atividades da loja e selo.

De acordo com Leo Bitar, “é um presente pra quem gosta de música, pra quem gosta de LP, é um presente pro Walter e é um presente pra gente, também, que trabalha na Discos, e pra quem gosta da loja e do selo”. “Faz tempo que eu penso em relançar esse disco”, complementa.

Leo diz que este “é um disco muito querido que tenho na minha coleção e uma obra-prima da música local, um dos grandes discos independentes da música brasileira, e eu sempre tive essa intenção de relançar, de dar esse novo fôlego pra esse trabalho, que é tão delicado, tão especial, e que merece essa comemoração dos 35 anos”. Com esta reedição cheia de detalhes preciosos, Tuyabaé Cuaá é colocado novamente à disposição dos colecionadores.

Lista das faixas: 

Lado A

Hei Sapecuim! (Walter Freitas - Antônio Moura)

Tiã Tiã Tiã (Walter Freitas - João Gomes)

Fruta Rachada (Walter Freitas - João Gomes)

Salvaterra (Walter Freitas)

Lado B

Janataíra (Walter Freitas)

Pixãim (Walter Freitas - João Gomes)

Igaçaba (Walter Freitas - João Gomes)

Oração da Cabra Preta (Walter Freitas - Domínio público)

Ficha técnica original (1988):

Célia Vaz - arranjo para quarteto de cordas e regência em Fruta Rachada e Igaçaba Fernando Carvalho - arranjo para quarteto de cordas e regência em Pixãim; violão em Hei Sapecuim!, Salvaterra e Tiã Tiã Tiã

Jacques Morelembaum - cello em Hei Sapecuim! e Janataíra; participação especial no cello em Fruta Rachada 

Liana Carneiro - flautas em Pixãim 

Marcelo Salazar - percussão em todas as músicas 

Marcos Amma - percussão em Salvaterra 

Mingo - percussão em todas as músicas

Nilson Chaves - violão em Fruta Rachada e Janataíra; dois violões em Igaçaba

Quinteto de cordas: Daniel Passuni – violino; Osvaldo de Souza – violino; Fernando Thabaldi – viola; Luiz Cláudio Coimbra - cello em Fruta Rachada, Pixãim e Igaçaba; Jabez Oliveira - cello

Walter Freitas - violão e voz em todas músicas e viola de 10 caipira em Salvaterra

Todos os arranjos de base por Walter Freitas

Gravação: Denilson e Leco

Mixagem: Leco, Denilson, Carlão e Nilson Chaves 

Produção musical: Nilson Chaves

Assistentes de produção: Liana Carneiro, Marco André, João Gomes e Roseli Naves Produção executiva: Marcos Quinan e Nilson Chaves 

Fotografia: Guiga Melo e Paulinho Dourado 

Direção de arte e ilustrações (capa e encarte): Sérgio Bastos 

Produção geral: Marcos Quinan

Gravado nos Master Stúdios, Rio de Janeiro, de 26 de janeiro a 6 de fevereiro e em 22 de agosto de 1987.

Ficha técnica da nova prensagem (2023):

Produção: Léo Bitar

Masterização: Assis Figueiredo

Ilustração da capa interna: Mindiyara Uakti

Fotografia do pôster: Alberto Bitar

Adaptação gráfica: Tita Padilha

Arte do pôster: Thaise Freitas

Serviço

Lançamento da reprensagem do álbum Tuyabaé Cuaá, de Walter Freitas, pela Discosaoleo, na programação Risco no Disco, com o artista e os convidados Beto Fares e Edson Coelho, em audição comentada do vinil, dia 23 de dezembro, às 11h30, na loja do selo (Campos Sales, 628, porão). Entrada gratuita.

A pré-venda está aberta e segue até o dia 22. Contatos e informações nas redes sociais da Discosaoleo: instagram.com/discosaoleo; facebook.com/discosaoleo.

(Com informações da assessoria de imprensa)

16.12.23

Um Psica histórico com sabor de Virada Cultural

A 11ª edição do festival faz história. Inspirado pelo evento paulista, no centro histórico de São Paulo, o Psica criou um corredor na Cidade Velha, interligando 4 palcos e acertou! 

O Psica 2023 não chegou a ser uma virada cultural, mas isso é possível. A partir deste percurso criado na sexta-feira, romperia-se a fronteira da Cidade Velha com a Campina, abrangendo o Solar da Beira, o Mercado de Carne.

