25.3.21

Temas e monumentos que reforçam desigualdades

O artista visual Mauricio Igor
Foto: Samuel Costa

Belém do Pará e Belém Lusitana, com seus contrastes visuais e socioculturais estão presentes na exposição (d)e videoperformance  “De uma Belém a outra - Na própria Pele”, de Mauricio Igor,  disponível a partir de sexta, 26, nas plataformas da Uncool Artist, canal estadunidense-brasileiro de artistas, educadores e criativos independentes.

A obra problematiza temas como racismo, xenofobia, colonialismo e a existência de monumentos históricos que reforçam e renovam tais ideias colonialistas e preconceituosas. O artista retrata as discrepâncias que existem na Belém portuguesa e na amazônica, além de sentir na pele – literalmente – o que os “conquistadores” continuam a enfatizar, até mesmo em monumentos históricos.

O despertar para o assunto surgiu com um incômodo pessoal e estético de Mauricio. Assim como a maioria dos brasileiros, o jovem paraense foi ensinado nas escolas que Portugal "descobriu" o Brasil. Por conseguinte, que a colônia deveria ser “grata” à metrópole, ainda que tantos povos e culturas tenham sido dizimados e anulados devido ao processo de colonização.

Tais percepções foram acentuadas em 2019, quando o artista foi contemplado com bolsa do Programa Santander de Bolsas Ibero Americanas para estudos de um semestre na Faculdade de Belas Artes na Universidade do Porto, em Portugal. Durante a vivência “na metrópole”, ele pôde sentir a sua pele negra e amazônida arder ao deparar-se com o monumento Padrão dos Descobrimentos, localizado em Lisboa.

O símbolo representa uma homenagem aos personagens do processo de expansão marítima de Portugal nos séculos XV e XVI em território brasileiro. Há também, em Braga, por exemplo, monumentos que glorificam atos patriotas de homens que ajudam a “pacificar” africanos no século XX, como é o caso da estátua em “Memória dos irmãos Roby”.

“Os monumentos que homenageiam e exaltam as figuras diretas nos processos de colonização também de são formas contribuir para a ideia de hierarquias entre raças e nacionalidades, pois alimentam um orgulho do colonialismo”, explica o artista.

Deste modo, as navegações, que também se baseavam em princípios dominadores e racistas, parecem ter deixado ainda certo legado material e mesmo mental entre os colonizadores, como nos monumentos. Embora simbolizem a identidade nacional e o “heroísmo” do povo português, em um mundo com fronteiras cada vez mais tênues, parece ser necessário promover uma conscientização de um passado que não deverá ser repetido. Isto é acentuado mais ainda no Pará, o Estado brasileiro que possui maior número de cidades e distritos cuja origem dos nomes é Portugal, algo evidente desde o batismo de sua capital como “Belém”.

Para realizar a obra, Maurício contou com o artista pernambucano Dori Nigro, responsável pelas filmagens e produção da videoperformance. O processo foi fundamental para que a exposição fosse realizada a partir de uma perspectiva de outros corpos, identificados pela mestiçagem, pretitudes, imigração, LGBTQIA+ em um país de brancos e brandos costumes.

Entre corpos e monumentos de concreto, é certo que o debate em relação aos monumentos históricos é urgente e uma questão aberta às ressignificações. Prova disso em escala europeia foi em Bristol (Inglaterra), onde a estátua de Edward Colston, traficante de escravizados que foi derrubada.

Estar presente em um país que tomou as suas terras diz muito sobre o sentimento que espeta o coração do imigrante. Segundo o artista visual, “ser de um país que historicamente foi colonizado é ser visto com olhar de inferioridade. Por isso, direciono minha produção artística de forma a ver criticamente a formação e construção do Brasil e a como estas configurações afetam nossos corpos hoje”, finaliza Maurício.

Reflexões sobre o corpo não hegemônico

Foto: ARCES

Mauricio Igor é graduado em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará. Em 2019, foi contemplado com bolsa do Programa Santander de Bolsas Ibero Americanas para estudos de um semestre na Faculdade de Belas Artes na Universidade do Porto, em Portugal. Seu trabalho é focado em reflexões sobre o corpo não hegemônico, atravessando questões de identidades inseridas em temas como miscigenação e sexualidade. 

Tais processos se desdobram em fotografias, performances, vídeos, textos, intervenções e instalações. Por meio destes, participou de importantes exposições coletivas no Brasil e em Portugal, além de já ter sido capa da revista luso-brasileira Performatus em 2020. Com a série “Ô lugarzinho pra ter viado!” recebeu menção honrosa no FotoSururu - 1º Encontro de Fotografia Criativa, em Maceió-AL, e com a criação “Como descobrir o que não é desconhecido?” também recebeu menção honrosa na Open Call Intervenções Artísticas SUPERNOVA, na cidade do Porto, em Portugal.

Serviço

Exposição “De uma Belém a outra” | Quando? Estreia 26 de março, às 20h (Brasil); 23h (Portugal). Onde? Transmissão ao público através do site www.uncoolarts.com/clube-da-uncool  | Vale conferir também "Ruínas ainda presentes", promovida pela artista, pesquisadora e arquiteta, Laura Benevides, sobre a videoperformance de Maurício.

(Holofote Virtual com assessoria de imprensa do artista)

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