Tão diversa na formação, como no estilo, inspirado no BritPop, movimento surgido no Reino Unido e Irlanda nos anos 90, a banda Bonsalvage, de Belém, é atração esperada na abertura da Casa de Cultura de Santa Izabel, que acontece neste sábado, 03, a partir das 18h - Av. Antonio Lemos, próx. ao Ginásio de Esportes-, com uma programação também variada, contando com outras bandas e artistas do município, ligados a diferentes manifestações culturais. A cidade, situada na região metropolitana, fica a 38 km da capital, é de fácil acesso e com certeza aguarda o público para uma noite surpreendente (Fotos: Karina Paes).
João Cirilo, vocal no grupo, é Mestre em Artes Visuais e servidor público, atualmente, gerente da Galeria Theodoro Braga, na Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves. Guto Ribeiro, o baixista, é compositor, músico ativista do movimento software livre e servidor público da mesma fundação que o vocalista, além de ser voluntário em projetos sociais. Teko Martins, guitarra e voz, é compositor, músico e professor de história, e atua na área de segurança do trabalho.
Alexandre Brandão, outro guitarra, vive de música e compõe na banda, assim como Allan Jorge, o baterista, autor da música "O mundo não é azul" que, interpretada pela cantora Tábita Veloso, venceu na categoria música com letra, o III Festival de Música da ARPUB (Associação das Rádios Públicas do Brasil), cuja premiação aconteceu no início deste ano.
A banda teve seu embrião formado em 2004 como Manga City, com apresentação no I Seminário Cultural da Amazônia (realizado em Belém), mas no ano seguinte já se tornava Bonsalvage, com a primeira formação mantida até 2006, quando participou do Primeiro Maguara Rock Fest, o festival de bandas autorais independentes de Icoaraci.
Bonslvage: em busca do patrocínio para o 1º CD |
No ano seguinte, ainda participou de shows no Bar Mormaço, às margens da Baía do Guajará, mas depois disso, a produção do grupo foi suspensa por algum tempo até ser retomada, no ano passado, com apresentações no Espaço Cultural Ná Figueredo, Rock Rio Guamá, II Festival Noites com Sol, no Teatro Maria Sylvia Nunes, e no Sarau Artitude, de Santa Izabel, finalzinho de 2011. Foi quando iniciou a relação da banda com o movimento cultural do município.
“Aos que ainda não sabem, há um grupo cultural muito ativo em Santa Izabel. Em julho deste ano acontecerá um grande festival na cidade, o Artitude. Como forma de divulgar esse evento maior, serão uma série de eventos acontecerão, uma vez por mês”, diz Guto.
A banda, que esteve por lá no dia 04 de fevereiro, no primeiro sarau do ano, também participará do II Sarau Cultural, já confirmado para o dia 17 de março, às margens do famoso igarapé de Caraparu. Eu diria que uma programação de sombra, água fresca, poesia e muito rock’n roll. Aviso aos navegantes, é bom se agendar!
Alexandre Brandão |
“A Bonsalvage se orgulha de fazer parte dessa história ”, complementa o baixista que, assim como os outros da banda acredita que o movimento cultural paraense está se entranhando nas outras cidades e trocando cada vez mais com a capital, onde muitas ações já acontecem. “Santa Izabel é fantástica e a movimentação cultural de lá começa a dar bons frutos, como esta inauguração da Casa de Cultura, evento no qual participaremos com muita satisfação”, reforça João Cirilo.
Com planos de gravar o primeiro CD em 2012, a Bonsalvage vem realizando shows e está no estúdio, onde grava o primeiro EP, que trará cinco músicas de trabalho e que serão o aperitivo para o disco que contará com 12 faixas. “É o que sonhamos e pelo que batalhamos, todos os dias”, diz o vocal.
No show deste sábado, além das músicas que fizeram sucesso na apresentação passada, a banda vai levar coisas inéditas. “Teremos pelo menos duas músicas novas, uma delas inédita, no repertório que é 100% autoral e que o público curtiu muito no último show. Teremos de pop-rock a blues com a cara do Bonsalvage”, avisa Teko Martins.
Entusiasmados com as conexões que vêm fazendo com outras cidades paraenses, João Cirilo, Teko Martins e Guto Ribeiro bateram um papo com o Holofote Virtual e contaram mais sobre os ritmos que contagiam cada um na banda e que acabam influenciando o som da Bonsalvage.
Se no BritPop, os músicos se deixavam levar pelas ondas sonoras do Pink Floyd, Beatles e The Who, a banda paraense se alinha sob as influências da música popular brasileira com direito a baladas, blues, jazz e mambo, entre outros ritmos que são bem a nossa cara. A entrevista segue abaixo, algumas da músicas da Bonsalvage - Nunca Diz Não, Aquela e Não Feche a Porta - você ouve aqui. e o videoclipe de Fardo, aqui.
João Cirilo |
Holofote Virtual: Quais as inspirações para o som de vocês?
João Cirilo: Cada trecho de determinadas músicas e, às vezes, uma música inteira sugere uma coisa diferente, uma influência que pode tanto vir do rock, quanto do samba, da MPB, um detalhe lembra, por exemplo, Radiohead, Los Hermanos, Legião Urbana. Outros podem sugerir Cartola, REM, Beatles, Mutantes, Sérgio Sampaio, Vinícius. Enfim, são muitas as bandas e compositores legais que cada integrante da Bonsalvage carrega consigo e traz para os ensaios e para as composições da banda.