Indo além, teremos a Estação das Docas e o Boulevard da Gastronomia, onde já estão cervejarias, restaurantes e o Sesc, com seu centro cultural e Casa das Artes Cênicas, garantindo que, no dia seguinte, até 18h, a programação seguisse em espaços internos.  E para isso, basta uma boa articulação, coisa que já é nata nos irmãos Gerso e Jeft.

Ontem, ao aterrisar neste território histórico com programação gratuita, o Festival Psica também entrou para a lista dos projetos da sociedade civil que acreditam no centro histórico como um território potente para um turismo saudável, inclusivo e construtivo, que valoriza a diversidade cultura e o patrimônio, como fatores de impulsionamento econômico e de geração de renda. 

Bem organizado e com uma programação diversa, o criou um percurso pelo qual foi muito fácil transitar, mesmo com os carros circulando. 

Do Kabana do Gerso, na Praça do Carmo, era seguir na contra mão dos carros pela rua Siqueira Mendes (a primeira rua de Belém) para chegar, no segundo palco, o Voador, no Píer da Casa das Onze Janelas e, retornando deste à Praça Frei Caetano Brandão, indo em direção à Igreja de Santo Alexandre, chegávamos ao terceiro palco, o Guelra, observado pela Igreja da Sé, no Complexo Feliz Lusitânia, o maior de todos. 

Dali era só continuar caminhando para o quarto palco, também grandioso, o Megazord, com aparelhagens, montado de frente para a Praça do Relógio, porta de entrada do Ver-o-Peso, indicando a transição para outro bairro histórico, a Campina. Este ano, entretanto, o corredor encerrou ali mesmo, sob as bênçãos do Mercado do Peixe.

Os horários dos shows foram bem planejados, permitindo o ir e vir entre os palcos, cujos horários, bem planejados, permitiram-nos conferir quase todas as atrações. Alguns shows ficaram com horários sobrepostos no palco Guelra e o Kabana do Gerson. Não pude ver tudo, mas dentre o que vi, destaco a seguir alguns dos momentos marcantes em cada palco

Dos momentos mais emocionantes da noite

No Rio Voador, que abriu uma janela importante à Guitarrada nesta edição do Psica, reunindo os mestres Solano, Aldo Sena, Curica, pioneiros e conterrâneos de Mestre Vieira, o criador do gênero já falecido e que bem merecia uma homenagem neste palco, e o Clube da Guitarrada, que reúne pelo menos duas gerações influenciadas por eles. 

Infelizmente não consegui assistir direito. O som já chegava distorcido no anfiteatro, até onde consegui ir para ver o show, devido à lotação de pessoas. Tava bonito, o público não abriu o pé, principalmente quem conseguiu chegar mais próximo do palco. 

O píer é bacana mas tem esse problema em todas as ações realizadas lá com grande público. Vi um pouco de longe, ouvi Solano contar a historia da música lhe dada de presente pelo saudoso Sebastião Tapajós, intitulada Rei Solano. Dancei à beça, mas com a dificuldade de pelo menos ouvir melhor o que se passava no palco, desisti de ficar até o final.

Mateus Aleluia é um canto em oração

No Guelra, Mateus Aleluia, certamente era uma das atrações mais aguardadas desta noite gratuita. Seu Mateus, como também o chamam, mostrou porque sua trajetória é uma notável contribuição para a música brasileira. Nascido em Cachoeira, Bahia, em 1942, a carreira deslanchou na década de 1970, quando ele integrava o grupo Tincoãs, um conjunto musical formado por três vozes masculinas que se destacou por suas interpretações de músicas afro-brasileiras, especialmente os ritmos relacionados ao candomblé. 
 
A voz marcante, as entonações profundas de Mateus Aleluia transformaram sua performance, nesta sexta à noite, em uma espécie de ritual, oração e emoção coletiva, digo isso sem nenhum exagero. Em carreira solo, as raízes da música afro-brasileira seguem como sua abordagem principal, refletindo sua profunda conexão com suas origens culturais. Deu para sentir na alma. Valeu muito, Psica!

