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O artista visual Mauricio Igor Foto: Samuel Costa |
A obra problematiza temas como racismo, xenofobia, colonialismo e a existência de monumentos históricos que reforçam e renovam tais ideias colonialistas e preconceituosas. O artista retrata as discrepâncias que existem na Belém portuguesa e na amazônica, além de sentir na pele – literalmente – o que os “conquistadores” continuam a enfatizar, até mesmo em monumentos históricos.
O despertar para o assunto surgiu com um incômodo pessoal e estético de Mauricio. Assim como a maioria dos brasileiros, o jovem paraense foi ensinado nas escolas que Portugal "descobriu" o Brasil. Por conseguinte, que a colônia deveria ser “grata” à metrópole, ainda que tantos povos e culturas tenham sido dizimados e anulados devido ao processo de colonização.
Tais percepções foram acentuadas em 2019, quando o artista foi contemplado com bolsa do Programa Santander de Bolsas Ibero Americanas para estudos de um semestre na Faculdade de Belas Artes na Universidade do Porto, em Portugal. Durante a vivência “na metrópole”, ele pôde sentir a sua pele negra e amazônida arder ao deparar-se com o monumento Padrão dos Descobrimentos, localizado em Lisboa.
O símbolo representa uma homenagem aos personagens do processo de expansão marítima de Portugal nos séculos XV e XVI em território brasileiro. Há também, em Braga, por exemplo, monumentos que glorificam atos patriotas de homens que ajudam a “pacificar” africanos no século XX, como é o caso da estátua em “Memória dos irmãos Roby”.
Deste modo, as navegações, que também se baseavam em princípios dominadores e racistas, parecem ter deixado ainda certo legado material e mesmo mental entre os colonizadores, como nos monumentos. Embora simbolizem a identidade nacional e o “heroísmo” do povo português, em um mundo com fronteiras cada vez mais tênues, parece ser necessário promover uma conscientização de um passado que não deverá ser repetido. Isto é acentuado mais ainda no Pará, o Estado brasileiro que possui maior número de cidades e distritos cuja origem dos nomes é Portugal, algo evidente desde o batismo de sua capital como “Belém”.
Para realizar a obra, Maurício contou com o artista pernambucano Dori Nigro, responsável pelas filmagens e produção da videoperformance. O processo foi fundamental para que a exposição fosse realizada a partir de uma perspectiva de outros corpos, identificados pela mestiçagem, pretitudes, imigração, LGBTQIA+ em um país de brancos e brandos costumes.
Entre corpos e monumentos de concreto, é certo que o debate em relação aos monumentos históricos é urgente e uma questão aberta às ressignificações. Prova disso em escala europeia foi em Bristol (Inglaterra), onde a estátua de Edward Colston, traficante de escravizados que foi derrubada.
Estar presente em um país que tomou as suas terras diz muito sobre o sentimento que espeta o coração do imigrante. Segundo o artista visual, “ser de um país que historicamente foi colonizado é ser visto com olhar de inferioridade. Por isso, direciono minha produção artística de forma a ver criticamente a formação e construção do Brasil e a como estas configurações afetam nossos corpos hoje”, finaliza Maurício.
Reflexões sobre o corpo não hegemônico
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Foto: ARCES |
Tais processos se desdobram em fotografias, performances, vídeos, textos, intervenções e instalações. Por meio destes, participou de importantes exposições coletivas no Brasil e em Portugal, além de já ter sido capa da revista luso-brasileira Performatus em 2020. Com a série “Ô lugarzinho pra ter viado!” recebeu menção honrosa no FotoSururu - 1º Encontro de Fotografia Criativa, em Maceió-AL, e com a criação “Como descobrir o que não é desconhecido?” também recebeu menção honrosa na Open Call Intervenções Artísticas SUPERNOVA, na cidade do Porto, em Portugal.
Serviço
Exposição “De uma Belém a outra” | Quando? Estreia 26 de março, às 20h (Brasil); 23h (Portugal). Onde? Transmissão ao público através do site www.uncoolarts.com/clube-da-uncool | Vale conferir também "Ruínas ainda presentes", promovida pela artista, pesquisadora e arquiteta, Laura Benevides, sobre a videoperformance de Maurício.
(Holofote Virtual com assessoria de imprensa do artista)
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