Vai ficar em Belém neste final de semana? Tem muita coisa o que fazer por aqui. Além dos espetáculos e rodas de conversa do IDEA 2010, o cinema também está na agenda da cidade.
O Cine Líbero Luxardo do Centur, por exemplo, exibe, na Sessão Maldita desta sexta-feira, 23, eXistenz, a partir das 21h30, com entrada franca. Sobre o filme, do genial Cronemberg, segue abaixo, um texto de Rodrigo Carreiro, do site Cine Repórter.
O Cine Líbero Luxardo do Centur, por exemplo, exibe, na Sessão Maldita desta sexta-feira, 23, eXistenz, a partir das 21h30, com entrada franca. Sobre o filme, do genial Cronemberg, segue abaixo, um texto de Rodrigo Carreiro, do site Cine Repórter.
Longa-metragem tem idéias semelhantes a ‘Matrix’, mas vai muito mais longe na mistura ficção X realidade
O ano de 1999 parece ter sido especialmente fértil no aparecimento de filme que investigam o desaparecimento progressivo das fronteiras da ficção e da realidade. O mais conhecido desses longas-metragens, “Matrix”, situou a tecnologia como uma espécie de portal entre duas dimensões, uma real e outra virtual. “eXistenZ” (eXistenZ, EUA/Canadá/França, 1999), de David Cronenberg, realiza o mesmo raciocínio, só que num filme muitas vezes mais cerebral e instigante.
Na verdade, a única semelhança entre o filme dos irmãos Wachowski e o longa de Cronenberg é mesmo essa confusão entre mundo real e mundo virtual, uma sensação compartilhada pelos personagens dos dois filmes. O diretor canadense, contudo, vai mais fundo no problema e investiga também outras fronteiras: sexualidade, prazer e a relação intrínseca de ambos, no mundo atual, com a tecnologia. O resultado é um filme excêntrico, escatológico e muito inteligente.
Allegra Geller (Jennifer Jason Leigh) é uma genial designer de jogos de computador. Tratada como uma espécie de deusa por uma horda cada vez maior de usuários desses games, Allegra também sofre com a perseguição de fanáticos. Depois de escapar de um atentado cometido na noite em que iria apresentar sua mais nova criação, Allegra é obrigada a fugir, com destino incerto, junto ao segurança Ted Pikul (Jude Law).
Na jornada, os dois começam a realizar experiências com o novo jogo, chamado por Allegra de eXistenZ. O jogo simula uma realidade virtual tão perfeita que, a certa altura, os personagens não sabem mais se estão no mundo real ou no meio de uma partida virtual. E isso é apenas o começo.
“eXistenZ” é o típico produto que se espera da mente de David Cronenberg. Fascinado por imagens do grotesco e também pelas maneiras com que o corpo humano é capaz de interagir com a tecnologia, o cineasta reúne essas duas obsessões de uma forma que lembra muito os delírios visuais do anterior “Videodrome”, da década de 1980. Para jogar eXistenZ ou qualquer jogo contemporâneo (o filme é ambientado num futuro próximo, mas não especificado), os personagens são obrigados a implantar, na base da espinha, uma porta de entrada biológica que seja capaz de suportar uma interface digital. Em outras palavras, uma espécie de tomada.
Além disso, na louca (ou nem tanto assim) imaginação de Cronenberg, a tecnologia já ultrapassou o estágio da máquina.
Tecnologia de alto nível não significa mais um emaranhado de fios e circuitos eletrônicos, como conhecemos hoje, mas algo muito mais orgânico. Assim, os joysticks utilizados nos jogos são semelhantes a fetos – e são tratados como entidades vivas por Allegra.
A localização e o formato das bioportas também dão margem à discussão sobre a relação entre sexualidade e tecnologia, algo que vai fazer o espectador de Cronenberg recordar as vaginas artificiais de “Videodrome”.
De fato, “eXistenZ” soa como versão traseira (e portanto bem mais radical) de “Videodrome”. A trama complexa, por outro lado, funciona como reafirmação de refinamento e maturidade de um cineasta no pleno domínio de seu universo.
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