Flor de Mururé entrega tudo no Kabana do Gerso

Já de saída do Complexo Feliz Lusitânia, ainda vi uma pequena parte da apresentação da Amazônia Jazz Band e da participação de Nazaré Pereira.  Segui para o Kabana do Gerson para ver o show do Flor do Mururé. Cheguei antes dele subir ao palco e em tempo de dar um abraço de boa sorte. Mururé estava nervoso, jeito dele, no palco, domina tudo, se entrega. É potência e afeto. Entre os momentos marcantes do show, Flor de Mururé recebe e canta junto com Íris da Selva e Borblue. Explode emoção. Ontem, também estava  no palco, o Trio Manari. Ô show bonito, minha gente. 

Flor é um artista novo na cena, mas já com trajetória fonográfica e premiações. No lançamento do primeiro EP "Eu sou Flor", em 2019, o artista tinha entre 17 e 18 anos. A música que intitula o EP,  acabou gerando, em 2021, um videoclipe, lançado com apoio da Lei Aldir Blanc. 

O clipe, dirigido por Flores Astrais, conta com a participação de cinco artistas trans/travestis. Atualmente, segue imerso na criação do primeiro álbum de estúdio e de um curta-metragem que registra seu processo criativo, integrando projeto apoiado pela Natura Musical.

Homem trans não-binário, Flor de Mururé desafia os rótulos e inspira com sua arte outras pessoas trans. Sonoramente, vai do côco ao hip hop, chegando à guitarrada, ao pop e ritmos amazônicos. Eu diria que de modo geral é ele é rock and roll na expressão criativa da palavra, consolidando sua presença como um artista versátil e engajado. 

O som das aparelhagens

Já passava da meia noite, quando cheguei à Praça do Relógio. O público já se aglomerava, vindo de todos os demais palcos. Situado na área mais aberta de todo o percurso o Megazord prometia, mas chegava a minha hora de partir. Fiz alguns registros para não esquecer a visão que tivemos das aparelhagens Ouro Negro e Lendário Rubi, num ângulo a partir da Praça D. Pedro II e como se diz por aqui, peguei o beco.

Programação segue no Mangueirão

O evento continua neste sábado, 16, e domingo, 17, no Mangueirão, onde o rolê não é gratuito, mas oferece facilidades de acesso, acompanhem pelo perfil do festival no Instagram. A programação está intensa, prometendo ser mais um sucesso. Patrocinado pela Petrobras e Nubank, via Lei de Incentivo à Cultura, Minc, o Festival Psica 2023 conta ainda com diversos apoios, incluindo do Governo do Estado e da Prefeitura de Belém. 

Sábado | 16 de Dezembro

Palco GUELRA

17h00 Abertura

18h25 Suraras do Tapajós 

20h15 Zaynara

22h20 Don L + Nego Gallo

00h30 Jorge Ben Jor

Palco RIO VOADOR:

17h40 Baixo Calão

19h10 Odair José e Azymuth

21h00 Majur

23h30 Gang do Eletro

MEGAZORD

22h00 Momento Kenner

02h00 Tudão Crocodilo 

Palco KABANA DO GERSO:

18h40 Núbia 

20h00 Miss Tacacá convida Pokaroupas

21h20 Sumano

22h40 Irmãs de Pau 

23h40 MU540

Palco Karretinha

19h00 DJ Roberto Figueiredo

20h05 DJs Meta/Esquema

21h10 Tristan Soledade

22h15 DJ Pedrita

23h20 DJ Jon Jon 

Domingo | 17 de Dezembro

Palco GUELRA

17h00 Abertura

18h05 Dead Fish 

20h10 La Pupuña

22h20 Jaloo

01h00 Viviane Batidão part. Gaby Amarantos

Palco RIO VOADOR:

17h10 Elisa Maia

19h00 Rachel Reis

21h10 FBC

23h30 Alcione convida MC Tha

MEGAZORD

02:00 Carabao 

Palco KABANA DO GERSO:

18h40 Vanessa Ayres

20h00 Zudzilla

21h20 Os Quentes da Madrugada

22h40 Slipmami 

00h00 Banda Mega Pop Show & Luiz Guilherme

01h20 Frimes 

Palco Karretinha

19h35 DJ Zek Picoteiro

20h40 Dj Mayara Barreto

21h45 Dj Gil do Mauro Som

22h50 Dj Dyselma 

23h55 Jr Alucinado & Cleiton

01h00 David Sampler & Nayty show

15.12.23

Psica promove shows gratuitos no centro histórico

Mateus Aleluia, músico baiano, ex-integrante
do Tincoãs, banda atuante nos anos 60 e 70.
Hoje, na Praça do Carmo. Corre!
Foto (reprodução/Internet)
Destacando a música preta periférica da Amazônia, o Psica 2023 chega ao centro histórico de Belém nesta sexta-feira 15, com apresentações gratuitas. São quatro palcos que funcionarão em praças e píer da Casa das Onze Janelas. Nos dias 16 e 17, os shows serão no Mangueirão, com compra de ingresso. 

