Reunindo 12 imagens, onde o passado e o futuro estão juntos e em movimento, mostrando a cidade em seus vários ângulos e formas, a fotógrafa revela parte de seu trabalho autoral na exposição "Transitório”, sua primeira
individual. "São detalhes de sombras como no impressionismo em que a luz e o movimento buscavam captar o momento”, explica. A mostra está aberta ao público até dia 03 de maio, no espaço cultural do Ministério Público de Contas do Pará (Av. Nazaré, 766). Abaixo leia mais sobre a exposição a entrevista com a artista.
Paixão e entrega são duas características fortes em Irene, que entrou em contato com a fotografia em 1997. Quatro anos depois, ela iniciava a uma carreira profissional, convidada pelo fotógrafo Eduardo Kalif a ministrar uma oficina na Fundação Curro Velho. Desde então, lá se vão onze anos de uma grande experiência que tem entre outras passagens, trabalho com Luiz Braga e na Fotoativa, da qual acabou fazendo parte da diretoria entre 2007 e 2010.
Irene já participou de inúmeras coletivas, como Um banho de Luz (1997), "Um Olhar Pede Passagem" (2003), "Abril Pra Arte" (2004), "Detalhes de Belém" (2005), "O Eterno Feminino" (2008), "Fotoativa Cartografias Contemporâneas" (2009 - São Paulo), "Indicial" (2010), "Viva Nossa Senhora de Nazaré" (2010) e "3º São da vida" - artista Convidada (2010), além das exposições resultantes do Pinhole Day e do grupo Cobra Criada do Curro Velho.
Premiada em 2011 pelo Salão CCBEU (2º prêmio), ela ainda participou de uma mostra de vídeos em Fortaleza, também no ano passado, com um trabalho feito em conjunto com Emidio Contente, sobre os 25 anos da Fotoativa, um documentário que reúne entrevistas com pessoas do passado e presente da associação.
Formada em pedagogia e Produção Públicitária, com Pós Graduação - MBA cerimonial, protocolo e eventos, a fotógrafa confessa sua admiração por Cartier Bresson e Sebastião Salgado, suas primeiras influências.
“Ambos têm a percepção de captar um momento único, um fotojornalismo diferente e com uma plasticidade incrível”, diz ela. E em Belém, pelos trabalhos de Paula Sampaio, Luiz Braga e Miguel Chikaoka.
“Recentemente conheci o trabalho do Mariano Klautau Filho e fiquei boba, gostei bastante. São gerações diferentes, mas a captação da imagem é de uma beleza surpeendente e porque não dizer contemporânea”, diz ela sobre o fotógrafo que faz a curadoria desta sua primeira individual.
Em um texto de apresentação de “Transitório”, Mariano diz: “A série de imagens produzida por Irene Almeida aponta para várias noções de deslocamento. Podemos ver o olho de alguém circulando na cidade, vendo a cidade passar, encoberta pela chuva – os recorrentes, os vidros molhados – ou pelas sombras – que velam um sol insistente. A passagem de um lugar para o outro também remete ao exercício que vai da película, o tradicional filme em preto e branco, até as captações mais imediatas da imagem digital”.
E identifica a fotógrafa como alguém que “está entre essas duas possibilidades e também entre duas ou mais cidades. A fotografia de Irene Almeida é feita basicamente de sombras e anteparos. A cidade está sugerida e muito mais revelada na maneira de olhá-la, perceber seu movimento, suas pequenas e grandes paisagens”.
As fotos da exposição foram feitas não só em Belém, mas também em Bragança, Soure e Montevidéu, no Uruguai. “Fotografias que revelam não só as transições entre filme e digital, entre cor e P&B, entre internos e externos, mas sobretudo o desejo de uma cidade imaginada”, escreve Mariano.
Irene não está sempre com a câmera na mão, ela trabalha na produção de eventos ligados a fotografia e já atuou Colóquio de Fotografia e Imagem e Pinholeday, que integram o calendário anual da Associação Fotoativa e, mais recentemente, está na produção do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, que em 2012 está em plenas atividades de sua terceira edição.
Para conhecer mais sobre a artista, o Holofote Virtual foi atrás de Irene, que generosamente vasculhou o baú da memória para nos contar passo a passo sua trajetória, seus olhares e toda a sua entrega ao mundo maravilhoso da fotografia.
Holofote Virtual: De onde vem a tua afinidade com a fotografia?
Irene Almeida: Eu sempre gostei de desenhar, mas não era boa. Eu tinha curiosidade de saber como uma imagem se formava, e como ela aparecia em um papel, mas achava isso bobo. No entanto descobri que era isso que me atraia dentro da fotografia, um interesse que surgiu quando eu ainda estava na Universidade fazendo pesquisa de campo.
Minha equipe tinha que pesquisar as várias formas de ensino e acabei chegando à Fundação Curro Velho, que tem um ensino voltado para arte e que buscava trabalhar o jovem através desse meio.
Então fizemos a pesquisa e o Alexandre Sequeira que trabalhava lá nos convidou a fazer uma das oficinas. Eu fui, sem saber o que de fato queria, mas durante a pesquisa me encantei com tudo que me foi mostrado. Aí perguntei o que era a Fotografia Artesanal e ele e Paulo Souza me falaram o básico.
Foi então que descobri um mundo que pra mim foi pura magia. Simplesmente me encantei, principalmente quando vi a imagem surgindo no papel fotográfico. Foi só encanto, me senti uma criança com o primeiro brinquedo. Foi mágico e isso me emociona, pois vejo isso nas oficinas que ministro, principalmente com as crianças.
