30.10.20

Henry Burnett lança álbum de música instrumental

“Estudos Instrumentais” estará disponível a partir desse sábado, 31, nas plataformas digitais. O 1o álbum instrumental do compositor traz registros em gravações Lo-Fi de 10 Estudos para guitarra, compostos entre 2019 e 2020. Os temas foram registrados em Home Studio e receberam intervenções dos músicos Maurício Panzera, Kareca Braga, Arthur Alves, Guilherme Granato, Marcelo Gabbay, Renato Torres e Ziza Padilha, um super time! 

Produzido por Maurício Panzera (mixagem) e Henry Burnett, e masterizado por Rodrigo Fonseca (Baticum Discos), “Estudos Instrumentais” chega para quebrar uma tradição. O trabalho musical de Henry Burnett é permeado pela palavra. Em parcerias com os poetas Edson Coelho, Paulo Vieira ou Renato Torres, a canção sempre foi privilegiada em sua trajetória. A vida, porém, é essa caixinha de surpresas e descobertas que fazemos sobre nós mesmos e nossos desejos no momentos mais inusitados da vida. 

O atual trabalho surge meio que assim, resultado do confinamento vivido durante o ápice da Pandemia, uniu esforços. Cada músico gravou seu instrumento em casa, às vezes captando a partir de celulares. Tudo para desbravar o novo, tecendo desafios que na verdade já estavam superados, mas ainda adormecidos.

“Comecei a compor pequenas peças instrumentais somente no ano passado. Não tenho formação musical, não escrevo música, todos os Estudos nasceram de modo instintivo e nem sei bem qual a fonte desses exercícios sem letra. A verdade é que mostrei alguns deles para o Arthur Alves, violoncelista paraense que mora hoje em Londrina, e foi ele que ouviu o conjunto e percebeu nele uma unidade que eu mesmo não via”, conta Henry. 

O compositor acredita que, no fundo, a ideia de fazer o álbum nem é dele, mas de Arthur. "Devo a ele a sugestão de convidar outros músicos, que poderiam criar sobre os meus temas de modo livre. Se ganhei confiança para levar em frente o registro, foi graças à audição atenta do Arthur. Queria que ele improvisasse sobre todos os temas, mas ele generosamente achou que valeria a pena agregar outros músicos e timbres, ampliando a ideia”. 

Feito de forma artesanal, o novo disco não significa que a palavra tenha sido deixada de lado. “Diria que não, já compus dois novos temas que foram compostos depois dos Estudos finalizados, e que estão sendo trabalhados em parceria com o Kareca Braga, guitarrista de Belém que admiro desde a adolescência, e que está trabalhando com eles, algo para mim inimaginável há um ano atrás. Ele, Arthur e todos que estão envolvidos são músicos imensos e pessoas generosas ao meu redor, só posso me sentir profundamente gratificado”, continua.

O processo todo acabou mexendo com o compositor que ano que vem completa 50 anos, sendo que 35 deles, dedicados à música. “É uma atividade diária que me movimenta com grande intensidade”, diz. Ele também acredita que os Estudos são fruto de suas audições diversas das obras de Bill Frisell, Julian Lage, Toninho Horta, Guinga e outros guitarristas mundo afora.

“Somado a isso, um entrosamento maduro com meus instrumentos. Talvez os Estudos sejam fruto desse amadurecimento, mas não é uma transição, não sou um músico propriamente. As canções estarão sempre em pano de fundo de tudo. Só me sinto mais aberto e corajoso para deixar vir à tona esses novos caminhos”, conclui.

Música e Filosofia

Além de sua dedicação à música, Henry Burnett atua como professor e já publicou livros como "Cinco Prefácios Para Cinco Livros Escritos: Uma Autobiografia Filosófica de Nietzsche" (Belo Horizonte, Tessitura Editora, 2008), "Nietzsche, Adorno e um Pouquinho de Brasil" (São Paulo, Unifesp, 2011) e "Para Ler O Nascimento da Tragédia de Nietzsche" (São Paulo, Loyola, 2012). Graduado em Filosofia pela UFPA, com Mestrado e Doutorado em Filosofia pela UNICAMP, ele  é Pós-Doutor pela USP e pelo CESEM - Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical | Universidade Nova de Lisboa. 

Nasceu em Belém, em 1971, onde viveu até os 27 anos. Morou em Campinas, Rio de Janeiro e São Paulo. O trabalho como compositor o fez desenvolver uma identidade musical que resulta dessa vivência e das informações da tradição do cancioneiro popular brasileiro. Henry faz parte de uma geração de compositores que acrescentou alguns novos elementos à tradição da música paraense, principalmente na aproximação desta com a esfera pop.

Lançou o primeiro CD aos 25 anos, Linhas Urbanas (1996) e só 10 anos depois gravou o álbum, Não Para Magoar (2006), com as 12 faixas escritas de próprio punho; letra e música. O disco foi gravado em Belém em dezembro de 2005 e lançado no ano seguinte. Poucas semanas depois de seu lançamento no teatro Margarida Schiwazzappa, em Belém, o álbum foi selecionado pela curadoria musical do SESC São Paulo e lançado no Projeto Prata da Casa, na unidade do SESC Pompéia, em outubro de 2006.

Em 2017, o cantor e compositor lançou “Belém Incidental”, um trabalho com pegada roqueira, produzido pelo músico Fábio Cavalcante, com canções autorais e parcerias com compositores paraenses, como Renato Torres (“Reino”), Paulo Vieira (“Belém de Passagem”, “Entremãos”, “Isso é Viver”, “Oswald Canibal”) e Edson Coelho (“Trem do Samba”). A cantora Sammliz dividiu com ele os vocais de “Isso é Viver”. No dia 12 de outubro, deste 2020, lançou também “Canções da Infância inteira”, com sua filha Júlia, de seis anos, nos vocais junto com ele. 

E em 2021, Henry vai lançar dois novos livros, "Espelho musical do mundo", pela editora PHI, resultado da sua tese de livre-docência defendida na Unifesp, onde ele leciona no curso de filosofia" e "Música só", reunião de ensaios e artigos esparsos sobre música que vai ser lançado pelo selo Caliban, da UnB".

Para ouvir Henry Burnett e seus Estudos Instrumentais:

https://tratore.ffm.to/estudoshenryburnett

https://www.youtube.com/user/mundiandomusic

29.10.20

Heldilene Reale abre sua 1a exposição individual

"Tessituras de um Rio", com curadoria de Marisa Mokarzel, foi contemplada pelo Prêmio Branco de Melo 2020 de apoio a Produção Artística - Fundação Cultural do Pará - Governo do Estado. A exposição abre no próximo dia 6, na Galeria Theodoro Braga, com visitação do público até 30 de novembro. A artista bateu um papo com o blog sobre sua trajetória, que passa pela produção, educação, pesquisa e curadoria em arte.

Doutora em Artes (UFMG) e Mestre em Comunicação, Linguagem e Cultura (UNAMA), Heldilene Reale atua como artista e pesquisadora; e realiza curadoria na galeria do espaço cultural Candeeiro, aberto recentemente, no centro histórico de Belém. Iniciou sua trajetória em 2004, transitando por multilinguagens artísticas e temáticas da memória, patrimônio, narrativas orais, percursos de viagens e conflitos na Amazônia.

“Tessitura de um Rio” nasce a partir do processo de pesquisa de Heldilene Reale, iniciado em julho de 2017, na pesquisa em poéticas desenvolvida no doutorado em Artes. Neste contexto, a artista se desloca no percurso de um Rio Amazônico que perpassa o trajeto de Belém até a cidade de Faro (PA). O deslocamento neste rio faz parte de memórias afetivas construídas com esta paisagem a mais de 20 anos atrás, relacionadas ao processo de imigração de seus avós paternos italianos, a cidade natal de seu pai, que passou a ser também a cidade onde a artista passou parte se sua infância. 

A exposição é formada a partir de três Tessituras: A Tessitura I apresenta um conjunto de imagens que instigam as memórias que levaram ao retorno deste rio enquanto elo motivador: Imagens dos arquivos do álbum de família, passaporte de sua avó paterna, desenhos, mapas. 

A Tessitura II exibe os territórios do navio e as paisagens humanas e não humanas presentes neste deslocamento, os viajantes que teve contato sendo representados a partir de fotografia, diário e desenhos da experiência com os mesmos, além do filme “Tessituras de um Rio”. 

A última Tessitura apresenta as ruínas encontradas em Faro, ao ir ao encontro da casa onde morava, da casa de seus avós italianos, da sua escola e do carro que pertencia a sua família naquela época. Exibe-se ainda aspectos históricos sobre a cidade, trazendo reflexões em relação a representação destes espaços e as mudanças que os mesmos sofreram, e como as ruínas agregam novas possibilidades históricas em memórias que já se perderam. 

Ao longo da exposição será promovido um encontro digital entre a artista e a curadora, por meio do projeto  da galeria, “Uma Conversa de Acervo”. Em breve a data será divulgada, mas a seguir ela adianta um pouco aqui sobre os processos que levaram a realização dessa exposição. 

Holofote Virtual: É a sua primeira individual.  Fala um pouco da trajetória que te trouxe até aqui.

Heldilene Reale: Iniciei minha trajetória enquanto artista em 2004, desde então sempre realizei exposições de forma coletiva, ou me envolvendo com coletivos ou fazendo parte de uma Mostra que tinha esse corpo. Sempre gostei da coletividade e ela ao longo destes anos me levou a refletir sobre meu próprio processo também. 

Minha carreira acadêmica perpassa pelo estudo e pesquisa do processo de criação de outros artistas, o que me nutriu muito também em aprendizado e experiências. No entanto, em 2016 entro no Programa de Pós Graduação em Artes da UFMG, o que me levou ao inicio do estudo sobre minha poética visual, a pesquisa da tese me levou ao reencontro com um percurso que faz parte da trajetória de minha família desde quando meus avós paternos migraram para o Brasil, o percurso de Belém até a cidade de Faro (PA). Cidade onde meu pai nasceu e onde vivi parte de minha infância. 

A pesquisa que envolve este processo de criação, reúne o meu deslocamento para Faro depois de mais de 20 anos que não visitava a cidade, e lá reencontro ruínas nos ambientes que um dia foram elementos que fizeram parte de nossa história no lugar. O que me levou a necessidade desse retorno foi a presença da imagem da minha avó em um passaporte encontrado após o falecimento de meu pai, não tinha referência visual da mesma antes disso. Sempre pensei em uma exposição individual que tivesse um amadurecimento maior enquanto processo de pesquisa, sabia que um dia ela ia chegar, não importava quando, a experiência iria dizer.

Holofote Virtual: Pelo breve recorte de imagens que vejo aqui, a exposição conta também com fotografias. Há quanto tempo praticas esta arte?

Heldilene Reale: Sim a exposição conta com fotografias, desenhos, mapas, vídeos, diário, cordel, álbum de família, passaporte, postal. Ela é bem variada enquanto linguagem. Tive contato com a fotografia e filmagem desde a infância, tínhamos uma câmera analógica que não me recordo o modelo, além de uma Polaroid modelo 636 clouse up que guardo até hoje, e uma filmadora Panasonic de fita cassete.  Havia uma preocupação de meu pai e de minha mãe em montar e estruturar nosso álbum de família não só com imagens impressas mas com filmagens. 

A fotografia de certa forma sempre nos acompanhou, meu pai gostava muito de nos registrar e de ser registrado. Ainda em Faro inicio a prática com desenho, estimulado no ensino fundamental durante as aulas da Professora Lucinéia, que reencontro em Faro durante a pesquisa. Em 2004 o exercício com estas e outras linguagens se aperfeiçoa a partir do Curso de Artes Visuais e Tecnologia da Imagem e dos outros cursos que fui fazendo pela cidade. Gosto das provocações que a imagem nos suscita a produzir e refletir em diversos suportes e linguagens.

Holofote Virtual: Tens uma atuação como educadora. Como é este percurso ? 

Heldilene Reale: Minha trajetória profissional se integra com a arte educação, experiências com espaços culturais e restauro. Durante muito tempo fui professora acadêmica atuando nos cursos de Artes da UNAMA e como professora substituta na UFPA. Depois do doutorado dei um tempo da carreira acadêmica, que estava me levando a situações contraditórias do que acredito como experiência na Educação. Este tempo está sendo necessário para engajar novos projetos como profissional da educação, como artista e como agente cultural. 

Holofote Virtual: O trabalho de curadoria requer aproximação, na maioria das vezes, entre o curador e o artista. Neste caso, sabemos do envolvimento e conhecimento de Marisa Mokarzel com a arte. Como é essa tua relação com ela?

Heldilene Reale: A Marisinha foi minha professora e orientadora no Curso de Artes Visuais da Unama e no Mestrado em Linguagem, Comunicação e Cultura, participou da banca de defesa do meu doutorado, é uma grande amiga, uma pessoa admirável no circuito das Artes Visuais e de fundamental importância na minha carreira profissional e em minha vida. Somos amigas e parceiras de projetos desenvolvidos dentro e fora da carreira acadêmica, ela vem acompanhado tudo que venho desenvolvendo ao longo destas experiências de escrita de produção. A exposição é mais um encontro de nossos afetos. Não poderia ser outra pessoa. 

Holofote Virtual: E agora também tens um espaço no centro histórico, como anda este projeto? Vai haver algum desdobramento desta exposição junto ao Candeeiro?

Heldilene Reale: O Candeeiro faz parte desses novos projetos que o tempo dado a Academia tem me proporcionado. Em conjunto com meu companheiro Natan Garcia estamos desde julho enfrentando todos desafios de montar um espaço em realidade virtual, diálogos virtuais com artistas e programações educativas. Apesar das experiências estarem sendo enriquecedoras e cheias de aprendizados, nada substitui o presencial. Porém enquanto não houver ainda a vacina, continuaremos adotando as medidas preventivas, e a virtualidade é um dos caminhos. 

Acredito que a exposição terá desdobramentos, não sei ainda de que forma, nem aonde, talvez surjam nas experiências que o período da Mostra irá suscitar. Quando pensamos no Candeeiro, pensamos em um espaço que expusesse os trabalhos de outros artistas e não os nossos enquanto artistas, talvez ele não esteja diretamente na galeria do espaço, mas o Candeeiro já entra como apoiador cultural na Exposição presente na Galeria Theodoro Braga. 

(Fotos que mostram Heldilene Reale: Natan Garcia)

24.10.20

Giselle Ribeiro lança "Escola para Mulheres Safo"

O lançamento será neste sábado, 24, no Núcleo de Conexões Na Figueredo, às 19h. Na programação haverá um bate-papo com a poeta e o crítico Paulo Nunes, mediação feita pela jornalista Erika Morhy, além de sarau de poemas eróticos com microfone aberto ao público, sorteio de peças íntimas da personagem Dina, projeção de videopoemas, sessão de autógrafos. A entrada é  franca, respeitadas as normas do distanciamento social. Para os que não estão saindo de casa, o bate-papo será transmitido pela plataforma Zoom e o restante da programação pelo Facebook. O livro será vendido no local e depois ficará à disposição do público na livraria da Loja Na Figueredo.

É o sexto livro de Giselle Ribeiro, que como poeta faz um trânsito profícuo entre a poesia adulta e a literatura infantil. Sai pela Editora Folheando.  A autora estreou em Belém com o livro Objeto Perdido em 2004, compondo um conjunto de poesia e colagens, desde então sua poesia se inscreve com as marcas do erótico e do lúdico e recorre a procedimentos experimentais a partir da costura, desenho, bordado e colagem sobre papel. Vida autobiográfica misturada com ficcional: a memória do corpo, o toque da pele. A imaginação. 

Neste novo livro a poeta prolonga todos esses aspectos da sua escrita por um ângulo ainda mais frontal, colocando-os no diferente contexto de uma sala de aula, mediados por uma personagem, Dina, que orienta nos poemas uma longa discussão sobre sexo, sexualidade e gênero, como um procedimento corrente na contemporaneidade, mas que recorre aos resquícios da poesia de Safo – poeta grega da Ilha de Lesbos, do século 6 a.C. O livro assume, assim, as feições de um texto movido pela atualidade, mas que também pode desfigurar-se e empreender uma crítica da História, essa na qual as lutas das mulheres estão abolidas.