Píer da Casa das Onze Janelas, Praça Frei Caetano Brandão, Praça do Carmo e Praça do Relógio, tudo palco gratuito que destaca a música preta periférica.  Além de grandes nomes da música nacional, o evento traz, este ano, diversos mestres da cultura paraense e grandes aparelhagens de tecnobrega. Gaby Amarantos, Viviane Batidão e Jorge Ben Jor são artistas que apresentarão shows inéditos nesta edição.

O Psica transcende a simples definição de um evento multicultural. Como nas edições anteriores, o primeiro dia é gratuito e aberto ao público, mas, este ano, surge com uma proposta mais social e cultural: realizar a programação na Cidade Velha, bem no Centro Histórico de Belém. 

Neste ano, o evento conta com o patrocínio máster da Petrobras e do Nubank, através da Lei de Incentivo à Cultura Rouanet e Ministério da Cultura, e tem patrocínio de Beats, através da Lei de Incentivo à Cultura Semear e da Fundação Cultural do Pará, e apoio da Prefeitura de Belém, por meio da Fumbel.

Inspiração na Cabanagem

Psica em 2022 (Foto/Divulgação do Evento
O movimento da Cabanagem, revolução popular paraense que resistiu à República, serviu de inspiração ao Festival Psica. E não à toa decidiu escolher pontos estratégicos no centro histórico para montar seus palcos.

“O Psica 2023 vem com uma pegada conceitual muito forte referente à Cabanagem. Então, é simbólico a gente ocupar a Cidade Velha e torná-la um grande palco para o nosso festival. Realizar essa programação no Ver-o-Peso sempre foi o nosso sonho. Por isso, a gente inventou uma grandiosa programação gratuita. Vai ser lindo ver o contraste do Ver-o-Peso, dos barcos, do mercado de ferro com a estrutura das aparelhagens. A gente quer entregar um evento muito bonito para o dia gratuito para movimentar a cidade, sabe?“, conta Jeft Dias, diretor do Psica. 

Outra alusão ao movimento foram os Motins, série de debates e ações formativas abordou entre tantos temas, as políticas públicas de cultura voltadas à periferia. Foram, ao todo, 15 atividades realizadas no Sebrae Pará. Na quinta-feira, 13, o assunto foi “Gestão cultural para a periferia”, com Helena Barbosa, diretora superintendente do Centro Cultural Dragão do mar, em Fortaleza (CE), Úrsula Vidal, titular da Secult-Pa e Inês Silveira, da Fumbel.

“O Motins é uma programação que acontece desde o início do festival, lá em 2012, e a intenção é contar a nossa própria história, falar sobre a nossa trajetória e debater assuntos e pautas importantes para a nossa periferia. É o momento de compartilhar o que a gente está conseguindo alcançar. Então, é uma forma de trazer as nossas dores, compartilhar o que sentimos na periferia, o que a gente sente de positivo, de negativo, e botar em prática as nossas ideias”, explica Jeft Dias.

Opções variadas no centro histórico

Nesta sexta-feira, 15, são 4 palcos espalhados pelos pontos turísticos do bairro histórico da Cidade Velha, com programação que, em determinados horários, se sobrepõe e será preciso que o público realmente escolha o que deseja ver. A boa notícia é que os palcos formam um grande corredor cultural, interligando uma atração à outra. O leque é bastante variado. Vai do carimbó à guitarrada, do jazz à aparelhagem.

Tudo começa às 16h30, no Palco Guelra, localizado próximo à igreja de Santo Alexandre, com um cortejo encantado, seguido de apresentações da banda Afro Axé Dudu, Mateus Aleluia e Amazônia Jazz Band + Orquestra Som.

