5.10.10

Fabricando Tom Zé em sessão cineclubista paraense

Popular e de vanguarda. Poderia definir assim o documentário Fabricando Tom Zé, que será exibido nesta quarta-feira, 06, a partir das 18h30, em mais uma sessão do Inovacine, em parceria com o IPHAN. O documentário do diretor paulista Décio Matos Jr. mostra uma turnê do polêmico e genial cantor e compositor Tom Zé, realizada pela Europa em 2005.

Não é exagero dizer que Tom Zé é o músico mais inventivo do Brasil há décadas. De uma genialidade desconcertante, ele se considera um péssimo compositor, insiste em reforçar isso no documentário, mas o fato é que ele faz grandes experimentos e mistura canções populares com o que aprendeu com dois grandes músicos estrangeiros que vieram para o Brasil na década de 30.

Hans-Joachim Koellreuter era compositor, professor e musicólogo alemão e tornou-se um dos nomes mais influentes na vida musical do país. O outro, foi Walter Smetak, músico suíço que também veio para o Brasil na mesma época, 1937. Era violoncelista, compositor, escritor, escultor e professor da Universidade Federal da Bahia. Fez a cabeça também de Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Tom Zé é Tropicalista por natureza, mas nunca precisou do movimento para se justificar e se mantém coerente até hoje, embora afastado das multidões brasileiras por malvadeza do destino. Caso veja discos dele por aí, compre na hora.

O músico é retratado de forma correta e intensa neste primeiro filme de Décio Matos Jr, diretor paulistano que conseguiu resgatar um bocadinho da figura de Tom, antes que algum cineasta estadunidense o fizesse.

Produzido a duras penas, sem dinheiro e parco patrocínio, Fabricando merece louvor por dissecar seu personagem sem excesso de distanciamento ou firulas dramáticas construídas. Na produção executiva do filme há uma paraense Eliane Ferreira, que é radicada em São Paulo e trabalha constantemente com o cinema paulista, principalmente na obra de Beto Brant.

O longa é tão sincero quanto o músico, que não tem papas na língua e é um dos poucos medalhões da sua época que não perde seu tempo em politicagens. Há uma cena impagável quando na turnê, ele chega à Suíça e se desentende com os técnicos de som que não deixaram os seus próprios técnicos conduzirem o ensaio. Tom Zé perde a cabeça, com razão!

A estrutura do filme é simples e eficiente. A linha narrativa é uma turnê que Tom Zé fez pela Europa em 2005.

À medida que os shows avançam, a biografia do músico é rapidamente passada a limpo: da sua infância em Irará, na Bahia, à integração com os tropicalistas, as décadas de ostracismo e sua redescoberta através dos ouvidos de David Byrne, que o levou para a glória no Hemisfério Norte.

A história de Tom Zé fica em segundo plano, em face de seu pensamento todo particular. Adotando a câmera da equipe como sua aliada, e não como uma intrusa na rotina, o músico se abre para a gravação.

Daí vem as relações com sua banda, o amor de 35 anos pela esposa, suas teorias musicais. A seqüência mais impressionante do filme surge daí, quando Tom esculhamba a produção do Festival de Montreux e revela toda uma posição político-musical sobre o tratamento dos estrangeiros sobre as culturas subdesenvolvidas.

Nesse foco, a música do compositor passa ao largo, sem uma abordagem mais detalhista, o que pode frustrar parte da audiência. Mas com personagem tão profundo, é difícil analisar tantas facetas em hora e meia de filme. O assunto renderia facilmente um Fabricando Tom Zé II, III...

Em tantas histórias, o único defeito de fabricação do longa se fia justamente no episódio Tom Zé vs. Tropicalistas, quando o músico se separou do grupo, caiu no esquecimento e foi alvo de uma suposta "conspiração" para diminuir sua importância da época. Faltou ali uma espremida maior, para tentar esclarecer a história. Caetano Veloso e Gilberto Gil fazem um mea culpa em seus depoimentos, Tom parece disfarçar um certo rancor e o acontecido continua como uma das histórias mal explicadas da MPB.

Na opinião de Miguel Haoni, da Associação Paraense Jovens Críticos de Cinema, a APJCC, o documentário de Décio Matos Júnior transcende a pretensão média sub-jornalística do gênero e fabrica uma outra História do Brasil: a do homem velho, sábio, simples, baiano que tem seus altos e baixos e nunca foi totalmente assimilado pelos seus pares.

"A sensibilidade do registro e a visceralidade do registrado dão ao documentário brasileiro um dos seus instantes máximos de catarse. A ampla aceitação popular do filme no país é a prova disso. É a mea-culpa de um Brasil que nunca deu a atenção devida a este grande artista em particular e a outros grandes artistas em geral”, opina Miguel Haoni, da APJCC, entidade parceira do Inovacine.

Quem não esteve na sessão do Olímpia, alguns anos atrás, em sua estréia no Festival de Belém do Cinema Brasileiro e nem pegou ainda o DVD na locadora, não deve deixar de ir ao auditório do IPHAN nesta quarta-feira, 06. É programação de primeira!

Serviço
“Fabricando Tom Zé” (2007). Nesta quarta-feira, 06, às 18h30, no auditório do IPHAN. (Travessa Rui Barbosa, esquina da Avenida Governador José Malcher). Entrada Franca. Realização: Inovacine. Apoio: IPHAN. Informações: 8813-1891.

Fonte: Holofote Virtual, com informações da APJCC e site Omelete.

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