Giselle, que também é docente de Teoria Literária da UFPA, insere sua poesia em uma tematização a que recorreram poetas como João Cabral de Melo Neto, em A Escola das Facas (1980), que abre espaço para uma poesia da memória individual e coletiva em que o corpo recebe predominantemente atenção no discurso poético, algo sem precedentes na obra anterior do poeta. Giselle Ribeiro vai também a esse extremo da personalização – a nudez, o despojamento do corpo e da escrita.

Serviço

Lançamento do Livro Escola Para Mulheres Safo, de Giselle Ribeiro. Hoje (24), às 19h, no Núcleo de Conexões Na Figueredo - Av. Gentil Bittencourt, 449, entre Benjamin Constant e Tv. Dr. Moraes – Nazaré - Belém / BRASIL.

(Holofote Virtual com informações da Assessoria de Imprensa) 


22.10.20

Fernando Segtowick fala de seu processo criativo

Produzir documentário não é fácil como às vezes parece. O processo todo, da pesquisa até a montagem, pode ser até mais complicado do que realizar um filme de ficção. Na entrevista a seguir, eu converso com Fernando Segtowick sobre a jornada de produção e lançamento de "O Reflexo do Lago", o seu primeiro longa metragem, que vem sendo exibido em festivais importantes de cinema, dentro e fora do país. Também falamos sobre fazer cinema na Amazônia, seus novos projetos e de políticas públicas para o audiovisual. Para ele, depois de algumas décadas de conquistas dos realizadores, com financiamento do governo federal, chegou a hora da contrapartida regional. 

“O Reflexo do Lago” levou cerca de quatro anos para ser lançado. Vi o documentário na semana passada. É surpreendente. Não espere entrevistas longas sobre sobre a perda de ecossistemas naturais, de emissão de gases e efeito estufa na região. Os danos causados, todos os impactos sociais e ambientais deixados pela construção da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, no entanto, estão "gritando" no filme.

“O Reflexo do lago”, inspirado no livro de fotografias "O Lago do Esquecimento", de Paula Sampaio,  traz recortes de memórias submersas, mas reflete principalmente as lições que não foram aprendidas com Tucuruí, assim como aconteceu com outros grandes projetos realizados na Amazônia, cujas tomadas de decisão sobre grandes obras públicas na Amazônia sempre foram pautadas na exploração da região, sem retornos sociais, deixando degradações ambientais irreversíveis. Belo Monte está aí, não é?

A fotografia toda em Preto e Branco revela o estado das coisas e das pessoas encontradas no percurso feito pelo diretor, que se coloca como personagem do filme, e dentro desse universo, nos conduzindo ao mergulho no tempo e na vida de um lugar que sobrevive à maior barragem hidrelétrica já erguida na floresta amazônica, ainda que, quarenta anos depois, os que moram nas ilhas do rio Caraipé, dentro do reservatório da usina, ainda não tenham  acesso à eletricidade em suas casas. 

A beleza da fotografia é tão grande quanto a tristeza que se instala em nós ao ver e ouvir cada fala espaçada de um morador em conversa com o diretor do filme. Os sons naturais que emanam de um lugar que apesar de tudo, ainda é habitado. Construída para fornecer energia à indústria do alumínio, não melhorou a vida das pessoas e nem se pensou na manutenção da floresta, na biodiversidade.

Da retomada do cinema paraense aos grandes festivais

O Reflexo do Lago” já foi exibido em Berlim, fez sua estreia nacional na semana passada, no “Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba”, e segue em outros festivais, como ele vai contar, até que seja disponibilizado na internet. 

É uma conquista para quem vem há pelo menos 30 anos militando pelo audiovisual paraense. Fernando Segtowick integra esse movimento que marca a retomada do nosso cinema, no final dos anos 1990, uma década marcada inicialmente com extinção da EMBRAFILME, um dos 'feitos' do Programa Nacional de Desestatização (PND), do governo de Fernando Collor de Mello. 

Em 1993, quando foi criada a Lei do Audiovisual, que passou a promover novos investimentos por parte do governo federal na produção cinematográfica. Depois disso surgiram editais de incentivo a longas e curtas, lançados pelo saudoso Minc. Foi quando começamos a falar também na retomada do cinema paraense. Primeiro com os editais do MINs, a partir de 1999 e depois com o edital Prêmio Estímulo da Prefeitura de Belém, uma conquista coletiva da categoria. Foram apenas duas edições, mas que renderam cerca de seis projetos, entre eles, “Dias”, o primeiro curta de Fernando Segtowick, que tinha concluído um curso de cinema na New York Film Academy, nos Estados Unidos.

O filme mostra o lado cosmopolitade uma cidade cravada no coração da Amazônia, sempre vista com eufemismos e por sua face mais exótica. Depois veio “Dezembro”, já em 2004 e, no ano seguinte, Fernando já começa a se voltar para o documentário com o lançamento de "Imagens Cruzadas", financiado pela bolsa de criação artística do Instituto de Artes do Pará (IAP), e em 2008, com “Jovens, Tefé, AM”, sobre os jovens da cidade de Tefé e da reserva Mamirauá, ambas no estado do Amazonas.

Trabalhei com Fernando em seu último curta de ficção, o premiado "Matinta", de 2010, produzido com o edital do MinC, um filme feito entre Belém e Mosqueiro, e que trazia como mote uma lenda amazônica das mais conhecidas. Sua estreia foi no 43º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro onde recebeu 2 prêmios – Melhor atriz (Dira Paes) e Melhor Som (Miriam Biderman, Ricardo Reis, Evandro Lima e Paulo Furnari Gama). Em 2015, Fernando criou a Marahu Filmes, com o sócio Thiago Pelaes, que assina a fotografia de “Reflexo do Lago. 

Holofote Virtual: A escolha de te colocares como personagem do documentário já estava no escopo do projeto desde o início, ou se foi algo que você optou já com as filmagens em andamento?

Fernando Segtowick: Realmente, desde o inicio tinha essa ideia de eu ser um personagem. Eu estudei engenharia, meu pai é engenheiro e tal, então, a principio a minha carreira seria trabalhar como engenheiro eletricista.

No tempo de estudante, eu cheguei a visitar Tucuruí. Eu queria trabalhar com geração de energia, porque eu achava interessante; e aí eu tinha uma foto dessa época. Eu, na barragem. Quando eu voltei pra lá, por conta do livro da Paula (Sampaio), de qualquer forma, eu voltei uma pessoa muito diferente. Estive lá, muito tempo atrás, quando eu nem imaginava em trabalhar com audiovisual, enfim.

O projeto tem vários anos. Primeiro o desenvolvimento, depois a produção. No desenvolvimento, eu já tinha uma estrutura de documentário que mesclava imagem de arquivo, com a vida dos moradores. Mesclava a equipe e também o diretor. Só que no começo era mais uma narração, um processo um pouco mais tradicional, mas não tanto como esse personagem diretor que chega pra fazer esse filme, seria uma coisa menor. 

Holofote Virtual: Como foi a pesquisa e o processo criativo para essa montagem final?

Fernando Segtowick: A gente recebeu uma verba para fazer o desenvolvimento, e a gente foi fazer pesquisa. Então a princípio, a gente foi atrás de lugares que a gente ia filmar, porque o lago é muito grande, então seria inviável, até mesmo em termos de custo, você dar conta de todo o lago de Tucuruí, que é uma coisa muito grande. E aí a gente acabou situando mais no rio Caraipé, onde eram essas comunidades. E aí fomos entender o lugar onde a gente ia gravar, entendendo também visualmente como esses lugares eram. 

Começamos a ir para Tucurí em 2016, então no começo era muito isso, aquelas entrevistas formais, a pessoa sentadinha olhando pra câmera, a imagem de cobertura e tal.  Mas desde o início, eu sempre tive muito claro o filme que eu queria fazer? Eu não sabia, mas eu sabia o filme que eu não queria fazer. Eu não queria fazer uma reportagem, e eu não queria fazer um filme institucional, então a gente precisava criar uma narrativa pra isso. Depois que conseguimos realizar a produção, comecei a criar esse roteiro no qual esse diretor vai e encontra com essas personagens, e vai atrás de fazer esse filme sobre este lugar. 