Seguindo adiante, a partir das 19h45, no palco Rio Voador, no Píer da Casa das Onze Janelas, o público confere os shows de Kaê Guajajara e em seguida tem Aldo Sena, Mestre Curica, Mestre Solano e Clube da Guitarrada

Já no palco Kabana do Gerso, na praça do Carmo, a programação inicia às 18h30, com o Lambada Social Clube, projeto que já vem ocupando a praça há alguns meses com apresentações; seguido do samba do Fé no Batuque, na intensidade do  Bando Mastodontes, Dj Iury Andrew e encerrando com show do Flor de Mururé.

No quatro palco, o Megazord, na Praça do Relógio, a programação é para virar dia, com duas aparelhagens, a Ouro Negro, a partir da meia noite, e a Lendária Rubi, fechando a primeira noite mega sonora do festival.

Programação no Magueirão

O Festival Psica segue no sábado, 16, e no domingo, 17, no novo Magueirão. E para democratizar e fortalecer a diversidade, embora nestes dias as atrações sejam pagas, o festival lança a Lista Transfree, que garante entrada gratuita para pessoas trans, travestis e não-binárias.

No Mangueirão, são cinco palcos. No sábado, 16, a programação inicia no palco Guerra, a partir das 17h, seguindo com Suraras do Tapajós , Zaynara, Don L, Nego Gallo e Jorge Bem Jor.  No oalco Rio Voador , a partir das 17h40, tem Baixo Calão, Odair José e Azymuth, Majur, encerrando com Gang do Eletro.

No palco Megazord, a partir das 22h, tem Momento Kenner, encerrando com Tudão Crocodilo; no palco Kabana do Gerso, a partir das 18h40, tem Núbia, seguida de Miss Tacacá convida Pokaroupas; Sumano; Irmãs de Pau e MU540. No quinto palco, o Karretinha, a partir das 19h, conta com DJ Roberto Figueiredo, DJs Meta/Esquema, Tristan Soledade, DJ Pedrita e DJ Jon Jon. 

No domingo, 17, despedida do festival em 2023, o palco Guerra abre às 17h e segue com Dead Fish, La Pupuña, Jaloo e Viviane Batidão, com participação de Gaby Amarantos. NO palco Voador , a partir das 17h10, tem Elisa Maia, seguindo com Rachel Reis, FBC e Alcione convida MC Tha. No Megazord, às 2h tem Carabao. 

No Kabana do Gerso, a programação abre 18h40, com Vanessa Ayres, seguindo com Zudzilla, Os Quentes da Madrugada, Slipmami, Banda Mega Pop Show & Luiz Guilherme, encerrando com Frimes. Já no Karretinha, a partir das 19h35, tem DJ Zek Picoteiro, Dj Mayara Barreto, Dj Gil do Mauro Som,  Dj Dyselma, Jr Alucinado & Cleiton, encerrando com David Sampler & Nayty show.

Programação Centro Histórico de Belém

Sexta | 15 de Dezembro

Palco GUELRA: Próximo à Igreja de Santo Alexandre

16h30 - Concentração Cortejo

18h - Cortejo Encantado

19h - Banda Afro Axé Dudu

20h40 - Mateus Aleluia

22h - Amazônia Jazz Band + Orquestra Som de Pau Oco + Mestres e Mestras

Palco RIO VOADOR: Píer da Casa das Onze Janelas

19h45 - Kaê Guajajara

21h35 - Aldo Sena + Mestre Curica + Mestre Solano + Clube da Guitarrada

Palco KABANA DO GERSO: Praça do Carmo

18h30 - Lambada Social Clube

19h50 - Fé no Batuque

21h20 - Bando Mastodontes

22h30 - Dj Iury Andrew

00h - Flor de Mururé

Palco MEGAZORD: Praça do Relógio

00H -  Ouro Negro

01h - Lendário Rubi

(Colaboração do jornalista Vagner Mendes)

Grupo Experiência convida para viagem a Bragança

A Estrada de Ferro de Bragança (E.F.B), extinta ferrovia que ligava o município à capital paraense, é o eixo narrativo de “Belém Bragança – Os trilhos da Esperança”, do Grupo Experiência, em cartaz neste sábado, 16, às 20h, dentro da programação de reinauguração do Teatro Margarida Schivasappa. 

O papel do artista como um observador atento e sensível é fundamental na criação artística, independentemente da disciplina específica em que esteja envolvido. A capacidade de observar o mundo ao redor, absorver experiências e se envolver emocionalmente com a realidade é um catalisador poderoso para a expressão criativa. 

O diretor e dramaturgo Geraldo Salles é um exemplo do quanto essa observação aguçada se torna a matéria-prima inspiradora que transforma observações em obras. Não à toa, à frente do Grupo Experiência, ele está em cartaz há 40 anos, com Verde Ver-o-Peso, um espetáculo que se inspira no cotidiano da maior feira a céu aberto da América Latina.

É assim que surge “Belém Bragança – Os trilhos da Esperança”, espetáculo que o Experiência estreou este ano no palco do Teatro do Sesi, e que retorna em cartaz, com única apresentação neste sábado, 16/12, na inauguração do teatro Margarida Schivasappa. 

Desta vez, Geraldo Salles, a inspiração veio de uma visita feita à Bragança, onde passou alguns dias e teve oportunidade de conhecer pessoas que lhe contaram histórias da cidade e da Estrada de Ferro. Curador de experiências, filtrando e interpretando o universo bragantino, o diretor e dramaturgo entrou, então, num estado criativo e ao se deparar com um livro unificou o fio narrativo.

“No hotel em que estava hospedado eu encontrei um livro sobre a Estrada de Ferro e vi que entre Belém e Bragança eram cerca de 9 horas de viagem. Fiquei pensando que seria bonito e interessante contar as coisas curiosas que sucediam, abordar também questões históricas e políticas, além de trazer a cultura bragantina junto”.

Apaixonado pelas histórias locais, pelas pessoas e pela cultura única do lugar, o diretor encontrou na Estrada de Ferro de Bragança uma fonte inesgotável de inspiração para criar uma narrativa envolvente. Os anos, porém, se passaram, até que ele propôs escrever o espetáculo com José Leal, o saudoso Zecão que, além de ator integrante do Grupo Experiência, havia escrito alguns dos quadros de Verde Ver-o-Peso, e topou. A obra teve inicio, mas com a perda do ator, em abril de 2021, a ideia ficou novamente engavetada.

Personagens históricos e música ao vivo

Geraldo já retoma à ideia apoiado, desta vez, pela escritora bragantina Mariana Bordallo, que já vinha realizando uma espécie de consultoria sobre as histórias e a cultura bragantina, junto ao próprio Zecão, e que mesmo sem ele chegou ao texto final junto a Geraldo salles e equipe do grupo Experiência. 

Com Mariana entram em cena personagens literalmente familiares, além de uma série de personagens importantes que costuram a narrativa, entre eles, seu pai e tio Armando Bordallo da Silva, médico e intelectual bragantino, que ajudou a fundar e participou de associações que impactaram a economia, a educação e promoveram a conscientização do meio ambiente do município de Bragança, na zona do salgado paraense, e Bolívar Bordallo da Silva, advogado,

historiador, folclorista e intelectual bragantino. Também entra em cena, logo no início, Simpliciano Fernandes de Medeiros, meu bisavô, na época Intendente de Bragança, presente na inauguração da ferrovia, entre outros. 

Não darei spoiler de outros personagens, mas são 20 pessoas envolvidas ao todo no espetáculo, entre atores, técnicos e músicos, sim, trata-se de um musical. E um spoiler agora. Neste sábado, 16, além de dois músicos em cena, teremos também a presença e participação do músico e compositor bragantino Toni Soares, autor da trilha do espetáculo. 

“É um musical e não poderíamos trabalhar com músicos que não fossem essência também dessa cultura. O Toni Soares é um dos fundadores do Pavulagem, tem um trabalho muito imbuído na cultura bragantina, que ele vive, então fez todo sentido e teremos sua presença neste sábado”, afirma o diretor. 

Efervescência cultural e econômica

A Estrada de Ferro de Bragança (E.F.B), como uma inovação tecnológica facilitou a comunicação entre as cidades, impulsionando trocas culturais e o escoamento de produtos agrícolas, contribuindo para o desenvolvimento das regiões beneficiadas por suas linhas. 

A inauguração do primeiro trecho que ligava Belém e Benevides ocorreu em 1884, mas a inauguração só mesmo 1908, desempenhando papel crucial na integração cultural e econômica entre Belém e a cidade de Bragança.

