1.10.10

Teatro Universitário estréia espetáculo adaptado da obra de Guimarães Rosa

É melhor preparar uma mini agenda para a semana que vem e se programar. A romaria cultural que já iniciou e segue vigorosa a partir de segunda-feira, 04, rumo ao domingo, 10, do Círio de Nazaré, pode te deixar tonto com tantas opções ou sem fôlego se você não se planejar, estou avisando. Até sexta, 08, quando o Auto do Círio inunda de luz e performances a Cidade Velha e a Festa da Chiquita, de purpurina, o Bar do Parque, tem muita coisa acontecendo na cidade, nos bares, nas praças e nos teatros. E aqui vai mais uma dica, esta para o início da semana, dia 05 de outubro.

Enquanto o público desfruta de programações diversas, o elenco que integra o Grupo de Teatro Universitário da UFPA estréia “Em nome do rio”, espetáculo baseando na obra “A terceira margem do rio” de Guimarães Rosa. A temporada se estende por toda a semana, até dia 10, sempre às 20h, no Teatro Universitário Cláudio Barradas.

O Grupo de Teatro Universitário é um projeto desenvolvido pela Escola de Teatro e Dança da UFPA, que conta com membros ligados diretamente aos cursos ofertados pela escola e pessoas de fora. Nesta montagem, especialmente, o elenco é, em sua maioria, de pessoas oriundas da comunidade, muitas iniciando no teatro neste processo que já acontece desde o início do ano.

O processo, composto de muita música e elementos da cultura popular, traz a tona a nossa intrínseca relação com o rio, que para alguns é rua, para outros, sobrevivência. Ele, neste espetáculo, é protagonista de sua força, que se torna corpo e pulsação. O porquê da ida do pai ao rio se resume em si mesmo, no seu encantar.

Mistério - A história a ser contada é a do pai que, num mistério que só o rio pode entender, entrega-se a ele sem nunca mais na vida beirar margem. Deixa filhos, casa, esposa e se entrega a uma vida na canoa, encontrando uma terceira margem, que em si é uma vocação, porém, sem nunca se afastar por completo dos seus. Causa dor não só a si, mas a todos em sua volta.

A subjetividade de dor do pai, tanto indagada pelo romancista em seu conto, é colocada sob a ótica das demais dores.

A da mãe, por exemplo, que num misto de luto e ódio só consegue extrair um: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!". Isto sintetiza a antítese ódio-amor, que é trabalhada com primor pelos diretores Dário Jaime e Fabrício de Souza.

Outra dor relevante é a do filho, envolto na decisão do pai que se estende a ele, no chamado recusado de sua vocação, na vergonha da negação do pai e de si mesmo.

A música é um ponto essencial nesta montagem, já que várias nuances da narrativa são permeadas por ela. O diferencial é a utilização somente de percussão, que dá um caráter mais ritualístico à peça. Os percussionistas Diego Vattos e Diego Machado dão o tom de carimbó, lundu e vários ritmos, para que esse rio corra seu curso.

O “Em nome do rio” é uma grande ode a esse rio que é nosso, onde se encontra corpo e essência amazônida. No palco, ele se transforma em gesto, angústia, música e muito sentimento. Remonta-se aqui o subjetivo de Guimarães Rosa sob um olhar nortista, ribeirinho por vocação. Vale à pena descobrir sua terceira margem.


Serviço
Espetáculo “Em nome do rio”, do Grupo de Teatro Universitário da UFPA. De 5 a 10 de outubro de 2010, no Teatro Universitário Cláudio Barradas (Jerônimo Pimentel, esquina com. D. Romualdo de Seixas). Sempre às 20h00. R$10 (com meia entrada para estudantes). Mais informações: Leandro Oliveira (ASCOM - Grupo de Teatro Universitário da UFPA) - 8292 8567 (leoliveira.jornalismo@gmail.com).

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