A montagem começou em paralelo, e com isso começamos a perceber coisas que funcionavam, outras que não funcionavam, enfim, isso faz parte do processo de um documentário com outra proposta de narrativa, de inovação, enfim. Então, basicamente funcionou muito assim: a gente pesquisou muito, filmou muito, entrevistou muita gente, falou com muita gente, filmou coisas na cidade, que acabaram não entrando, então tem muito material que não foi usado no projeto, mas que faz parte dessa narrativa, dessa jornada para esse lugar.

Holofote Virtual: Achei muito forte quando um dos moradores diz que se eles não falarem que havia uma floresta ali no lugar do lago, as novas gerações não iriam saber, pois isso vem se apagando já na memória. Tens contato com os moradores. Eles já viram o filme?

Fernando Segtowick: A gente tem contato com os moradores, mas eles não viram o filme inteiro, apenas trechos, porque a gente ainda não tinha conseguido finalizar tudo. 

A ideia era lançar o filme em julho desse ano em Tucuruí, mas como chegou a Covid, e como lá foi um dos lugares que mais foi afetado no Pará, ficou bem complicado. Estamos planejando fazer isso no primeiro semestre do ano que vem, mas sem uma data definida ainda, porque tem essa questão da pandemia, dos cuidados, porque muitas das personagens que entrevistamos são já de mais idade, enfim. Ficamos preocupados de fazer um lançamento desses, e levar o vírus pra lá pra dentro de Tucuruí. Eu falei essa semana com um dos entrevistados, não aconteceu nada, estão todos bem, mas a gente fica preocupado.

Holofote Virtual: Vamos falar da fotografia e do som do filme. Esses dois fatores mais a narrativa geraram uma obra de arte. Como foram essas escolhas? 

Fernando Segtowick: Desde o inicio eu sempre pensei em fazer o filme em preto e branco, e tínhamos uma referencia muito forte do trabalho da Paula Sampaio, mas eu achava que esse filme falava muito sobre o tempo. Ou seja, apesar dele se passar nos dias de hoje, ele se remete diretamente a uma obra que foi pensada nos anos 70, executada nos anos 80 e durante esse período todo, teve todas essas consequências, todos esses impactos. 

Ainda sobre a fotografia eu acho que quando se filma em preto e branco, traz mais essa percepção. E que isso é uma coisa que faz sentido para a Amazônia, de olhar para os ciclos. A gente tem falas desde 1945 até o fim dos anos 80, então o filme, pra mim, tem essa coisa atemporal, a palavra mais correta seria essa. 

Na questão do som, eu sempre achei que o lago tinha uma atmosfera, uma geografia, um território diferente. É um lugar mexido pelo homem, alagado, com árvores mortas, animas que desapareceram. Em se tratando de Amazônia, percebi aquele lugar como um lugar muito diferente dos que eu já tinha visitado, como reservas, enfim, lugares que tinham mais “vida”. Não é que ali esteja sem vida, porque tem os moradores, mas ele foi um lugar mexido, então acho que o som é fundamental pra gente marcar aquele lugar, como um lugar único. Investimos muito, tanto na parte de fotografia, quanto na de som. 

Holofote Virtual: O  que essa experiência te deixa de percepções sobre essa Amazônia, floresta adentro, sobre políticas públicas, grandes projetos? 

Fernando Segtowick: Eu acho que o filme tem muito sobre a Amazônia, quando a gente olha as imagens de arquivo, da época da construção da hidrelétrica, ou a gente olha as imagens de arquivo do pessoal que coletava castanha, a gente vê que não mudou muito. 

A região continua sendo olhada como o lugar a ser explorado, a ser domado; e para fornecer matéria prima, seja castanha, seja energia, seja minério, tudo para o exterior. O Reflexo do Lago é o reflexo desses grandes projetos, a maneira como a Amazônia é vista pelo mundo, como é vista pelo Brasil, que não conhece também a Amazônia, então, acho que tem muito isso,  tanto é que o título em inglês, tem essa questão do espelho da Amazônia.

Holofote Virtual:  A tua carreira começou com interesse pelo cinema de ficção. Isso mudou? Fala um pouco dessa trajetória como diretor.

Fernando Segtowick: Falando de ficção e documentário, cada vez mais essas fronteiras explodiram. Acho que todo documentário é uma obra de ficção. Ele é uma coisa criada, uma coisa pensada, desenhada, embora baseada em coisas reais. E eu vejo os depoentes, personagens,  ali como atores, assim como eu. Tem muita coisa ali que foi escrita, pensada, desenhada, pra funcionar como um filme de ficção. Então eu acho que essas coisas meio que se misturam, embora eu considere o filme um documentário.

E pensando na minha trajetória, eu fui muito pro documentário nos últimos anos por causa de custo. E eu acho, sinceramente, que pra mim é até um desafio maior, sabe? Você lidar com aquilo que está na sua frente, com a realidade, você traduzir, transpor aquela realidade como uma narrativa. Isso é até muito maior e mais desafiador do que simplesmente criar uma história da minha cabeça. Mas também tenho novos projetos de ficção.  E eu realmente queria também, como primeiro longa, um documentário, acho que eu me sentiria mais confortável, embora não tenha sido assim, pois foi um salto no escuro fazer o Reflexo.

Holofote Virtual: O momento exige de nós muito foco, estamos passando por mais um momento turbulento no setor audiovisual, com extinção do MINc, lentidão na Ancine, programas sendo extintos. No Pará, a Lei Milton Mendonça foi sancionada e estamos entrando em um processo de chamadas públicas emergenciais. Fala um pouco desse cenário e dos teus projetos para 2021.

Fernando Segtowick:  Agora a gente está num momento bem complicado, mas demos uma virada grande na nossa produção. Tivemos financiamento para pesquisa, consultoria de roteiro, produção executiva, participação em laboratório, viagens. Fizemos coisas que a gente nunca tinha feito nos últimos 15 anos anteriores. Os últimos cinco  valeram por uns 20 ou 30 anos.  Não podemos deixar que se perca todo o investimento que tivemos do Governo Federal, antes desse atual governo, e precisamos agora realmente da contrapartida do governo do Estado e da Prefeitura. 

É o momento dos investimentos regionais, Estado e Município, para que a gente não perca todo esse esforço já feito e nem todo esse resultado dos últimos anos. Chegou a hora de pensarmos nisso. Eu estou muito envolvido nos projetos e nas políticas. Sou diretor aqui no Norte da API, que é a Associação de Produtores Independentes, e do Conselho Municipal de Cultura. Tenho militado bastante para ver se essas coisas caminham.  Ainda é muito difícil para os gestores públicos entenderem que o audiovisual é uma atividade complexa, muito mais difícil que a música, que a fotografia, que o teatro, enfim.

E não que seja mais difícil de fazer, é porque sempre envolve muita gente, e por isso tem sempre o orçamento mais caro. Os nossos empresários têm muita dificuldade de acreditar nesse investimento, e isso gera dificuldade de captar na iniciativa privada em relação a outros segmentos, que já estão mais consolidados, ou que têm orçamentos menores, e um público mais definido.

Holofote Virtual:  O Reflexo do Lago tem feito uma bela carreira, como tem sido essa experiência pra ti?

Fernando Segtowick: Acho que isso é importante para o nosso cenário como um todo. Não somente para o filme, porque você ter um primeiro longa paraense no festival de Berlim é um marco realmente pra gente. E ele está sendo selecionado em outros festivais, enfim.. é um aprendizado, porque quando você vai pra um festival desses, você entende muito bem como funciona o mercado, como é que é isso dentro da indústria do cinema, como é você estar no festival, como é você participar dos debates, conhecer outros realizadores, ver outros filmes.

Está sendo um aprendizado muito grande pra mim, porque eu estou assistindo outros filmes, e com isso posso entender o que é que o cinema contemporâneo está produzindo, está fazendo. De uma maneira geral, independente de prêmio, de seleções, o filme já tem essa vitória por ter passado em alguns festivais importantes e continua sendo demandado. Para mim tem sido essa experiência de entender esse universo. Fui, pela primeira vez, a um festival grande na minha carreira. E já fui com um longa estreando numa mostra importante, então é uma responsabilidade, uma pressão, mas um aprendizado gigante.

Holofote Virtual: Projetos para 2021

Fernando Segtowick: Tenho quatro projetos dentro da Ancine que eu espero que sejam contratados, porque até agora estão dentro da burocracia. São duas séries documentais, um longa documentário, que estou como produtor executivo, pela Marahu, e uma série do edital da Funtelpa que também é documental. Em paralelo, estamos finalizando na Marahu um documentário que é sobre o Luiz Braga, e este já  tem um tempão que está sendo feito, mas ainda não encerrou. E estou tentando formatar o meu projeto de primeiro longa de ficção que se chama Passagem Esperança. Estou indo atrás de financiamento, porque ele ainda não tem. 

Holofote Virtual: Onde vai ser possível ver o filme nos próximos meses, algum outro festival on-line em vista?

Fernando Segtowick: Para os próximos meses temos uma exibição na França, no Festival Jean Rouch de filme etnográfico, e a gente vai confirmar e divulgar esta semana um novo festival que já me confirmou, mas ainda não posso divulgar, e a gente está na expectativa de próximos festivais ai para novembro e dezembro. Depois disso poderemos ter o filme acessado em novas plataformas paro público poder assistir. É isso. 

(Fotos: Still/Thiago Pelaes)

Circular abre inscrições para "Cenas em Horizonte"

A oficina será ministrada por Lucas da Cunha, da Cia Sorteio de Contos, direcionada a artistas, produtores de conteúdo e entusiastas de criação de vídeos para a web. Inscrições de 23 de outubro até o dia 3 de novembro no site do Circular

Esta é mais um das oficinas do 2º Ciclo de Ações Educativas do Circular Campina Cidade Velha. A ideia agora, é incentivar a criação de conteúdo audiovisual próprio, conectando o ambiente em que os participantes vivem com as vivências de cada um. 

“Creio que o artista deve falar sobre seu tempo e sua realidade. Discutir conceitos de criação com as ferramentas que já possui em casa é ressignificar a própria existência do entorno e do íntimo de cada um”, declara Lucas. Durante a oficina, serão criados vídeos narrativos sobre histórias que os participantes queiram criar ou até mesmo contar, caso sejam histórias reais.

“A criação se desenvolverá criando a princípio um roteiro. Caso haja necessidade de sair da reunião virtual, serão realizadas saídas individuais para filmagem. Lembrando que nós iremos utilizar apenas o celular como principal ferramenta de captura e encontro virtual.. Depois de todos terem seu vídeo narrativo pessoal, partiremos para a possibilidade de criação em coletivo”, ressalta Lucas.

Para se chegar aos resultados da oficina, as produções terão como ponto de partida as seguintes temáticas: “as memórias e o presente em torno de mim” e “a janela e o tempo”. Será trabalhado com o público participante a produção de roteiros, edição e percepção de público para melhor engajamento. O material produzido será divulgado nos canais do Circular e nas páginas pessoais dos participantes (YouTube e Instagram).

Formado pelo Iesam em Comunicação Social Multimídia, Lucas é técnico em ator pela UFMG e cursa especialização em dramaturgia na Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (ETDUFPA). Em Belém, já tratou com a Cia In Bust Teatro Com Bonecos, Usina Contemporânea de Teatro, Cia Nós Outros de Teatro, Cia Madalenas de Teatro, além de ter outras experiências em Belo Horizonte.

Plataforma digital

Assim como as demais oficinas, a formação será oferecida via internet, desta vez por meio do aplicativo Whatsapp, como forma de minimizar os impactos ainda causados pelo coronavírus e ainda prevenir a proliferação do vírus, visto que o número de casos voltou a aumentar em Belém. A oficina ocorre nos dias 16, 18, 20, 23, 25, 27 e 30 de novembro, e será concluída no dia 2 de dezembro, sempre no horário de 19h às 21h.

Serviço

Oficina “Cenas em Horizonte”, com Lucas da Cunha, recebe inscrições do dia 23 de outubro até 3 de novembro. Realização Amigos de Belém e Equipe Gestora do Circular, com patrocínio Banco da Amazônia e Alubar, via Lei Rouanet, Ministério do Turismo – Governo Federal.

(Holofote Virtual com Circular Campina Cidade Velha/Natália Mello)

21.10.20

Pólo Cultural apresenta o projeto "Arte é Inovação"

De 22 a 25 de outubro, o projeto pretende discutir o valor da arte e da cultura na construção de um mundo mais justo e inclusivo. A programação tem como base física, o espaço da Cia da Revista, mas será transmitido online de graça, para todo o mundo, pelo canal do YouTube da Polo Cultural.

Em meio a tantos desatinos que vieram à tona com a Cobid-19, uma coisa boa ao menos se fortalece neste novo cenário cultural! O “novo normal” nos trouxe maior acesso à arte e à cultura, não só como espetáculos, mas com debates de ideias, performances e apresentações artísticas que trazem também reflexão e inclusão. 

Antes disso, só teríamos este acesso de forma presencial, o que já era um obstáculo, caso este não fosse realizado em nossas cidades. Não estou aqui enaltecendo qualquer coisa dessa pandemia, mas é fato que antes disso, o setor cultural ainda pouco se utilizava da ferramenta de transmissão on-line. 

O evento em questão, o "Arte é Inovação" ocorre em São Paulo, na Cia da Revista, um espaço de teatro situado em Santa Cecília. Vai reunir até domingo, 25, artistas e profissionais de diversos setores, que participarão de quatro dias de programação, com oito mesas redondas, e quatro performances. Cada dia abrigará dois debates, um às 16h e outro às 18h e uma atividade artística abre e fecha o evento diariamente.

Questões básicas hoje em debate na sociedade - como a diversidade sexual e a inclusão do negro e da pessoa trans - há tempos estão incorporadas no universo da arte, mas vivemos em uma cultura disruptiva, em que tudo muda a todo momente. Por isso, devemos crer na criatividade como base da inovação e a arte como sustentação da criatividade. 

A programação, que abre com as atrizes Isabel Wilker e Mel Lisboa traz como tema: “Arte é a saída”. Em seguida, a discussão será “Arte pulsante das periferias”, com o coletivo de literatura Slam das Minas. O dia termina com a intervenção urbana do VJ Suave e uma projeção artística em diferentes lugares da cidade.  Não perca também o papo com o diretor, cenógrafo e figurinista, prêmio APCA 2008 Kleber Montanheiro, “Territórios criativos”, no dia 23, e “Empreendedorismo social”, com Marcelo Sollero, diretor da Polo Cultural, que fala no encerramento. 

Arte como transformação e conquistas sociais

Marcelo Sollero, diretor da Pólo Cultural
Marcelo acredita que “a arte colabora na formação de seres humanos melhores e com mais condições de conquistar oportunidades na vida pessoal e profissional. Também por meio da arte e da tecnologia, as pessoas da periferia tem alternativas para se empoderar e conquistar seu espaço.

Partindo do princípio de que o artista sempre está na vanguarda do pensamento, Sollero conta que idealizou o evento para tratar sobre o valor da arte na sociedade e jogar luz em temas caros a uma sociedade inovadora, “além de ligar a arte diretamente com a inovação”, diz o diretor. 

Além dos temas já citados, também serão abordados: Arte pulsante das periferias, Arte engajada, Centros comunitários e vida na periferia, Êxodo para o Interior, Acessibilidade artística . 

Para montar a curadoria dos temas, Sollero pesquisou assuntos relevantes para a geração que hoje está com 30 anos. Entrevistou especialmente mulheres sobre o que pensam para o futuro. Ouviu que trabalho e sucesso na carreira são importantes, mas o pensamento principal diz respeito a estarem envolvidas com questões sociais, de terceiro setor.

“Elas se preocupam em contribuir para um futuro com melhor convivência entre as pessoas e qualidade de vida, mais liberdade criativa, diversidade e inclusão, assuntos que fazem parte de uma luta antiga, ideias que agora estão incorporadas por essa geração”, finaliza.