Holofote Virtual: Você também passou pelas oficinas do Miguel Chikaoka que, para todos nós, é uma grande referência na história da fotografia paraense. Como foram teus primeiros contatos com ele e com a Fotoativa?
Irene Almeida: Conheci o Miguel na oficina Brincando com a Luz, por indicação de um dos instrutores do Curro Velho, em 1997, quando também começava a fazer oficinas para conhecer melhor esse mundo. Então, todas as que apareciam eu queria fazer. Eu sempre chegava atrasada nas oficinas dele, mas ele me falava que tudo bem, pois o importante era que eu chegava lá.
Depois disso só fui encontrar o Miguel já quando o Eduardo Kalif sugeriu que fosse a Fotoativa para me inscrever no projeto "Um olhar pede passagem", em que teríamos um profissional de nome nos orientando para fazer um trabalho em fotografia que resultou numa exposição linda.
Em seguida, comecei a frequentar a Fotoativa no Pinholeday, trabalhando como voluntária nas oficinas e na jornada dando orientações dentro do laboratório.
Depois de um tempo me vi participando de várias coisas até começar a trabalhar na produção do Colóquio de Fotografia e depois o café Fotográfico, mas isso sem ter a noção do quando estava aprendendo, pois minha dedicação sempre foi de entrega e paixão sem esperar nada em troca.
Miguel sempre chamava para fazer assistência nas oficinas que ele ministrava. E ele sempre surpreendia, pois eu achava incrível como ele adaptava a sua metodologia de acordo com cada turma. E isso foi e é um grande aprendizado ainda.
A Fotoativa na verdade é um grande laboratório em que você, se souber, pode contribuir e também adquirir muito conhecimento. Experimentar, errar e aprender pra mim sempre estiveram presente em tudo que fiz dentro da Fotoativa.
Holofote Virtual: O que você acha que herda desta experiência toda com ele?
Irene Almeida: O que eu herdei com todo esse processo foi o senso de observação, de percepção, de cuidado e senso crítico. São coisas que não sei, mas acho que foram aguçados durante todo o processo da minha formação. E me sinto querendo buscar sempre algo a mais e diferente. Isso às vezes até me trava e angustia.
Atualmente ainda estou envolvida na Fotoativa, mas um pouco mais distante, pois o tempo me priva de certas coisas. Porém, querendo voltar na produção e coordenação do Café Fotográfico que está deve dar novos frutos novamente. É uma paixão, pois eu vi nascer.
Holofote Virtual: O que mais te atrai na fotografia, quais tuas zonas de interesse?
Irene Almeida: A cidade é uma das zonas que me atrai muito. Pela diversidade, amplitude de detalhes e formas. Mas tudo me chama a atenção e me vejo fotografando e tentando buscar algo que faça e seja a diferença do que está ali. Seja algo que venha de dentro de mim e não que esteja naquele espaço, lugar ou momento. Sempre algo imaginado, loucura (risos).
Holofote Virtual: Estás trabalhando na Fotoativa, no Prêmio Diário de Fotografia, quais teus outros momentos profissionais com a fotografia?
Irene Almeida: Trabalhei com o Luiz Braga nas oficinas do Arraial da luz em 2005 e o Luiz pra mim é um profissional que admiro, pois ele me surpeendeu desde quando fui apresentada a ele pelo Bob Menezes. Era para uma saída do aniversário de Belém e algumas das imagens que estão nessa mostra, eu fiz durante essa saída.
Resumindo, fiz a saída com minha câmera analógica, em PB, e deixei o material (digitalizado) no estúdio dele e pra minha surpresa ele me liga instantes depois falando que meu trabalho estava lindo. Não tens ideia da felicidade que senti, por ouvir isso de alguém que na verdade não tinha por que me ligar, e que podia falar isso depois, sei lá. Mas ele é de uma simplicidade e generosidade admiráveis e com um trabalho fotográfico maravilhoso. Queria ser assim... (mais risos).
Holofote Virtual: E o Mariano, teu curador, como você o conheceu?
Irene Almeida: Conheci o Mariano durante os Colóquios de Fotografia mais precisamente na Fotoativa, porém, de perto mesmo, foi quando ele me convidou para trabalhar na produção do Prêmio Diário, que ele coordena. E ele também me surpreendeu pela generosidade, profissionalismo e reconhecimento. Além de ser um amigo muito querido.
Holofote Virtual: Irene, esta é tua primeira individual, hora de se mostrar por si mesma. Como estás encarando isso?
Irene Almeida: Sim é a primeira individual e está sendo assustador até porque você está mostrando uma produção que poucos conhecem, e que não tem a mínima ideia de como isso vai ser visto e falado por um grupo maior do que costuma. Dá medo sem sombra de dúvidas, mas penso que não estou fora do que é visto normalmente, apenas diferente talvez. Apenas mostrando a cara e pronta para as críticas, pois penso que temos que aprender com tudo que nos é colocado e que colocamos.
Holofote Virtual: O que mais andas produzindo e quais teus projetos futuros?
Irene Almeida: Tenho várias ideias e uma delas é voltar a trabalhar em comunidades periféricas. Já trabalhei durante dois anos com um grupo da Pratinha e foi muito bom, pois de certa forma isso contribui para a vida daquelas crianças. Outra vontade é de trabalhar com algumas imagens que venho adquirindo em brechós e sebos, pelos lugares que viajo. São imagens antigas, com as quais pretendo fazer um trabalho de releitura através da manipulação. Já tenho algo que já foi exposto em coletiva e quero me deter nisso assim que der.
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