27.3.16

Artista paraense Elisa Arruda mostra "Essa é você"

“Um jogo perigoso”. É assim que a paraense Elisa Arruda, citando o texto de Fauzi Arap conhecido na voz de Maria Bethânia, define a série formada por desenhos em nanquim. A exposição, que conta com curadoria do artista Alexandre Sequeira,  e será inaugurada nesta terça-feira, 29, às 18h30 no Espaço Cultural do Banco da Amazônia, em Belém. 

No total, a série "Essa é você" é composta por cerca de 70 desenhos, dos quais 60 são em preto e branco. "É um jogo onde eu me exponho bastante e, por isso mesmo, o público feminino se identifica, porque são questões das mulheres em geral", diz a artista de 28 anos. 

Assim como no texto de Arap, o jogo de Elisa "busca chegar ao limite possível de aproximação" entre a arte e a vida. Amores, paixões, desilusões, dúvidas, canções e poemas são o princípio de tudo. A série é como um olhar minucioso, de fora de si, onde ela “se livra das palavras” para, sem medo e com o peito aberto, seguir em frente. Um total de 50 trabalhos da série ficam em exposição no Espaço Cultural do Banco da Amazônia, de 29 de março a 06 de maio de 2016, com entrada franca.

"Eu comecei a desenhar como designer", conta Elisa, que fez mestrado no Cosmob, em Pesaro, Itália. O desenho livre surgiu há cerca de 4 anos, primeiro com grafite, depois com nanquim. "No início, a minha preocupação era aprimorar o traço. Quando eu comecei a desenhar a série “Essa é você”, me desliguei um pouco da técnica, no sentido de não tentar reproduzir a realidade, mas principalmente traduzir o que estava sentindo, como eu me via, a aura da mulher", explica. 

Mãe de dois filhos, Elisa conta que a busca pelo autoconhecimento foi determinante para o seu desenvolvimento como artista. "Eu procuro falar de mim e das coisas que me inquietam. Os desenhos são uma forma de enxergar as minhas questões sob muitos pontos de vista", revela, enfatizando que, mais importante que o resultado final, é a mensagem por trás de cada trabalho.

Fotos: Ana Alexandrino
No começo, as mulheres apareciam sem qualquer preenchimento. Depois, Elisa experimentou pintá-las de preto. "Percebi que o preto sugere alguma coisa que está cheia, carregada. Nos meus desenhos, as mulheres sem preenchimento são mais ingênuas. As mulheres negras são mais maduras. São mulheres prontas", define. 

Recentemente, ela também fez experimentos com dourado e tintas metalizadas. "O metálico entra para potencializar a interpretação. As pessoas criam significados. Muita gente já chegou para mim falando sobre entidades, seres místicos, por causa de ornamentos como o vermelho nas bochechas. É como se fossem mulheres em potência", avalia.

Mas onde está a potência de eternizar as desilusões? Elisa explica que cada mulher é o retrato de um período específico. “Os cortes no corpo são como marcas de batalha. Ao mesmo tempo que demonstram a fragilidade pelo ato sofrido, simbolizam a superação do confronto. São retratos de vitória, que remontam não à fragilidade do sujeito, mas à superação”, garante. 

É como no poema de Sophia de Mello Breyner, em que o eu lírico feminino faz "da insegurança a sua força e do risco de morrer o seu alimento". "São sentimentos íntimos, mas eu não me importo de explorá-los, porque gosto de me ver e de permitir que os outros se vejam. De alguma forma, aprendemos com isso. São lições de coragem”, conclui a artista.

"Como todo o pensamento que alimenta e abastece uma experiência artística, o de Elisa é avesso a roteiros, alternando caminhos definidos hora pela razão, hora pelo coração. Na série “Essa é você”, Elisa faz com que a paixão não seja passiva, mas sim ativa – como algo que nos move. Como lembra Paulo Leminski, entre a vida e a obra, há uma mediação - o artista. 

É por seu enunciado que o público espera ser afetado. Assim, cumprindo o papel de todo o artista, Elisa articula questões comuns à humanidade e, considerando que nem sempre a vida nos oportuniza vivê-las de fato, nos possibilita, através de sua obra, sermos confrontados com situações que também são nossas", escreve o curador Alexandre Sequeira, ao apresentar presenta a artista.

Sobre Elisa Arruda - Possui graduação em Design. Em 2010, realizou mestrado em Design no Cosmob, Itália. Iniciou a vida docente no curso de Design de Produto, lecionando as disciplinas Cores & formas, Criatividade e Design de Móveis. 

Em 2013, foi finalista no concurso Movimento Hotspot, na categoria Ideia, apresentando o projeto Tetraking. Em 2014, ingressou no mestrado em Design e Arquitetura da Faculdade de Arquitetura de Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), tendo como foco o estudo da pós-modernidade e seus reflexos no design contemporâneo. 

Em 2015, participou do projeto Sesc Confluências, com sua produção em desenho. Montou sua primeira exposição individual em 2015, na galeria Jazz nos Fundos, São Paulo. Recebeu em 2015 a premiação do Salão de Arte Primeiros Passos do CCBEU . Atualmente é membro integrante do Coletivo Aparelho, onde atua como artista visual e projetista gráfica.

Serviço
Exposição Essa é você, de Elisa Arruda. Curadoria de Alexandre Sequeira. Abertura: 29 de março de 2016, às 18h30. Período de visitação: 29 de março a 06 de maio. de 10h às 17h. Espaço Cultural do Banco da Amazônia (Av. Presidente Vargas, nº 800, térreo). Entrada gratuita. Projeto contemplado pelo Edital de Pautas em Artes Visuais do Banco da Amazônia.

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