Mel Lisboa abre evento e encena performance no sábado

Mel Liboa, no debate e na cena
A atriz Mel Lisboa, que participa da primeira mesa “Arte é a saída”, nesta quinta-feira, 22, vai encenar, no sábado, 24, o seu primeiro experimento cênico online, a peça Madame Blavatsky. A peça foi escrita por Cláudia Barral a partir da obra homônima de 1985, de Plínio Marcos (1935-1999), protagonizada na época, Walderez de Barros.  

Agora, sob a direção de Márcio Macena, Mel Lisboa entra em cena como uma espécie de hospedeira para o espírito da escritora russa, principal nome da Teosofia, Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891) que retorna para esclarecer pontos de sua história que não ficaram muito bem explicados. E no processo, outros espíritos surgem para dar cada um sua versão dos fatos.

A proposta da peça é ser um encontro caseiro e virtual, e não um espetáculo. O cenário é a casa da atriz, com pequenos ajustes estéticos que ajudam a dramaturgia. O figurino também foi composto com peças já existentes. "Escolhemos manter uma única câmera, parada, fixa, impossibilitados de fazer cortes, sem utilização de ferramentas como o zoom do equipamento, e assim transmitir a imagem mais parecida com a que seria o ponto de vista de um expectador na poltrona de uma plateia de teatro', informa a produção. 

Confira toda a programação

Dia 22 de outubro - quinta

16h - Tema: Arte é a saída. 

Com as atrizes Mel Lisboa, Isabel Wilker, Leona Jhovs (atriz, diretora, roteirista, apresentadora, cantora. Mulher TRANSfeminista ), Cauâ Taborda (líder de comunicação e assuntos públicos do Youtube na América Latina). 

Mediação – Luz Ribeiro (poeta e pedagoga, integra o Slam das Minas). 

18h - Tema: Arte Pulsante das Periferias. 

Com Slam das Minas (Carol Peixoto e Pam Araújo) e Khally (bboy, bailarino da periferia).

Mediação – Helder Oliveira.

 20h - Performance – VJ Suave (duo formado por Ygor Marotta e Ceci Soloaga

Local – esquina da Consolação com a Caio Prado, a partir das 20h.

Dia 23 de outubro - sexta

16h - Tema: Arte engajada – 

om a artista e designer gráfica Marcela Scheid, Fábio Ventura (Coletivo Abrupto). 

Mediação - Leona Jovis.

18h - Tema: Territórios criativos - a ascensão da classe criativa. 

Com o diretor , cenógrafo e figurinista, prêmio APCA 2008 Kléber Montanheiro, 

Museu do Amanhã (representante). 

Mediação – Marcelo Sollero. 

20h – Performance - Slam das Minas faz batalha de poesia ao vivo.

Dia 24 de outubro - sábado

Abertura – quatro bailarinos – Bboys.

16h – Tema: Centros comunitários e vida na periferia. 

Com Teto, coletivo Gastronomia Periférica e bailarino Khally (bbou,  ip-hop). 

Mediação : Marcelo Sollero.

18h – Tema: Território Global. Com Ygor Marota e convidado do Uruguai. Mediação – 

20h – Performance – Sessão do monólogo Madame Blavtski. 

Texto – Cláudia Barral. Direção – Marcio Macena. Interpretação – Mel Lisboa. 

Dia 25 de outubro – domingo

16h - Tema: Acessibilidade artística. Com a atriz pedagoga, psicopedagoga, arte educadora, produtora e diretora teatral Nina Mancin e diretor, roteirista e ator Victor di Marco.

Mediação: Marcelo Sollero.

18h - Tema: Empreendedorismo social em busca de autonomia. Impact, Plana Vivências, 

Mediação : Marcella Franco.

20h – Performance – bloco Vra Power

Inscreva-se no canal e acomapanhe:

https://www.youtube.com/user/polocultural

(Holofote Virtual com informações da assessoria de imprensa da Pólo Cultural)

20.10.20

Turismo e cultura como políticas de intercâmbio

Depois de discutir o empreendedorismo feminino na música, a próxima live do projeto de extensão “Intercâmbio Turístico-Cultural entre Belém – Pará - Brasil e Cabo Verde” da Factur – Faculdade de Turismo (FACTUR), da Universidade Federal do Pará (UFPA), vai discutir as políticas de turismo e cultura como fatores de aproximação entre Belém e o país africano. 

A conversa com o professor Paulo Pinto, da Faculdade de Turismo da UFPA e coordenador do projeto; e Manuel di Candinho que, além de músico e diretor musical cabo-verdiano, é também Vereador em seu país, será no dia 29 de outubro, às 19h, com transmissão pelo Facebook do EMPACTUR - Escritório Modelo de Práticas Acadêmicas em Turismo/UFPA e pelo Youtube da M.M. Produções. E a mediação será da Bacharel em Turismo, Inês Silveira. 

É a segunda live dessa nova etapa do projeto, retomado no dia 2 de outubro. Tive o prazer de participar da primeira roda de conversa que trouxe como tema o empreendedorismo feminino na música em Belém e em Cabo Verde. Um convite da coordenação do projeto, a que agradeço a oportunidade. Participaram as cantoras Mariza Black e Natália Matos, paraenses, e Mindela Soares, de Cabo Verde, além da pesquisadora turismóloga Auda Piani e da professora, e turismóloga também, Silvia Cruz, da Factur. Nossa mediação foi da Bacharel em Direito Livia Duarte.

O papo foi delicioso, extenso com cada uma contando um pouco do seu fazer profissional. A live foi gravada e ainda pode ser vista na íntegra, no canal de Youtube da M.M., mas destacarei  aqui as questões levantadas para as cantoras sobre os modos de atuação e produção de cada uma em seus respectivos países. Embora tenhamos diferenças em relação ao desenvolvimento local do setor, as semelhanças na construção de uma carreira são muitas e passam pela falta de políticas públicas de incentivo à produção, até a forma de se lidar, hoje, com as novas plataformas de difusão e venda da música. 

Atrativo turístico e intercâmbio cultural

Outra coisa me chamou atenção. Mindela Soares nos contou que por meio da música brasileira, os cabo-verdianos acabam sabendo e se conectando mais com a cultura do nosso país, mas que o contrário (ainda) não é verdadeiro. Ela disse que gostaria que nós também soubéssemos mais sobre eles e pudéssemos trocar mais com a música deles. 

Mindela canta samba como Mariza Black. Ela ainda não conhece ainda muito bem, os ritmos paraenses. "A nossa caldeira lembra um pouco o carimbó", me dizia ela em uma entrevista, antes da live. “Somos culturalmente muito semelhantes em nossa constituição demográfica. A presença da matriz africana está em nossos ritmos musicais, na gastronomia, no sincretismo religioso etc. ”, resumiu o prof. Dr. Paulo Pinto.

E ano passado já tivemos aqui, um pouco disso, e também tive a chance de acompanhar de perto, e fiz diversas postagens aqui no blog. Manuel di Candinho esteve em Belém, participando do  primeiro momento do projeto de intercâmbio, e como músico nos falou sobre a Coladeira e a Morna, e mostrou, na prática, o Funaná, que em muito se aproxima da nossa guitarrada. 

Na ocasião, ele fez uma participação no show de lançamento do álbum "sem chumbo nos pés', do músico paraibana Naldinho Freire, um dos grandes incentivadores do projeto, responsável por apresentar o cenário cultural da música do país africano à Universidade Federal do Pará.

“Penso que devemos intensificar mais esta troca de experiências, sobretudo no setor da cultura, para que os brasileiros conheçam mais sobre Cabo Verde. Vejo que os cabo-verdianos conhecem mais do Brasil, do que vice-versa. Isso porque o Brasil ganhou projeção mundial cedo. Cabo Verde só agora está sendo mais conhecido, e isso é graças à música”, diz Manuel di Candinho que nesta próxima live vai nos trazer uma visão mais ampla sobre as políticas de turismo viáveis em países tão culturais, como Cabo Verde e o Brasil. 