Em Bragança, segundo maior centro urbano da região, a época foi de efervescência, em conexão direta com Belém. O espetáculo explora então essa jornada de cerca de 9 horas de viagens sobre os trilhos. Geraldo Salles, sensível a essa riqueza narrativa, traz à vida essas histórias, proporcionando ao público uma viagem fictícia entre as duas cidades, permeada por relatos autênticos daqueles que testemunharam a jornada nos vagões da E.F.B. 

José Leal, colaborador e amigo do diretor, desempenhou um papel fundamental na adaptação das histórias reais coletadas para uma comédia de costumes. Embora inspiradas em eventos reais, as histórias foram habilmente ajustadas ao roteiro, preservando apenas algumas personagens reais para manter a autenticidade.

Final emocionante 

A peça é uma homenagem não apenas à Estrada de Ferro de Bragança, mas também às pessoas que moldaram sua história. 

Ao trazer à tona as memórias dessas experiências, Geraldo Salles também permite que o público mergulhe numa rica e pouco conhecida história do estado do Pará. A viagem do espetáculo encerra quando o trem, saído de Belém, chega à Bragança, no dia da procissão de São Benedito, em plena festa da Marujada. 

É portanto um marco, que Belém terá oportunidade de ver pela segunda vez, mas é de certo que Bragança precisa urgente ver também. “Vamos fazer este retorno neste sábado, mas queremos fazer uma temporada de mais dias. E também queremos chegar a Bragança. Estava quase tudo certo com o secretário de cultura, mas acabou sendo adiado, aguardamos que em 2024 possamos levar também para o lugar que inspirou tudo isso”, finaliza Geraldo Salles. 

Serviço

 “Belém Bragança – Os trilhos da Esperança”, do Grupo Experiência. Neste sábado, 16, às 20h, no teatro margarida Schivasappa do Centur, em Belém-Pa. Ingresso trocado por 1kg de alimento não perecível.

8.12.23

Les Rita Pavone celebra uma década de historia

Um show especial, neste sábado, 9/12, a partir das 21h, na Casa Apoena, marca a data com show e convidado especiais.

Após hiato de 4 anos, o Les Rita Pavone lançou, em 2021, a canção "Eva". 

Este foi o ponto de partida para a produção do aguardado álbum de estúdio, "El Baile Rock", que está sendo lançado aos poucos através de singles pelo selo "Maxilar". O disco, previsto para 2024, contará com a participação de diversos integrantes das várias formações ao longo dos anos.

Em um momento especial de celebração, o Les Rita Pavone escolheu a Casa Apoena para realizar seu primeiro show em comemoração aos 10 anos de existência, neste final de semana. Promete ser uma noite memorável, repleta de emoções e participações de amigos e ex-integrantes das várias fases da banda.

A abertura do show ficará por conta do Mateus Moura, ex-membro do Les Rita até 2017, com seu espetáculo "Aqui Agora". Nos intervalos, o Dj Gabriel Gaya assumirá as pick-ups, proporcionando um set envolvente que mescla soul, música brasileira, latina e paraense.

Trajetória da banda

Tudo começou em 2006, quando os estudantes de História da Universidade Federal do Pará, Rafael Alcântara e Gabriel Gaya, junto ao cineclubista e estudante de Letras Mateus Moura, deram vida ao que viria a se tornar o Les Rita Pavone. Inicialmente, o "Les Rita" servia como um espaço para a troca de composições e ideias sobre música.

Foi somente em 2012 que a banda ganhou forma real com o lançamento do álbum "Sentimento do Mundo", marcando o início de uma jornada que passou por várias formações. Em 2019, a formação se estabilizou, consolidando a presença de Gabriel Gaya (vocalista e compositor), Arthur da Silva (violonista, vocalista e compositor), Helênio Cézar (baixista), Jimmy Góes (guitarrista) e Luiz Otávio de Moraes (baterista).

Serviço

Shows: Mateus Moura “Aqui Agora” & Les Rita Pavone 10 anos

Local: Casa Apoena (Rua São Boa Ventura 171, Cidade Velha)

Data: 09/12/2023

Horário: A partir das 20h

Ingressos Antecipados: 1 por R$ 15,00 e 2 por R$ 25,00  

Portaria: R$ 25,00