9.3.12

Uma instalação pós dramática estreia no Reator

Fotos: Alexandre Sequeira

Se o resultado da utilização de tecnologias audiovisuais e a incorporação de elementos das artes plásticas, música, dança, cinema, vídeo e performance na cena é teatro pós-dramático, termo cunhado por Hans-Thies Lehmann, professor de Estudos Teatrais da Universidade Johann Wolfgang Goethe, em Frankfurt, que estuda este processo desde os ano 90, então é isso que Nando Lima está trazendo ao público de Belém em “Incidental”, que estreia neste sábado, 10, a partir das 21h, no Estúdio Reator.

Há um ano que Nando Lima vem trabalhando neste espetáculo, aprofundando-se em um universo que ele já vem pesquisando desde os anos 80, saindo da superfície do teatro tradicional e em busca de uma interação cada vez maior entre público, cena e espaço, através da performance, de trilhas, ruídos, sons diversos e muita visualidade.

Vindo dos hibridismos experimentados no teatro desde o final dos anos 70, o pós-dramático faz um retorno às ideias de encontros e festividade daquele momento, mas agora se soma às novas tecnologias e pensando desta forma, entenderemos e assim se afirma o mote de “Incidental”. 

“O mote é paixão. Eu descobri isso. Não estava exatamente querendo trabalhar com um tema assim, mas quando fui ver os vídeos, percebi. Não falo da paixão romântica, mas de intensidades e neste sentido tem a paixão pelo trabalho, pelas pessoas que estão por perto. Eu, particularmente me sinto muito feliz de estar fazendo este trabalho. A paixão é incidental”, diz Nando. 

Como vários outros trabalhos que vêm sendo construídos no Reator, desde que o espaço inaugurou em novembro de 2010, “Incidental” conta com a colaboração, desta vez, de Danilo Bracchi (coreógrafo e bailarino), Jeferson Cecim, bonequeiro e ator, que logo estará de volta ao espaço com seu espetáculo Red Bag.

E ainda Leo Bitar, sonoplasta e ator, que vem pesquisando e fazendo a trilha de vários trabalhos neste coletivo de artistas, e do fotógrafo e pesquisador Alexandre Sequeira, que assina um ensaio fotográfico feito durante o processo de Nando.

“O Danilo, por exemplo, filmou e gravou vários áudios e vídeos durante os bate papos que realizamos nos ensaios feitos a amigos, a fim de buscar opiniões e olhares diversos. Há filmagens que aproveitei para inserir como se fosse uma cena dentro da outra. Então criei uma janela através da qual, de repente, é projetada uma imagem do ensaio que ele filmou”, explica. 

“As coisas foram surgindo”, diz Nando, que antes estava fazendo a apresentação como em uma caixa preta, com cadeiras na plateia. Tudo mudou. “Também fui percebendo isso ao longo dos meses, o que fica mais claro agora, que precisava ser uma instalação”. Resultado: não espere cadeiras, mas haverá sim conforto e surpresas ótimas para o público, que poderá chegar mais cedo e já entrar no clima.

“Dividi os vídeos em duas categorias. Os que eu fiz no Second Life, que servem para as pessoas literalmente adentrarem na atmosfera do espetáculo. Estes eu chamo de vídeos ambiente. E há os que fazem parte da apresentação, exatamente. São os vídeos de ação”. 

Na dinâmica do espetáculo, um personagem aparece, realiza sua performance entre o público e depois some para dar espaço aos vários outros que o sucedem. “É isso que une toda a performance. É a paixão, a relação com o espaço, a experiência que eu venho tendo desde que resolvi fazer o Reator e relacioná-lo à tecnologia”, diz o ator. 

A trilha passa por Amy Winehouse, Gal Costa, Fabio Cavalcante, Lou Reed. No desenho sonoro, ruídos e até um poema (incidental) de Max Martins, “A Cabana”. Tudo isso aliado a muitos vídeos, quase todos, feitos com câmeras de celular.

“Fizemos tantos que nem estou usando tudo... não agora”, brinca Nando que para este trabalho usa retroprojetor, projetor de slides e câmera em e para a cena, apontando para a real vocação do Reator, um estúdio para a experimentação.

“A quantidade de sedes de grupos e artistas que estão surgindo não é à toa. Quando você repensa o fazer teatral, acaba caindo nisso, pois precisa ter espaço, tempo e gente pra experimentar.

O teatro é simbólico, não adianta querer resgatar ou querer fazer como nos anos 50. Sou movido à paixão, de gostar de estar aqui e fazer o que eu estou fazendo, da maneira e a hora que eu quero”, conclui. 

Serviço 
Incidental”. Estreia às 21h, dia 10/03, no Estúdio Reator (30 lugares) – Trav. 14 de Abril, 1053, entre Av. Magalhães Barata e Gov. José Malcher. Temporada todos os sábados do mês de março, sempre às 21h. Ingresso R$ 20,00. Mais informações: 91 8112.8497.

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