O intercâmbio é um viés dessa política pública necessária ao turismo conectado com a cultura. Cabo Verde vem dando exemplo com a realização de eventos como o AME – Atlantic Music Expo, feira de cultura e negócios da música, criado em 2014, e que vem atraindo artistas e empresários, além de turistas, de todo o mundo. Além da visitação, esse tipo de turismo também abre novas possibilidades ao setor musical do país. Este ano, por causa da pandemia, o evento foi cancelado, mas já tem data para ser realizado, em abril de 2021. Aviso para quem desde já quiser se planejar. Vontade de chegar junto, não me falta.

Turismo cultural e pesquisa acadêmica

Além do viés cultural, o intercâmbio do projeto tem se firmado por meio das conexões do ensino e da pesquisa. Ano passado, na primeira fase do projeto, Paulo Pinto integrou a comitiva que viajou à Cabo Verde. Ele, representando a Universidade Federal do Pará (UFPA), participou de uma extensa programação, que incluiu uma reunião com a Profa. Dra. Judite Medina do Nascimento, Reitora da Universidade de Cabo Verde (UNICV), juntamente com parte de sua equipe de Pró-Reitores.

“Na reunião apresentei o Projeto de Extensão seu objetivo e suas atividades, e ao final saímos com a proposta de firmarmos um protocolo de intenções para a troca de experiências entre a UFPA e UNICV nas áreas do ensino, da pesquisa e da extensão”, continua Paulo Pinto.

O Curso de Turismo da UFPA tem mais de 40 anos de existência. De acordo com Paulo Pinto, “ainda é um curso que tem um grupo de professores pequeno, mas mesmo assim desenvolvemos o ensino de graduação (Bacharelado em Turismo) em Belém e campis da UFPA nos municípios de Soure, Bragança, Breves, Portel, Tucuruí e no distrito de Mosqueiro”, explica.

O turismo cultural vem sendo discutido e posto em prática por alguns projetos que partem da sociedade civil. Além de acreditar na valorização do patrimônio cultural, material e imaterial, o turismo cultural tem como objetivo combater os impactos negativos do turismo “predador”, que deixam um rastro de sujeira e prejuízos. Veja como é importante que haja politicas públicas para o fortalecimento da memória, da história, hábitos e costumes. 

“Sem esses atrativos culturais, naturais etc. não haverá deslocamento turístico. As pessoas não viajam para conhecer lugares no qual não tenha um resquício, pelo menos, dessa memória para ser apreciada”, afirma Paulo Pinto.

O Projeto de Extensão “Intercâmbio Turístico-Cultural entre Belém – Pará - Brasil e Cabo Verde” é financiado pela Emenda Parlamentar Individual (Nº 30870013) do Deputado Federal Edmilson Rodrigues, por meio do Ministério da Educação - Governo Federal, UFPA, PROEX - Pró-Reitoria de Extensão | UFPA, Fadesp - Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa, ICSA - Instituto de Ciências Sociais Aplicadas.

Serviço

Live ““Políticas públicas de turismo e cultura como fatores de aproximação entre Belém do Pará e Cabo Verde”, do projeto de extensão “Intercâmbio Turístico-Cultural entre Belém – Pará - Brasil e Cabo Verde” . Dia 29 de outubro, às 19h, com transmissão pelo Facebook do Empactur – Escritório Modelo de Práticas Acadêmicas em Turismo da UFPA - https://www.facebook.com/Empactur/.  E pelo Youtube da M.M. Produções, link: https://www.youtube.com/user/marciojmacedo .

O mundo pós-pandemia para ler em livro digital

Enquanto o mundo aguarda uma vacina contra o coronavirus, escritores brasileiros já se debruçam na criação de narrativas sobre a sociedade que herdaremos, com todas as implicações em decorrência do impacto da pandemia. Assim nasce o e-book @Normal, uma coletânea de contos com narrativas de um mundo pós-pandemia da Covid 19, já disponível na Amazon. A organização é de Bogado Lins.

Ao todo, são dezessete textos com estilos e abordagens diferentes:viagens pelos sonhos, consultorias especializadas em controle de vírus, uma sociedade autoritária distópica no subúrbio do Rio e até um curioso encontro com Keith Richards, num futuro apocalíptico, dentre outros. 

Uma mescla de comédia, drama, terror, suspense, distopia e, por que não? Utopia. Futuros possíveis imaginados por diferentes visões literárias. Os autores selecionados, além de escritores, alguns premiados, destacam-se por sua atuação variada no campo artístico – poesia, artes plásticas, quadrinhos, vídeo, animação, cinema, televisão, eventos e até escolas de samba.  

Destacam-se a chilena Claudia Apablaza, autora de sete livros publicados em diversos países, incluindo o próprio Chile, Espanha, México, Itália e Estados Unidos, dentre eles; Gisele Mirabai, que tem cinco livros publicados, dentre eles, Machamba (Ed. Nova Fronteira), romance vencedor do 1º Prêmio Kindle de Literatura e finalista do Prêmio JABUTI de Melhor Romance, e Guerreiras De Gaia (Grupo Global), adotado por diversas escolas do Brasil.

Participa também, o santista Manoel Herzog, autor de seis livros e  terceiro lugar do Prêmio Jabuti como livro A comédia de Alissia Bloom (2014), terceiro lugar no prêmio Jabuti; Maria Fernanda Elias Maglio, que logo no seu primeiro livro Enfim, imperatriz (Patuá, 2017) venceu o Prêmio Jabuti 2018 na categoria contos e já lançou o seu segundo, 179 Resistência, também pela Patuá; Pacha Urbano que, além de escritor e roteirista, se destaca por ser o criador das tirinhas de humor Filho do Freud, que já conta com uma trilogia lançada“As TRAUMÁTICAS Aventuras do Filho do Freud” (2013,2015, 2017). 

A ilustração da capa é assinada pelo cartunista Nando Motta, que tem se destacado por suas tirinhas com bom humor e sensibilidade. O livro desde o início foi planejado para um lançamento on-line, com contos curtos e que oferecessem elementos cênicos, de modo a se tornar um projeto multimídia. Desta forma, ganhou leitura por atores de prestígio no cenário teatral paulistano, como Gloriete Luz, Lucia Romano, Marta Guerreiro, Nora Prado, Ricardo Gelli e Roberto Alencar. 

Leituras dramatizadas

O livro teve lançamento online (no YouTube), com a leitura dos contos por atores de prestígio no cenário teatral paulistano, como Gloriete Luz, Lucia Romano, Marta Guerreiro, Nora Prado, Ricardo Gelli e Roberto Alencar. Os links estão no final desse texto!

Videos:

https://youtu.be/v0gdjh2fViw

https://youtu.be/3mm56ksP4w8

https://youtu.be/i2n6Jn6lgoE

https://youtu.be/uaGoK-78nzU

Livro @Normal

Editora: Independente

Link de compra: https://amzn.to/35GF4Yi

Preço: R$ 7,99

Organizador: Bogado Lins

Autores: Clark Mangabeira, Claudia Apablaza, Gisele Mirabai, João Knijnik, José Bueno Villafane, Kika Hamaoui, Manoel Herzog, Marcio Sales Saraiva, Maria Fernada Elias Maglio, Pacha Urbano, Paulo Laubé, Rafael Maieiro, Sebastian Ocampo, Solano Guedes, Terêncio Porto, Zeh Gustavo e Bogado Lins.

Realização: Literatura Cotidiana

19.10.20

Henry Burnett lança álbum para o público infantil

“Canções da Infância Inteira” é o primeiro registro em duo do compositor Henry Burnett com sua filha Julia Burnett, de 6 anos, a partir de poemas do Livro de Imaginacéu, do poeta Paulo Vieira, ressaltando um parceria que já é antiga, tendo rendido o Retruque/Retoque, disco duplo belíssimo, que também une a composição musical de um e textual do outro.  Desta vez, porém, a obra tem foco no público infantil, ao todo são 10 canções. 

"Canções da Infância Inteira" foi gravado inteiramente em Home Studio, com participações especiais de João Burnett e Pablo Vieira. Henry Burnett tocou todos os instrumentos do disco sobre programações, efeitos e mini-synths criados por Renato Torres (Guamundo Home Studio), a partir dos timbres da Roland CR78. 

