Se o resultado da utilização de tecnologias audiovisuais e a incorporação de elementos das artes plásticas, música, dança, cinema, vídeo e performance na cena é teatro pós-dramático, termo cunhado por Hans-Thies Lehmann, professor de Estudos Teatrais da Universidade Johann Wolfgang Goethe, em Frankfurt, que estuda este processo desde os ano 90, então é isso que Nando Lima está trazendo ao público de Belém em “Incidental”, que estreia neste sábado, 10, a partir das 21h, no Estúdio Reator.
Há um ano que Nando Lima vem trabalhando neste espetáculo, aprofundando-se em um universo que ele já vem pesquisando desde os anos 80, saindo da superfície do teatro tradicional e em busca de uma interação cada vez maior entre público, cena e espaço, através da performance, de trilhas, ruídos, sons diversos e muita visualidade.
Vindo dos hibridismos experimentados no teatro desde o final dos anos 70, o pós-dramático faz um retorno às ideias de encontros e festividade daquele momento, mas agora se soma às novas tecnologias e pensando desta forma, entenderemos e assim se afirma o mote de “Incidental”.
“O mote é paixão. Eu descobri isso. Não estava exatamente querendo trabalhar com um tema assim, mas quando fui ver os vídeos, percebi. Não falo da paixão romântica, mas de intensidades e neste sentido tem a paixão pelo trabalho, pelas pessoas que estão por perto. Eu, particularmente me sinto muito feliz de estar fazendo este trabalho. A paixão é incidental”, diz Nando.
Como vários outros trabalhos que vêm sendo construídos no Reator, desde que o espaço inaugurou em novembro de 2010, “Incidental” conta com a colaboração, desta vez, de Danilo Bracchi (coreógrafo e bailarino), Jeferson Cecim, bonequeiro e ator, que logo estará de volta ao espaço com seu espetáculo Red Bag.
E ainda Leo Bitar, sonoplasta e ator, que vem pesquisando e fazendo a trilha de vários trabalhos neste coletivo de artistas, e do fotógrafo e pesquisador Alexandre Sequeira, que assina um ensaio fotográfico feito durante o processo de Nando.
“O Danilo, por exemplo, filmou e gravou vários áudios e vídeos durante os bate papos que realizamos nos ensaios feitos a amigos, a fim de buscar opiniões e olhares diversos. Há filmagens que aproveitei para inserir como se fosse uma cena dentro da outra. Então criei uma janela através da qual, de repente, é projetada uma imagem do ensaio que ele filmou”, explica.
“As coisas foram surgindo”, diz Nando, que antes estava fazendo a apresentação como em uma caixa preta, com cadeiras na plateia. Tudo mudou. “Também fui percebendo isso ao longo dos meses, o que fica mais claro agora, que precisava ser uma instalação”. Resultado: não espere cadeiras, mas haverá sim conforto e surpresas ótimas para o público, que poderá chegar mais cedo e já entrar no clima.

Na dinâmica do espetáculo, um personagem aparece, realiza sua performance entre o público e depois some para dar espaço aos vários outros que o sucedem. “É isso que une toda a performance. É a paixão, a relação com o espaço, a experiência que eu venho tendo desde que resolvi fazer o Reator e relacioná-lo à tecnologia”, diz o ator.
A trilha passa por Amy Winehouse, Gal Costa, Fabio Cavalcante, Lou Reed. No desenho sonoro, ruídos e até um poema (incidental) de Max Martins, “A Cabana”. Tudo isso aliado a muitos vídeos, quase todos, feitos com câmeras de celular.
“Fizemos tantos que nem estou usando tudo... não agora”, brinca Nando que para este trabalho usa retroprojetor, projetor de slides e câmera em e para a cena, apontando para a real vocação do Reator, um estúdio para a experimentação.
“A quantidade de sedes de grupos e artistas que estão surgindo não é à toa. Quando você repensa o fazer teatral, acaba caindo nisso, pois precisa ter espaço, tempo e gente pra experimentar.
O teatro é simbólico, não adianta querer resgatar ou querer fazer como nos anos 50. Sou movido à paixão, de gostar de estar aqui e fazer o que eu estou fazendo, da maneira e a hora que eu quero”, conclui.
Serviço
Incidental”. Estreia às 21h, dia 10/03, no Estúdio Reator (30 lugares) – Trav. 14 de Abril, 1053, entre Av. Magalhães Barata e Gov. José Malcher. Temporada todos os sábados do mês de março, sempre às 21h. Ingresso R$ 20,00. Mais informações: 91 8112.8497.
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