Guto Ribeiro: O principal é fazer música, produzir cada vez mais e sempre. Gostamos de ter liberdade em nosso processo de composição. Evidente que temos uma linha atual focada no BritPop, mesclando com o que vier na cabeça, se possível com a boa MPB. Apesar da maioria das músicas conhecidas serem na linha do BritPop, temos Blues, Baião, elementos de samba e música regional, enfim gostamos de experimentar.
Holofote Virtual: Mais sobre o surgimento da banda Bonsalvage...
João Cirilo: Desde 2005, quando o Teko Martins começou os primeiros ensaios de formação de uma banda pra tocar no formato de voz, guitarras, baixo e bateria, a Bonsalvage passou por algumas formações diferentes e muito tempo trancada em uma sala, compondo, arranjando, aprimorando detalhes. Uma banda de muito tempo e de poucas apresentações, com essa formação que aqui está (e de certo esta é a melhor formação da Bonsalvage até aqui). Estamos fazendo uma média de duas apresentações por mês, o que é um fato relevante para uma banda que permaneceu algum tempo longe dos palcos.
Teko Martins |
Holofote Virtual: O que vocês estão preparando para o show deste sábado?
Teko Martins: Desde que retomamos as atividades da Bonsalvage no ano passado, a grande questão era fazer com que o repertório da banda crescesse.
Hoje temos um repertório um pouco mais longo do que no ano passado quando abrimos o Rock Rio Guamá e nem usamos todo o tempo de que dispúnhamos. Em Santa Izabel pretendemos tocar uma música nova chamada ‘A Minha Paz’, uma balada que fala de perdas. Ensaiamos pouco esta música, mas mesmo assim, acreditamos que seja válido apresentá-la ao público nessa ocasião, além das composições que já estamos a trabalhar há um tempo.
Holofote Virtual: Qual a opinião de vocês sobre o circuito independente da música, em Belém?
Teko Martins: Acreditamos neste circuito sim, porém achamos que a cidade necessita, além de mais espaços, incentivos para este tipo de produção, assim como a própria cena musical precisa se unir mais em torno de uma consciência coletiva de cooperação mútua onde a classe deva prevalecer.
Guto Ribeiro |
Guto Ribeiro: Não só o de Belém, mas na do Estado, pois já existem cenas muito ativas em diversas cidades do interior do estado. Temos muita atividade musical.
O movimento está organizado em Belém, mas isso está se difundindo pelo Estado. Apesar de existirem problemas muitas vezes, no geral é um bom cenário o que nos faz acreditar no circuito independente.
João Cirilo: Belém vive hoje uma fase interessante em termos de espaço para sua produção musical. Existem muitas bandas e artistas de estilos os mais diversos criando, se apresentando, enfim. Percebo que apesar das maravilhosas ações independentes, como são os casos de festivais que acontecem na cidade, por exemplo, faltam investimentos do poder público de modo efetivo para criar uma cena musical que seja mais consistente, que apresente uma política regular de gravação e de distribuição do material dessas bandas e que aproxime essa produção de modo efetivo ao grande público.
A cena independente é importante, mas propiciar formas mais amplas de dar acesso às pessoas das coisas que são produzidas aqui é um fator determinante para a criação de uma cena musical efetiva.
Holofote Virtual: Vem vindo aí um CD...
João Cirilo: Tivemos aprovado o projeto de gravação de nosso primeiro disco pela Lei Semear, e estamos na fase de captação de recursos para produzir este primeiro trabalho. Enquanto isso, a ideia é ensaiar mais, compor mais, tocar mais em Belém e onde houver oportunidade para tocar. Enfim, tornar a Bonsalvage mais conhecida do público e ganhar cada vez mais experiência pra obter um resultado maduro e consciente.
Allan Jorge |
Holofote Virtual: Como vocês se utilizam da internet para divulgar o trabalho da Bonsalvage?
Teko Martins: Bem, ferramentas como Facebook, Youtube, Soundcloud e Blogs nos ajudam bastante. O Holofote Virtual já nos é uma prova deste uso neste momento (risos).
Guto Ribeiro: É. Basicamente estamos utilizando o Facebook, Youtube e agora o Twitter (@bonsalvage). A divulgação é difundida com ajuda dos amigos nossos, dos amigos deles, dos amigos dos amigos deles e assim por diante.
Além das redes sociais, por enquanto temos dois perfis de banda um no Conexão Vivo e outro no Toque no Brasil. Estamos estudando a possibilidade lançar um blog ainda esse ano que congregará todas as informações da banda.
João Cirilo: A instantaneidade e o baixo custo da divulgação por meio da internet e das redes sociais é algo que facilita e muito hoje o trabalho de disseminação do que quer que seja. Os amigos, as pessoas que nos acompanham e que curtem o tipo de música que a Bonsalvage se propõe a fazer é o outro alicerce que acreditamos eficaz em meio às redes. São, enfim, as pessoas que nos acompanham e que gostam do que fazemos os maiores incentivadores e propagadores da Bonsalvage. Sem os amigos, parentes, companheiros e sem o público qualquer divulgação e sucesso se tornam fatores impossíveis.
Um comentário:
Muito Bom!!!
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