“O Renato fez todas as bases pra todas as musicas, Eu toquei todos os instrumentos de cordas - violões, guitarra, contrabaixo - e no caso, nós gravamos tudo aqui em casa mesmo. Eu encaminhava pro Renato, ele mixava, foi um trabalho de mais ou menos dois meses, até chegarmos na versão final, mixada e masterizada”, diz Henry, professor, músico e compositor paraense que mora em São Paulo.

Além das oito musicas com letras de poemas do livro, Henry incluiu mais duas composições suas, feitas para seus filhos. “Do livro eu musiquei 08 poemas, mas quando o João (meu filho) nasceu, eu compus uma canção pra ele e quando a Julia nasceu e entrou na música, mas era coisa de casa, chamei de 'Palharina'. É a música que abre o disco e todas as crianças participam, o Pablo, João e a Julia. Fiz outra música engraçada sobre alimentação (Saladinha da Juju). Foram essas canções que geraram a concepção do disco”, segue Henry. 

Julia já demonstrava interesse pela música desde muito nova e logo começou falar e a cantar. “Ela é muito exibida, muito apresentada e, diferente do Pai, é bem afinada. Tem essa coisa da desafinação da voz ainda em formação, mas ela é incrivelmente afinada pra idade dela”, diz o pai. 

A ideia inicial inscrever em edital projeto para lançar um vídeo musical com animações pra crianças, mas o engajamento da Julia foi tão grande que todos os planos foram refeitos. A ideia era fazer vídeo de animações e isso não está descartado. O primeiro passo foi dado com o lançamento da produção musical. 

“Julia é o estopim do disco, essa que é a realidade, porque ela me ouvia cantando e começou a decorar todas as letras, e quando eu ia tocar ela começou a dar umas canjas comigo, e ela cantava justamente essas músicas, e a coisa foi crescendo, ao ponto que eu disse ‘bom, agora vamos fazer nosso disco’”, continua. 

Nos 04 meses de isolamento social, durante os momentos mais intensos da pandemia, a casa de Henry e Julia se tornou um laboratório musical. “Foi um dos nossos escapes mesmo. A gente teve como aliviar a pressão sobre eles que é tão grande, até maior do que sobre nós, né?”, reflete o músico. 

Já o processo de gravação, que até para adultos é tenso. “Studio é uma coisa super tensa, foi um parto pesado com ela, que nunca tinha feito isso, de gravar, de colocar o fone, ouvir o playback e ter que gravar em cima. Algumas músicas não são tão simples, não são fáceis, são complicadas e tem essas harmonias que eu trabalho que não são muito simples, então foi um parto”, conta Henry.

Para ouvir:

http://bit.ly/Album_Henry_Julia

13.10.20

Márcio Moreira lança single com Roberto Menescal

Depois de dois singles lançados, o paraense radicado no Rio de janeiro preparou um álbum autoral com 10 faixas, que será conhecido aos poucos, no formato de singles, até ser revelado na íntegra em 2021. “As cores das flores” é o primeiro, que chega em parceria com Roberto Menescal, o mestre da bossa nova, com quem divide os vocais. Lançamento será dia 23, nas plataformas digitais.

Jornalista de formação e executivo do segmento musical há quase uma década, Marcio Moreira, acostumado a estar próximo de grandes nomes da música brasileira (a lista é longa e inclui artistas de vários segmentos), decidiu que era hora de investir em duas de suas maiores paixões: cantar e compor. 

É a redescoberta do artista que andava sublimado pelo executivo da indústria da música: “Estar perto de gente genial como Erasmo Carlos, Ney Matogrosso, Novos Baianos, e vivenciar seus processos criativos no front, reduziam a minha coragem de expor a arte que eu faço. No divã entendi que as pessoas são diferentes e tocadas por coisas diferentes e isso me encorajou”, conta Marcio sobre o processo que desemboca agora no novo projeto. 

“Certa vez, nos bastidores de uma gravação, Erasmo me chamou no canto e disse: “Fernanda (esposa) me disse que você lançou uma música! Mostra aí!”. Era a canção ‘Em Paz’, que lancei no primeiro dia deste 2020 tão conturbado. Mostrei o clipe com a mão trêmula e quando acabou ele destilou sua gentileza em uma frase simples, mas que hoje é o mantra que me acompanha: “É muito bom saber que tem um artista cuidando da nossa carreira”. Além de Em Paz, Marcio também lançou Uma Voz, em abril deste ano. 

Além de tocar violão Menescal também canta

Foto: Cadu Dias/Divulgacão
Com Menescal, Marcio divide a canção ‘As Cores das Flores’, primeiro single, a ser lançado dia 23 de outubro, 2 dias antes do aniversário de 83 anos do compositor (em 25/10).  Menescal também divide os vocais, coisa rara, além de tocar aquele violão de mestre.

“Estava almoçando com Menescal e começamos a falar sobre a sua abertura para o novo. Ele me disse, com muita convicção, que essa troca com quem está chegando o enche de vida”, lembra Marcio, que dias depois se deparou com uma matéria que falava do amor do Menescal pelas flores (ele tem um orquidário em sua casa, na Barra). “A letra veio na hora! Escrevi de uma vez e sem pensar muito, para não desistir, e mandei pra ele com a pergunta: ‘Topa uma parceria?’.  

A resposta veio dias depois, em um áudio de whatsapp do próprio Menescal, tocando e cantando a nova parceria. “Como a minha cara de pau já tinha sido bem-sucedida na parceria, o convidei para cantar comigo e ele topou na hora!”, comemora Moreira. Assim nasceu ‘As Cores das Flores’, um senhor cartão de visitas para o que vem por aí.

“Foi um convite de alto risco pois não sou cantor, mas......(risos). Nos conhecemos na gravadora Som Livre, onde ele trabalha, e onde lançamos há pouco um projeto Cazuza em Bossa, que fiz em parceria com Leila Pinheiro e Rodrigo Santos. No meio dos bate-papos de trabalho surgiu a oportunidade de compormos alguma coisa juntos”, diz Menescal, que iniciou a carreira no final dos anos 50, quando a realidade do mercado da música era outro bem diferente do que se vive agora.

“Na verdade, tenho que sentar do outro lado da mesa para aprender com eles o pulo do gato dessa nova realidade desse mercado. Quando comecei minha carreira, no final dos anos 50, consegui junto aos meus amigos músicos desvendar os novos caminhos da grande virada daquela época, mas agora........ vou na correnteza da moçada!”, completa.

Poema de abertura, o segundo single e outras participações 

Laila Garim (Foto do site Pitaya Cultural)

A atriz e cantora Laila Garin vai interpretar um poema de abertura, escrito pelo próprio Marcio Moreira. 

“Tive o insigth de me lançar oficialmente como intérprete das minhas canções assistindo a performance de Laila em “A Hora da Estrela”. Laila já deixou de ser apenas uma artista com quem trabalho e se tornou uma amiga generosa”, pontua o artista.

Já a cantora e compositora Lia Sophia, nascida na Guiana Francesa e radicada em Belém aos 17 anos, que Marcio ouvia nas rádios e assistia nos bares e teatros de Belém, colocou voz na canção "Te quis de cara", que será o segundo single.  “Faltava esse tempero no repertório, então, o Luiz Lopes (guitarrista do Erasmo Carlos, Paula Toller, etc) me convidou para compor com ele. Ele gravou uma guitarrada que lembra muito o carimbó, as coisas do Pará! A generosidade e o carinho da Lia foram enormes e ela retornou com uma voz tão bem desenhada que mal pude acreditar. Era o símbolo que faltava pra temperar esse meu trabalho de estreia”, diz Márcio.

O álbum de estreia de Marcio Moreira ainda reservas outros momentos inspirados: Tem encontros meus com Michael Sullivan, o maior hitmaker do país, que ainda é meu padrinho de casamento! Há afeto de sobra nessas canções”. Parcerias com compositores contemporâneos e da sua terra, como Gabriel Andrade e Alessandro Bacchini, completam o repertório. “A música tem dessas coisas né? Te enseja encontros com o passado, o presente e até com o futuro”, finaliza.