“Pra ter de onde se ir” abre nesta quinta-feira, 29, no Museu da UFPA, como parte da programação do III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. Com uma idealização que iniciou bem antes, em dezembro de 2011, através de longas conversas, ora por e-mail, entre Mariano Klautau Filho, que coordena o prêmio, e Miguel Chikaoka, ora em encontros que fugiram ao horário executivo, a mostra traz recortes e faz pontuações clássicas e inéditas de sua obra. Além do texto sobre a exposição, leia ao final, uma entrevista com o fotógrafo.
Idealizador da Associação Fotoativa, Miguel Chikaoka estuda e experimenta metodologias na arte-educação direcionada para a atividade fotográfica, em ações que repercutem para além do estado do Pará. O fotógrafo abre mostra especial dentro da programação do III Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, como artista convidado.
Para construir a exposição “Pra ter de onde se ir” foi necessário percorrer inúmeras ideias, uma vez que a obra de Miguel é tão vasta quando diversa.
Partiu-se da seguinte ideia: realizar uma série que representasse todas as facetas do fotógrafo e ao mesmo tempo um trabalho representativo de seus vários traços, aproveitando material que ainda não tivesse sido mostrado ao público, mas sem que isso se tornasse uma retrospectiva de sua carreira.
“A mostra não se obriga a uma retrospectiva de toda minha carreira. Vamos concentrar na leitura de recortes e pontuações, apontando algumas ‘pegadas’. Afinal, continuo vivo e caminhando...”, disse Miguel à Mariano, em uma das trocas de email que os dois mantiveram no final do ano passado.
Foi preciso encontrar em fotos de diferentes épocas e lugares um fio condutor que apresentasse as características de sua fotografia de rua, por exemplo, e pensar num conjunto de trabalhos experimentais em pin-hole ou similares feitos ao longo dos processos das oficinas realizadas pela Fotoativa ao longo desses mais de 30 anos de trajetória, vividos a maior parte deles no Pará.
Fotografia em cor, imagens noturnas de cidade do interior, além de uma série inédita e recente, além dos "clássicos" em P&B. Pensou-se realmente em tudo e o resultado da curadoria de Mariano, que alcançou os objetivos inicias, acabou trazendo o nome da exposição, inspirado no poema “A Cabana”, de Max Martins.
"É preciso dizer-lhe que tua casa é segura/ Que há força interior nas vigas do telhado/ E que atravessarás o pântano penetrante e etéreo/ E que tens uma esteira/ E que tua casa não é lugar de ficar/ mas de ter de onde se ir".
“Penso que as imagens do poema falam de algum modo na errância, nos pontos fixos e móveis da existência. A errância, como poética, acho que dialoga com o recorte que fizemos do teu trabalho e com os teus movimentos em Belém, na fotografia e nas imagens”, comentou Mariano com Miguel, que na hora, topou o título.
Fundador da agência Kamara Kó, na qual desenvolve foto-reportagens e trabalhos de documentação sobre questões sociais e ambientais da Amazônia, Atualmente Miguel está empenhado em projetos do Centro Cultural SESC Boulevard e do Núcleo de Formação e Experimentação da Fotoativa e continua participando ativamente das articulações da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil (REDE) e na Amazônia (REDEAMAZONIA).
No dia 05 de abril, ele bate papo com o público, com mediação de
Mariano Klautau Filho, coordenador do prêmio e de Joaquim Marçal (RJ),
que estará em Belém para ministrar oficina sobre “História da
Fotorreportagem no Brasil: A fotografia na imprensa do Rio de Janeiro de
1839 a 1900″.
Holofote Virtual: Como você define esta exposição?
Miguel Chikaoka: Um recorte sobre minha produção autoral ao longo da minha carreira, com a curadoria do Mariano. Nem retrospectiva tampouco uma panorâmica, mas pontuações pinçadas.
Holofote Virtual: Na tua opinião, como definir fotografia contemporânea? É definível?
Miguel Chikaoka: Não me preocupo muito com as classificações, mas é certo que estamos vivendo um momento de fluidez, de incertezas. Já faz algum tempo que a fotografia saiu do congelamento para diálogo e fusão com outras linguagens para constituir uma zona híbrida.
Hoje a fotografia deixou de ser uma escrita operada tão e somente com a matéria luz. A fotografia. ao operar com outras fontes luminosas, saiu do estático, da luz fixada, para ganhar novos contornos e movimentos. Acho que ela incorporou a transitoriedade.
Holofote Virtual: Como será conduzido o bate papo com o público?
Miguel Chikaoka: Vai ser uma conversa a partir de um breve relato de experiência e do que orienta o meu envolvimento atual com a fotografia.
Holofote Virtual: A Fotoativa está próxima de completar 30 anos de fundação. É um sonho teu que continua fluindo e dando bons frutos, desencadeando e evoluindo com o movimento da fotografia paraense. Como você avalia tudo isso?
Miguel Chikaoka: Uma semente precisa de condições favoráveis para germinar e terra fértil para crescer, florescer, dar frutos. Isso que tu chamaste de sonho é uma semente que veio de outras terras, de outras vivências, de construção coletiva pautada no favorecimento ao crescimento individual.
Então, a Fotoativa pode ser vista como algo semelhante, que aqui encontrou ambiente favorável e terra fértil para crescer. Historicamente vejo como herdeira de experiências coletivas anteriores, como o Fotoclube do Pará dos anos 50 e do Fototificina e Fotopará, no primeirra metade dos anos 1980.
Apesar do reconhecimento alcançado, acho que há muito o que fazer pela e com a fotografia na região, sobretudo no campo da educação, voltada para formação cidadã e pelo crescimento de uma consciência crítica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário